31.5.06

Blogosfera portuguesa

É apenas uma opinião...

...inteiramente pessoal...

...e que com toda a certeza, vai estar em desacordo com a maioria...

...mas tenho mesmo que a exprimir.

A blogosfera portuguesa não me atrai. Já tentei mas é quase impossível para mim acompanhar alguns dos blogs mais populares escritos por portugueses. Por algum motivo, não consigo gostar deles. Ao visitar um blog português de renome, daqueles que registam pelo menos 100 000 visitas/ano, por exemplo, deparo-me sempre com elementos que me afastam, muito mais do que os elementos que me atraem.
Uma boa parte do conteúdo não é original. Muitos posts consistem numa cópia de um artigo de imprensa seguido de um breve comentário do autor, acompanhado pelas dezenas de comentários "iluminados" onde, em 90% dos quais, pouco mais se diz do que "isto é uma vergonha" ou "só neste país".
Daqui passamos para as "relações incestuosas" entre blogs portugueses. O que significa isto? Coloca links para o meu blog que eu coloco para o teu. Quantas vezes não viram já "hoje o Vista de uma Janela Portuguesa diz isto", ou algo do género "no Ceú Nublado encontrei isto" [os nomes dos blogs são inventados, como é óbvio] e uma boa parte dos posts não têm mais do que 2 ou 3 linhas.
Olhamos para a direita, e vemos cerca de noventa mil links para blogs portugueses, alguns dos quais eu fico incrédulo por existirem. Nenhum blog português que se preze passa sem um link para o Abrupto, Causa Nossa, Bomba Inteligente, Blogame Much, Blogo Existo e por aí fora. Quando eu vejo um volume de links tão avultado fico sempre na dúvida: leram-nos de uma ponta à outra? Ou gostaram do nome? Se realmente os leram de uma ponta à outra, significa que não fazem mais nada o dia inteiro além de ler blogs, nesse caso não têm autoridade moral nenhuma para criticar a sociedade, uma vez que só a conhecem através dos blogs. Se não os leram, são irresponsáveis, porque estão a permitir uma ligação a um site cujo conteúdo vocês desconhecem.
Depois há os blogs que afirmam claramente serem de esquerda ou de direita. Não há mal nenhum nisto [ainda que esquerda e direita não existam, mas conseguem arrastar multidões. Da mesma forma que o deus judeo-cristão não existe mas é invocado por mais de metade da Humanidade], mas estes blogs tornam-se numa espécie de bandeiras dos partidos e onde supostos "iluminados" vêm expor as suas teorias para a salvação do país. Isto para não falar dos blogs dos partidos...esses são piores que os panfletos!
Apesar deste espaço ser um blog escrito em português por um português, sinto orgulho em não pertencer a esse círculo conhecido como "blogosfera portuguesa" do qual fazem parte milhares de blogs insípidos, cinzentos, vazios e desinteressantes. O único pormenor que martela a minha consciência de vez em quando é que enquanto este blog tem cerca de dez visitantes por dia, alguns que não são melhores do que este têm cerca de cinco mil, mas sempre vivemos numa sociedade de consumo... Quanto apostam que se o Abrupto tivesse exactamente o mesmo conteúdo mas um autor que não osse uma figura pública não ultrapassaria as cinquenta visitas por dia?

Redes de interacção social - a sociedade é patética

Nos últimos anos, emergiu um fenómeno no ciberespaço como “redes de interacção social” [social nectarina websites] onde os utilizadores elaboram uma página personalizada [dentro dos parâmetros permitidos pelo site] que contém fotografias, vídeos, ficheiros .mp3, opiniões, gostos, comentários e uma série de gostos pessoais. O propósito destes sites, supostamente é “fazer amigos” e manter o contacto com os actuais amigos. Os exemplos mais proeminentes são o MySpace, Hi5 e Orkut, mas existem muitos mais, alguns deles quase que dominados por utilizadores de um único país.
Longe de mim criticar as opções sociais dos seus utilizadores, mas o maior peso da sua existência deve-se ao facto de 95% dos seus utilizadores não saberem como criar uma página web própria e estão assim dependentes do template que o site propõe. Os campos que o site apresenta para serem preenchidos são adequados a miúdos de 14 anos e o nível médio dos páginas personalizadas dos utilizadores assemelha-se a algo escrito por um adolescente semianalfabeto, mesmo que o utilizador em questão tenha 20 anos. O conceito de “amigos” utilizado por estes sites é igualmente estranho, uma vez que abundam utilizadores cuja página exibe “285 amigos”, ou “130 amigos” ou “394 amigos”… Como pode ser humana e socialmente possível uma pessoa ter 285 amigos? E desde quando é que “amigo” se tornou num termo técnico? É óbvio que não o são, é mais uma forma de ostentar uma reputação social inexistente aos seus outros “amigos” e subir mais alguns pontos nos rankings sociais a que os humanos, sobretudo aqueles com menos de 25 anos, dão tanta importância.
O exemplo do MySpace é notório. Nos EUA é considerado como um fenómeno cultural juvenil e qualquer sub-25 “que se preze” tem a sua página no site MySpace.com . Forma de afirmação social? Maneira de exibir as suas opiniões? Janela para a sua personalidade? De maneira nenhuma, é antes uma cortina de fumo que apenas reflecte a grande maioria das acções dos indivíduos em sociedade, ou por acaso de um dia para o outro a população mundial passou a agir com toda a sinceridade?
Ainda mais curioso, é um pequeno mas fulcral pormenor neste site, que aparenta ser o maior dos sites de interacção social: faz parte do grupo News Corporation, cujo director é, nada mais nada menos, do que o multimilionário australiano, Rupert Murdoch, cotada na Bolsa de Nova York e que no ano fiscal de 2005 apresentou quase 24 mil milhões de dólares de lucros. O grupo News Corporation integra jornais - New York Post, The Sun, News of the World, The Times - estúdios de cinema - 20th Century Fox, Fox Television Studios - canais de televisão - Fox, Fox News, Fox Sports, BSkyB [do qual fazem parte os canais da rede Sky], National Geographic Channel - bem como “outros” componentes, onde se incluem o referido MySpace e o site IGN. Um conglomerado global de informação e entretenimento, portanto. Muito distante do que vulgarmente se associa à chamada “cultura juvenil”, ou não?
Será que se a maioria dos utilizadores do MySpace soubesse disto, ainda teriam criado a sua página pessoal naquele site, sabendo que este faz parte de uma galáxia de meios de comunicação com capacidade de influenciar as sociedades onde estão implantados? Estou convencido que não, afinal se existem conceitos que andam de mão dada, são os de “cultura juvenil” e os de “mundo empresarial”, como o nosso dia-a-dia nos demonstra tão bem.
Por último, deixo esta pergunta - se as pessoas são nossas amigas porque reduzimos o nosso contacto com elas através de um site?

30.5.06

Cartão amarelo à AR

No site do Público encontra-se a seguinte notícia: "Deputados alteram agenda parlamentar para assistir ao jogo Portugal - México", onde se indica que os nossos representantes democraticamente eleitos nas últimas eleições legislativas alteraram o horário dos trabalhos de 21 de Junho, dia do jogo com o México, o último da primeira fase, de forma a que possam assistir a um desafio que pode ser decisivo. A alteração consiste em antecipar o plenário para a manhã e atrasar as comissões para depois do fim do jogo.
Que podemos retirar disto? Que os deputados, apesar das suas funções, privilégios e salários, não são capazes de cumprir um horário como um trabalhador comum, logo, não são merecedores da legitimidade democrática com que foram investidos no último acto eleitoral que os elegeu.
Que os nossos representantes na AR atribuem a um jogo de futebol uma importância exponencialmente superior à que este tem, sendo capazes de alterar o seu horário para assistir a um único jogo.
Que os indivíduos que discutem e aprovam uma boa parte das nossas leis [a outra parte vem da estrutura da UE] assumem uma superioridade moral e laboral ao ponto de acomodarem o seu trabalho às transmissões televisivas do Campeonato do Mundo.
Que os cidadãos que no seu local de trabalho votam propostas e projectos que podem alterar as nossas vidas num curto período de tempo ousam tomar o direito ao trabalho nas suas mãos e esfregam-no na cara dos seus eleitores, a maioria dos quais trabalha por conta de outrem e não tem possibilidade de realizar o mesmo procedimento, transmitindo assim um péssimo exemplo à população quando a mensagem a transmitir aos eleitores é uma de seriedade, integridade e empreendedorismo.
Face a estas quatro razões, que legitimidade têm assim os senhores deputados da República Portuguesa de criticar a conduta dos cidadãos nacionais, mesmo quando esta é reprovável? Não estarão suas excelências a transparecer a imagem do deputado como o indivíduo que envereda pela carreira parlamentar como forma de satisfazer os seus objectivos pessoais por divertimento próprio? Existirá alguma réstia de integridade, de moral e de patriotismo em indivíduos capazes de dar tamanho mau exemplo aos seus eleitores? Que mensagem transmitem eles, sobretudo, às gerações em formação? Que interromper o trabalho não é errado se o motivo for acompanhar um jogo da selecção nacional de futebol num Campeonato do Mundo? Que todos temos o direito a abrir um buraco de 90 minutos nas nossas agendas profissionais para uma transmissão desportiva?
Parece minúsculo, de facto, 90 minutos num ano, não são praticamente nada. E de que forma pode prejudicar o país, se a sessão é apenas reconfigurada e não cancelada? Pois bem, se esta alteração não terá um efeito grave no panorama nacional, uma vez que a produtividade dos deputados não é conhecida por ser elevada, suponho que a sua substituição também não levante problemas.

