31.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento XV: Chegada ao poder dos Khmers Vermelhos, 1975


Em Abril de 1975, teve início um dos regimes que representou o pior possível para o seu povo e para a Humanidade. Os Khmers Vermelhos entravam em Phnom Penh e davam início à sua desastrosa governação.
Liderados por Pol Pot, o projecto dos Khmers Vermelhos pretendia recomeçar a sociedade cambojana a partir do "ponto zero" com o objectivo de eliminar as diferenças existentes no país, atingindo assim uma revolução contínua. Consideravam também que todas as pessoas que pudessem ter contactado com qualquer princípio oposto a esta premissa eram uma ameaça e deveriam ser executadas, e assim foi com mais de um milhão de pessoas que foram consideradas "inimigos do estado" simplesmente por viverem em cidades, terem qualificações, possuírem bens materiais ou desempenharem actividades profissionais que não a agricultura.
Imediatamente após a sua chegada ao poder, os Khmers Vermelhos iniciaram a evacuação em massa das cidades para o campo, de forma a que a totalidade da população do país fosse composta por camponeses sem instrução e atingisse a auto-suficiência alimentar. Obviamente que o resultado foi catastrófico, milhares de pessoas morreram de fome, de sede e afectadas pelas doenças que contraíam nos campos, devido à inexistência da medicina. Aliás, todos os vestígios de uma sociedade moderna foram eliminados pelo governo de Pol Pot na sua procura da "sociedade sem classes".
Não é certo qual o número de vítimas do regime de Pol Pot, mas as estimativas variam entre um milhão e um milhão e meio, mais de 20% da população do Camboja. Simultaneamente, Pol Pot foi apoiado pela China e não sofreu tentativas de derrube por parte dos EUA, pelo contrário, a superpotência aproveitou-se de facto de o Camboja ter um governo anti-Vietname ao lado do território de onde os soldados Americanos haviam sido retirados sem glória.
No final de 1978, uma invasão vietnamita pôs fim ao regime e Pol Pot juntamente com os seus fiéis seguidores retiraram-se para a selva prosseguindo uma guerrilha contra as tropas do Vietname. Em 1997, Pol Pot que se encontrava desaparecido da vida pública há 19 anos, foi colocado sob prisão domiciliária pelos seus guardas e no ano seguinte morreu sem nunca ter sido verdadeiramente julgado e condenado pelo seu regime.

Os piores momentos do Século XX - Momento XIV: Governo de Idi Amin no Uganda, 1971


Em 1971, o Uganda, antiga colónia Britânica na África sub-saariana, viu chegar ao poder um dos homens mais totalitários e repressivos do século XX. Idi Amin atingiu a presidência do país após um golpe militar ter derrubado o anterior governo, numa altura em que o Uganda se encontrava num período de crescimento económico.
Imediatamente após ter chegado ao poder, Idi Amin começou a organizar o assassinato de tropas leais ao anterior governo, bem como a sua estratégia de expulsão de estrangeiros e de Ugandeses brancos de origem Britânica. As empresas que estes foram obrigados a deixar passaram a ser dirigidas por seguidores de Amin sem qualificações ou experiência para o cargo, enquanto os gastos exagerados com a defesa levaram o Uganda a quase atingir a bancarrota. Os seus opositores políticos, (ou simplesmente, qualquer pessoa que não mostrasse a sua lealdade para com o regime) eram capturados, torturados e mortos. O balanço das suas vítimas não é exacto, varia entre os 300 000 e os 500 000 mortos, em oito anos de governo. Se os números impressionam pela grandeza, os métodos de tortura empregues pelas forças de segurança eram indescritíveis.
Na Europa e EUA, Amin era visto como um louco, ou simplesmente, como um excêntrico que não devia ser levado a sério. Contudo, apesar da sua formação no exército Britânico e em Israel, proferiu uma série de declarações anti-semitas e aproximou o Uganda aos países do Magreb, nomeadamente à Líbia de Khaddafi.
As suas opções acabaram por levar à sua queda. Em 1976, um avião da Air France era desviado por terroristas Palestinianos e Alemães, Amin autorizou-o a aterrar no seu país como base de operações. Má opção, as tropas Israelitas fizeram uma operação relâmpago e libertaram mais de 100 reféns, matando todos os terroristas no processo.
Em 1979, uma tentativa frustrada de invasão da Tanzânia levou a um volte face e em Abril do mesmo ano, as tropas Tanzanianas derrubaram o governo de Amin que se exilou na Líbia e mais tarde na Arábia Saudita. Morreu em Agosto de 2003 sem nunca ter respondido pelos seus crimes ou ter enfrentado a justiça.

