30.6.05

Localização no mapa político

Várias vezes me perguntaram a minha orientação política e várias vezes fico sem saber o que responder. Como eu sou a única cabeça ao comando deste blog, a minha orientação será também a orientação deste blog. E mais uma vez digo que não sei o que responder.
Não sei o que responder ou talvez não sabia simplesmente responder a uma pergunta tão complexa que admite tão poucas hipóteses e cujas categorias requerem ou uma ortodoxia total ou um sincretismo às vezes difícil de elaborar entre orientações diferentes.
Para os que ainda se interrogam sobre isso, vou aqui delinear alguns pontos, já que é comum os blogs assumirem-se como blggos "de esquerda" ou blogs "de direita", este é um blog do João.
- Não me identifico com nenhum partido político Português, considero aliás que o espectro partidário de Portugal é reles, populista e sem valor
- Considero que a democracia representativa não é praticada da forma como a nossa interpretação da lei fundamental o pretende. Podemos votar em eleições para eleger os nossos líderes e representantes, mas quem são eles? Na maior parte dos casos criaturas dos aparelhos dos partidos, obedecendo a uma lógica sectarista e elitista, com o objectivo de evitar o progresso do adversário
- Um Estado não é verdadeiramente democrático se as principais preocupações dos seus decisores forem o crescimento económico sem desenvolvimento Humano e estrutural. Por isto entende-se que a mera observação do crescimento do PIB, do défice, da balança de pagamentos e da taxa de desemprego não podem orientar a estratégia do governo sem uma observação a nível mais aprofundado do que estes indicadores implicam. Que interessa uma taxa de desemprego de 2% se o emprego for sobretudo precário e mal-pago? O que significa um crescimento de 5% ao ano durante dez anos se este tiver como causa um único recurso natural? Qual a realidade por detrás de um superavit de 5% se o Estado não investe?
- No que diz respeito à sociedade, defendo medidas cuja importância é exagerada mas que nem por isso deixam de ser relevantes, nomeadamente: a descriminalização do aborto até às 12 semanas, a legalização dos casamentos homossexuais e adopção de crianças por casais desta orientação, a legalização da pesquisa de células estaminais e da clonagem Humana [com fins científicos, não comerciais, entenda-se]. Defendo igualmente a delineação de uma estratégia de longo-prazo cujo objectivo seja o estreitar das desigualdades sociais, tendo em conta que um cidadão de baixo rendimento se pode ver privado de serviços e bens essenciais. Actualmente, assiste-se a essa situação em Portugal devido ao desemprego, precaridade de um grande número de pessoas empregadas, salários baixos, reduzido nível de educação da grande maioria da população Portuguesa, incompetência e inépcia dos decisores quer ao nível político, quer ao nível empresarial. O desenvolvimento em direcção a um país mais igualitário passa por uma parceria conjunta entre Estado e sector privado, sem que os princípios da economia de mercado sejam postos em causa
- Ao nível da União Europeia, defendo uma corrente federalista igualitária, com base na participação equitativa dos estados-membros da União e num esforço conjunto para a criação de interesses comuns, suficientemente importantes para que se possa finalmente implementar uma Política Externa de Segurança Comum digna desse nome, ao contrário do que temos agora. Não seria necessário redefinir documentos ou tratados constitutivos, bastaria uma mudança na conduta dos Estados. É verdade que são aspectos muito caros à soberania de cada um, mas não o eram também a política monetária, a política de fronteiras ou a agricultura? Não abdicámos do controlo monetário, da vigilância das fronteiras, da legislação sobre ambiente, agricultura e
mercado em nome de um projecto de alcance superior?
São estas as premissas que eu aqui defendo. São poucas, é verdade, mas o limite seria interminável. Tirem as vossas próprias conclusões e digam-me se me enquadro no espectro político actual.

Estratégia Turca

A Comissão Europeia confirmou que a data de início das negociações com a Turquia vai ser o dia 3 de Outubro, esperando-se que a adesão do país à UE não venha a acontecer antes de 2014. O comissário para o alargamento admitiu que as condições são as mais rigorosas algumas vez adoptadas para com um país candidato, algo que pode não agradar aos Turcos que pretendem ser tratados com igualdade. Contudo, a Turquia apresenta um registo muito mais frágil no que diz respeito aos Direitos Humanos e à democracia do que os anteriores candidatos, não seria de esperar outra coisa que não fosse o rigor por parte da União.
Desde que a Turquia foi aceite como país candidato à União Europeia em 1999, que se desenrolaram uma série de questões relacionadas com o assunto: a Turquia é um país Europeu? A UE tem capacidade para absorver a Turquia? As fronteiras da UE não vão ser colocadas em perigo? Vai haver uma "invasão turca"?
A maior parte das questões estão praticamente superadas. Resta a ideia difícil de assimilar para bastantes pessoas que a Turquia pode vir a aderir à UE um dia, algo visto com maus olhos por muitos cidadãos da União. Se do ponto de vista dos Direitos Humanos, da democracia e da normalização de relações com os seus vizinhos, nomeadamente, a resolução da questão de Chipre, estas questões têm toda a razão de existir e devem ser colocadas na mesa das negociações e resolvidas antes que a Turquia possa aderir, os argumentos da "Europeidade" da Turquia, da proximidade do Islão à Europa e da "invasão Turca" não têm fundamento.
Uma adesão da Turquia terá sem dúvida custos elevados para a UE. Um país pobre, ainda bastante agrícola e que necessita de fundos de coesão para o desenvolvimento das suas infra-estruturas. Esta questão estará mais dependente dos países contribuintes para o orçamento, ou melhor dizendo, visto que somos todos países contribuintes, dos que mais contribuem para o orçamento comunitário.
A União Europeia não pode levantar entraves que propositadamente coloquem dificuldades à entrada da Turquia, sendo os actuais critérios para manter - os critérios de Copenhaga actualmente em vigor respodem perfeitamente à questão de cada alargamento. Por seu lado, os líderes Turcos não podem tomar a adesão como ganha. Sobretudo o actual governo, liderado por Tayyip Erdogan, parece assumir que a UE precisa mais da Turquia do que o oposto [quando não é verdade] e que a UE estará mais disposta a flexibilizar as suas regras do que a Turquia em alterar as leis [o que não pode ocorrer]. Ou seja, os líderes Turcos apresentam uma postura de vitória, considerando a adesão como uma questão de tempo e de acordo com o seu discurso, pretendem mudar o menos possível na Turquia para que o seu país possa aderir à UE.
É preciso ver o seguinte: se a Turquia ainda não está integrada na UE, é porque ainda não está suficientemente "Europeízada" [do ponto de vista político, económico e jurídico] para isso. Ao assumirem uma postura arrogante, olhando a UE de cima para baixo, os líderes Turcos não parecem muito dispostos a apreenderem a lição que a UE pode dar aos seus países. Talvez tenham feito uma interpretação forçosamente distorcida do lema "unidos na diversidade" e que as suas diferenças culturais os tornam quase imunes às violações dos direitos humanos.
A UE não pode discriminar nenhum país por motivos culturais, seja pela línuga, origem, religião ou costumes, o que representa o espírito Europeísta, não imperial, da organização. Obviamente que a Turquia não pode ser discriminada por ser um país 98% muçulmano e por o seu povo não ser de origem indo-europeia [Finlandeses, Estonianos, Húngaros e Bascos também não são]. Porém, a estratégia Turca passa por referir a importância cultural da Turquia, sob a capa do Império Bizantino e do Império Otomano, e a sua herança na Europa. Simultaneamente, assume uma postura quase de reivindicação, quando o que está em causa é a sua adesão à UE, não a entrada da UE na Turquia.
Espero que outro governo tome posse brevemente em Ankara, um que esteja mais disposto a resolver os problemas dos direitos humanos no país, a terminar com a censura à imprensa, com a vigilância sobre as associações políticas, com as cargas policiais exageradas sobre manifestantes pacíficos e com o discurso arrogante dos líderes, de forma a que a Turquia possa aderir à UE num clima de entendimento e que o progresso do país seja uma relaidade consumada e sustentável. Caso contrário, há sempre a perspectiva, quase tabu, de as negocicações não resultarem. Ninguém gostaria desta situação, mas ela existe por algum motivo.

