Nova guerra no Cáucaso?
Depois de vários anos de impasse, em apenas uma semana a situação na república separatista da Ossétia do Sul deteriorou-se gravemente. após uma violação do cessar-fogo por parte de separatistas ossetes, a Geórgia pôs em marcha o seu plano de recuperação da região e entrou na região separatista que, de jure, pertence à Geórgia ao mesmo tempo que iniciou um bombardeamento da cidade de Tskhinvali, capital da república separatista.
Em reacção, a Rússia [apoiante dos separatistas, mantém tropas de manutenção da paz na região e concedeu cidadania russa à grande maioria dos habitantes da Ossétia do Sul], ultrapassando as competências da missão de manutenção da paz, entrou no território georgiano e bombardeou várias localidades na Geórgia, incluindo uma base militar nos arredores da capital, Tbilissi.
Se o ambiente entre a Rússia e a Geórgia já era mau, caiu para um nível ainda pior. Há quem tema uma guerra entre os dois países, há quem tema, com recurso à imaginação que o ocidente e os EUA acabem por se envolver e que dê origem a um novo conflito global. Há quem tema uma nova guerra civil na Geórgia...seja qual for, a solução pelo conflito vai ter um balanço muito mais negativo do que positivo.
Mesmo assim, é difícil de acreditar que a situação chegue a um conflito armado. A Geórgia não dispõe de capacidade suficiente para manter uma guerra aberta contra a Rússia, por mais galvanizada que a sua opinão pública esteja [e depois de dezassete anos de apoio russo aos separatistas naquele país, é de esperar que exista um forte sentimento anti-russo no país]. O ocidente, em particular, os EUA, não iria querer pôr em perigo a sua relação com a Rússia [que não é a melhor, não haja dúvida] por causa de um pequeno país como a Geórgia, ainda que esta se tenha aproximado das organizações euro-atlânticas desde a "revolução das rosas" em Novembro de 2003 que retirou Shevernadze do poder e o substituiu por Saakashvilli. De qualquer forma, a Geórgia está longe de entrar para a NATO.
A própria Geórgia nunca iria entrar numa guerra com a Rússia sem o apoio declarado do ocidente - que se traduzisse em armas e financiamentos - e isso é algo que dificilmente vai acontecer. O dever dos países ocidentais para com a Geórgia não é incentivá-la a entrar em guerra com a Rússia, nem fornecer-lhe armas e créditos a fundo perdido - é o de evitar que a situação piore, e aqui a UE, bem como a ONU terão um papel vital. Se muitos acusam a UE de não ser capaz de impor a sua voz no panorama mundial, aqui está uma oportunidade de tentar mostrar que essa acusação está errada - contudo, ela pode muito bem estar certa e, tal como aconteceu nos Balcãs, a UE pode ter uma crise grave na sua vizinhança e não desempenhar nenhum papel importante.
Quanto à Rússia, não se pode esperar que deixe passar a oportunidade de mostrar ao mundo que o estigma da Tchetchénia já está mais do que ultrapassado e que a actual Rússia está muito diferente da que foi humilhada no Cáucaso, no início da década de 1990. A Geórgia há bastante tempo que era vista em Moscovo como uma espinha, a sua candidatura à NATO foi muito mal vista pelo Kremlin e a invasão da Ossétia do Sul deu aos russos a justificação ideal para intervir directamente na Geórgia -.pelo menos desta vez não podem dizer que não interferem nos assuntos internos de outros estados. Convém também lembrar à Geórgia que as forças armadas russas estão entre as mais numerosas do Mundo e que a frota russa do Mar Negro está ancorada na Crimeia, a apenas algumas centenas de quilómetros da Geórgia e com um porto aliado na Abecázia.
É verdade que a Rússia não gosta da existência do oleoduto Baku-Ceyhan, que permite aos países ocidentais comprar quantidades consideráveis de petróleo sem a envolver, mas um oleoduto não será a principal motivação para um conflito? Ou será...? Ainda que seja explorado pela BP, será que a Rússia pensa em arrastar a situação ao ponto de mudar o poder de Tbilissi por um mais pacífico que, pelo menos, ponha fim à aproximação georgiana ao ocidente? Mas num país como a Geórgia, que tem uma identidade cultural única e que, até durante o período soviético, afastava sempre para o mais longe possível a influência de Moscovo, onde se podem encontrar elementos pró-russos em número suficiente para que possam ser instalados na Geórgia?