29.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento XIII: Golpe militar no Chile, 1973


A 11 de Setembro de 1973, um golpe militar derrubava o presidente chileno Salvador Allende e colocava no poder uma junta militar presidida pelo general Augusto Pinochet.
Allende havia sido democraticamente eleito em 1970 e o seu governo estava a empreender uma estratégia inspirada pelo socialismo que levou a um descontentamento generalizado de vários sectores da sociedade chilena. Os problemas levantados pela experiência socialista atingiram as empresas Americanas e a Igreja Católica chilena, que condenavam a orientação do governo de Allende.
Em 1973, a experiência terminou da pior maneira, não nas urnas mas com um golpe militar violento, co-financiado pelos EUA (cerca de mil milhões de dólares, com a aprovação do Congresso) com o intuito de salvaguardar os interesses dos EUA no Chile e evitar que o país se tornasse um satélite da URSS. Uma vez no poder, os militares aplicaram um regime de terror, no qual as torturas iam além do imaginável, os desaparecimentos eram comuns e as detenções sem culpa formada podiam atingir qualquer pessoa. Simultaneamente, o mercado Chileno era liberalizado ao máximo, permitindo às multinacionais americanas o acesso quase total ao país. Pinochet apenas saíria do poder por vontade própria em 1990 e mantém o estatuto de senador vitalício.
Em 1998 foi colocado sob prisão por ordem do juíz espanhol Baltazar Garzón quando se encontrava em Londres mas os sucessivos adiamentos e as alegações de "demência vascular leve" imnpediram que o julgamento se desenrolasse. Tudo indica para que seja mais um criminoso que irá eventualmente morrer sem nunca responder pelos seus crimes.

28.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento XII: Repressão da Primavera de Praga, 1968



Em 1968, o Partido Comunista Checoslovaco dirigido por Aleksander Dubcek afirmou a sua vontade de aplicar na Checoslováquia uma política denominada de "socialismo com rosto humano". O que isto significava na prática era um maior acesso da população à gestão do país, o fim da censura à imprensa e da repressão da polícia política, liberdade de associação e de expressão, bem como um maior grau de iniciativa privada à economia, ao mesmo tempo que se manteriam os benefícios sociais do socialismo, nomeadamente, a educação que abrangia quase toda a população, o pleno emprego, a segurança social e o livre acesso a cuidados de saúde.

Durante a primavera de 1968 vivia-se na Checoslováquia um clima de optimismo geral perante o presente e o futuro, a população podia manifestar a sua opinião sem receio de represálias e as medidas eram bastante populares. Na URSS, a primavera de Praga era vista de outra forma. Dentro da administração de Brejnev, prevaleceu a corrente daqueles que favoreciam a intervenção militar, a fim de salvaguardar as prerrogativas socialistas afirmadas por Moscovo e evitar que a vaga alastrasse aos outros membros do Pacto de Varsóvia. Refira-se que Dubcek nunca mostrou vontade de sair do Pacto de Varsóvia ou de se afastar do Comecon, encarando a União Soviética como uma aliada que não iria intervir no processo, o que a própria URSS deu a entender.

Em agosto, o Pacto de Varsóvia mostrou que Dubcek estava enganado e na noite de 20 para 21, tropas Soviéticas, Polacas, Húngaras, Búlgaras e da RDA entraram na Checoslováquia, apesar de a URSS ter retirado do país pouco tempo antes e de a decisão ter sido tomada sem ter passado pelas devidas instâncias legais. A estratégia delineada por Dubcek alguns meses antes era vista como contra-revolucionária e burguesa por parte das autoridades, algo que teve origem numa hiperbolização da situação no país por parte de informadores ao serviço da URSS e que pintaram um quadro afastado da verdade para que Moscovo pudesse dar um ar de legitimidade à intervenção, aos olhos dos países do Bloco de Leste, diga-se.

