29.10.04

Do caos viemos, ao caos voltaremos...

Podem começar a achar que eu sou um bocado obcecado com o caos...não tenho nenhum problema com isso.

O caos é para mim o que define a essência do nosso Universo. Enquanto eu escrevo isto, o caos está à minha volta, em todas as direcções e a fazer aquilo que "ele" (à falta de um pronome pessoal [embora não se trate de uma pessoa] mais indicado para tão poderosa força...) sabe melhor: acções arbitrárias, por todo o Universo.

É nisto que consiste a minha visão niilista daquilo que nos rodeia, enquanto nós continuamos a tentar impôr e redefinir pseudo-ordens no nosso pequeno e insignificante planeta. Não foi o Big Bang um acontecimento caótico? Em alguns segundos, a matéria que se encontrava condensada num minúsculo ponto (onde vigorava - mal - uma ordem...) expandiu-se arbitrariamente numa "aventura" que ainda hoje perdura, mais de 15 mil milhões de anos depois.

Não há nada mais caótico do que o Universo, por mais que algumas vozes tentem fazer crer que ele obedece à mesma ordem. A própria gravidade, o que mantém grande parte do nosso Universo minimamente coeso, está sujeita a variações extremas e repentinas. Porque razão surgiu o nosso planeta? Porque se formou o nosso Sol? Tudo indica que as estrelas são formadas a partir de nuvens de gás que começam a condensar matéria, a aumentar a gravidade e a reunir objectos à sua volta, isso não está em causa, mas de onde vieram essas nuvens de gás? Porque existem elas?

Ou então, como é que os diferentes planetas reuniram as condições que os caracterizam? E porque é que nós consideramos a nossa Terra como o único planeta habitável? Mais uma vez, arrogância Humana no seu pior: somos tão auto-centrados que nem nos passa pela cabeça que possam existir formas de vida inteligente noutro planeta do nosso sistema Solar.

Querem maior exemplo do caos elevado ao expoente máximo do que um Buraco Negro? Qual a razão para a formação de um corpo celeste tão incrível? Será lógico o que sucede na sua formação? Talvez, mas então porque será isso lógico? Não poderá ser mais uma forma de caos? Uma vez consumado, o Buraco Negro torna-se na maior força anti-ordem do Universo, o próprio processo que a estrela ultrapassa até se tornar num Buraco Negro é caótico. Uma Supernova é mais caótica do que qualquer Humano alguma vez consegue imaginar. O que se segue na "transição" (não gosto muito de usar este termo neste contexto porque dá a entender um processo ordenado e organizado mas à falta de mais...) é mais uma demonstração da força do caos. A própria existência de um Buraco Negro é um paradoxo que desafia tudo o que nós damos como absoluto, quando a própria luz não consegue ir contra o caos que é o Buraco Negro.

Acho que já me fiz entender. Nunca podemos olhar para o Universo com a perspectiva arrogante de que existe uma ordem absoluta - que para cúmulo ainda maior obedece aos parâmetros Humanos - o caos criou o Universo, o caos domina o Universo, é para mim tão simples quanto isto. Nada é absoluto, tudo pode ser sujeito a uma completa destruição e redefinição, tudo resulta de relações caóticas entre factores que podem ser totalmente opostos num espectro anárquico e sem qualquer linearidade.
Tenho dito!

23.10.04

Caos vs.Ordem

As contradições dentro de nós próprios e à nossa volta são no mínimo gritantes. Já devo ter referido num post anterior que os seres Humanos apenas utilizam cerca de 10% do seu cérebro (e se não o disse antes, assim o fiz agora mesmo), um décimo do nosso orgão mais poderoso teve como resultado todas as obras Humanas - físicas e metafísicas - à nossa volta, são literalmente milhões e facilmente reconhecíveis (pelo menos para alguns...) pelos nossos órgãos sensoriais , embora algumas requeiram um pouco mais do que apenas os vulgares cinco sentidos. Tudo isto com apenas 1/10 do cérebro Humano, construímos estruturas inimagináveis de acordo com a percepção dos nossos antepassados (apesar da distância Histórica, há 300, 400, 1000 anos, já tínhamos a mesma capacidade cerebral), desenvolvemos criações quase impossíveis de atingir, criamos tudo a partir de quase nada, fixamos a fronteira cada vez mais longe e medimo-la não em metros ou quilómetros mas em anos-luz.