Social democracia portuguesa

O chamado "Roteiro para a inclusão" de Cavaco Silva nada mais é do que o cumprimento de um dever dos órgãos de soberania que em três décadas de democracia nunca foi devidamente tratado e que eu duvido que venha ser abordado de forma séria pelo actual Presidente e pelo Governo. Já todos conhecemos esta radiografia às condições socio-económicas de Portugal - temos mais de 20% da população a viver na pobreza, no nosso país encontram-se as maiores disparidades regionais da União Europeia [embora eu ache que esta avaliação seja algo exagerada] e as perspectivas a médio prazo não são nada promissoras.
Após trinta anos de governação democrática e vinte anos de integração europeia, acompanhados de 50 mil milhões de dólares em fundos comunitários destinados a minimizar a distância que separa Portugal dos seus parceiros comunitários, a social democracia portuguesa não apresenta resultados. Toda a inspiração que fomos retirar aos países com menores desigualdades sociais e onde a educação e a saúde são universais teve resultados parciais que, ao invés de satisfazer a população, apenas a deixou mais frustrada.
Se em trinta anos e com todos os estudos e relatórios que foram elaborados sobre o assunto, Portugal não conseguiu aproximar-se da média comunitária e actualmente o nível de riqueza por habitante corresponde sensivelmente ao de 1993-94, não será concerteza um périplo do Presidente da República por algumas aldeias abandonadas do interior do país que vai ter um contributo decisivo no nosso desenvolvimento. Será que escolhemos o modelo errado às nossas circunstâncias?

29.5.06

Sapporo



Isto tem um nome

Eu julgava que tinham aprendido alguma coisa... mas não, ninguém aprendeu e repetiram a dose! Ontem tive a oportunidade de ver na RTP1 um novo anúncio de apoio à selecção no Mundial, acompanhado por uma devida música de fundo, pois claro, que consegue ser tão mau como o que passa na SIC. Não contentes em terem um anúncio que provoca o vómito num canal privado, ainda copiaram a fórmula para a televisão pública. Não sei como são as campanhas publicitárias de apoio às respectivas selecções noutros países, mas tenho a certeza que Portugal é um sério candidato ao título no Mundial da Foleirice e Cretinice!
Ah, já repararam concerteza nas habituais campanhas de apoio da Coca Cola...não notaram nada de estranho? Se a Coca Cola está presente em todo o Mundo, como pode realizar campanhas de apoio a todas as selecções presentes no Mundial? Será possível apoiar 32 equipas em simultâneo? Num jogo não podem ganhar as duas...que pretendem eles, empates em todos os jogos?

28.5.06

Comunicação pan-europeia


Ao abrigo da liberdade de informação na União Europeia e aproveitando as infra-estruturas de comunicações existentes, proponho que, a bem da aproximação entre os povos europeus, seja criado um serviço público de rádio e televisão a nível da União Europeia. Este serviço consiste na transmissão para todo o espaço da eu, em sinal aberto, dos canais públicos de rádio e televisão de todos os estados membros.
Na prática, isto significa que os espectadores na Grécia poderiam assistir às emissões da TVE, os ouvintes na Lituânia poderia ouvir as emissões da RDP, os espectadores em França poderiam acompanhar as emissões da YLE ou que os espectadores na Irlanda poderiam acompanhar as emissões da RTV. No meu entender, ainda que uma grande parte dos espectadores não compreenda as línguas nacionais uns dos outros, poderia ter um grande papel na aproximação entre os povos europeus.

O buraco negro de Timor

Não me surpreende o que está a acontecer em Timor Leste. Duvido que surpreenda alguém, um país pobre e totalmente dependente da ajuda humanitária, com um passado recente de ocupação e conflito só poderia ter este desfecho. Depois de toda a pompa com que a independência foi celebrada, depois de todas as iniciativas que foram realizadas em Portugal por solidariedade para com o "povo irmão", eis que o estado mais jovem do Mundo se encontra num ambiente de guerra civil e onde as suas autoridades não são capazes de manter a ordem. O envio de tropas estrangeiras tornou-se assim a única solução, e este não vai parar tão depressa, como indica este artigo.

Como é óbvio, a desmobilização de militares no mês de Abril foi apenas um pretexto. A actual situação está muito distante de um protesto dos militares contra uma decisão governamental e faz lembrar os dias que sucederam ao referendo de há sete anos.Tendo em conta que o país apenas tem quatro anos, terá alguma lógica afirmar que está a passar por aquilo que um grande número de países do chamado "terceiro mundo" atravessa na sua existência, ou seja, estará apenas "a actualizar-se", a recuperar tempo perdido.
Não sei ao certo como é o quotidiano em Timor Leste, mas sei que o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal é notório a fazer declarações infelizes, como uma em que afirma que a Austrália está a cometer uma ingerência nos assuntos internos de Timor Leste. Só pode ser uma declaração da boca para fora, porque se há país que pode impedir Timor Leste de mergulhar numa guerra civil e de se destruir a si próprio, é a Austrália. Muito feliz seria o futuro de Timor Leste se este se tornasse num protegido da Austrália, ao invés de continuar a manter laços artificiais de "amizade" e "fraternidade" com um país que o dominou por mais de 400 anos e que se situa no outro lado do Mundo.

27.5.06

Tigre - Panthera Tigris

Magnífico representante do Reino Animal, o Tigre (Panthera Tigris) é amado e perseguido pelos Humanos, ao ponto de se encontrar próximo da extinção. Entre os mamíferos, é o único capaz de enfrentar e sobreviver a um embate com um elefante adulto.
Possui os maiores dentes entre os felinos e é, juntamente com o Jaguar, o melhor nadador desta família. O seu peso em adulto varia entre os 100 a 180 kg das fêmeas aos 180 a 320 kg dos machos, sendo que os Tigres de Sumatra são os mais pequenos e os Siberianos os maiores. Contrariamente à maioria dos felinos, são excelentes nadadores e podem caçar as suas presas debaixo de água, sendo possível encontrar tigres em lagos, charcos e rios.
A altura do seu salto pode atingir os cinco metros e o comprimento dez metros. A sua alimentação constitui-se sobretudo de herbívoros de média dimensão, como veados, porcos selvagens, javalis, mas pode incluir também búfalos, ursos e, em casos extremos, rinocerontes e elefantes jovens, embora não seja comum. O tigre apenas ataca a espécie Humana em caso de desespero, como subnutrição, se sentir as suas crias ameaçadas, se estiver ferido ou doente.
Actualmente, o tigre distribui-se pelas seguintes subespécies Tigre de Bengala (encontrado no sudeste da Índia), Tigre da Indochina (encontrado na Tailândia, Vietname, Laos e Camboja, China e Myanmar), Tigre Siberiano (sul da Sibéria e Manchúria), Tigre da Malásia, Tigre de Sumatra e Tigre do Sul da China. O Tigre Branco constitui uma mutação do Tigre de Bengala.
Entre estas subespécies, a mais abundante é o Tigre de Bengala (podem existir entre 2000 e 3000 exemplares), enquanto que o Tigre do Sul da China já não existe em estado selvagem, contando-se cerca de 60 exemplares em cativeiros. Os Tigres Siberianos são cerca de 400 em estado selvagem mas a degradação do seu habitat e a consanguinidade vão diminuir este número ao longo dos próximos anos.
O futuro dos Tigres é, sendo optimista, incerto. Sendo pessimista, é possível que no final do século XXI, este nobre animal já não exista em estado selvagem. As maiores ameaças que se colocam perante o Tigre são, ainda hoje, a caça furtiva, sobretudo pelas suas peles e dentes e o agravamento das condições de vida nos seus habitats. Isto significa que o seu grau de perigosidade pode crescer à medida que a população diminui e é possível que os ataques a Humanos cometidos por tigres esfomeados ou doentes cresçam, como já se verifica entre os Tigres Siberianos.

