15.5.06

Antiamericanismo

Não sei ao certo quando começou o fenómeno do antiamericanismo. Provavelmente é tão antigo como os EUA. Mas não podemos negar, desde o final do período bipolar que se acentuou e ganhou novas dinâmicas de manifestação, principalmente nos países ocidentais. Sobretudo porque até 1989, as pessoas mais afectas ao antiamericanismo localizavam-se sobretudo nas margens do espectro social, eram na sua maioria comunistas pró-soviéticos, maoístas ou anarquistas.
Desde a queda do Pacto de Varsóvia e com o desaparecimento de uma ameaça militar concreta vinda da Europa de Leste, os sentimentos hostis em relação aos EUA ganharam simpatizantes em vários sectores das sociedades ocidentais. Encontram-se antiamericanos não só entre os extremos mas também dentro do sector mais central do espectro político. O que será então, o antiamericanismo? Se seguirmos uma orientação inteiramente semântica, ficaremos com a impressão errónea que um antiamericano é uma pessoa que é determinantemente oposta ao continente Americano, que vai desde o Alasca à Patagónia. Como sabemos, isto não é verdade.
O prefixo “anti” indica uma oposição incondicional, sem margem para recuos, o que significa que um antiamericano deveria ser uma pessoa com um ódio profundo pela América e por tudo o que esteja relacionado com aquele vasto continente. Todos sabemos que não é assim, o significado vox populi indica-nos que um antiamericano é uma pessoa que se opõe determinantemente às políticas dos governos dos Estados Unidos da América, por considerar que estas são prejudiciais para o Mundo e por responsabilizar Washington pelos males do planeta, desde os conflitos militares, às fomes, epidemias e pobreza que assolam o continente americano, africano e asiático em várias vertentes. Logo, o conceito está errado.
Nesse caso, uma pessoa que se considera antiamericana deveria apenas mostrar a sua oposição pelos governos dos EUA com os quais discorda. O que se verifica é que algumas das pessoas que são consideradas antiamericanas têm uma particular afeição pela bandeira dos EUA [sobretudo se esta estiver a arder] e por participar de forma entusiasta na destruição de McDonald’s [eu sei que os hambúrgueres deles sabem a plástico mas não é preciso tanto], aliviando assim a sua consciência por julgar que prejudicou de alguma forma os EUA, logo estará a beneficiar as suas vítimas.
Assim reza o mito, assim não é a realidade. Primeiro porque os EUA não são uma superpotência imperial, digam o que disserem, Washington não domina o Mundo, de maneira nenhuma. Segundo, porque os EUA são um país demasiado grande para o remetermos à categoria de alvo de oposição violenta, o Mundo precisa dos EUA e os EUA precisam do Mundo, independentemente do que possam dizer os senhores Fidel Castro, Hugo Chávez e Evo Morales. Terceiro, porque ao destruir um McDonald’s ou boicotar produtos vindos dos EUA [que pela Europa são cada vez mais raros, quando foi a última vez que viram um produto com a etiqueta “Made in USA”?] estão a prejudicar a população activa do seu próprio país.
Imaginemos uma manifestação antiamericana no Brasil [por exemplo] onde é destruído um McDonald’s, sim, arrasaram um símbolo do “imperialismo yankee”, mas a única coisa que conseguiram foi que os brasileiros que lá trabalhavam fossem parar ao desemprego e que as economias de escala associadas àquele estabelecimento fossem gravemente afectadas, parabéns, prejudicaram-se mais a vocês próprios do que aos EUA. O que é então o antiamericanismo? De uma forma muito cínica, eu gosto de pensar que entre muitos sectores é uma moda, sobretudo desde a invasão do Iraque. Mas não distingo a linha que separa o crítico dos EUA [e sabemos nós que se fosse aqui escrever críticas àquele país nunca mais daqui saía] daquele que se diverte a queimar bandeiras americanas, a destruir McDonald’s e a desejar a destruição daquele país, como se a totalidade dos 300 milhões de cidadãos fossem directamente responsáveis pelo mal que vai no Mundo.
Termino apenas dizendo isto: o poder perceptível dos EUA é exponencialmente maior do que seu poder real.

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