Por isso, pergunto eu, será isto a "Ordem Humana"? Ou será apenas uma anarquia, ou melhor, um caos Humano, no qual, a partir desta relação de forças arbitrárias (se há adjectivo que não se aplica à Humanidade, ele é "linear"), nasce um fio irregular com oscilações extremas das quais resultam a nossa Civilização? Civilização, obviamente, Humana, não apenas Ocidental, Asiática, Islâmica, etc (Huntington devia rever estas coisas...). Afinal de contas, não foram os grandes avanços da Humanidade resultantes de processos arbitrários, quase caóticos? Não houve inúmeras descobertas realizadas de forma acidental? Não se fixaram novas fronteiras como reacção a uma situação nefasta que nos atormentava? Por isso mesmo, volto a perguntar - através de outras palavras mas com o mesmo sentido - , vivemos numa Ordem com traços de Caos ou num Caos com vestígios de Ordem?

Há argumentos a favor dos dois lados e cada um de nós terá a sua perspectiva pessoal, no entanto, onde está a terceira via? Qual será "a terceira via"? Fará mais sentido do que este dualismo (não vou ao ponto de lhe chamar maniqueísta porque não me parece caso para isso) ao qual estamos condenados em inúmeras situações? Estará ela reservada para o dia em que utilizarmos um pouco mais do nosso cérebro?

Como podermos nós distinguir o que é ordenado daquilo que é caótico? Está concerteza além dos códigos legais que regem as sociedades Humanas, disso não há dúvida. Assim sendo, quando se diz que um determinado território "mergulhou no caos", o que será que isso quer realmente dizer? Que o respeito pela lei e ordem desapareceu? Será essa a única condição para atingir o "caos"? Numa situação de "caos", ou talvez aqui faça mais sentido usar a palavra "anarquia", não está também em vigor uma outra forma de "ordem", diferente da anterior mas mesmo assim com as suas premissas e regras? O caos parece ser apresentado como uma mera ausência de ordem, o que rebaixa um pouco a sua 'reputação', peço desculpa pela comparação algo parva, mas é como dizer que "saúde é a ausência de doença", não terá o caos as suas próprias características que se definem independentemente da existência ou não de uma ordem?
O caos na sua essência pura é algo que nenhum de nós vai ver, por um motivo simples, não existem condições para tal, seja qual for a "forma" de caos em que estivermos interessados - um caos social, físico, económico, político, seja lá o que for - e iremos considerar como "caótica" uma situação de desrespeito pelas normas em vigor. Claro que se as normas em vigor já permitirem o caos, isso nunca será tocado.

Assim sendo, o que é o verdadeiro caos? Só o poderemos imaginar, afinal temos cérebro que chegue para isso, só que não o rentabilizamos da melhor forma... Seja como for, eu imagino o caos absoluto - transcendendo TODOS os constrangimentos físicos e metafísicos que acorrentam o ser Humano - como uma situação em que a liberdade Humana é interminável, em que nos tornamos verdadeiras divindades, em que todas as matérias à nossa volta são moldáveis e a lei natural deixa de ser um obstáculo à nossa natureza Humana, esta própria caótica por natureza e agrilhoada por normas impeditivas às quais foi colocada a frágil etiqueta de "ordem" mas que em muitos casos contribui para a domesticação e deshumanização da espécie Humana.
Talvez venha daqui o medo, ou melhor, o terror em relação ao caos, visto principalmente como anarquia político-social pelos representantes da ordem estabelecida mas que, de acordo com o meu ponto de vista, vai muito além deste pequeno pormenor. Estaremos em condições de afirmar que o caos, afinal de contas, é uma forma de ordem? Ousaremos fundir as duas forças, aparentemente opostas e tantas vezes instrumentalizadas com outros propósitos em nome de uma doutrina que requer a nossa reverência, estas duas forças que nos fazem crer serem incompatíveis?