29.6.05

Zivot Je Cudo

Finalmente vi "A Vida é um Milagre" de Emir Kusturica! Há já algum tempo que esperava vê-lo, afinal, adorei o "Underground" e tinha grandes expectativas em relação ao seu último filme. "Zivot Je Cudo" é sem dúvida uma obra do mesmo artista de "Underground", as bandas de música são omnipresentes [o próprio realizador contribuiu para a banda sonora do filme], os animais também e os delírios das personagens marcam o desenrolar da história. Uma comédia negra ou talvez uma história tragicómica, retrato do início de uma guerra que ninguém venceu e onde todos foram derrotados, na qual cada personagem é um caso à parte, onde encontramos por toda a parte pequenas referências e metáforas que, apesar do tom cómico do filme, demonstram toda a tragédia que a fragmentação da Jugoslávia representou para os seus habitantes, incluindo o realizador, natural de Sarajevo. Não é por acaso que se encontram ursos na aldeia ou uma burra que se recusa a sair do caminho-de-ferro.
Mais do que um registo cinematográfico, "Zivot Je Cudo" é uma grande lição de vida [olha que novidade...] em situações de tensão extrema, como aquela de uma guerra que por motivos políticos, opõe Sérvios a Croatas a Muçulmanos, conflito ainda hoje mal clarificado. Está também presente a ignorância dos estrangeiros em relação ao conflito, bem representada na jornalista metediça que confunde o lado de Milos Djukic com o lado antagónico, bem como a perturbação psicológica de um conflito sem razão de existir, num país que se segundo se diz, também nunca teve razão de existir.
Pode-se dizer que embora haja um cliché inerente ao filme [uma história de amor entre duas pessoas de lados aparentemente diferentes], esta obra não é de maneira nenhuma prejudicada, antes beneficiada por este, que realça a própria mensagem de Kusturica sobre o conflito. Trata-se de uma bela obra cinematográfica, muito além do entretenimento ou do comum guião que torna tantos filmes em produtos cinzentos. Será que a indústria de Hollywood não seria capaz, em capacidade e vontade, entenda-se, de produzir algo como isto?

28.6.05

AA - e por aí abaixo...

Num comunicado divulgado ontem, a agência de rating Standard&Poor's re-avaliou o rating de longo prazo da República Portuguesa de AA para AA- tendo o mesmo acontecido à Participações Públicas S.A. e à Metro de Lisboa.
Embora a descida não seja tão singificativa como eu esperava - em pior situação encontram-se a Grécia e a Itália, por exemplo - esta acção reflecte sem dúvida uma situação preocupante que pode afectar a recuperação económica de Portugal.
Significa simplesmente que a longo prazo, o risco de emprestar dinheiro a Portugal aumenta ligeiramente, pelo que terão de ser aplicadas maiores taxas de juro. Ontem, o economista César das Neves afirmou que isso não se iria reflectir directamente e neste momento nos cidadãos Portugueses ao nível de créditos mas que pode levar o Estado a subir os impostos de forma a que os empréstimos feitos a Portugal continuem a ser possíveis. Ao mesmo tempo, a imagem de Portugal sai prejudicada e mais dificilmente será para o país obter empréstimos no mercado internacional.
São precisamente esses empréstimos ao Estado que poderiam ser aplicados na recuperação do país, visto que o investimento público tem concerteza um papel a desempenhar na política económica do país. Face à situação das empresas privadas Portuguesas - estranhamente, as PMEs são afectadas por um fenómeno a que, nos países de economia de mercado, chamamos de "crises" e que aceitamos como perfeitamente naturais e inevitáveis [porque não pode uma crise ser antes um arrefecimento do crescimento económico, ao invés de uma recessão?] enquanto as grandes empresas apresentam lucros e os seus directores vêem os seus vencimentos aumentar - e à sua bem-encaminhada perda de competitividade dentro e fora do país, seria de esperar que o Estado conseguisse injectar alguma vitalidade na fragilizada economica Portugesa. Contudo, os 6,2% de défice não o permitiriam, pelo menos sem a Comissão Europeia cair em cima do Estado por causa disso.
Existirão assim razões para que o défice seja a principal preocupação dos decisores Portugueses? Será Portugal um país tão importante no contexto da UE que por não termos o défice controlado vamos ser castigados exemplarmente? Quais seriam as consequências disso a nível Europeu, de desrespeitar o PEC [que nunca foi muito respeitado mas nenhum líder o assume frontalmente] numa altura em que a UE se encontra num momento de crise [esta mais dentro das cabeças de cada um] após o chumbo do Tratado Constitucional na França e Holanda e o fiasco que ocorreu no Conselho de Bruxelas?
É mais que óbvio que a opinião pública não se podia preocupar menos com o défice. Para os cidadãos, as principais preocupações são o desemprego e o mal-estar económico. A partir daqui, estaria dado o mote para que o Estado assumisse um papel muito mais activo na recuperação económica do país, ao invés de aumentar o IVA e de aplicar medidas que levam as pessoas a julgar que serão sempre os mesmos a pagar a "crise". Assim sendo, seria bastante popular uma acção de investimento público disposta a criar emprego e a melhorar as condições de vida.
Como pode isso ser, com um défice de 6,2% e um re-avaliação em baixa do rating de Portugal? Ao pedir um crédito a qualquer entidade bancária, Portugal ver-se-ia assim obrigado a pagar juros mais elevados, o que torna estes empréstimos menos atractivos. Seja qual for a solução, não gostaria de estar na pele dos decisores nacionais.