Apesar do mediatismo, houve violência e confrontos nas ruas de Praga. Houve homicídios levados a cabo pelas forças do Pacto de Varsóvia e mais uma vez, o resto do Mundo assistiu passivamente à forma como Moscovo aplicava a sua ordem na sua esfera de influência, ao abrigo da doutrina Brejnev de "soberania limitada". Apesar das garantias Soviéticas afirmarem o contrário, Dubcek foi preso, levado para Moscovo, destituído e acabou como jardineiro, enquanto o aparelho político Checoslovaco era ocupado por indivíduos leais a Moscovo. Praga só iria conhecer a libertação definitiva com a Revolução de Veludo, em 1989.

27.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento XI: Revolução Cultural, 1966-1976


Em 1966, treze anos após a proclamação da República Popular da China, Mao Tse Tung anunciou num congresso do Partido Comunista Chinês que o modelo de desenvolvimento se estava a afastar do que havia sido preconizado pela fundação da RPC em 1949 e que as políticas seguidas até então haviam contribuído para a formação de categorias socio-profissionais que iam contra a via de marxismo-leninismo postulada por Mao. Dentro destas categorias encontravam-se académicos, engenheiros, arquitectos, economistas, advogados e membros do partido próximos de Krushchev e da URSS - recorde-se que a China e a União Soviética acabaram com a sua proxmidade no início da década de 1960.
Ao anunciar esta sua perspectiva, Mao pretendia lançar uma "revolução cultural proletária", capaz de acabar com a presença burguesa na China e criar de uma vez por todas uma sociedade onde apenas existissem os operários, os camponeses e os membros do partido. Todos os outros indivíduos seriam obstáculos ao progresso e inimigos da RPC, como tal deveriam ser afastados.
Para levar a cabo esta tarefa, foram recrutados números gigantescos de jovens, conhecidos como "guardas vermelhos", que foram retirados das escolas e universidades e encarregues de velar pela via Maoísta de desenvolvimento, corrente que se sobrepôs ao marxismo-leninismo de inspiração soviética. As escolas foram encerradas e sob a orientação do recém-impresso livro "Pensamentos do presidente Mao", mais conhecido como "Livro Vermelho", os guardas vermelhos foram enviados para todo o país, principalmente para as cidades, onde o seu fanatismo levou a uma campanha de terror na qual as pessoas eram arbitrariamente acusadas de crimes contra a RPC, agredidas e assassinadas, com carta branca do partido. Não levou muito tempo para que as facções dos guardas vermelhos entrassem em confronto entre si e que fossem manipuladas por divisões existentes dentro do partido, onde se destaca o "bando dos quatro".
Em apenas dois anos, o sector secundário chinês registou uma queda de 12% na produção enquanto as crianças chinesas continuavam sem acesso à educação, sendo endoutrinadas no Maoísmo através do "livro vermelho". Dentro do partido foram também afastados representantes de correntes divergentes da de Mao, nomeadamente os simpatizantes da URSS enquanto que a deslocação de guardas vermelhos das cidades para os campos, com o intuito de promover o desenvolvimento rural, se revelou num desastre, tal como a anterior política de Mao, denominada "Grande Salto em Frente".
Apesar de as piores atrocidades terem terminado em 1969, a revolução cultural não cessou totalmente aí e continuou a fazer-se sentir até à morte de Mao em 1976. Ainda no final da década de 1960, registaram-se violentos tumultos em Hong Kong e Macau agitados por simpatizantes Maoístas dos dois lados da fronteira e o impacto que o fervor fanático dos guardas vermelhos teve na RPC ainda hoje se faz sentir. Acima de tudo, a revolução cultural tentou efectuar algo que não podia ser atingido, a dissolução do pensamento chinês e das suas tradições, nomeadamente o confucionsimo e as práticas budistas e tauistas, alvo de ataques incessantes por parte dos guardas vermelhos, algo que Mao não mostrou compreender quando formulou a sua ideia de "revolução cultural proletária".
Após a morte de Mao em 1976, Deng Xiaoping que havia sido saneado duas vezes, no início da revolução e já perto da morte de Mao, foi reabilitado e ascendeu à liderança do país em 1978, tendo assumido uma política contrária à de Mao e preconizado as reformas económicas que estão na origem da expansão económica da China.