Podemos não saber como é que esta situação se vai desenvolver, mas é necessário que todos os envolvidos sejam racionais e pensem sobretudo no interesse da paz.
Em reacção, a Rússia [apoiante dos separatistas, mantém tropas de manutenção da paz na região e concedeu cidadania russa à grande maioria dos habitantes da Ossétia do Sul], ultrapassando as competências da missão de manutenção da paz, entrou no território georgiano e bombardeou várias localidades na Geórgia, incluindo uma base militar nos arredores da capital, Tbilissi.
Se o ambiente entre a Rússia e a Geórgia já era mau, caiu para um nível ainda pior. Há quem tema uma guerra entre os dois países, há quem tema, com recurso à imaginação que o ocidente e os EUA acabem por se envolver e que dê origem a um novo conflito global. Há quem tema uma nova guerra civil na Geórgia...seja qual for, a solução pelo conflito vai ter um balanço muito mais negativo do que positivo.
Mesmo assim, é difícil de acreditar que a situação chegue a um conflito armado. A Geórgia não dispõe de capacidade suficiente para manter uma guerra aberta contra a Rússia, por mais galvanizada que a sua opinão pública esteja [e depois de dezassete anos de apoio russo aos separatistas naquele país, é de esperar que exista um forte sentimento anti-russo no país]. O ocidente, em particular, os EUA, não iria querer pôr em perigo a sua relação com a Rússia [que não é a melhor, não haja dúvida] por causa de um pequeno país como a Geórgia, ainda que esta se tenha aproximado das organizações euro-atlânticas desde a "revolução das rosas" em Novembro de 2003 que retirou Shevernadze do poder e o substituiu por Saakashvilli. De qualquer forma, a Geórgia está longe de entrar para a NATO.
A própria Geórgia nunca iria entrar numa guerra com a Rússia sem o apoio declarado do ocidente - que se traduzisse em armas e financiamentos - e isso é algo que dificilmente vai acontecer. O dever dos países ocidentais para com a Geórgia não é incentivá-la a entrar em guerra com a Rússia, nem fornecer-lhe armas e créditos a fundo perdido - é o de evitar que a situação piore, e aqui a UE, bem como a ONU terão um papel vital. Se muitos acusam a UE de não ser capaz de impor a sua voz no panorama mundial, aqui está uma oportunidade de tentar mostrar que essa acusação está errada - contudo, ela pode muito bem estar certa e, tal como aconteceu nos Balcãs, a UE pode ter uma crise grave na sua vizinhança e não desempenhar nenhum papel importante.
Quanto à Rússia, não se pode esperar que deixe passar a oportunidade de mostrar ao mundo que o estigma da Tchetchénia já está mais do que ultrapassado e que a actual Rússia está muito diferente da que foi humilhada no Cáucaso, no início da década de 1990. A Geórgia há bastante tempo que era vista em Moscovo como uma espinha, a sua candidatura à NATO foi muito mal vista pelo Kremlin e a invasão da Ossétia do Sul deu aos russos a justificação ideal para intervir directamente na Geórgia -.pelo menos desta vez não podem dizer que não interferem nos assuntos internos de outros estados. Convém também lembrar à Geórgia que as forças armadas russas estão entre as mais numerosas do Mundo e que a frota russa do Mar Negro está ancorada na Crimeia, a apenas algumas centenas de quilómetros da Geórgia e com um porto aliado na Abecázia.
É verdade que a Rússia não gosta da existência do oleoduto Baku-Ceyhan, que permite aos países ocidentais comprar quantidades consideráveis de petróleo sem a envolver, mas um oleoduto não será a principal motivação para um conflito? Ou será...? Ainda que seja explorado pela BP, será que a Rússia pensa em arrastar a situação ao ponto de mudar o poder de Tbilissi por um mais pacífico que, pelo menos, ponha fim à aproximação georgiana ao ocidente? Mas num país como a Geórgia, que tem uma identidade cultural única e que, até durante o período soviético, afastava sempre para o mais longe possível a influência de Moscovo, onde se podem encontrar elementos pró-russos em número suficiente para que possam ser instalados na Geórgia?
Podemos não saber como é que esta situação se vai desenvolver, mas é necessário que todos os envolvidos sejam racionais e pensem sobretudo no interesse da paz.
Etiquetas: Cáucaso, Geórgia, Ossétia do Sul, Rússia
1 Comments:
Excelente post.
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