27.6.05

Helsinki

Conhecida para alguns como a "Pérola do Báltico", Helsínquia é uma cidade original, apesar das semelhanças com S.Petersburgo e Viena. Resultado de influências Russas e Germânicas, coroadas pela arquitectura Finlandesa, o centro da cidade é uma autêntica montra arquitectónica, não só para os apreciadores dos seus edifícios históricos mas também para os que gostam de experiências arquitectónicas recentes.

A localização à beira-mar traz uma toque adicional à cidade, que se reveste sobretudo, mas não exclusivamente, em tons de branco e pastel. Quanto ao ambiente, sem o qual a mais bela das cidades pode ser o pior dos sítios, esse dignifica Helsínquia. Não é de forma alguma um local deprimente, como tantas vezes se diz das cidades nórdicas, muito pelo contrário. Os seus habitantes estão nas ruas, aproveitam o que a cidade oferece e retribuem, ao manterem-na num excelente estado. Tudo isto poderia apenas ser um discurso vazio, usado para descrever uma cidade bonita mas que não provocasse emoções de espécie alguma, mas não se trata disso e termino dizendo haluaisin nähdä sinua taas!

26.6.05

Livros que nunca serão best-sellers

Segue-se uma lista de livros que por razões óbvias nunca chegarão a estar nas prateleiras das livrarias.

"Da ética governativa e relações com os media" – Alberto João Jardim, Edições Transparências, Governo Regional da Madeira

"As grandes façanhas do desporto automóvel Português – Primeiro Volume, a Fórmula Um"

"Os Direitos Humanos e o tratamento dos prisioneiros de guerra em situações de conflito" – Donald Rumsfeld e Dick Cheney, White House Editions

Lista telefónica geral de assinantes da República Popular da China

"Glórias Europeias da equipa de futebol do Sporting Clube de Portugal" - Dias da Cunha e Pedro Barbosa

"Il Cavaliere e la Rosa, governação democrática em Itália no Século XXI" – Silvio Berlusconi e Romano Prodi

"Construção civil e gestão desportiva, uma parceria para o futuro" – Luís Filipe Vieira

"A democracia parlamentar e o multipartidarismo no Extremo Oriente – o exemplo da Coreia do Norte" – Kim Jong-Il

"Breves lições sobre liderança política nas Caraíbas" – Fidel Castro

"Todos diferentes, todos iguais: a tolerância e integração, traves vitais do desenvolvimento" Robert Mugabe e Frente Nacional

"A importância das correntes de opinião pública e o contacto com as preocupações dos cidadãos em momentos fulcrais da vida política" – Jacques Chirac

"Não olhem para mim, sou apenas mais um homem" – Jesus Cristo de Nazaré

"Análises químicas de compostos perigosos, Volume I – o Antrax" – Colin Powell

"Retrospectiva da minha obra, dos olhos de um realizador reformado" – Manoel de Oliveira

"Lições de dicção e cortesia, Volume I – o tratamento correcto e respeitoso do género feminino" – Quim Barreiros e Zezé Camarinha

"As crianças, o nosso recurso mais importante" – Antologia de ensaios redigidos por Carlos Silvino, Ferreira Diniz, Carlos Cruz, Paulo Pedroso, Jorge Ritto, Michael Jackson e padre Frederico

Decisão dos Guardiões?

Muito brevemente, o problema do programa nuclear Iraniano vai conhecer uma nova via. As eleições presidenciais deram a vitória de Ahmadinejad sobre Rafsanjani, representando assim aquilo que era visto como o pior dos desfechos para o Ocidente, um 'worst case scenario' na prática. Depois de os mais de três mil candidatos iniciais - onde se incluiam várias mulheres - terem sido filtrados pelo Conselho dos Guardiões e apenas seis terem visto as suas candidaturas aprovadas, cada um destes representava uma abordagem diferente ao mesmo espector, ou seja, nunca colocar em causa o regime teocrático da República Islâmica, aliás condição essencial para poder ser candidato à presidência.
Na perspectiva pessoal do autor deste blog, e porque considero as teocracias como um dos regimes mais anti-Humanidade que podem existir, nenhum dos cadidatos seria uma boa escolha para a presidência do país. O candidato com a perspectiva mais liberal, logo, o mais aceitável de todos eles, foi eliminado na primeira volta e à segunda volta passaram Rafsanjani, que se viu na posição de "conservador moderado" [o que no Irão provavelmente significa menos violento] e Ahmadinejad, presidente da câmare de Teerão, com a aura de "ultra-conservador" e o mais repudiado pelo Ocidente.
O ex-presidente Rafsanjani recebeu assim, inesperadamente, o apoio dos sectores da sociedade que levaram o actual presidente, Mohammad Khatami, ao poder em 1997, desiludidos com um degelo democrático que não se verificou com o impacto esperado. Todos os estudos actuais sobre a sociedade iraniana apontam para uma população maioritariamente jovem, menos disposta a aceitar as condições de austeridade impostas a partir de 1979 aquando da Revolução Islâmica e desejosos por mudanças na sociedade e na política. Por estes motivos, mantenho sérias dúvidas sobre a validade do escrutínio, porém, julgo que o resultado é inalterável. O presidente foi eleito, só falta ser empossado. Se para o Ocidente não era fácil lidar com o Irão, com este novo chefe de estado as negociações arriscam-se a tornar-se ainda mais difíceis. O actual guia espiritual Ali Khamenei, afirmou que o resultado é uma humilhação para os EUA e o presidente eleito referiu os "inimigos" do Irão no seu discurso de vitória, uma referência clara aos EUA e Israel.
Não sabemos o que esperar do novo poder em Teerão, embora saibamos que nunca é assim tanto quanto isso [erro Ocidental, julgar que todos os presidentes têm os mesmos poderes, simplesmente porque são chefes de estado] visto que o Conselho dos Guardiões, órgão não-eleito composto por clérigos conservadores, detém poder de veto. Não sabemos também se a situação interna do Irão vai sofrer alterações significativas, num país cujo quotidiano parece estranho ao Ocidente mas que vinha progressivamente a sofrer aberturas. Num país com uma população jovem e cada vez mais activista do ponto de vista político, é possível uma escalada do tom das acusações vindas dos dois lados da barricada. Seja como for, do meu lado o desejo é simples: o fim da teocracia, no Irão e onde quer que elas existam.