26.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento X: Guerra do Vietname, 1964-1973


Desde a guerra da Indochina (1945-54) que os EUA estavam envolvidos no sudeste asiático. Devido à doutrina do containment postulada por George Kennan em 1948 que definia as linhas gerais de uma estratégia para conter a expansão do comunismo em todo o Mundo, a política externa Americana pós-1945 assumiu abertamente contornos anti-Soviéticos e o seu envolvimento no Vietname tornou-se uma manifestação dos seus desígnios nacionais.
Após a independência do país que expulsou a presença francesa em 1954, as forças internas em confronto defendiam vias diferentes para o país. O que mais inquietava em Washington era o carisma do general Ho Chi Minh, próximo do comunismo e da URSS. Tornou-se assim imperativo para os EUA entrarem abertamente no conflito, este envolvimento foi encabeçado pela "teoria dominó", segundo a qual, o comunismo, qual cancro que alastra às células que estão à sua volta, iria contagiar os restantes país do sudeste Asiático, criando assim uma frente contrária aos EUA naquela região do globo.
Plenos de confiança na capacidade dos seus meios e das suas tropas, os EUA avançaram em 1964, apesar de anteriormente já se ter verificado cooperação técnica e militar entre Washington e a República do Vietname do sul, contra o Vietname do Norte comunista. Os decisores americanos foram ao ponto de determinar uma equação representativa do poder dos EUA, que graças à sua superioridade tecnológica, lhes daria a vantagem e a vitória. Esta premissa, como todo o Mundo testemunhou, estava errada e não contava com o factor psicológico inerente aos dois lados do confronto. Se era verdade que os EUA detinham superioridade tecnológica em matéria militar, não é menos verdade que os seus soldados estavam a combater numa guerra que não lhes dizia respeito, ao contrário dos vietcongs, que combatiam sob a sua causa. Os indicadores podem apontar para uma superioridade americana - 50 000 soldados dos EUA mortos, face a mais de um milhão do lado vietnamita - mas o que ficou para a história foi o "great american disaster", a humilhação dos EUA nas selvas do SE Asiático por guerrilheiros mal armados e mal alimentados.
Durante nove anos e devido ao recrutamento obrigatório nos EUA, formou-se um dos maiores traumas da consciência americana, provavelmente o maior da sua história recente, pois até 1973, nunca os EUA se tinham visto obrigados a retirar de forma tão inglória. A guerra constituiu um ponto essencial das sucessivas administrações que passaram por Washington. Ainda no tempo de JFK, como cooperação militar, sob Lyndon Johnson e sob Richard Nixon, presidente que iria no seu mandato, retirar as tropas dos EUA do país e terminar com a guerra mais impopular das últimas décadas.

25.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento IX: Repressão da Revolta de Budapeste, 1956


Em 1956, após uma tentativa da Hungria de se libertar do Bloco de Leste e implementar um regime político democrático, o exército vermelho entrou em Budapeste e esmagou toda e qualquer esperança dos Húngaros de se libertarem da sua esfera de influência.

