Festival da Eurovisão
Festival da Eurovisão - celebração cultural Europeia ou paradigma da foleirice e do eurolixo?
Pode perfeitamente ser as duas coisas. Como instituição que se tornou ao longo da segunda metade do século XXI, o Festival da Eurovisão é considerado um acontecimento fundamental da televisão Europeia, um ponto a não perder para milhões de pessoas em todo o continente. Representando um esforço conjunto de vários canais de televisão pública europeus, pode ainda ser visto como uma competição amigável entre intérpretes vindos de toda a Europa. É um dado incontornável, o Festival da Eurovisão faz parte da cultura pop dos europeus e quer gostemos quer não, tem um lugar relevante nos mass media do continente.
Em causa está também a suposta qualidade das canções interpretadas, a grande maioria das quais constituem uma manufactura de ritmos pop idênticos com um toque étnico a acrescentar algum exotismo, uma vez que as editoras descobriram o potencial riquíssimo que as músicas com influências “étnicas” podem atingir em termos de vendas interpretadas por alguém acompanhado/a por uma série de donzelas a exibirem as pernas, certamente com o objectivo de desviar as atenções da prestação do intérprete, o que muitas vezes conseguem! As canções são, como eu estava a dizer, na sua maioria uma massa enfadonha e repetitiva em que existe mais espectáculo [conceito muito relativo] visual do que sonoro. E muito embora façam o público delirar, a força do mercado não se faz esperar: um ano volvido, e os vencedores da edição anterior ou caíram no esquecimento ou apenas reforçaram a sua popularidade no seu país de origem.
Porque vemos então, às centenas de milhões, o Festival da Eurovisão todos os anos? Porque gostamos de telelixo? É possível. Porque apela aos sentidos sensíveis para a foleirice dentro de cada um nós? Talvez, não digo que não. Mas acima de tudo, a maior razão, o motivo impulsionador desta nossa afeição pelo festival é este: as votações. Sim, isso mesmo, nós adoramos aqueles minutos de entusiasmo em que os júris de cada país anunciam que canções vão receber pontos da sua parte. Ao assistirmos à interpretação das canções, os piores comentários possíveis vêm à mente, mas ao assistirmos às votações, estamos totalmente concentrados, a fazer previsões e a elaborar diagnósticos. Para saber quanto é que a França vai dar Bélgica. Para termos a certeza se a Estónia vai dar os 12 pontos à Letónia ou à Finlândia. Para confirmarmos se a França vai dar 12 pontos a Portugal. E depois para criticarmos ferozmente as opções dos telespectadores, com comentários do estilo “eu já sabia, aquela gente lá pró leste votam todos da mesma maneira, não percebo porque se separaram!” ou então “sacanas dos espanhóis, nem um ponto nos deram!” e outros do mesmo estilo.
Não só, em Portugal temos o privilégio de ouvir os comentários de Eládio Clímaco, esse ícone da televisão portuguesa que nos narrou os Jogos Sem Fronteiras. Tentaram retirá-lo das ondas ao acabarem com os JSF, mas Eládio não desaparece e todos os anos nos transcende com os seus geniais comentários, acompanhados pelas manifestações de júbilo, como por exemplo: “5 pontos para Portugal!! A Alemanha dá 5 pontos à canção portuguesa!!” proferido com um entusiasmo delirante. Este ano não vamos ouvir isso. Moving on, o Festival é sem dúvida um ícone contemporâneo Europeu, consegue fazer vir ao de cima os sentimentos nacionais profundamente enraizados nas consciências dos europeus que assistem à sua transmissão e consegue ser tão foleiro quanto a cidade de Branson, no estado Americano do Missouri, que é, nas palavras imortais de Homer Simpson, citado pelo seu, “like Las Vegas, if it were run by Ned Flanders”.
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