23.6.05

O futuro [possível] da UE

Perante o fracasso das conversações referentes às perspectivas financeiras da UE, as figuras a quem foi atribuída a maior culpabilidade foram, sem surpresa, Tony Blair e Jan Peter Balkenende, acusados por Jacques Chriac e Jean Claude Juncker de não terem tomado a atitude necessária ao compromisso orçamental e de estarem totalmente voltados para os seus próprios interesses, um por ter recusado cedências no já conhecido "British rebate", outro ainda sob a influência da vitória do "Não" no referendo ao Tratado Constitucional e que alegou o argumento de os Holandeses serem os maiores contribuintes per capita para o orçamento da União.

Se estas acusações têm fundamento, não podendo por isso ser atacadas, o que é vazio enão tem razão de ser é a recusa da França em ceder na quantidade de fundos recebidos ao abrigo da PAC. Qual a razão de um dos países mais ricos e desenvolvidos da UE receber 40% da verba destinada à Política Agrícola Comum? Não vai de maneira nenhuma ao encontro do discruso de Chirac que acusava o não-Europeísmo "patético" do Reino Unido e Holanda. De acordo com a França, esta verba foi reiterada num acordo de 2002 e que não poderá ser alterado senão daqui a vários anos, final de discussão. Se algumas dúvidas houvesse quanto à posição que Chirac pretende assumir na construção Europeia, dissiparam-se e é esta intransigência e dualidade dos padrões aplicados ao seu país e aos seus vizinhos que o torna numa figura impopular fora do seu país. Não estaria concerteza expectante por uma vitória esmagadora do "Sim" nos referendos ao Tratado Constitucional quando exige um espírito de "Euro-altruísmo" da parte de alguns países e trata-o como um tabu intocável no que diz respeito ao seu próprio país. Chirac já deveria ter consciência disto, ou dez anos na presidência da França não lhe ensinaram nada?
Deploráveis ainda as reacções dos líderes Europeus ao desfecho das conversações do Conselho de Bruxelas que encerrou a Presidência Luxemburguesa da UE. A dissolução de qualquer espírito de união que pudesse existir numa questão de dias colocou em evidência a fraqueza da coesão política Europeia e a sua falta de preparação para se tornar num actor de vocação global. É impossível dissociar este desentendimento dos "nãos" nos referendos recentes, quando o clima de construção Europeia é forçado ao ponto de os líderes se desentenderem imediatamente e enveredarem por acusações irresponsáveis, não pode ser esperado que os cidadãos validem um projecto que lhes parece distante.

World Leaders "R" Us [não se aceitam reembolsos]