Após a morte de Estaline em 1953, o seu sucessor, Nikita Krushchev, repudiou as políticas estalinistas e promoveu uma maior abertura e um maior diálogo, dentro e fora da URSS. Nos países sob influência soviética, a destalinização foi vista como uma oportunidade para uma saída da órbita de Moscovo. Foi o que aconteceu na Hungria, em meados de 1956, num gesto de abertura, Krushchev retirou o primeiro-ministro húngaro do poder, o pró-soviético Rakosi e colocou no seu poder Imre Nagy, conotado com uma corrente liberal. Ao mesmo tempo, a população húngara que detestava a presença soviética na Hungria, bem como a polícia secreta e as limitações do Pacto de Varsóvia, organizava-se por todo o país contra a URSS e as suas tropas.
Exigindo a retirada das tropas Soviéticas, os húngaros organizaram protestos e greves por todo o país enquanto que no início de Novembro de 1956, Imre Nagy anunciou a introdução de liberdade política, liberdade de expressão e liberdade de imprensa, bem como a retirada da Hungria do Pacto de Varsóvia. A partir daqui, foi impossível conter Moscovo. A 4 de Novembro de 1956, cerca de mil tanques Soviéticos entraram em Budapeste e noutras cidade húngaras. As tropas da URSS procederam a bombardeamentos e execuções em grande escala que resultaram na morte de milhares de civis húngaros. Os números não são exactos, variam entre os 4300 e os 30 000, mas reflectem o grau de crueldade com que Moscovo tratou o assunto.
Não foi nenhum acontecimento anónimo. Todo o Mundo assistiu e apesar do apoio moral dos EUA e do Reino Unido, as democracias ocidentais nada fizeram para evitar que o pior acontecesse. Mais uma vez, a resolução da AG das Nações Unidas foi ignorada. Por medo da URSS, ou devido à crise do Suez que se desenrolou no mesmo ano e que os governos ocidentais consideraram como mais importante, os húngaros viram-se sozinhos contra os Soviéticos e nada puderam fazer senão ver a sua população ser abatida e presa pelo exército vermelho enquanto este destruia Budapeste. Os húngaros aprenderam certamente que não se pode confiar nas democracias ocidentais, mesmo que a população esteja unida pelos ideais da democracia e dos direitos humanos, como estes constam na Carta das Nações Unidas, documento subscrito por todos os lados envolvidos no acontecimento. Após a repressão, o PM foi executado e dez dias depois, a URSS estava mais uma vez em pleno controlo sobre a Hungria. Até 1968, mais nenhum país se tentou revoltar contra a presença Soviética.

22.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento VIII: O início da II Guerra Mundial


Em Setembro de 1939 oficializou-se a situação que se previa há já alguns anos. Após a invasão da Polónia pela Alemanha nazi no dia 1 de Setembro, a Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha, abrindo as hostilidades do conflito que viria a ser conhecido como "II Guerra Mundial". E contudo, as hostilidades já haviam sido abertas antes. quer entre o Japão e a China, ainda no início da década de 1930, quer entre a União Soviética e a Finlândia, quer dentro da própria Alemanha desde 1933...ou mesmo as hostilidades que foram cobertas de legitimidade em 1938, aquando da assinatura do Pacto de Munique que propunha condições inaceitáveis para as democratas França e Grã-Bretanha mas que estas acabaram por aceitar, conferindo assim legalidade ao avanço de Hitler sobre a Checoslováquia e levando o primeiro-ministro Britânico Neville Chamberlain a concluir que Hitler era "um homem que quer a paz".
Mesmo assim, a data mais emblemática é a de Setembro de 1939. A partir daí, as vidas de milhões de pessoas nunca mais seriam as mesmas, quer estas vivessem dentro ou fora do teatro de guerra.

19.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento VII: O início da guerra civil de Espanha, 1936


Em 1936, o lado das forças armadas espanholas que apoiava a revolta do general Franco iniciada no território espanhol de Marrocos levou a que todo o país caísse num confronto generalizado e fratricida entre nacionalistas e republicanos, pelo acesso ao poder.

A Espanha de então constituía uma república onde a existência de movimentos considerados de extrema-esquerda e de um governo de frente popular se tornou inadmissível para uma fação das forças armadas que se revia na figura do general Franco. Como não pode deixar de ser, a guerra civil de Espanha além de afectar a quase totalidade da população espanhola contou com importantes intervenientes estrangeiros dos dois lados. Do lado dos nacionalistas, a Alemanha nazi e a Itália fascista apoiaram o general Franco, próximo dos seus sistemas ideológicos, com forças de combate e tomaram mesmo parte activa nas acções de guerra, como exemplifica o infâme bombardeamento de Guernica e que constituiu um autêntico showcase da avançada tecnologia bélica das forças do Eixo. Portugal não foi indiferente e o governo de Salazar enviou os denominados "Viriatos", supostos "voluntários" portugueses para combater ao lado das forças do general Franco. Do lado dos republicanos, são incontáveis os apoios exteriores de potências democráticas e totalitárias, como a URSS, o Reino Unido, a França e os EUA - talvez o mais célebre dos quais seja Ernest Hemingway. Também Portugal participou do lado dos republicanos, embora não a nível oficial, e recentemente foi-nos recordado o exemplo de Emídio Guerreiro que combateu neste terrível conflito.
Por ser uma guerra civil e que afectou todo o país, este conflito ganhou uma dimensão particularmente atroz. O carácter ideológico da guerra dividiu ainda mais os espanhóis, cujas famílias combatiam entre si devido a diferenças políticas. A guerra civil terminou em 1939 com a vitória dos nacionalistas, abrindo caminho a um regime retrógrado que fechou a Espanha ao mundo até à sua queda pela morte do Caudilho em 1975.

