25.6.07

Israel é a salvação?

Não sei como será o futuro próximo dos territórios palestinianos, mas não deixa de ter a sua dose de ironia que haja civis palestinianos a encontrar refúgio em Israel, escapando a um conflito político que afecta os territórios onde deveria surgir um estado palestiniano.

A actual situação não surpreende. Ninguém se pode queixar de não saber o que era o Hamas e as pessoas que nele votaram para o governo palestiniano fizeram-no de livre vontade, elegendo num acto democrático um movimento anti-democrático, que tem por base o activismo religioso extremista e que tinha entre os seus objectivos a destruição de Israel.

Do lado de Israel, a quebra entre Gaza e a Cisjordânia contribui para o reforço da sua imagem desgastada junto da comunidade internacional. Depois de anos de críticas devido às acções irresponsáveis do governo de Ariel Sharon (algumas mais do que outras), Israel pode ser temporariamente encarado como um garante da paz na região, um elemento fundamental na pacificação da Palestina, quando durante os últimos anos foi considerado como sendo a principal ameaça à paz na região.

Certamente que o bloqueio económico que foi imposto por Israel ao governo do Hamas e que prejudicou toda a população plaestiniana teve o seu peso e acabou por arrastar o nome do Hamas que falhou em todas as suas promessas aos palestinianos. Talvez uma mensagem dura de que Israel não irá tolerar governos extremistas nos territórios palestinianos? A verdade é que o novo governo é olhado com expectativa por parte do ocidente, que desta vez bem se pode redimir e colaborar para o regresso da paz e normalidade aos territórios palestinianos.

O que se vai então fazer de Gaza, nas mãos do Hamas?

Etiquetas: , , , ,

14.6.07

Zimbabwe à beira do colapso?

De acordo com um relatório de uma organização humanitária a trabalhar no país, o Zimbabwe vai entrar em colapso dentro de seis meses. Não é uma previsão, não é um cenário, é apresentado como uma inevitabilidade. E vê-se bem porquê, desde que há sete anos, o governo de Robert Mugabe iniciou uma política de expropriação de terras aos fazendeiros brancos e as entregou a grupos de veteranos sem conhecimentos de agricultura que a economia do país começou a entrar numa espiral negativa. As medidas autoritárias, a repressão crescente, as demolições dos bairros degradados de Harare onde viviam centenas de milhares de pessoas, a hiperinflação, que já ultrapassou os 4000% e vai continuar a subir, de acordo com as previsões, apontam para que até ao final do ano, o país simplesmente deixe de funcionar.

Com base em tudo o que o governo de Mugabe já fez nos últimos anos, não é de prever que mude as suas orientações tão depressa. Por todo o país, a maior parte da população já perdeu a esperança, quando o desemprego ronda os 80% e a maior parte das pessoas não consegue assegurar uma alimentação adequada - o próprio serviço nacional de saúde já praticamente deixou de existir. Durante algum tempo, os círculos mais próximos de Mugabe estiveram satisfeitos com o status quo, apesar da pobreza crescente e da degradação das condições de vida da população. Esta sentença vem indicar que a situação está perto do fim e que o país caiu num precipício do qual pode resultar uma guerra se nada for feito.

Não sei porque motivo permitiram que isto acontecesse. De acordo com cidadãos do Zimbabwe, as condições de vida há muito que ultrapassaram o intolerável e houve até quem defendesse que o Reino Unido deveria intervir no país - afinal, segundo essas opiniões, intervieram no Iraque por menos do que aquilo. As Nações Unidas nunca souberam lidar com a situação, os vizinhos do Zimbabwe, pelo menos os vizinhos influentes (leia-se, África do Sul) nunca se mostraram muito preocupados, até mantiveram muito boas relações com eles - menos Moçambique, a quem pelos vistos o Zimbabwe não paga a factura da electricidade importada produzida pela barragem de Cahora Bassa, electricidade essa que se encontra racionada no país...