Segue-se uma categorização exaustiva dos líderes mundiais referentes a exemplos actuais e passados. Nos seguintes arquétipos encaixam-se 95% dos Chefes de Estado e de Governo, o que só mostra como este planeta é gerido de forma ridícula...
- O Social-Democrata Europeu: afirmando-se como de centro-esquerda, é um líder que aparentemente consagra uma grande importância ao diálogo entre as diferentes partes envolvidas num debate como forma de atingir um compromisso ou um consenso. Entre as suas preocupações incluem-se a segurança social e serviços como a educação e a saúde. Durante a sua liderança, não será estranho ver uma quantidade crescente de cidadãos a beneficiarem de medidas que não merecem, o desemprego a aumentar e a imigração a descontrolar-se, sem que isso o pareça afectar muito. Exemplos: António Guterres, Gerhard Schröder, Tony Blair
- O neo-liberal Europeu: do espectro oposto ao anterior, advoga uma doutrina de intervenção mínima do estado no sector económico e de privatizações das maiores empresas estatais. Durante o seu mandato, o crescimento económico acelera e a eficácia de sectores como a educação e a saúde deixa de ser medida por resultados ao nível do ensino e vida saudável dos cidadãos, passando a ser medida pela capitalização bolsista dos mesmos. Até privatizavam o país, se pudessem. Exemplos: Margaret Thatcher, Silvio Berlusconi
- O pós-comunista da Europa de Leste: representa uma renovação no seu país, embora o indivíduo não seja mais do que um guarda reciclado do velho regime. Relutantemente advoga alguns princípios da democracia e da livre economia de mercado sem que o seu país possa ser incluído neste campo, assim apenas para o FMI ver. Elegem um grupo-alvo para descarregarem toda a sua raiva, quer sejam albaneses, quer chechenos. Exemplos: Slobodan Milosevic, Vladimir Putin, Aleksander Lukashenko, Saparmurat Niyazov
- O evangelista norte-americano: representante das convicções da América profunda, este indivíduo sente-se imbuído de uma forte consciência moral [leia-se, bíblica] que lhe confere uma superioridade divina sobre todos os outros, que são considerados como manifestações do diabo. Esta condição torna-o assim num "servo de deus" na Terra, disposto a cumprir a sua agenda, e normalmente reflecte-se no agravamento dos arquétipos do "bem vs. mal", "luz vs. trevas", "vida vs. aborto". Estes indivíduos podem ainda invadir todo e qualquer país que desejem, visto que possuem um mandato divino que lhes confere toda a legitimidade nesta sua missão, além de serem infalíveis. Exemplos: Ronald Reagan, George W. Bush
- O homem-forte da América Central: figura quase cómica do nosso imaginário, o líder centro-americano conhecido como homem-forte é invariavelmente um militar que num dos golpes de estado mensais que assolam o seu país, reuniu o apoio de mais facções das forças armadas que os seus rivais e vê-se assim com o caminho aberto para exercer o seu poder sobre um país cheio de católicos, de bananas, de papagaios e de canas de açúcar. Costumam aparecer envergando fardas militares e proclamando discursos emocionantes à população. Costumam também estar envolvidos [às vezes] em negócios menos transparentes envolvendo pózinhos brancos...para mais informações, consultem a série MacGyver, um em cada três episódios metia uma destas criaturas. Exemplos: Fidel Castro, Noriega
- O intelectual socio-político da América do Sul: trata-se de um indivíduo imbuído de uma formação académica sólida e com um programa coerente para o seu país. Como as lealdades são maiores para com a sua classe social do que para com "o povo" e os interesses económicos do "grande patrão norte-americano" não podem ser contrariados, isto resulta numa manutenção ou até agravamento das desigualdades sociais no país. Exemplos: Fernando Henrique Cardoso, Carlos Mesa
- O déspota Africano: constitui uma figura bastante folclórica no panorama dos líderes mundiais. O déspota Africano muitas das vezes foi um fiel servidor do antigo colonizador Europeu que se agarrou às rédeas do poder após a independência. Isto significou que o principal beneficiário deixou de ser a potência colonial para ser o déspota, e pouco mais. É uma figura populista, com um discurso feroz e "patriótico" mas na verdade o seu país continua a ter como principal função a exportação de uma única matéria-prima para a Europa e América do Norte sujeita às flutuações de preços no mercado internacional e que de um dia para o outro pode lançar 50% da sua população na pobreza extrema [os que vivem na pobreza relativa] enquanto o senhor líder reside no seu palácio digno de um multimilionário. Pontuação extra se tiver um primeiro nome francês e um apelido de origem africana, como Laurent Kabila. Exemplos: Sani Abacha, Idi Amin, Robert Mugabe, Mobutu Sese Seko [este último pode também entrar na categoria "déspota-com-uma-fortuna-pessoal-tão-grande-que-pode-pagar-70%-da-dívida-externa-do-seu-país-e-ainda-tem-uma-casa-de-férias-no-Algarve-e-um-avião-das-linhas-aéreas-do-seu-país-no-aeroporto-de-Lisboa-não-vão-as-coisas-complicar-se-e-ascender-um-novo-déspota-ao-poder"]
- O fervoroso nacionalista Árabe: este exemplar é herdeiro do nacionalismo Árabe que fez furor na primeira metade do século XX e que na actualidade é um pretexto para reprimir, com maior ou menor intensidade, as vozes da discórdia. Reclama uma unidade política dos países árabes como forma de fazer frente ao inimigo ocidental [menos quando os turistas vêm ao seu país, aí sim, será simpático e acolhedor!] e diz verdadeiras pérolas como "a democracia é uma invenção ocidental". A sua cotação no mercado dos líderes mundiais caiu desde a década de 1970, com a ascensão do integrismo e fundamentalismo Islâmico, que lhe retirou uma grande fatia dos seus apoiantes, mas por outro lado, um grande número de simpatizantes nunca lhes tirou o sono. Exemplos: Muammar Khaddafi, Hosni Mubarak [e por extensão, todos os líderes egípcios desde a independência], Saddam Hussein e Bashar al-Asad [o presidente sírio, marcadamente parecido com o príncipe herdeiro de Espanha].
- O oriental formador da sua própria linha: esta categoria de líderes embora exista num número muito reduzido de países, tem abaixo de si cerca de 20% da Humanidade. É um indivíduo com uma formação base que se perde no meio das suas próprias premissas de independência em relação ao resto do Mundo e que pretende criar "um rumo" para o seu país. O problema é que este rumo normalmente passa por massacrar os opositores e desenvolver armas nucleares e colocar a sua imagem em tudo quanto é sítio. Considerando o ocidente como inimigo, têm ambições de tornar o seu país num actor suficientemente forte para que seja temido na Europa e nos EUA e desejado pelos países em desenvolvimento. Assume muitas vezes a figura de um sábio, cujas parábolas iluminam os seus discípulos, figura tão querida na tradição da Ásia Oriental. Exemplos: Mao Tsé Tung, Kim Il-Sung, Kim Jong-Il, Hu Jintao [embora este não coloque a imagem por todo o lado]
- O fervoroso entusiasta do Sudeste Asiático: trata-se de uma figura que perdeu bastante cotação nos últimos anos mas que faz escola na região. Este exemplar caracteriza-se por exercer um forte domínio sobre a população, não sendo propriamente adepto da liberdade de imprensa e de associação política, ao mesmo tempo que empreende políticas económicas fortemente neo-liberais para captar alguns milhões de dólares, encher a capital do seu país de arranha-céus cada um maior que o outro e exibir orgulhosamente um crescimento económico capaz de deixar o ocidente a perguntar "mas como??". Pregador dos "valores asiáticos", este indivíduo não refere que por "valores asiáticos" ele entende o sistema que lhe permite ficar no poder durante algumas décadas, justificando-se com a inadaptação do modelo democrático ocidental ao seu país, que não é mais do que uma tentativa de interferência. Exemplos: Suharto, comandante Marcos, Mahatir Mohamad

Estão assim cobertas as principais categorias de líderes mundiais. Poderia ainda ter referido algumas categorias mais particulares, como por exemplo, o social-democrata nórdico, o ayatollah do Irão ou a dinastia Gandhi mas são realidades muito localizadas e que não marcaram o ritmo de um continente inteiro. Que fique bem claro que a possibilidade de determinar categorias de liderança para as unidades políticas terrestres indo ao pormenor de prever o que o seu discurso afirma é um indicador do nível em que nos encontramos, cujo adjectivo mais próprio para o descrever será "nojento".