Lisboa vista do ar



26.5.06

O grande pântano português

Qual a palavra que devemos levar mais a sério? A de peritos portugueses ou de um perito norte-americano? Neste caso, acho que deveríamos levar mais a sério a que foi expressa por este senhor, Jack Welch, durante um debate do Fórum para a Competitividade, onde o gestor de renome mundial aponta o dedo aos empresários portugueses e realça a má imagem que o país tem nos meio empresarial europeu e americano. A fraca competitividade, o baixo nível dos recursos humanos e gestão medíocre servem de exemplo a um país que nos últimos anos assiste a um declínio acentuado do seu vigor e cujos fantasmas parecem ser impossíveis de exorcizar.
Desde há vários anos que na imprensa da especialidade surgem artigos de peritos, portugueses e estrangeiros, que apontam para a necessidade de investimento nos recursos humanos, de especialização da economia portuguesa num ramo onde possam ser desenvolvidos bens de alta tecnologia e de elevado valor acrescentado que possam criar economias de escala e elevar o desempenho económico português.
Não são nenhuma novidade as sugestões e apelos feitos aos empresários e gestores portugueses no sentido de investirem na formação dos seus recursos humanos, de apostarem na internacionalização das suas marcas e de tomarem iniciativas. E no entanto, há mais de cinco anos que os portugueses olham unicamente para o Estado como solução do problema. Não se trata aqui de uma questão de “Estado a mais” ou “Estado a menos”, independentemente do que Belmiro de Azevedo possa pensar, trata-se sim de um forte impulso vindo da sociedade e do sector privado para a inversão do cenário, ao qual o Estado não será indiferente. Como produto da actividade Humana que é, o Estado reflecte os seus criadores. Quando a sociedade é improdutiva e decadente, dificilmente o Estado poderá intervir com sucesso.
Como pode o Estado criar um número decisivo de empregos, ter um papel fulcral na modernização e projecção das empresas portuguesas e conseguir uma subida do nível de vida dos trabalhadores quando a actividade económica do sector privado parece afundar-se num pântano sem soluções? É algo que os empresários portugueses e o governo não compreendem, ou não querem compreender. Até agora, os portugueses ignoraram ou fingiram ignorar as vozes que sugeriam soluções, ou no mínimo ideias que poderiam ter um ligeiro impacto no sentido de pôr fim ao marasmo. Esta sugestão, vinda de uma individualidade reconhecida mundialmente na matéria, provavelmente também será ignorada. Portugal tem o que merece.

O clima do Mundial

Transcrição do editorial da Newsletter GameOver nº 330. O original pode ser lido aqui.
E permitam-me que diga, o que aqui está escrito traduz os meus pensamentos, quase na íntegra!

"O Europeu de Sub-21 já começou. O Mundial está a aproximar-se. Com eles vêm os pedidos de apoio. E se há dois anos a coisa ficou pelas bandeiras nas janelas, este ano a megalomania instalou-se no universo que gira à volta da selecção nacional.
Um batalhão de mulheres no Estádio Nacional... bandeiras nas janelas... nomes dos jogadores escritos em tudo quanto é lado... mais bandeiras nas janelas... mais mulheres... mais nomes... mais de tudo. E o pior é que quem não cumpra as exigências começa a ser olhado de lado pela vizinhança.
Então não temos 204 bandeirinhas da varanda?!?! Huuuuummmm... não és bom português, não! Devias era ter vergonha na cara, meu iraniano. És da Al Qaeda, és?! És, és! Traidor!!!!! Amante do nuclear! Vai-te embora! Maricas... p********!?
A realidade é que estão a abusar!
Então e daqui a dois anos, quais serão os requisitos mínimos para nos transformarmos num bom português? Escalarmos o Evereste nus, com as Quinas tatuadas no traseiro? Pintarmos Plutão de vermelho e verde? A participação activa na criação de uma bandeira feita com rins doados pelos portugueses - previamente pintados pelas crianças da escola primária de Coina?
Assistirmos aos jogos pregados numa cruz enquanto cantamos o hino nacional? Levitarmos suavemente por cima dos estádios?
Irra! Que falta de paciência para este fundamentalismo!!!!! "

25.5.06

Creatividade Nipónica - Nanaca Crash!

É do Japão que vêm alguns dos melhores jogos de todos os tempos. O Império do Sol Nascente deu ao Mundo criações únicas e originais que ainda hoje surpreendem o consumidor ocidental. Fiquem com um exemplo disso mesmo, ainda que esteja longe de ser o melhor de todos os tempos. Apresento-lhes o jogo Nanaca Crash [em Flash], que tem um princípio muito simples: ao iniciarmos o jogo, o objectivo é conseguir que a rapariga na bicicleta atropele o infeliz peão com a maior força possível e com um ângulo favorável. Isto vai lançar a vítima a voar sobre várias pessoas estrategicamente colocadas ao longo do percurso. Ao cair sobre elas, o peão pode ver a sua velocidade aumentada, o seu ângulo subir ou descer, pode ser bloqueado ou pode conseguir uma combinação. É ainda possível provocar um novo atropelamento [no ar] quando acharmos necessário, por exemplo, se a vítima estiver a perder velocidade ou se quisermos alterar-lhe o ângulo de voo. O meu recorde é de 2259,42 metros de distância. Divirtam-se!

Melbourne



24.5.06

Gothenburg Death Metal


Uma cidade pode ganhar fama e renome a nível mundial por muitos motivos. Gotemburgo ganhou reputação internacional graças ao movimento Death Metal que ali teve origem no início da década de 1990.
Como "descendente" do Thrash Metal que emergiu na década de 1980 e como um dos ramos do Death Metal, face ao que representavam bandas como Carcass, Sepultura [tnato no Death como no Thrash Metal], Bathory e os primeiros álbuns dos Mayhem, o Death Metal de Gotemburgo sobressaiu pelo seu carácter melódico e pela elevada precisão técnica dos seus instrumentos, sem que por isso tenha deixado de ser Death Metal. Muito pelo contrário, bandas como Unleashed, In Flames, Entombed e, os que mais aprecio, Dark Tranquillity, demonstraram ser possível realizar uma forma de Death Metal sem comprometer as suas origens.
Ouvi-los é como uma corrente de sonoridades pesadas, de velocidade, de melodia e de excelência na execução das músicas que está ao alcance de muito poucos, onde não faltam solos de guitarra e de teclado [sim, esta vertente de Death Metal utiliza teclados frequentemente], intervalos acústicos e vozes guturais acompanhadas por momentos mais cristalinos. O resultado pode ser visto, e ouvido, em todo o seu esplendor sob as seguintes formas:

O estilo ganhou a sua designação devido à ascendência da importância da Suécia no panorama do Metal em geral no final da década de 1980 e início da década de 1990, como consequência da profusão de bandas Death Metal naquele país e pela localização de estúdios e editoras na cidade de Gotemburgo que tornaram aquelas bandas incipientes e inovadoras em autênticas estrelas do firmamento metálico. Embora se considere que o Death Metal de Gotemburgo atingiu o seu auge em meados da década de 1990 e que actualmente já não existe, o seu legado fica para a História. Deixo a minha muito merecida homenagem às bandas associadas ao Death Metal de Gotemburgo, sejam originárias de Gotemburgo, de Estocolmo, de qualquer outra localidade sueca, da Finlândia, da Noruega ou de qualquer outro país onde existam bandas que sigam a especialidade!