Quando nos expandirmos - dentro e fora de nós próprios - e mais uma vez alargarmos as nossas fronteiras, iremos compreender melhor isto. Eu sou apenas mais um que dedicou uns minutos ao tratamento da nossa "Ordem" (caos incluído), quando utilizarmos o dobro do nosso cérebro, seremos milhões a compreender e a utilizar em nosso prol tudo o que soubermos sobre o caos e a ordem...e com isto me despeço por hoje. Tenham uma vida caótica (não vejam isto com maus olhos) e sejam verdadeiros Humanos.

19.10.04

Sufocados à nascença

Prometeu já é um ser agrilhoado, condenado a essa situação devido a um favor que fez aos Homens, mas nos últimos dias as correntes apertaram-se ainda mais, chegando ao ponto de ser quase impossível colocar um post minimamente de jeito (conceito muito relativo!) aqui nesta tela de escape da dita figura. É o que acontece quando nos voluntariamos para rever 300 páginas de conhecimento mal tratado pelos iluminados (por lâmpadas de 10W) que anteriormente lidaram com ele...

Seja como for, esta é uma forma de escape útil, apesar de não ser a ideal. Pelos labirintos cinzentos da nossa banal existência continuamos sempre a desembocar nas mesmas salas sem que as diferenças entre elas estejam além do superficial. A culpa é nossa como é óbvio, por não conseguirmos mudar o prisma com que observamos o mundo, por sermos limitados por uma autoridade invisível que só se faz sentir quando nos tentamos projectar em direcção a um escape de nível superior, por sermos incapazes sequer de ir além da nossa banalidade...enfim, nem todos felizmente!

Precisamos de uma redefinição, uma redefinição para nos tornarmos de uma vez por todas "normais" porque isto que nós vivemos não é de forma alguma "normal" e está muito aquém do nosso verdadeiro potencial. Observamos o vazio como se nada fosse, um vácuo total, sem repararmos que o vazio é simplesmente um prolongamento da existência, de uma forma diferente, sem dúvida, mas ainda assim, é uma forma de existência que nós podemos moldar em nosso nome, se ao menos o compreendêssemos melhor e não lhe tivéssemos atribuído um conceito tão redutor e tão pessimista como "vazio".

Enquanto continuarmos assim, nunca iremos atingir o verdadeiro progresso, a força da mudança permenece isolada e dispersa, sem força suficiente nem apoio e asfixiada pelos que beneficiam do actual cinzentismo que nos caracteriza, permitindo apenas uma forma de libertação muito pacífica ao nível do indivíduo e "inofensiva" para a ordem.

Assim foi, assim é, assim será...por quanto tempo? Eu próprio tenho os meus limites e apesar de todo este palavreado, dificilmente vou conseguir ultrapassar esta dimensão, pelo menos num futuro próximo. A nossa redefinição requer um esforço mental colectivo de todos nós e enquanto estivermos divididos (ou será que devo dizer, enquanto nos dividirem?) nunca iremos ultrapassar os limites que impusemos a nós próprios!

13.10.04

Sorry

Peço desculpa por nos últimos tempos os posts terem surgido a uma velocidade irregular e por vezes a conta-gotas. Não é bem por falta da inspiração e por falta de assuntos mas eu neste momento estou mais ou menos "em suspensão", ou seja, regressei às aulas (embora isso não seja impedimento) mas como ainda vou fazer uma melhoria que ainda não está marcada, tento sempre manter um certo nível de estudo para evitar uma consciência pesada se não conseguir melhorar a nota.