22.6.05

Simpsons na Tv Cabo...seus mafiosos!

Costumo dizer que os Simpsons são o melhor produto cultural vindo dos EUA nos últimos quinze anos. Têm todas as condições para o ser, são divertidos, inteligentes, têm bons diálogos e uma grande equipa a produzi-los. Foi assim que se tornaram num dos meus elixires mais desejados ao longo de vários anos...foi assim que me deixaram em estado de vontade-de-destruir-uma-certa-estação-de-televisão-quando-os-retiraram...foi assim que me fizeram regozijar ao ponto de lançar fogos-de-artifício pela janela quando no canal 21 da Tv Cabo descobri que passam dois por dia, às 20:45. Apesar de serem das primeiras séries [os que passaram hoje eram de 1995] não os consigo dispensar.

Há apenas o pequeno pormenor de serem [re]transmitidos através do Canal Fox, um canal que não é de acesso livre [só parcialmente até ao final do mês] e que faz parte de um pacto chamado "Funtastic Life" que a organização mafiosa que dá pelo nome de Tv Cabo Portugal anuncia, talvez esperando cativar os "Simpsonmaníacos" Portugueses a comparar um Power Box e a pagarem por um pacote de 10 canais. É óbvio que isso não faz parte dos meus planos. Mas, pelos deuses, podiam fazer uma tradução de jeito! Eu ainda percebo os erros mas há quem não repare. Quem é o iluminado que traduz "Vietcong" por "Vietname do Sul"?? Os VCs até podiam estar infiltrados no V.Sul mas não é isso que significa Vietcong, e o que dizer dos erros que mostram ignorância total dos aspectos da cultura Americana referidos nos Simpsons [que como sabemos, são muito poucos pois claro...] mostrada pelos tradutores? Numa semana, o nome de pessoa responsável pela "Tradução & legendagem" que passa nos créditos finais já mudou três vezes, e mesmo assim continuam a dar erros incríveis. Só por isto, a Tv Cabo não merece que os clientes subscrevam o pacote Funtastic Life.

16.6.05

JP na CML

Depois de muito ponderar no assunto [durante uns dois, três minutos...] cheguei à conclusão que para me poder orgulhar da minha obra, terei de fazer algo que seja visível para os meus semelhantes e isto envolve tomar as rédeas de algo pela frente, mudar o que é incorrecto, melhorar o que está mal feito, preservar o que está bem [isto não tem nada a ver com os directores de empresas que ganham menos de 1 milhão de Euros por ano, coitadinhos!].
Por isso, venho aqui anunciar perante vós, fiéis e infiéis da comunidade que passa por este pequeno espaço de revolta e maldizer conhecido como Prometeu Agrilhoado [sim, vocês quatro que ainda se dão ao trabalho de ler isto, mais aqueles cinco ou seis que vêem cá quando os chateio] que decidi empreender a via da acção e da mudança.
Assim sendo, anuncio as minhas intenções de me tornar Presidente da Câmara de Lisboa! Considerem-se pois, privilegiados por terem acesso, em primeira mão [ou neste caso, em primeiro olho, partindo do princípio que estão a ler isto...] às bases programáticas da campanha independente "JP na CML".
Os pontos são então os seguintes:
- levantamento geral a nível do concelho das aglomerações de edifícios que cuja disposição provoca perturbações no tráfego e na circulação de peões.
- é muito bonito mas pretendo acabar com as semelhanças entre Lisboa e Kabul, através do programa "Poeira zero", para que a concentração de poeira nas ruas de Lisboa decorrente das 48263957 obras que decorrem simultaneamente em toda a cidade desça do actual nível "cancro do pulmão" para um mero "olhos a chorar o resto do dia e tosse".
- requalificação dos bairros camarários e correcções nos realojamentos em curso e a realizar futuramente, de forma a criar um ambiente urbano digno de uma capital Europeia do século XXI; isto implica intervenções nos edifícios em risco de degradação e dispersão dos inquilinos por apartamentos noutros pontos da cidade.
- destruir a Amadora, porque aquilo não presta mesmo! As minhas desculpas a quem lá mora mas de certeza que compreendem; aliás, deixaria muita gente feliz: os gangs eram eliminados talvez em metade, os skinheads também, ficávamos todos contentes! Além disso, uma terra que se chamava Porcalhota não merece grande consideração...
- intervenções paisagísticas nos pontos onde não existem quaisquer infra-estruturas visíveis; por exemplo, arborização de terrenos vazios, etc.
- sistema de portagens interno, aplicadas no centro da cidade, à semelhança do que existe em Londres; simultaneamente, aumento do número de autocarros da Carris de forma a preencher as necessidades dos utentes que não levam carro para Lisboa.
- fusão da Avenida da Liberdade, Avenida Fontes Pereira de Melo e Avenida da República num único eixo com o nome de Avenida Sport Lisboa e Benfica, encabeçada por uma águia de bronze em cada extremo.
- intervenções em todo o concelho ao nível das pequenas estruturas susceptíveis de dificultarem a circulação em Lisboa; por exemplo: passeios com buracos, canos partidos, entulho nas ruas, etc
adopção de um programa municipal aplicado a cada freguesia individualmente que estabeleça um limite máximo para a ocupação predial para fins que não sejam a residência, com o objectivo de evitar a desertificação das zonas comerciais da cidade.
- captura, seguida de humilhação pública dos indivíduos da espécie conhecida como "patus bravus portuguesis mercedes" cujas cinzentas obras de cimento coroam o ambiente depressivo de muitas partes da cidade.
- escolha de um espaço para a criação de um complexo científico de investigação capaz de abranger áreas variadas do conhecimento Humano, por exemplo, no espaço da Feira Popular
dar início ao projecto de requalificação da Segunda Circular e da zona em torno de Santa Apolónia como áreas comerciais a serem frequentadas por um elevado número de transeuntes, à semelhança do que sucede com artérias de outras capitais Europeias.