Praxes em particular, tradições académicas em geral

Foi hoje divulgado pelo JN que cerca de um terço dos estudantes universitários de Coimbra considera que as praxes devem ser violentas, face a dois terços de indivíduos daquele universo que discorda. Perante reacções que consideram aquele resultado surpreendente, considero que não traduzem nada de estranho.
Os cerca de 32% que caem naquela categoria representam o que de pior existe nas universidades portuguesas. São aqueles para quem uma licenciatura de quatro dura sete ou oito, que a primeira palavra que surge associada ao conceito "Universidade" é "borga" e são os primeiros a vociferar protestos ruidosos, e por vezes violentos, contra as propinas sem compreender que sem as propinas, o seu estilo de vida não seria possível. São indivíduos cuja imagem transparece à sociedade como do "estudante típico" e que provocam a ira das chamadas "classes populares" que não tiveram oportunidade de prosseguir os seus estudos e que desenvolvem um desprezo irracional pelos estudantes universitários que parece crescer com a idade.
De facto, parece paradoxal encontrar criaturas com um grau de estupidez tão elevado numa instituição tão prestigiada como a Universidade de Coimbra. Parece, mas não é, e passo a explicar porquê. Ao longo das décadas, e sobretudo durante o século XX, a Universidade de Coimbra (muito mais do que a Universidade de Lisboa ou a Universidade do Porto) desenvolveu uma imagem de elitismo e de exclusividade, contornada por uma auréola romântica expressa pelos fados de Coimbra e pelas "tradições" académicas, como o traje, a praxe, o cortejo da queima das fitas e outras práticas.
Com a generalização do Ensino Superior após 1974 e a sua chegada a todos os distritos do país, a UC perdeu bastante e actualmente encontra-se abaixo das Universidades de Lisboa e Porto. Porém, isto apenas acentuou o orgulho dos "guardiões" de Coimbra, sobretudo quando vêem os seus emblemas e práticas serem adoptadas por virtualmente todas as Universidades, públicas e privadas, que existem em Portugal e todos os Institutos Politécnicos que passaram a disponibilizar praxes, trajes e queimas das fitas aos seus estudantes, em nome da "tradição académica".
Não sei ao certo a origem das chamadas "tradições académicas", mas como tudo o que é tradição, não têm razão de existir. Não têm razão de existir porque não são elementos fulcrais à definição da identidade estudantil, nem em Coimbra, nem em qualquer outra Universidade do país. Ou por acaso se um estudante não participar numa praxe, não envergar um traje académico ou tomar parte numa queima das fitas, isso torna-o num "membro de segunda" da comunidade estudantil?
Não têm razão de existir porque, no caso das praxes, além de não fazerem sentido, são um pretexto para a humilhação física e psicológica dos caloiros em alguns estabelecimentos, basta apenas procurar exemplos para fundamentar o que eu digo. Se em muitas instituições o objectivo não é esse, existe ainda um número elevado de casos onde as chamadas "práticas de boas-vindas" deram azo a "práticas de estupidez" por parte dos seus executantes.
Não têm razão de existir porque qualquer prática que tenha sido realizada há 150 anos atrás por um pequeno grupo em determinado local e que tenha sido repetida nos anos subsequentes pode ser elevada a "tradição" sem que exista motivo para isso. Eu imagino que quando muitas "tradições" começaram, os indivíduos que as puseram em prática não tinham como objectivo deixar semelhante "legado" às gerações futuras.
E finalmente, não têm razão de existir porque uma Universidade é uma instituição de ensino e de aprendizagem, não de práticas semi-folclóricas que ao abrigo do rótulo "tradição" expõem toda uma mentalidade retrógrada e sem sentido que acaba por servir de pretexto a episódios absolutamente ridículos que em nada dignificam o nome da Universidade e dos seus estudantes.
PS - Há alguns anos, uma amiga japonesa perguntou-me se era mesmo verdade o que ela tinha lido num livro sobre Portugal, onde constava que os estudantes universitários portugueses usavam uma capa preta que, no ano de conclusão da licenciatura, deveria ser rasgada pela/o namorada/o, pelos amigos, pelos pais e professores. A minha resposta foi "Só em Coimbra...", estava errado?

Ad nauseam

Não sou grande fan de publicidade, mas este anúncio é qualquer coisa de extraordinário! Vejam que vale bem a pena. Infelizmente nunca passou em Portugal.

Realizador: Anthony Atanasio

23.5.06

Os Óscares que nunca foram

O pequeno quer ser grande, não tenhamos dúvidas. O pobre quer ser rico. O ignorado quer ser reconhecido. O infeliz quer ser feliz. É verdade e é impossível escapar a estes absolutismos, por mais excepções que se verifiquem. É assim que assistimos a tentativas de emulação por parte do pequeno, pobre, ignorado e infeliz que o aproximem, nem que seja por um curto espaço de tempo, do grande, rico, reconhecido e feliz. É assim que o imitador acaba por se ridicularizar a si próprio ao invés de tentar sobressair pelas qualidades que pode vir a ter e transparece uma imagem de cinzentismo, seguidismo e imitação pura e simples, de algo maior. Como é óbvio, falo dos Globos de Ouro que foram transmitidos pela SIC há uns dias…os Óscares que nunca foram e que, nas palavras iluminadas de um dos convidados, podem ser úteis para aumentar a auto-estima dos portugueses.

Ah, além daquela inevitável pergunta: “vens vestida por quem?” Suponho que se a convidada fosse paraplégica ou sofresse de esclerose múltipla não iria envergar roupas mais caras do que um bilhete de avião para Tóquio em primeira classe…

Estados Unidos e Líbia

Os EUA normalizaram as relações diplomáticas com o regime de Khaddafi. A sério, têm de ver isto! Cliquem no respectivo vídeo.

22.5.06

Itália vs. UE

Esta animação em flash já existe há algum tempo e foi vista por muita gente, mas não significa que tenha perdido o seu valor. E posso dizer que muitas daquelas situações também se podem aplicar aos portugueses.

RTP 3D

Devem concerteza ter visto os anúncios aos programas da RTP em 3D. E como é óbvio, para poderem ser vistos precisam daqueles óculos que as pessoas usavam na década de 1950 para ver os filmes em três dimensões, como na altura era moda nos EUA. Acompanha bem os tempos, a televisão pública, isto para não dizer que os tais óculos que a RTP anuncia são comprados no Continente por 1 Euro, quando em qualquer outra situação [as poucas que ainda deles fazem uso] são gratuitos.

21.5.06

A confirmarem-se as projecções...

...parece que vamos ter um novo Estado.

Verão português


Não interessa que a data oficial seja apenas a 21 de Junho, o Verão em Portugal já começou e posso dizer que começou no dia em que Scolari anunciou os convocados para o Mundial e irá apenas terminar quando o último fogo florestal for extinto, ou seja, lá para meados de Outubro.
Passo a explicar, como já sabemos, a cada ano que passa as estações do ano intermédias - Primavera e Outono - vão-se diluindo cada vez mais e o Verão e Inverno tornam-se as duas potências dominantes do clima em Portugal. Para todos os efeitos práticos, estará assim correcto dizer que o Verão em Portugal começa em Maio e termina em Outubro, para ser rapidamente substituído pelo Inverno, que embora não seja dominado por frio extremo e queda acentuada de neve na maior parte do país, é o suficientemente diferente do Verão para ser chamado de Inverno.
Ora, em 2006, ano de mundial de futebol, o Verão de Portugal e o campeonato do Mundo conjugam-se de forma a criar o maior analgésico mental colectivo desde a invenção da TVI. A partir do dia em Scolari anuncia os convocados para o mundial, os seus escolhidos e excluídos passam a dominar o panorama noticioso. São os perfis dos escolhidos, são as birras dos excluídos que sem se aperceberem estão a dar razão a quem não os escolheu, são as reacções dos comentadores [a profissão mais cretina do Mundo, ser pago para falar de futebol ou de qualquer outro desporto], são os 459 directos com grandes figuras do futebol português, são os treinos da selecção…enfim, um autêntico Verão para os sentidos.
E mais ainda contribui para que o Verão se acentue sobre as nossas mentes quando, ao estarmos mergulhados no ambiente do Alemanha-2006, ou melhor, dos media-portugueses-2006, estamos totalmente indiferentes ao que se desenrola no país. Provavelmente porque o nosso instinto nos diz que quando há um campeonato do Mundo a decorrer, mais nada acontece. Só por terem este raciocínio, já mereciam ser pendurados pelas partes privadas no novo “Centro de Lazer” do Campo Pequeno e ser deixados à mercê de touros nos quais foi aplicada uma ponta metálica particularmente quente no traseiro, para criar uma tourada verdadeiramente divertida: aquela em que o, ao contrário do touro, o cretino é que sofre.
Como eu estava a dizer: já sabemos que o efeito dos jogadores da selecção portuguesa na sua população pode criar uma sensação de hipnose colectiva. Em vésperas de campeonato do Mundo, um perfil do Cristiano Ronaldo vale mais do que dez atentados no Iraque, um passe do Deco durante o treino vale mais do que um aumento de impostos, um arroto do Pauleta vale mais do que um meteoro com 400 km de diâmetro a sete dias de atingir a Terra e de nos exterminar a todos… Isto, meus caros e caras, é o Verão português, dentro e fora de nós, no corpo e na mente!
PS - se por acaso o Governo quiser aprovar um pacote de medidas que incluam o aumento do IVA para 25%, a redução de salários da Função Pública, o estabelecimento de censura prévia às notícias de carácter político, a legalização da mentira quando esta seja “a bem da auto-estima nacional” ou a entrega da gestão dos hospitais e escola públicas a consórcios privado suspeitos de promiscuidade com o sector público, esta é a altura ideal!

