Lisboa na CNN
No site da CNN encontram-se disponíveis guias para algumas das mais conhecidas cidades do Mundo, com o pormenor de serem orientados por uma série de personalidades onde se incluem cantores, arquitectos, realizadores, actores, etc.
A última cidade a ser adicionada foi Lisboa, que foi visitada por dois jornalistas da CNN, guiados pela fadista Mariza. Ao ler o artigo, deparei-me com aquilo que eu temia: Lisboa é, acima de tudo, uma cidade pitoresca, em que o tempo parece estar parado há 100 anos, em que o fado é a alma da cidade e que segundo os autores do artigo, pode ser ouvido enquanto caminhamos pelas ruas ao anoitecer, e onde a identidade é definida por sítios como o Bairro Alto e Alfama.
O artigo afirma mesmo que a última vez que uma mudança chegou a Lisboa foi com terramoto de 1755 "The last time Lisbon embraced change was in the 18th century after much of the city was wiped out by earthquake and tidal wave -- the result was the elegant Baixa district, a celebration of Enlightenment order and rationalism". É referida a chegada do século XXI, mas sem nada que o ateste.
O artigo inclui ainda os clássicos erros ortográficos que compõem qualquer artigo sobre Portugal escrito por autores anglófonos, como por exemplo, o facto de no Bairro Alto ser o sítio perfeito para beber uma caiphirinha [sic], uma bebida bem portuguesa, diga-se. Entre os bares do Bairro Alto é ainda referido o Pavilhão Chinês [que por acaso fica no Príncipe Real] e em relação às discotecas, é referido o Kremlin, que segundo o artigo, fica na Madragoa. Eu não tenho a certeza em relação ao nome do local onde fica o Kremlin [uma vez que nunca lá estive, para mim o único Kremlin fica em Moscovo] mas não julgo que seja na Madragoa.
Sem esquecer, claro, a importância dada às casas de fado, consideradas como verdadeiras essências de Lisboa, e eu que nunca fui a uma... Resumindo e concluindo, Lisboa é apresentada como uma capital minúscula e a sua grandeza vem da sua pequenez, quer física quer psicológica. Para quem escreveu o artigo, Lisboa resume-se a Alfama, Bairro Alto, Baixa Pombalina e Castelo. O facto de nesses locais viverem provavelmente menos de 10 000 dos 550 000 habitantes da cidade parece ser irrelevante. Tal como o facto de o fado ser sobretudo um alvo do interesse de turistas e de estudiosos da matéria mas não da maior parte da população, é igualmente irrelevante.
Mas não os posso censurar, Lisboa construiu uma imagem de pequenez, tradicionalismo e de capital parada no tempo, onde a decadência e a nostalgia são rainhas, e este artigo é apenas um reflexo disso mesmo. Como Lisboa é um microcosmos de Portugal [sempre ouvi dizer que "Portugal é Lisboa, o resto é paisagem"], suponho que o mesmo raciocínio se aplica ao nosso país no geral. Mas para quem gosta deste tipo de atracções, o artigo é muito bom.
1 Comments:
Para variar nem nos conseguimos divulgar a nós próprios...realmente reduzir Lisboa somente a esses sítios é muito limitativo! Ainda mais assustador é falar de Fado e Kremlin juntos...
A nossa imagem precisa de uma lavagem rápida...é o que me parece
!
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