- construção de um projecto subterrâneo de transportes públicos que consiste em tapetes rolantes de comprimento muito elevado que atravessam a cidade de norte a sul, de este a oeste: Aeroporto à Baixa, Parque das Nações à Sete Rios; os tapetes circulariam a uma velocidade de 40km/h, o que permite na ausência de trânsito automóvel percorrer a cidade num espaço de tempo curto e seriam alimentados por painéis solares de grandes dimensões colocados em cada extremo das linhas.
- requalificação do Aeroporto da Portela [paralelamente à construção do novo Aeroporto na Ota] com vista a torná-lo parcialmente num aeroporto interno e numa zona financeira.
São estes, por enquanto, os pontos que defendo. Contudo, muitos mais haverá e aguardo as vossas sugestões, as melhores farão parte de um acrescento a este post. Pronunciem-se cidadãos [ou não, nem é preciso cá morarem].
Vou mostrar a essas criaturas, Carmona Rodrigues, Manuel Maria Carrilho, Ruben Carvalho, José Sá Fernandes e Maria José Nogueira Pinto como é que se governa a capital! E agora com licença que acho que vou jogar um bocadinho de Sim City para aprender mais do ofício...

14.6.05

Helsinki II

E já agora, ali também não. Posted by Hello

Helsinki I

Não me importava de morar aqui, e vocês? Posted by Hello

13.6.05

"Lá vai Lisboa" e aqui fico eu...

Ontem foi aquele dia do ano em que ser lisboeta se torna um fardo pesado e quase vergonhoso, mesmo quando não se contribui com rigorosamente nada para o sucedido numa importante artéria da cidade.
Que o feriado municipal de Lisboa seja dedicado a um santo católico é algo que até já comecei a tolerar, afinal de contas é impossível determinar um nexo lógico entre o 12 de Junho e o senhor António a quem o dia é dedicado, julgo que no século XIII o cálculo dos dias não era muito exacto.
O que torna a noite de 12 para 13 de Junho algo verdadeiramente embaraçoso para qualquer lisboeta que se preze é o acontecimento "popular" e "tradicional" que decorre na Avenida da Liberdade [sim, aquela que nós com todo o orgulho anunciamos como sendo 3 centímetros mais larga que os Champs Elysées de Paris!] conhecido como "Marchas Populares" onde as colectividades dos "bairros populares" de Lisboa apresentam uma série de residentes vestidos com uns fatos que parecem ter saído de uma ala obscura do Júlio de Matos e que não seriam concerteza práticos para utilizar nos transportes públicos.
Ontem dediquei-me a ver cerca de metade da transmissão da TVI [por causa disto vou ser obrigado a flagelar-me até conseguir ver os ossos, porque ver a TVI é algo que tem de ser severamente punido] narrada pelo ícone das piores transmissões da televisão Portuguesa, Manuel Luís Goucha [a concorrência neste sector é feroz, bastar ver as três penosas horas de emissão na RTP 1, SIC e TVI entre as 10:00 e as 13:00] que mostrou ser um profundo conhecedor do folclore da capital Portuguesa ao chamar às marchas uma "tradição com 70 anos".
Logo para inaugurar a galeria da vergonha alfacinha, as marchas "populares" não são tradição de espécie alguma, longe disso. As marchas "populares" assim o são devido à propaganda do Estado Novo e à acção do Secretariado Nacional de Informação, dirigido por António Ferro [um órgão próximo daquilo que seria um Ministério da Propaganda] que em 1932 implementou esta ideia de forma a acentuar o carácter pseudo-patriótico, retrógrado e paternalista do recém instaurado regime, através de uma celebração de carácter popular com a qual "o povo" conseguisse estabelecer uma afinidade e servir de base à campanha nacionalista do regime, algo em que não fomos de forma alguma pioneiros.
Partindo de uma celebração "popular" onde os aspectos mais atrasados de Lisboa eram enaltecidos e "lavados" como algo pitoresco e tradicional [pregões e afins...] o regime deu o seu aval às marchas de Lisboa, realizadas na noite de 12 para 13 de Junho, apresentadas como um evento para toda a cidade e toda a família, cumprindo assim com a trilogia sagrada do Estado Novo – deus, pátria, família. Desta forma, o "povo" mantinha-se entretido e feliz, contrariando assim a perspectiva de que um estado corporativo como o Estado Novo beneficiaria apenas alguns oligarcas protegidos pelo regime e que apresentava preocupações com as camadas populares [sobretudo se estas mostrassem tendências marxistas...]. O ênfase dado no que de pior havia em Lisboa encaixa perfeitamente na cosmogonia do Estado Novo e na sua matriz de um Portugal pobre mas independente, no qual a trave mestra da existência é o quotidiano "simples e pitoresco", representado nas letras das músicas que pautam o desfile de cada bairro "popular" de Lisboa.
A apresentação de Lisboa como uma amálgama de bairros populares, cada um com as suas letras, os seus fatos e os seus "costumes" faz também parte da estratégia de 1932, mostrando assim com todo o orgulho que Portugal era um país onde as tradições eram respeitadas, celebradas e não morriam. Ao ver as marchas de ontem e ao ler as letras [tive que as ler, os participantes cantavam tão mal que não percebia absolutamente nada, mas a sempre preocupada TVI exibiu as letras no rodapé!] só tinha uma ideia na cabeça "eu não sou desta cidade!". Claro que num sentido metafórico, nunca deixei de ser de Lisboa e é preciso mais do que uma saloia manifestação anual de involuntário saudosismo popular do Estado Novo, lavada e apresentada como "tradição" para me afastar da capital Europeia que é Lisboa.
Cada bairro apresenta uma síntese do seu quotidiano de há 70, 80, 90, 300 anos atrás. Este ano, o terramoto de 1755 foi um tema recorrente a quase todas as marchas. Logo a primeira, a marcha infantil da Voz do Operário, mencionou o sucedido e eu fiquei logo cheio de vontade de ver um terramoto inteiramente localizado na Avenida da Liberdade a engolir os participantes e a tribuna [a autarquia era engolida em peso pela estrada!], depois isso passou e eu apenas desejei que caísse uma enxurrada súbita, toda ela localizada na Avenida da Liberdade e que varresse aquela tão bela demonstração de orgulho alfacinha...
Mas voltando ao conteúdo, as letras de cada bairro mostram assim o pior que havia em cada um deles na época à qual a sua canção remonta, através de uma matriz totalmente branqueadora e que faz um sítio onde no século XX não havia luz eléctrica nem água canalizada, onde as mulheres carregavam com cestas de 20 kg de comida à cabeça e berravam frases insuportáveis para os vender e onde as ruas formam um labirinto que os isolava do resto da cidade, um bairro pitoresco do qual somos saudosos. Isto nos casos onde o tema remonta à primeira metade do século XX. Se dúvidas houvesse sobre a fórmula do Estado Novo aplicada a esta celebração, julgo que estejam esclarecidas.
Que fique claro, isto só me irrita porque sou de Lisboa e porque acho patético que no século XXI se celebre através de uma cortina de fumo que tudo branqueia uma manifestação de propaganda do Estado Novo, que faz a década de 1930 e 1940 parecerem cenários idílicos. Será isto uma prova da pobreza cultural e da falta de discernimento de uma parte substancial dos portugueses, agravada pelo facto de se passar na capital, supostamente o local mais dinâmico do país? Eu gostaria de pensar em Lisboa como uma verdadeira capital Europeia do século XXI, consciente do seu passado histórico mas voltada para o futuro. Podem-me acusar de ser radical quanto a isto e de dizer que as marchas são a única altura do ano em que Lisboa regressa ao passado, mas se para fazermos isso é necessário recorrer a uma estrutura reminescente do Estado Novo e vermos cada bairro "popular" através da lupa Salazarista, nesse caso o passado não me interessa.
A propósito, quem foi o iluminado que escreveu que Lisboa tem 750 anos? Se Lisboa tivesse 750 anos, como a letra da "marcha de Lisboa", comum a todos os bairros, afirmava, a conquista de Lisboa aos Mouros nunca teria ocorrido em 1147! Não é preciso nenhum génio para ver isto, quem foram as mentes brilhantes que deixaram passar esta idiotice?? Será que é necessário chegar ao pé dos senhores organizadores e dizer-lhes ao ouvido: "Pssst, Lisboa tem cerca de 3000 anos. Já cá estiveram fenícios, gregos, romanos, visigodos, mouros, vikings, portugueses e conseguiu sempre reinventar-se a si própria. Aliás, até consta que já se chamou Olissipo e Felicitas Julia, e não foi há 750 anos".
Lá vai Lisboa...mas eu não!