Os vencedores!

Onnentoivotukset, Lordi!

20.5.06

Referendo no Montenegro


Amanhã realiza-se um referendo no Montenegro, um dos dois estados que constituem a Federação da Sérvia e Montenegro, cujo resultado irá ter uma de duas consequências possíveis: a actual situação de associação com a Sérvia ou a independência.
O que pode ser visto como a peça final para desagregação completa da Jugoslávia, tem uma importância relativamente pequena, apesar do valor que os montenegrinos estão a dar à questão. Encontramos estados federais na Alemanha, nos Estados Unidos da América, no Brasil e na Rússia, por exemplo e apesar de existirem condicionantes locais, o modelo não varia. Uma federação implica um largo grau de autodeterminação aos seus estados constituintes, enquanto o governo federal se ocupa das matérias da defesa nacional, da representação externa e da política económica. Por outras palavras, os aspectos do dia-a-dia são tratados ao nível das instituições locais, sendo que os governos estaduais possuem as suas próprias políticas educativas, códigos penais, legislação comercial, política de investimentos, etc.
Em muitas situações, o estatuto de estado federado, como parte de uma federação está relacionado com a existência de uma população com uma língua, cultura e/ou religião distinta de outros estados parte dessa mesma federação.
No caso do Montenegro, a própria política monetária é decidida não pelo governo federal mas de uma forma mais difusa, uma vez que o Montenegro utiliza o Euro como moeda, embora formalmente não faça parte da zona Euro. Por este motivo, podemos dizer que, de facto, quem decide a política monetária do Montenegro é o Banco Central Europeu. Anteriormente à utilização do Euro, o Montenegro utilizava o Marco alemão desde 1996.
Qual é afinal a razão da independência do Montenegro? Não existiu conflito militar com a Sérvia nem tensões ao nível da sociedade. A grande maioria dos montenegrinos afirmam que a sua língua materna é a língua sérvia, havendo uma parte da população que declara falar montenegrino, língua que não existe e que consiste na língua sérvia com algumas variantes vocabulares. Não existe nenhum estrangulamento do Montenegro por parte do governo federal, uma vez que fora a defesa e os negócios estrangeiros, o Montenegro possui soberania própria, logo, a independência não será sinónimo de investimento estrangeiro e maior prosperidade. Motivos históricos? Dificilmente, uma vez que a história do Montenegro não dá motivos suficientes de separação em relação à Federação da Sérvia e Montenegro, para a qual o Montenegro contribuiu de sua livre vontade.
É simplesmente o resultado de uma endoutrinação e do comunitarismo reinante que se verifica ao nível micro e ao nível macro em todo o Mundo. A partir do momento em que um grupo de indivíduos se começa a percepcionar como possuidores de características que os distinguem de outros próximos de si, está concluída a primeira etapa de um processo que pode conhecer desenvolvimentos violentos e conflituosos. Quando isto é aproveitado com propósitos políticos, temos situações como esta. Felizmente, no caso do Montenegro, não existe ameaça de conflito, mas existiu em inúmeras outras.
Se observarmos o caso através de outra perspectiva, chegamos a uma conclusão diametralmente oposta à que foi apresentada. A de que a independência do Montenegro será o ponto final numa união que nunca devia ter existido. A antiga Jugoslávia, como consequência do Tratado de Versailles que foi, não tinha razão de existir. Não fazia sentido unir o que nunca esteve unido, durante sete décadas os sentimentos nacionalistas e o comunitarismo da população nunca foi apagado, apenas sublimado e esquecido. A falência do modelo ideológico unificador levou as populações a voltarem-se para os seus antigos elementos identitários, bastando juntar o radicalismo político que inflamou multidões naquele país para tornar possível o pior conflito europeu desde a II Guerra Mundial.
Terminado o regime comunista, a História foi corrigida, da pior maneira. O processo ainda não terminou, ao referendo do Montenegro vão suceder as negociações para o estatuto final do Kosovo e que poderão resultar na independência daquela província sérvia de maioria albanesa que nunca teve o estatuto de república que os outros constituintes da ex-Jugoslávia tiveram. Podemos ver nesta questão, pelo menos parcialmente, um regresso ao passado, o desagregar da já ténue linha que manteve os habitantes da antiga Jugoslávia unidos em torno de um projecto único.

Frankfurt



19.5.06

Festival da Eurovisão

Festival da Eurovisão - celebração cultural Europeia ou paradigma da foleirice e do eurolixo?

Pode perfeitamente ser as duas coisas. Como instituição que se tornou ao longo da segunda metade do século XXI, o Festival da Eurovisão é considerado um acontecimento fundamental da televisão Europeia, um ponto a não perder para milhões de pessoas em todo o continente. Representando um esforço conjunto de vários canais de televisão pública europeus, pode ainda ser visto como uma competição amigável entre intérpretes vindos de toda a Europa. É um dado incontornável, o Festival da Eurovisão faz parte da cultura pop dos europeus e quer gostemos quer não, tem um lugar relevante nos mass media do continente.
Em causa está também a suposta qualidade das canções interpretadas, a grande maioria das quais constituem uma manufactura de ritmos pop idênticos com um toque étnico a acrescentar algum exotismo, uma vez que as editoras descobriram o potencial riquíssimo que as músicas com influências “étnicas” podem atingir em termos de vendas interpretadas por alguém acompanhado/a por uma série de donzelas a exibirem as pernas, certamente com o objectivo de desviar as atenções da prestação do intérprete, o que muitas vezes conseguem! As canções são, como eu estava a dizer, na sua maioria uma massa enfadonha e repetitiva em que existe mais espectáculo [conceito muito relativo] visual do que sonoro. E muito embora façam o público delirar, a força do mercado não se faz esperar: um ano volvido, e os vencedores da edição anterior ou caíram no esquecimento ou apenas reforçaram a sua popularidade no seu país de origem.
Porque vemos então, às centenas de milhões, o Festival da Eurovisão todos os anos? Porque gostamos de telelixo? É possível. Porque apela aos sentidos sensíveis para a foleirice dentro de cada um nós? Talvez, não digo que não. Mas acima de tudo, a maior razão, o motivo impulsionador desta nossa afeição pelo festival é este: as votações. Sim, isso mesmo, nós adoramos aqueles minutos de entusiasmo em que os júris de cada país anunciam que canções vão receber pontos da sua parte. Ao assistirmos à interpretação das canções, os piores comentários possíveis vêm à mente, mas ao assistirmos às votações, estamos totalmente concentrados, a fazer previsões e a elaborar diagnósticos. Para saber quanto é que a França vai dar Bélgica. Para termos a certeza se a Estónia vai dar os 12 pontos à Letónia ou à Finlândia. Para confirmarmos se a França vai dar 12 pontos a Portugal. E depois para criticarmos ferozmente as opções dos telespectadores, com comentários do estilo “eu já sabia, aquela gente lá pró leste votam todos da mesma maneira, não percebo porque se separaram!” ou então “sacanas dos espanhóis, nem um ponto nos deram!” e outros do mesmo estilo.
Não só, em Portugal temos o privilégio de ouvir os comentários de Eládio Clímaco, esse ícone da televisão portuguesa que nos narrou os Jogos Sem Fronteiras. Tentaram retirá-lo das ondas ao acabarem com os JSF, mas Eládio não desaparece e todos os anos nos transcende com os seus geniais comentários, acompanhados pelas manifestações de júbilo, como por exemplo: “5 pontos para Portugal!! A Alemanha dá 5 pontos à canção portuguesa!!” proferido com um entusiasmo delirante. Este ano não vamos ouvir isso. Moving on, o Festival é sem dúvida um ícone contemporâneo Europeu, consegue fazer vir ao de cima os sentimentos nacionais profundamente enraizados nas consciências dos europeus que assistem à sua transmissão e consegue ser tão foleiro quanto a cidade de Branson, no estado Americano do Missouri, que é, nas palavras imortais de Homer Simpson, citado pelo seu, “like Las Vegas, if it were run by Ned Flanders”.