Quanto ao resto, finalmente o verão de Lisboa terminou, ao contrário do "verão normal" que vai de 21 de Junho a 21 de Setembro, o "verão alfacinha" parece ir do princípio de Maio até ao início de Outubro, ou seja, quase cinco meses com temperaturas acima dos 27º, o que é muito bonito nos dias de verão em que estamos de férias mas insuportável quando passa acima dos 32º, ainda mais quando estamos em aulas.

Prometeu continua agrilhoado, embora cada vez conheça melhor os elos fracos das correntes que o prendem, será que são todos?

10.10.04

Somos cá uns poderosos...!

No exame de geopolítica uma das perguntas, como não podia deixar de ser, era sobre o poder, o que não é novidade nenhuma naquela cadeira. Só que esta pergunta tinha a "pequena" complementaridade de nos pedir para fazermos uma análise do poder sobre Portugal.

O (eventual) poder que Portugal tem (ou não...) dava para encher páginas e páginas, o que só por si já é um poder. Se do ponto de vista dos recursos naturais, pelo menos na acepção mais tradicional da palavra, não estamos à altura de muitos outros Estados, nas componentes intangíveis do poder podemos empreender um esforço de potencialização se, claro, nos mentalizarmos para isso em vez de reclamarmos de que o governo é mau, que os políticos não prestam e que o país está às minhocas... É ou não é verdade que Portugal teve um dos maiores impérios da História e que uma das consequências desse império foi um legado cultural presente em todos os continentes? Porque não investir na potencialização do legado Português na projecção da imagem de Portugal no mundo, de forma a atingir um poder cultural aproximado ao da Commonwealth ou da Francofonia? É óbvio que as verbas concedidas pelo Estado não seriam suficientes (notem que a frase foi escrita assim de propósito) mas porque não embarcam as empresas Portuguesas num projecto mais ambicioso como forma de complementar os seus investimentos fora do país?

As participações Portuguesas nas operações de paz da NATO são essenciais e não devem ser abandonadas. Portugal como país que, em princípio, não estará directamente envolvido num esforço de guerra deve participar na construção e manutenção da paz, seja onde for. Para atingir uma maior credibilidade neste sector, torna-se necessário modernizar as forças armadas Portuguesas, o que não significa necessariamente aumentar os seus números. Outra vertente será, sem dúvida, atrair para Portugal cada vez mais palcos de negociações e de discussão entre Estados envolvidos em confrontos, seja em que região do mundo for.

Finalmente, uma maior dose de ambição e menos pequenez não faria mal nenhum aos empresários Portugueses. A dita "crise" (uma desculpa utilizada vezes sem conta...) nunca poderá ser plenamente ultrapassada e substituída por um novo ciclo de crescimento elevado e prosperidade se não houver um esforço do sector empresarial e isto passa necessariamente por investimento, dentro e fora do país, por formação e por promoção, mais uma vez dentro e fora das fronteiras Portuguesas. O nosso maior inimigo somos nós próprios e enquanto não nos convencermos disso caímos cada vez mais num círculo vicioso do qual se torna cada vez mais difícil sair enquanto não nos consciencializarmos de que não podemos viver na sombra de países mais poderosos. A partir daí, entraremos numa via de desenvolvimento superior que, se assegurarmos a sua sustentbilidade, nos pode elevar até aos patamares superiores, deixando definitivamente a "cauda da Europa" que muitos de nós já encaram como um "estigma" ou uma "cruz". Mais uma vez, isto sobra sempre para uma minoria...
Isto é incrível!Façam lá o download e digam-me se eu não tenho razão!

Moonsorrow
KYLÄN PÄÄSSÄ

1
Kauan sitten kylän päässä syntyi kaksi poikaa,
kaksi perillistä sodanjumalan karhuntaljoin verhotun.
Jo kolmen iästä, sanovat, toisiansa alkoivat harjoittaaja
kun teräksensä yhteen kalahti, saattoi kuulla ukkosen.

Kauan sitten kylän päässä varttui kaksi poikaa,
kaksiko vain typerystä kuolemaa pilkkaamaan?
Ei yksikään haava vielä ollut tehnyt tehtäväänsäja
siksi kai sitä miekasta vihollisen täytyi anoa.