9.6.05

Situação digna de filme

Ontem ao voltar para casa presenciei uma situação digna de ser retratada num filme, alías, num filme de comédia negra/mórbida, esse estilo de humor que eu tanto aprecio!

Ao lado de uma célebre pastelaria de Lisboa, estava um carro funerário parado, com as portas da frente abertas, a "tripulação" do lado de fora e um caixão dentro do carro com coroa de flores e tudo. A tripulação por sua vez estava a falar com uma mulher - que eu suponho que fosse a passar pela rua naquele momento - e que lhes dizia qualquer coisa como "Pois, isso agora se calhar, é preciso empurrar". Digam-me lá se não estavam reunidos os ingredientes para uma comédia negra! Carro funerário com caixão lá dentro [presumo que ocupado!] vai-se abaixo numa movimentada rua de Lisboa [o carro aparentava ter uma idade que rondava os 15 anos], face à situação, os condutores nada podem fazer senão empurrar o carro.
Podiam chamar um reboque mas depois lá ia também o defunto e não me parece que ele ou ela fosse assim tão amado/a ao ponto de irem a carregar com ele/ela pelas ruas de Lisboa até ao cemitério, e se o funeral fosse no cemitério do Alto de S. João? Ainda ficava bem longe! Podiam deixar o defunto no carro e chamar o reboque, assim o defunto ia rebocado até ao funeral onde o largavam - do género, "encomenda registada para o cemitério X! Assine aqui, faz favor!" Ou então, o caixão abria-se e o defunto barafustava "Então esta coisa não anda??!! Já que aqui estou, vou aqui comer uns bolinhos que isto até tem bom aspecto..." Por outro lado, podiam levar o defunto até à oficina onde o carro iria ser reparado e deixar os entes queridos e conhecidos, chorosos no cemitério à espera, onde já se começavam a erguer vozes de revolta do género "Este/a gajo/a nem no enterro chega a horas!".
Comentem e façam o vosso próprio cenário!

6.6.05

PortugalTrade

Anúncio na página 64 da revista The Economist, edição de 4-10 Junho 2005. Posted by Hello

*cliquem para ampliar
Um óptimo exemplo da promoção essencial de Portugal nos meios internacionais. Esperemos que tenha o impacto desejado e que contribua para a nossa muito necessária campanha de marketing [inter]nacional, para que não sejamos apenas vistos como um país retrógrado com funções de destino de férias.

3.6.05

Da negligência&oligarquia

A negligência paga-se cara...

Seja como for, face ao aumento anunciado da taxa máxima de IVA de 19% para 21%, medida que o Governo acredita que irá aumentar a receita fiscal e reduzir o défice avaliado em 6,83%, gostava de perguntar o seguinte: a retração do consumo que se vai verificar com este aumento não será de tal forma relevante que irá reduzir a receita fiscal em comparação aos valores anteriores à subida da taxa máxima para 21%? E ainda, se a taxa máxima regressasse aos 17%, não iríamos assistir a um aumento do consumo suficientemente elevado que permitisse um aumento da receita fiscal mais elevada do que com uma subida para 21%, acompanhada da consequente retracção do consumo?

Já agora, a capa de hoje do Independente afirma que o ministro das finanças além do ordenado que recebe pelo desempenho das suas funções no Governo [não tenho a certeza quanto será mas julgo que seja qualquer coisa como 5000 Euros por mês] recebe ainda uma pensão de 119 000 Euros anuais do Banco de Portugal. Dado que se tratam de instituições públicas, ao serviço do Estado Português, qual é o sentido de um funcionário público receber um ordenado e uma pensão [superior ao ordenado] em simultâneo? Cada vez o regime se assemelha mais não a uma democracia mas a uma demo-oligarquia, na qual os funcionários que servem o interesse nacional são os primeiros a prejudicá-lo.

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