18.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento VI: Hitler chega ao poder, 1933


Em 1933, Hitler ascendeu ao poder da forma menos natural possível que um líder totalitário tem de subir ao posto máximo de um estado, através de eleições. Foi através do voto popular que os eleitores alemães elegeram o partido nacional-socialista como o a principal força política do Reichstag, abrindo assim os portões do poder a uma ideologia baseada no nacionalismo extremista com base em factores raciais e culturais mas cuja existência na verdade provinha apenas de um evento, ao contrário da estrutura para "mil anos" que o nacional-socialismo pretendia implantar na Alemanha e na Europa.
Estava assim iniciada uma das piores eras da história Europeia, durou apenas doze anos mas foi suficiente para destruir um continente, deslocar milhões de pessoas e redefinir diametralmente a ordem em vigor, bem como alterar de forma irreversível o panorama global. Dentro e fora da Alemanha, milhões de pessoas foram afectadas pela eleição de Adolph Hitler como chanceler da Alemanha. Quase todos os estados e povos Europeus foram vitímas da agressão da sua "grande Alemanha" e num momento ou noutro, todos os países Europeus chegaram a temer pela sua existência.
O principal responsável directo pela II Guerra Mundial acabou por se suicidar em Abril de 1945, face às evidências do desenrolar da guerra a favor dos Aliados e para evitar que o seu corpo caísse nas mãos do Exército Vermelho.

17.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento V: O crash da Bolsa de NY, 1929


Em Outubro de 1929, a bolha especulativa e o crescimento exponencial do valor das acções na bolsa de Nova York tiveram um fim abrupto. Em apenas dois dias, o índice Dow Jones caiu cerca de 30% e em 1932, o mesmo indíce daíra quase 90% em relação ao valor que registava antes da queda. Numa era com uma fraca regulação por parte do estado no que diz respeito ao mercado bolsista, a especulação tornou-se regra e jogar na bolsa tornara-se quase um passatempo Americano. O crescimento nunca antes visto entre 1925 e 1929 permitiu a quem quer que fosse investir, mesmo que bastante pouco, e obter um retorno superior a 100%, em alguns casos ultrapassando mesmo os 1000%.
Tudo isto iria acabar, não com um nivelamento do mercado mas de forma súbita, apesar de já se prever mas de ninguém querer dar o alarme. A queda do índice Dow Jones foi o primeiro passo que despoletou a era de austeridade conhecida como "grande depressão" e que embora tenha sido desencadeada nos EUA, afectou todo o Mundo. À queda do índice, sucedeu-se a retracção abrupta do investimento, a falência não só das empresas cotadas em bolsa mas das que, directa ou indirectamente, com elas trabalhavam, o aumento exponencial do número de desempregados em cada ano, que nos EUA chegaram a atingir cerca de 30 milhões no início da década de 1930, a queda dos preços dos bens no mercado e a instabilidade e revolta social.
A grande depressão pôs a descoberto as falhas do sistema de economia de mercado de então e abriu caminho à formação de movimentos de carácter extremista na Europa e de um ponto de vista político, beneficiar a União Soviética e o seu sistema socialista. Foi necessário mais de uma década para recuperar os países afectados, muitos deles que posteriormente se viram envolvidos na II Guerra Mundial.