Aina kunnia houkuttaa nuorta kansaa
(ryöstöretki merten taa) ja taistelu sitäkin enemmän.
Varmaan turmaan rientävän tiellevain toinen hullu uskaltautuu.

2

Kun kenttä hohkaa kärsimystä ja kirveet lentävät,
leikki kanssa kuoleman vain yltyy.
Niin riemukasta lapsien on päitä pudottaa
kuunnellessaan sotajoukkoa hurraavaa.

3

Usein käykin vain niin et' vertaisesta tulee alempi.
Tarinan kulku voitoista kääntyyja maine ihmisen helposti antaa veljensä unohtaa.
Ylpeys, tuo kavalin tauti päällä maan,
näin on vienyt taas yhden uhrin muassaan.
Kumpi lie se epatto, kilpi alhaalla ja miekka kohollateilleen
mennyt vaiko hän joka hautoja kaivaa saa?
Heikompaa voima mik' riepottaa;
kotinsa on iäksi jättänyt tahtoen vielä surmata.Kunniaton moinen työ.


E agora a tradução...

A VILLAGE AWAY

1

Long ago a village away there were born two sons,
two heirs of the god of war dressed in bearskins.
From the age of three, they say, each other they did trainand
when their steel did clash thunder could be heard.

Long ago a village away there did grow two sons,
or were they just two fools born to mock their deaths?
Still they hadn't got a wound that would've hurt'd enough
to prevent them from begging such from a foreign blade.

Honour always tempts the young blood(plundering across the seas)
and battles even more.Into the way of the one rushing
to his doomonly another insane dares step.

2

When the field emits pain and axes fly about,
play with death is on the increase.
Such a joy for children the dropping of heads
is as long as their army cheers.

3

Yet so often equality becomes inferiority.
The course of a story twists at triumphsand fame
so easily lets a man forsake his kin.
Thus pride, that most insidious illness on all earth,
once again has taken its prey.Which one might be the failure, he who left
with a loweredshield and sword held high
or he who has to dig the graves?Tossed about is the weaker
by what force;his home he has left, gained just more will to slay.
What a disgrace is such work.


É uma das melhores bandas que eu já ouvi!

6.10.04


Vale a pena fazer algo por isto, não acham?

Esta foto encontra-se em http://www.pbase.com/diasdosreis/paisagem_urbana juntamente com outras fotos realmente muito boas de Lisboa, de Portugal e além.

5.10.04

Interminável...........

Como é possível?
Como é possível que a nossa pequenez não seja compreendida por nós mesmos? Ainda não nos apercebemos da nossa verdadeira dimensão? O que nos rodeia e nos mantém vivos será contínuo?
Estaremos tão habituados à nossa ordem, será que uma alteração mínima poderá exterminar-nos completamente? Moldámos o que nos rodeia à nossa imagem ou adaptámo-nos ao que nos rodeia? Somos tão minúsculos, tão limitados às nossas condições, estaremos à altura do desafio supremo? Teremos capacidade para compreender os limites? Ou serão os limites que se irão alargar para a nossa própria expansão? Temos limites? Quais são, nesse caso, os nossos limites?
Existe realmente uma ordem superior que nos impedirá? Não faz sentido, já fomos tão longe mas a distância que fizemos até agora, será apenas o primeiro lanço da infinidade? Ou será que o reconhecimento da própria infinidade é a consciencialização de que não existem limites para o nosso esforço?

Não consigo continuar, pelo menos por agora. Mais se seguirá noutro dia...

3.10.04

A admirável Helvécia

Há uns dias realizou-se na Suíça um referendo que incidia sobre a lei da nacionalidade. Mais concretamente, dizia respeito à obtenção da nacionalidade Suíça por parte dos imigrantes de terceira geração automaticamente com o nascimento e maiores facilidades na obtenção da dita cidadania pelos imigrantes de segunda geração. O resultado foi uma vitória do "Não", com 56,8% dos votos.