60, o nosso património, a nossa identidade!

À primeira vista [e à vista desarmada, diga-se], parece ser um meio de transporte igual aos outros. Ao serviço da Carris, autocarro [moderno, diga-se, com honras de mostrador digital, menor emissão de gases e ar condicionado] como tantos outros….mas não, este não, pois este tem uma alma, uma vida e uma fauna própria! Meus caros, apresento-lhes a carreira número 60! Este tão vulgar e no entanto tão singular autocarro é um autêntico jardim zoológico socio-antropológico [sim, eu sei que o termo não existe, mas eu gosto de inovar], bastam 15 minutos a bordo daquela carreira e somos imersos numa panóplia de sons, visões e cheiros tão diversos como característicos das pessoas que o utilizam diariamente.
A carreira 60 cobre o percurso entre o Cemitério da Ajuda e o Martim Moniz, passando por locais como o Alto da Ajuda, Rua de D. Vasco, Boa Hora, Rua da Aliança Operária, Calvário, Alcântara, Conde Barão e Praça da Figueira. Mas não é só de locais que o percurso do 60 é feito, é de gentes, é de sensações, é de vivências, é de experiências únicas que a cidade de Lisboa nos pode oferecer através desta montra para a nossa identidade, representada tão modesta e humildemente por um autocarro com o número 60 na frente.
Experiências como a de ver uma mulher cigana a berrar pelo seu sobrinho para que este retirasse o seu carro da esquina de forma a que o autocarro pudesse entrar na rua, sob chamamentos tradicionais -”Olha que levas!!!!”- enquanto tranquilizava os restante passageiros. Experiências como ficar parado quase 30 minutos por causa de um eléctrico imobilizado à frente do autocarro. Experiências como o intenso e pitoresco odor de alguns dos passageiros e da sua “bagagem” que delicadamente pousam na superfície do veículo, mil aromas que vão desde o alho semi-mastigado que se liberta da cavidade bocal, àquele je ne sais quoi entranhado nas vestes do povo trabalhador [e não só…] para quem lavar a roupa e tomar banho são luxos desnecessários. Ou como a do artista cuja obra consiste na repetição da mesma sílaba dezenas de vezes a quem quer que seja que ele encontre ao seu lado.
Um passeio no 60 é mais do que um simples percurso pela Lisboa profunda, é uma visita etno-espiritual pela alma da cidade, pelos seus habitantes mais característicos que nunca serão esquecidos! Proponho assim a elevação da carreira 60 da Carris a Património Oral, Visual e Olfactivo da Humanidade, invente-se uma categoria para isto pois nós, Lisboetas, não podemos ficar parados e ver o nosso património a degradar-se, preservemos aquilo que é nosso, tenho dito!

18.5.06

Lisboa na CNN


No site da CNN encontram-se disponíveis guias para algumas das mais conhecidas cidades do Mundo, com o pormenor de serem orientados por uma série de personalidades onde se incluem cantores, arquitectos, realizadores, actores, etc.

A última cidade a ser adicionada foi Lisboa, que foi visitada por dois jornalistas da CNN, guiados pela fadista Mariza. Ao ler o artigo, deparei-me com aquilo que eu temia: Lisboa é, acima de tudo, uma cidade pitoresca, em que o tempo parece estar parado há 100 anos, em que o fado é a alma da cidade e que segundo os autores do artigo, pode ser ouvido enquanto caminhamos pelas ruas ao anoitecer, e onde a identidade é definida por sítios como o Bairro Alto e Alfama.
O artigo afirma mesmo que a última vez que uma mudança chegou a Lisboa foi com terramoto de 1755 "The last time Lisbon embraced change was in the 18th century after much of the city was wiped out by earthquake and tidal wave -- the result was the elegant Baixa district, a celebration of Enlightenment order and rationalism". É referida a chegada do século XXI, mas sem nada que o ateste.
O artigo inclui ainda os clássicos erros ortográficos que compõem qualquer artigo sobre Portugal escrito por autores anglófonos, como por exemplo, o facto de no Bairro Alto ser o sítio perfeito para beber uma caiphirinha [sic], uma bebida bem portuguesa, diga-se. Entre os bares do Bairro Alto é ainda referido o Pavilhão Chinês [que por acaso fica no Príncipe Real] e em relação às discotecas, é referido o Kremlin, que segundo o artigo, fica na Madragoa. Eu não tenho a certeza em relação ao nome do local onde fica o Kremlin [uma vez que nunca lá estive, para mim o único Kremlin fica em Moscovo] mas não julgo que seja na Madragoa.
Sem esquecer, claro, a importância dada às casas de fado, consideradas como verdadeiras essências de Lisboa, e eu que nunca fui a uma... Resumindo e concluindo, Lisboa é apresentada como uma capital minúscula e a sua grandeza vem da sua pequenez, quer física quer psicológica. Para quem escreveu o artigo, Lisboa resume-se a Alfama, Bairro Alto, Baixa Pombalina e Castelo. O facto de nesses locais viverem provavelmente menos de 10 000 dos 550 000 habitantes da cidade parece ser irrelevante. Tal como o facto de o fado ser sobretudo um alvo do interesse de turistas e de estudiosos da matéria mas não da maior parte da população, é igualmente irrelevante.
Mas não os posso censurar, Lisboa construiu uma imagem de pequenez, tradicionalismo e de capital parada no tempo, onde a decadência e a nostalgia são rainhas, e este artigo é apenas um reflexo disso mesmo. Como Lisboa é um microcosmos de Portugal [sempre ouvi dizer que "Portugal é Lisboa, o resto é paisagem"], suponho que o mesmo raciocínio se aplica ao nosso país no geral. Mas para quem gosta deste tipo de atracções, o artigo é muito bom.

Bush down the drain...

George W. Bush apresenta o índice de popularidade mais baixo desde que iniciou funções em Janeiro de 2001. Depois de ter atingido valores a rondar os 90% no seguimento dos atentados de 11 de Setembro, a sua popularidade não pode resistir à sua personalidade e à sua forma de dirigir o país, bem como aos erros cometidos pela sua administração. Desde a recessão económica que provocou um aumento do desemprego e uma consequente subida da criminalidade [recessão que os EUA já superaram], à insolvência do sistema educativo e de saúde, passando pela invasão do Iraque que contava inicialmente com um apoio substancial da opinião pública e de medidas impopulares como por exemplo, a adopção do Patriot Act, em Novembro de 2004 Bush conseguiu ser reeleito contra um adversário que não oferecia suficientes perspectivas de mudança ao eleitorado descontente.
Desde o início do seu segundo mandato em Janeiro de 2005, Bush raramente ouve boas notícias. Ao caos em que mergulhou o Iraque, tornando necessária a presença por tempo indeterminado das tropas americanas naquele país e aumentando semanalmente o número de vítimas iraquianas e de soldados americanos mortos, juntou-se o furacão Katrina que expôs sérias falhas na organização interna dos serviços de emergência, o falhanço da Área de Comércio Livre das Américas, as extremamente controversas escutas telefónicas efectuadas pela NSA a cidadãos americanos, os escândalos que atingiram membros da sua administração, a crescente tensão em relação ao problema da imigração ilegal para o país, a dificuldade em abordar o programa nuclear iraniano e, finalmente, a controversa nomeação do General Micheal Hayden para director da CIA.
Nada distou ajudou Bush, tudo contribuiu para a queda de popularidade do Presidente. Embora o Presidente dos EUA não seja um Chefe de Estado todo poderoso que concentre os poderes na sua mão, é a face visível de um imenso sistema, e essa face só dispõe de opiniões favoráveis junto de 29% do eleitorado dos EUA, sem surpresas, claro. Neste segundo mandato, George Bush tentou agradar a quase todos os sectores internos e externos, e a juntar às suas já conhecidas tiradas que caem bastante bem junto das comunidades evangélicas que muito contribuíram para a sua eleição, no plano interno de seguimento a medidas que o aproximaram do perfil do Partido Democrata e no plano externo aproximou-se à União Europeia, podendo-se já considerar que o afastamento provocado pela divergência em relação ao Iraque está superado. Too little, too late.
É impossível agradar a todos e por mais que George Bush e o Partido Republicano pretendam deixar caminho aberto para um sucessor, seja quem for o candidato daquele partido em 2008 vai ter uma tarefa extremamente complicada. Se a larga maioria dos Democratas e Libertários nunca gostou de ter Bush como Presidente, existe uma desilusão cada vez maior entre os sectores mais conservadores da sociedade Norte-Americana que consideram que Bush não cumpre os seus desígnios.
Todos tínhamos uma ideia de quem era George W. Bush antes de ser eleito. Pelo que ouvíamos do então Governador do Texas, a opinião era unânime: é um inculto, um ignorante, um saloio, um idiota. Não que isto seja novidade no posto presidencial, de maneira nenhuma, mas é através de situações como esta que agora observamos que podemos ter a certeza absoluta disto: este homem não é líder para a maior potência do Mundo.