16.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento IV: Estaline ascende à liderança da URSS, 1924


Após a Revolução de Outubro de 1917 e o conflito interno que se lhe seguiu, foi criada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, um regime baseado numa associação de estados socialistas dotados de uma assembleia (soviete) que respondiam perante o soviete supremo em Moscovo, a nova capital do novo estado. O rosto mais aclamado da Revolução era Vladimir Ilitch Ulianov, mais conhecido como Lenine, mas dentro dos Bolcheviques havia outros indivíduos que planeavem a sua ascenção, o mais perigoso de todos, Jossif Vissarionovitch Djugatchvilli, mais conhecido como Estaline.
O estado de saúde de Lenine não lhe permitia, já no início da década de 1920, assegurar o cumprimento das suas funções, pelo que se tornou necessário criar a figura do Secretário Geral do partido, posição para a qual Lenine recomendou Estaline, até então Secretário das Nacionalidades. Estava-se no período do comunismo de guerra, em pleno conflito entre o Exército Vermelho e o Exército Branco, antigo exército da Rússia Czarista. O posto de Secretário-Geral trouxe a Estaline um poder inimaginável sobre a população e sobre os membros do partido que rapidamente sofreram os seus métodos totalitários e repressivos. A sua reputação chegou a tal nível que o próprio Lenine, já afectado por uma paralisia nos últimos anos da sua vida, recomendou secretamente a Trotsky o seu afastamento e substituição por alguém mais tolerante, mais democrático e com melhor relacionamento com os restantes membros do partido. Contudo, a mensagem fora interceptada e Estaline passou a ver Lenine e Trotsky como seus inimigos.
Em 1924, Lenine morreu e o caminho estava aberto para Estaline se tornar no novo homem forte da União Soviética. Embora inicialmente tenha mantido a Nova Política Económica lançada por Lenine em 1922 e que consagrava às pequenas empresas o direito de inciativa privada e de participação num regime económico relativamente livre ao serviço do socialismo que contribuiu para a criação de uma classe detentora de riqueza, os kulaks, as suas medidas totalitárias não se fizeram esperar. Em 1927 dissolve a NPE e empreende a colectivização forçada das propriedades agrícolas e industriais. Todos os membros do partido são obrigados a prestar-lhe lealdade, o processo de votação dentro do partido fora alterado para que se certificasse que todos os delegados estavam consigo, foram lançadas as bases da polícia política que mais tarde se tornaria o KGB e construídos os gulags, campos de prisioneiros para onde eram enviados os dissidentes políticos. As mobilizações forçadas de pessoas foram outra das suas marcas, contribuindo para as deslocações e desenraízamento de milhões de cidadãos de origens étnicas diferentes por todo o território Soviético e que ainda hoje marca a realidade das antigas Repúblicas Soviéticas.
A sua única derrota pesada sofreu-a em 1953, aquando da sua morte. Durante os seus 29 anos de liderança, a URSS construiu uma pesada máquina militar e um poderoso sector industrial, deixou de ser uma experiência revolucionária para ser um país respeitado e temido, desenvolveu ambições imperialistas na Europa e no Mundo, assinou um pacto de não-agressão com a Alemanha nazi, quebrou-o aquando da invasão de Hitler em 1941, entrou na II Guerra Mundial ao lado dos aliados, foi tratada como se de uma democracia ocidental se tratasse pelos EUA, conseguiu engolir metade da Europa sob a sua esfera de influência, bem como a metade norte da península da Coreia, desenvolveu armas nucleares e tornou-se numa superpotência após 1945.

15.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento III: Assinatura do Tratado de Versailles, 1919


Após quatro anos de guerra, as facções beligerantes assinaram um armistício em Novembro de 1918 e a 28 de Junho de 1919 foi assinado em Versailles o tratado que iria pautar a paz de que a Europa se via privada desde 1914. O documento foi orientado por uma premissa bastante redutora: a Alemanha foi a responsável pela guerra, logo, deve ser severamente punida. Sobretudo devido a imposições da França, representada por Clemenceau na assinatura do Tratado, a Alemanha viu-se amputada de territórios que havia adquirido após a guerra Franco-Prussiana de 1871 - Alsácia, Lorena - e perdeu ainda territórios para as recém-formadas Polónia e Checoslováquia. Foi ainda aplicada uma pesada penalização sob a forma de indemnizações aos aliados, que a Alemanha teve de pagar dos seus cofres e devido à falta de preparação e de verbas, a jovem República de Weimar viu-se engolida por uma crise económica gigantesca, representada pela queda do valor dos bens e dos activos financeiros e uma hiperinflação que superou os 30000%, valor absolutamente incompreensível, acompanhada pela revolta social e instabilidade.
Simultaneamente, foram criados novos estados à custa de outros, populações foram, mais uma vez, deslocadas e não houve qualquer visão de longo-prazo por parte dos que redigiram o Tratado. A forma como a Alemanha foi tratada revelou uma falta de discernimento e descuido, bem como populismo e revanchismo dos que permitiram que tal acontecesse. Só indivíduos sem qualquer capacidade de raciocínio não seriam capazes de antever a ascensão do nacional-socialismo poucos anos depois, e mais uma vez demonstraram ser incapazes de lidar com a ameaça que pairava sob a Europa. Enquanto a Alemanha estava fraca e necessitava de ajuda, foi repreendida e humilhada. Quando esta era já uma potência com pretensões a dominar o continente, foi apaziguada e presenteada pelas democracias Europeias.
O Tratado de Versailles constituiu assim um dos erros políticos mais clamorosos da História, sobre como não se deve elaborar um tratado de paz e de como não deve ser tratado o lado vencido.