Rapidamente as reacções negativas vieram ao de cima. Os argumentos usados inicidem na forma como a Confederação Helvética encara a comunidade estrangeira (cerca de 20% da população devido às leis restritivas) e apontam para um egoísmo dos eleitores Suíços em não aceitarem uma maior abertura do país às comunidades de origem estrangeira.

Notório foi um pequeno artigo na última edição do Expresso, escrito pelo seu correspondente em Berna e que vai ao ponto de acusar os Suíços de terem uma "mania do isolamento" e "um povo incapaz de partilhar, a Suíça não tem nada a ver com a imagem do cartão postal". A meu ver, trata-se de um artigo digno de um desses vómitos que dão pelo nome de 24 Horas ou Correio da Manhã, e não do semanário Expresso. Não será preciso certamente explicar que o jornalista que assina o artigo não perdeu sequer um minuto a tentar ser objectivo. O que é apresentado é um retrato da Suíça como um perigoso Estado xenófobo e anti-tudo-o-que-não-for-Suíço. Alguém lhe devia ter explicado o que é que estava em discussão. Não se tratava do direito de acesso ao país, nem do acesso a residência ou a contratos de trabalho. Tratava-se de uma lei de nacionalidade e na generalidade dos Estados soberanos, a nacionalidade permite aceder à administração pública, às forças armadas, às forças de segurança e garantem o direito de voto e de ser eleito.

A nacionalidade é um dos aspectos mais importantes da soberania de um país, não pode ser entregue da forma como alguns Estados (os EUA saltam à cabeça) a encaram, principalmente num país pequeno como é a Suíça. As suas características económico-sociais tornam-na num óbvio destino pretendido por imigrantes vindos de regiões mais pobres da Europa e do Mundo. Qualquer pessoa tem o direito de emigrar para um país onde possa desenvolver melhores condições de vida, no entanto, a nacionalidade é muito mais sensível e hoje em dia, numa altura em que se torna difícil apurar onde começa e acaba exactamente a soberania de um Estado, há aspectos que não podem ser descurados.
Vou ainda acrescentar algo que pretende retirar todo o dramatismo que rodeia a questão sob alguns pontos de vista: o resultado foi democrático, a participação do eleitorado Suíço é livre e realçar que, enquanto a comunidade francófona votou maioritariamente a favor e a comunidade germânica votou contra, parece querer, de forma tácita recuperar fantasmas do passado que, apesar de tudo, ainda regressam de vez em quando para ser colados aos povos de matriz cultural germânica; observando melhor os resultados, será que são surpreendentes? A Suíça não é membro da UE nem mostrou intenção de o ser, nem sequer do Espaço Económico Europeu. Indica euro-cepticismo por parte dos Suíços, é verdade, mas ao mesmo tempo, podemos medir com exactidão onde termina a defesa da identidade nacional e onde começa a desconfiança em relação à perda de soberania? Tendo isto em conta, é perfeitamente natural que os eleitores tenham dado o seu voto maioritário contra a lei que iria conceder nacionalidade Suíça aos imigrantes de terceira geração nascidos no país e facilitar o processo de naturalização aos imigrantes de segunda geração.

Talvez a imprensa Portuguesa opte por este criticismo devido à existência de uma comunidade Portuguesa na Suíça. Talvez pensem que a mera existência de cidadãos Portugueses num país é suficiente para censurar o exercício de um direito democrático por parte da população Suíça - afinal de contas, neste país realizam-se referendos periodicamente, é quase uma instituição Helvética - que poderia contrariar as intenções de alguns Portugueses residentes no país.
É algo que eu não esperava do Expresso, como será que o assunto foi retratado no 24 Horas ou no Tal&Qual?? Talvez passem a referir-se à Suíça como o "quarto reich", foi só isso que faltou no artigo que eu li.