17.5.06

Toronto



Observação de carácter filatélico

A confirmar-se a gravidade do escândalo financeiro envolvendo a Afinsa e a Forum Filatélico, este pode muito bem ser o maior golpe que Portugal deu a Espanha desde 1 de Dezembro de 1640...ainda que de uma forma muito indirecta...sem benefícios para o Estado...nem qualquer mais valia para Portugal...e totalmente desprovido de glória...

Ok, não foi golpe nenhum! Mas temos que nos agarrar ao que podemos, certo?

16.5.06

Mr. Burns



Smithers: Sorry to awake you sir, but there's a sweet 10-year old boy at our door.

Burns: Release the hounds.

15.5.06

Mapas do Universo


Estas imagens são o mais próximo que temos a um mapa da nossa localização no Universo. Passo então a explicá-las: a nossa localização está sempre no centro da imgem. No caso da imagem à esquerda deste texto, vemos o nosso Sol no centro, num plano das imediações do nosso sistema solar. São visíveis as estrelas Proximus Centauris e Sirius, duas das estrelas mais próximas da nossa.
A segunda imagem representa as imediações exteriores do nosso sistema solar. Num raio de 250 anos luz em torno do nosso Sol, encontram-se as estrelas Arcturus, Capella, Aldebaran, Vega, bem como as que compõem a constelação conhecida como Ursa Maior. Estas estrelas estão entre as mais reconhecidas pelos terráqueos e embora 250 anos luz sejam aproximadamente 2365 200 000 000 000 km, esta distância é relativamente curta à escala universal, podendo a fracção representada na imagem ser considerada como uma pequeníssima subdivisão do Universo.
A terceira imagem é um mapa da região local da Via Láctea em que se encontra no nosso sistema solar, no braço de Orion, entre o braço de Perseu e o braço de Sagitário. Nesta imagem, estão representaos os maiores corpos celestes num raio de 5000 anos luz.
Esta quarta imagem é muito mais representativa e apresenta-nos a nossa galáxia, a Via Láctea, indicando a localização do nosso Sol, apontando o nome dos braços da galáxia e indicando ainda uma galáxia menor nas suas imediações. Especula-se que centro da Via Láctea possa existir um buraco negro. O diâmetro da galáxia ronda os 100 000 anos luz.



Na imagem à nossa esquerda encontram-se representadas as imediações da Via Láctea, onde é possível ver galáxias menores em seu torno. Encontram-se assinaladas a Grande Nuvem de Magalhães e a Pequena Nuvem de Magalhães, bem como algumas galáxias anãs. Este mapa representa as galáxias num raio de 500 000 anos luz da Via Láctea.

Esta imagem indica-nos o grupo local de galáxias, um ajuntamento formado pelas galáxias vizinhas da Via Láctea num raio de 5 milhões de anos luz. As galáxias fazem parte de grupos locais que por sua vez se integram em superconjuntos, formando assim as maiores estruturas do Universo.

Aqui temos o superconjunto no qual se integram os grupos locais vizinhos ao nosso. Chama-se superconjunto Virgem e eu confesso que não sei se existe alguma ligação gravitacional entre os grupos de galáxias que fazem parte destas estruturas. É possível que sim, uma vez que a pressão gravitacional de vários milhares de milhões de estrelas é suficiente para afectar o espaço à sua volta em vários milhares de anos luz. Aqui estão representados os grupos locais num raio de 50 milhões de anos luz do nosso.

Nesta penúltima imagem encontramos cartografados os superconjuntos mais próximos do nosso, num raio de 500 milhões de anos luz. É quase impossível compreender a vastidão do que se encontra representado aqui. Basta dizer, com base nas imagens anteriores, que cada superconjunto compreende vários grupos locais de galáxias. As galaxias dispõem de tamanhos variáveis, podendo conter entre dez mil e cem mil milhões de estrelas, o que torna praticamente incomportável tentar calcular o número de corpos celestes que se encontram nas manchas brancas desta imagem.

Finalmente, na última imagem desta série, uma tentativa de cartografar o Universo visível. As manchas que podemos ver na imagem representam ajuntamentos de superconjuntos de galáxias. O alcance global desta imagem é de aproximadamente 15 mil milhões de anos luz, de forma a coincidir aproximadamente com a data do Big Bang, a partir do qual o Universo iniciou a sua expansão contínua e que ainda hoje prossegue. No centro encontra-se assinalado o superconjunto em que nos encontramos. A esta distância, já não nos definimos pelo nosso planeta, pelo nosso sistema solar, pela nossa vizinhança de estrelas, pela nossa galáxia, ou sequer pelo nosso grupo de galáxia. A uma distância tão longínqua, defininimo-nos pelo nosso superconjunto, uma entidade que contém literalmente triliões de estrelas e que não conseguimos de modo algum compreender. Com base na teoria de que o espaço-tempo é curvo, é possível pensar no Universo como circular e assim imaginar que se descolássemos do nosso planeta e prosseguíssemos pelas profundezas do espaço, passados vários milhares de milhões de anos luz regressaríamos ao ponto de partida. Porém, temos de ter em conta que o Universo nunca pára de se expandir, e que o tempo que demorarmos a percorrer 15 mil milhões de anos luz será suficiente para o Universo ter acrescentado outros 15 mil milhões de anos luz à sua dimensão. Até que poderá iniciar o seu processo de contracção, o chamado Big Crunch, e regressará ao que era antes do Big Bang, um minúsculo ponto infinitamente quente e denso, até que explodirá uma outra vez e dele irão emanar novas formas de matéria e anti-matéria, poeira espacial, hidrogénio, quasares, protões, electrões, fotões, neutrinos e tudo o mais que graças à força da gravidade mantém o nosso Universo em equilíbrio. Divirtam-se!