Etiquetas: , ,

7.6.07

Gadgets

Nos últimos anos, os chamados "gadgets" conheceram uma expansão mediática e comercial sem precedentes. Hoje é comum falar-se "gadgets", comprarem-se "gadgets", publicarem-se notícias sobre "gadgets" (notem que eu estou sempre a escrever a palavra entre aspas, coisa que eu não costumo fazer) e vendem-se muito mais "gadgets" do que nunca, isto porque os avanços incríveis da tecnologia e da indústria electrónica nos últimos vinte anos tornaram possível a criação, produção em massa e venda a preços acessíveis de uma quantidade gigantesca de bens tecnológicos portáteis.

E o que é que me chateia no meio disto tudo? Para já, a palavra "gadget", que eu detesto. Tem uma conotação condescendente e não faz justiça ao objecto em si. Mais ou menos como uma "criaçãozinha engraçada" para brincarmos com ela de vez em quando. Claro, um Blackberry foi mesmo feito para se brincar com ele e mostrar aos amigos em jantares. Da mesma forma, o iPhone é um aparelhinho giro para exibir por aí e mostrar que se anda actualizado e a par das últimas "modernices". E isto porque na Europa não temos acesso aos artigos tecnológicos mais bizarros feitos no Japão, como a televisão dobrável da Sony, a Thanko Spy Disk, que é ao mesmo tempo uma caneta, um leitor de cartões SD e uma pen drive USB, ou até mesmo o Music Bird Cannon, não sei muito bem como é que o hei de descrever mas é algo com longas fibras de acrílico que se instala no fundo de um vaso com flores e que faz estas vibrarem e produzir sons quando as fibras são tocadas...

Enfim, até em Portugal, que durante o século XX não foi propriamente o país da Europa com maior penetração de bens tecnológicos, já temos pelo menos umas três revistas dedicadas a "gadgets" e nenhum português que se preze é visto em público sem um telefone capaz de tirar fotografias (com uma câmara de 2 megapixels, atenção) ou filmar vídeos. Agora que existe um serviço de Mobile TV, então...Arrisco até dizer que Portugal vai ser o único país da Europa (talvez mesmo do Mundo) onde a PlayStation 3 vai vender mais do que as concorrentes - sim, porque o português que se quer moderno e actual só vai para as "coisinhas" mais avançadas!

O que se pode retirar de tudo isto? Sem dúvida que é positivo termos cada vez mais acesso a artigos de alta tecnologia. Agora, o que me chateia um pouco, é que a maioria das pessoas
que as compram não fazem a mais pequena ideia da utilidade do artigo onde gastaram 200/300/400/600 Euros...Pior, além de só o aproveitarem a 10%, a tendência dos últimos anos é para a mediatização e crescimento do status social que esses artigos representam. Juntem a isto uma pressão subtil dos media para comprarmos mais artigos tecnológicos e temos um pormenor perturbador: a indústria de electrónica para o consumidor tornou-se uma questão de moda!

É mesmo, não queria que assim fosse, mas a verdade é que a importância que é dada ao que os artigos supostamente representam (pelo menos nas cabeças toscas de alguns iluminados) é mais importante do que a real utilidade dos bens. Telvez fosse inevitável...afinal, também os carros são alvo do "factor moda" que pode determinar o insucesso de um artigo, mesmo que seja melhor, em detrimento de outro que seja mais "fashion" (e com isto atingi o meu limite de palavras que detesto, não vou introduzir nem mais uma). É a triste realidade...milhões e milhões são investidos no desenvolvimento da indústria electrónica para depois os consumidores escolherem o artigo X em vez do Y porque o X é "mais giro", mesmo que não apresente uma única vantagem em relação ao outro. Querem mais? Pois bem, um artigo tecnológico com visibilidade está a tornar-se tão importante na promoção social como um fato caro.

Querem maior insulto ao desenvolvimento tecnológico do que equipará-lo a uma indústria decadente como a da moda? Eu não conheço mais nenhum, mas é a constatação a que chego quando vemos a actual tendência do mercado...Pois é, o Blackberry e os sapatos Prada...o iPod e os óculos escuros Armani...com isto, a respeitabilidade da indústria electrónica está a bater no fundo.

Etiquetas: , , , , , ,


Click Here