2.10.04

Sic transit gloria America

Ok, finalmente atingi um ponto mais ou menos aceitável no que diz respeito à organização do blog! Parece que acertei com isto dos arquivos, mas ainda não atingi esse estádio de iluminação que me permite colocar fotos aqui...vamos lá ver, isso não é para broncos!

Seja lá como for, estou bastante curioso em relação às eleições presidenciais Americanas. Afinal, trata-se apenas do país com uma agenda que abrange todo o Mundo, logo, todos nós deveríamos seguir o processo atentamente e também para nos rirmos um bocado.

Os EUA têm cerca de 280 000 000 de habitantes, talvez mais, e no entanto, o eleitorado Americano está organizado de tal forma que os dois maiores partidos avançam com George W. Bush e John F. Kerry para candidatos à presidência, só por aqui, ficamos a saber alguma coisa da consciência política dos cidadãos Norte Americanos.

Quanto aos candidatos propriamente ditos, Bush é aquilo que todos sabemos. Antes das eleições de 2000 era ridicularizado pela sua ignorância no que dizia respeito a política externa e por não ter consciência do papel que o presidente dos EUA devem ter no Mundo. Depois de uma eleição extremamente conturbada que ainda hoje é vista como ilegítima - afinal, Bush ganhou as eleições no Supremo Tribunal, não nas urnas - Bush enverdou inicialmente por um caminho menos interventivo.

Contudo, após os atentados de 11 de Setembro, a sua vocação "messiânica" veio ao de cima e tanto no Afeganistão como no Iraque é notório que os seus esforços de "guerra ao terrorismo" - uma expressão que é, do ponto de vista eleitoral, muito boa mas do ponto de vista "geral" nada feliz, tal como o "Eixo do Mal" - são apenas um instrumento ao serviço de outros interesses, caso contrário os EUA já teriam a situação muito mais controlada, principalmente no Iraque. Quando o próprio secretário da defesa Donald Rumsfeld admite que as eleições Iraquianas podem não se realizar em todo o território por falta de condições mas que "nada é perfeito", está tudo explicado. Apesar de tudo, Bush aparece como um líder admirado por muitos Americanos. Para os seus apoiantes, Bush é o presidente que não recuou na face do terrorismo e que 'had the balls' para demarcar os EUa de questões que, no seu entender, iam contra os interesses nacionais Americanos, como o Protocolo de Kyoto e o TPI. Isto além do idealismo e messianismo expresso pela sua administração em rehabilitar os rogue states e tranformá-los em democracias. Mal, como já vimos, visto que não conseguem evitar atentados quase diários.
Sem dúvida que a determinação existe. Só que determinação não significa que a sua agenda seja benéfica. Na verdade, Bush e a sua administração insistem tanto naquilo que julgam ser correcto para os EUA e para o Mundo que acabam por ter um efeito inverso.

Por sua vez, John Kerry surge num campo algo confuso. Considerado pelos Republicanos como "o senador mais liberal do país", o que para a franja conservadora dos EUA é praticamente um insulto, as suas posições acabam por não ser muito diferentes das de Bush. Votou a favor da intervenção no Iraque e contra a ratificação do Protocolo de Kyoto que constituem as faces mais criticadas da política externa dos EUA. De acordo com Kerry, no que diz respeito ao Iraque, a sua administração iria travar uma "guerra mais sensível" ao terrorismo. Ora, na minha minúscula e insignificante opinião, eu acho que o criticismo vai quase todo por ser uma guerra, não propriamente pela forma como é combatida mas simplesmente por ser uma guerra. Além do ponto Iraquiano, Kerry apresenta-se com um programa que é mais marcado por não ser Bush do que um programa próprio. No que diz respeito à política interna, Kerry diz o que os seus eleitores querem ouvir, ao passo que Bush tenta evitar alguns pontos mais sensíveis. Face a isto, eu não julgo estar enganado ao afirmar que,seja qual for o vencedor, as diferenças vão ser poucas. Se na política externa talvez mudem apenas na comunicação das intenções, na política interna parece-me que vão ser diminutas

Assim vão os EUA...

Click Here