Antiamericanismo

Não sei ao certo quando começou o fenómeno do antiamericanismo. Provavelmente é tão antigo como os EUA. Mas não podemos negar, desde o final do período bipolar que se acentuou e ganhou novas dinâmicas de manifestação, principalmente nos países ocidentais. Sobretudo porque até 1989, as pessoas mais afectas ao antiamericanismo localizavam-se sobretudo nas margens do espectro social, eram na sua maioria comunistas pró-soviéticos, maoístas ou anarquistas.
Desde a queda do Pacto de Varsóvia e com o desaparecimento de uma ameaça militar concreta vinda da Europa de Leste, os sentimentos hostis em relação aos EUA ganharam simpatizantes em vários sectores das sociedades ocidentais. Encontram-se antiamericanos não só entre os extremos mas também dentro do sector mais central do espectro político. O que será então, o antiamericanismo? Se seguirmos uma orientação inteiramente semântica, ficaremos com a impressão errónea que um antiamericano é uma pessoa que é determinantemente oposta ao continente Americano, que vai desde o Alasca à Patagónia. Como sabemos, isto não é verdade.
O prefixo “anti” indica uma oposição incondicional, sem margem para recuos, o que significa que um antiamericano deveria ser uma pessoa com um ódio profundo pela América e por tudo o que esteja relacionado com aquele vasto continente. Todos sabemos que não é assim, o significado vox populi indica-nos que um antiamericano é uma pessoa que se opõe determinantemente às políticas dos governos dos Estados Unidos da América, por considerar que estas são prejudiciais para o Mundo e por responsabilizar Washington pelos males do planeta, desde os conflitos militares, às fomes, epidemias e pobreza que assolam o continente americano, africano e asiático em várias vertentes. Logo, o conceito está errado.
Nesse caso, uma pessoa que se considera antiamericana deveria apenas mostrar a sua oposição pelos governos dos EUA com os quais discorda. O que se verifica é que algumas das pessoas que são consideradas antiamericanas têm uma particular afeição pela bandeira dos EUA [sobretudo se esta estiver a arder] e por participar de forma entusiasta na destruição de McDonald’s [eu sei que os hambúrgueres deles sabem a plástico mas não é preciso tanto], aliviando assim a sua consciência por julgar que prejudicou de alguma forma os EUA, logo estará a beneficiar as suas vítimas.
Assim reza o mito, assim não é a realidade. Primeiro porque os EUA não são uma superpotência imperial, digam o que disserem, Washington não domina o Mundo, de maneira nenhuma. Segundo, porque os EUA são um país demasiado grande para o remetermos à categoria de alvo de oposição violenta, o Mundo precisa dos EUA e os EUA precisam do Mundo, independentemente do que possam dizer os senhores Fidel Castro, Hugo Chávez e Evo Morales. Terceiro, porque ao destruir um McDonald’s ou boicotar produtos vindos dos EUA [que pela Europa são cada vez mais raros, quando foi a última vez que viram um produto com a etiqueta “Made in USA”?] estão a prejudicar a população activa do seu próprio país.
Imaginemos uma manifestação antiamericana no Brasil [por exemplo] onde é destruído um McDonald’s, sim, arrasaram um símbolo do “imperialismo yankee”, mas a única coisa que conseguiram foi que os brasileiros que lá trabalhavam fossem parar ao desemprego e que as economias de escala associadas àquele estabelecimento fossem gravemente afectadas, parabéns, prejudicaram-se mais a vocês próprios do que aos EUA. O que é então o antiamericanismo? De uma forma muito cínica, eu gosto de pensar que entre muitos sectores é uma moda, sobretudo desde a invasão do Iraque. Mas não distingo a linha que separa o crítico dos EUA [e sabemos nós que se fosse aqui escrever críticas àquele país nunca mais daqui saía] daquele que se diverte a queimar bandeiras americanas, a destruir McDonald’s e a desejar a destruição daquele país, como se a totalidade dos 300 milhões de cidadãos fossem directamente responsáveis pelo mal que vai no Mundo.
Termino apenas dizendo isto: o poder perceptível dos EUA é exponencialmente maior do que seu poder real.

14.5.06

Seattle



Bairro [anti]social

Porque são os projectos de construção das câmaras municipais para pessoas sem meios de subsistência para adquirirem as suas próprias casas chamados de “bairros sociais”? Aqueles sítios estão construídos de tal forma que não só são maus para quem lá mora como têm um poder repelente sobre as pessoas que não moram lá, o que significa que de sociais têm muito pouco. Deviam antes ser chamados de “bairros anti-sociais” uma vez que a socialização ali ou é muito pouca ou quando sobe chega a ser muito pouco saudável, como demonstrado pelo tempo de antena que aqueles lugares têm. Talvez as autarquias tenham como ideia criar um local à parte para que os habitantes possam “socializar” entre si de uma forma totalmente afastada do resto da comunidade? Afinal, quem foi o iluminado que pensou “se metermos as pessoas sem meios num local com uns blocos horrorosos pintados de amarelo, de rosa e de roxo, feitos com material de baixa qualidade que passados cinco anos está em degradação e com uns corredores externos para não gastar dinheiro, as pessoas que ali estão integram-se melhor na sociedade”?

13.5.06

Seinfeld no seu melhor

Quantas vezes não tivemos já vontade de exterminar os operadores de telemarketing? Sim, é verdade que eles não são senão a face de um sistema e apenas têm aquele trabalho para poder pagar as propinas da faculdade, mas a verdade é que há muitas estratégias que podemos utilizar contra essa praga que não larga os telefones. Aqui fica uma idea de Jerry Seinfeld:
"JERRY: Hello.
TELEMARKETER: Hi. Would you be interested in switching over to TMI long-distance service?
JERRY: Oh, gee, I can’t talk right now. Why don’t you give me your home number and I’ll call you later?
TELEMARKETER: Well, I’m sorry. We’re not allowed to do that.
JERRY: I guess you don’t want people calling you at home.
TELEMARKETER: No.
JERRY: Well, now you know how I feel."
Sinto-me muito tentado a usar isto.

Com cannabis seria a mesma coisa?

13 de Maio é uma efeméride em Portugal, pois celebra-se o dia em que foi estabelecido o maior embuste da história portuguesa desde que alguém inventou que os portugueses eram os melhores navegadores do Mundo. Não me quero repetir em relação a textos anteriores, por isso vou apenas afirmar o seguinte: aos que acreditam naquele argumento pseudo-romântico com traços de delírio mental e que afirma que três crianças viram o fantasma da mãe de um homem que foi executado cerca de 1900 anos antes [possivelmente estavam alcoolizadas, em 1917 não seria invulgar dar álcool às crianças], podem dar graças a seja lá quem for em que vocês acreditam por eu não ter poder suficiente para aplicar os meus desígnios.

Carta a Bush

A carta que o Presidente do Irão, Mahmud Ahmadinejad, enviou a George W. Bush pode ser lida na íntegra [em inglês] aqui. Trata-se de uma enumeração e crítica dos erros que os EUA cometeram a nível externo, sobretudo no Médio Oriente com destaque para o Iraque, de uma exposição sintética dos problemas que assolam o Mundo e de como os líderes nacionais, sobretudo George Bush, abandonaram os seus ensinamentos religiosos. Segue-se uma explicação que pretende retirar toda a legitimidade à existência do Estado de Israel e finalmente uma crítica à Democracia e ao liberalismo, que o presidente iraniano considera não terem atingido os seus objectivos e um apelo final a George Bush para seguir a "via dos profetas".
Divirtam-se

S.Francisco

12.5.06

Ignorância dos povos

Sociedade da informação, dizem-nos. Dezenas de canais de televisão, tecnologia de ponta ao serviço das populações, acesso à internet disponível nas casas de cada vez mais pessoas [já são quase 700 milhões de utilizadores em todo o Mundo], intercâmbios cada vez maiores e mais rápidos de informação…
E no entanto, os povos continuam a ter quantidades enormes de massa ignorante, que desconhece a actualidade do seu próprio país e nem sabe localizar um topónimo simples num planisfério. Como é possível que, em países desenvolvidos, no século XXI, ainda exista um grau de credulidade tão elevado em relação a estereótipos e ideias feitas há dezenas de anos?
Não podemos culpar as tecnologias de informação, elas são neutras, são úteis para quem as sabe utilizar. De nada servem se quem está por detrás do teclado ou do écran não faz ideia nenhuma do que está a ver. Sem querer dar exemplos específicos, é inadmissível que existam tantos indivíduos que não sabem, não se interessam e não querem saber.
Quando isto sucede, é a nossa forma de vida que está em perigo. Porque a nossa sociedade baseia-se em relações de equilíbrio entre grupos, quando um grupo pura e simplesmente não se interessa pelo que se passa à sua volta, apesar de o material necessário estar todo à sua volta, abre caminho à sua submissão e eventual extinção às mãos do grupo dominante.
Agora já quero dar exemplos: portugueses que não sabem quais os membros da União Europeia, americanos que não sabem onde fica o Iraque, ingleses que não sabem que línguas se falam na Suíça, brasileiros que julgam que Coreia e Japão são a mesma coisa, canadianos que julgam que Portugal fica em África, cidadãos de qualquer país que não se importam de ter criminosos como chefes de governo, pessoas que não sabem para o que votam, pessoas que não querem votar, gente que gostava de ver justiça popular nas ruas, criaturas que seguem cegamente outras… a lista podia ser interminável.

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