Cartão amarelo à AR
No site do Público encontra-se a seguinte notícia: "Deputados alteram agenda parlamentar para assistir ao jogo Portugal - México", onde se indica que os nossos representantes democraticamente eleitos nas últimas eleições legislativas alteraram o horário dos trabalhos de 21 de Junho, dia do jogo com o México, o último da primeira fase, de forma a que possam assistir a um desafio que pode ser decisivo. A alteração consiste em antecipar o plenário para a manhã e atrasar as comissões para depois do fim do jogo.
Que podemos retirar disto? Que os deputados, apesar das suas funções, privilégios e salários, não são capazes de cumprir um horário como um trabalhador comum, logo, não são merecedores da legitimidade democrática com que foram investidos no último acto eleitoral que os elegeu.
Que os nossos representantes na AR atribuem a um jogo de futebol uma importância exponencialmente superior à que este tem, sendo capazes de alterar o seu horário para assistir a um único jogo.
Que os indivíduos que discutem e aprovam uma boa parte das nossas leis [a outra parte vem da estrutura da UE] assumem uma superioridade moral e laboral ao ponto de acomodarem o seu trabalho às transmissões televisivas do Campeonato do Mundo.
Que os cidadãos que no seu local de trabalho votam propostas e projectos que podem alterar as nossas vidas num curto período de tempo ousam tomar o direito ao trabalho nas suas mãos e esfregam-no na cara dos seus eleitores, a maioria dos quais trabalha por conta de outrem e não tem possibilidade de realizar o mesmo procedimento, transmitindo assim um péssimo exemplo à população quando a mensagem a transmitir aos eleitores é uma de seriedade, integridade e empreendedorismo.
Face a estas quatro razões, que legitimidade têm assim os senhores deputados da República Portuguesa de criticar a conduta dos cidadãos nacionais, mesmo quando esta é reprovável? Não estarão suas excelências a transparecer a imagem do deputado como o indivíduo que envereda pela carreira parlamentar como forma de satisfazer os seus objectivos pessoais por divertimento próprio? Existirá alguma réstia de integridade, de moral e de patriotismo em indivíduos capazes de dar tamanho mau exemplo aos seus eleitores? Que mensagem transmitem eles, sobretudo, às gerações em formação? Que interromper o trabalho não é errado se o motivo for acompanhar um jogo da selecção nacional de futebol num Campeonato do Mundo? Que todos temos o direito a abrir um buraco de 90 minutos nas nossas agendas profissionais para uma transmissão desportiva?
Parece minúsculo, de facto, 90 minutos num ano, não são praticamente nada. E de que forma pode prejudicar o país, se a sessão é apenas reconfigurada e não cancelada? Pois bem, se esta alteração não terá um efeito grave no panorama nacional, uma vez que a produtividade dos deputados não é conhecida por ser elevada, suponho que a sua substituição também não levante problemas.
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