14.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento II: O início da I Guerra Mundial, 1914


A tensão política na Europa atingira um ponto de saturação. O antagonismo entre os dois blocos Europeus, representados pela Triplice Aliança (Império Alemão, Império Austro Húngaro e Itália, que se retiraria mais tarde) e a Triplice Entente (Inglaterra, França e Império Russo) representava o clima vivido no continente Europeu, revestido de rivalidades políticas e económicas. Resultado de uma ambição imperial desmedida que levou as diferentes esferas Europeias a um clima de conflitualidade, no início do século XX uma guerra na Europa anunciava-se inevitável.
Um Império Britânico que dominava quase um quarto do planeta, um Império Alemão cujo Kaiser havia desmantelado o equilíbrio atingido por Otto von Bismarck pouco tempo antes, um Império Russo praticamente feudal e à beira do colapso e um Império Austro-Húngaro que dominava quase metade da Europa central e de leste, mantendo dezenas de nacionalidades e línguas diferentes dentro das suas fronteiras. Assim eram os lados cuja contenção era impossível de manter.
A industrialização e a procura veloz de matérias primas fora da Europa, nomeadamente em África e na Ásia, e as reivindicações nacionalistas em alta desde 1848 tiveram o seu peso decisivo, apenas bastava um pretexto que veio sob a forma do assassinato do arquiduque Franz Ferdinand da Áustria-Hungria a 28 de Junho de 1914 em Sarajevo por parte de um nacionalista Sérvio. A partir daqui, lançou-se uma espiral bélica que em breve engoliria toda a Europa. A Áustra declarou guerra à Sérvia, a Rússia à Áustria, a Alemanha à Rússia e em seguida Inglaterra e França foram envolvidas.
A guerra que "iria acabar com todas as guerras" foi muito mais penosa do que a simples movimentação estratégica que se julgava e durante mais de dois anos, a frente Ocidental esteve imóvel em França, onde milhares de soldados viveram uma existência sub-humana nas trincheiras. A guerra apenas terminaria em 1918, após a morte de milhões de soldados para que fosse possível afastar os antagonistas das terras que haviam ocupado.
No final da guerra, o Império Russo já não existia, destituído pela Revolução Bolchevique, o Império Austro-Húngaro foi fragmentado e o Kaiser foi deposto, dando origem à República de Weimar. Milhões de pessoas foram deslocadas, fronteiras foram alteradas e contudo, o mais importante não foi resolvido, como se tornou óbvio 21 anos depois.

13.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento I: Domingo Sangrento, S. Petersburgo 1905




Em Janeiro de 1905, uma multidão pacífica dirigiu-se ao Palácio de Inverno em S.Petersburgo, capital do Império Russo fundada por Pedro, o Grande em 1703, num protesto não violento, apelando ao Czar, Nicolau II, por uma melhoria das condições de vida.

"Nós, os trabalhadores e habitantes de S. Petersburgo, as nossas mulheres, os nossos filhos e os nossos pais, homens e mulheres idosos e abandonados, dirigimo-nos a vossa alteza, nosso governante, em busca de justiça e protecção. Somos pedintes, somos oprimidos e sobre-carregados com trabalho, somos insultados, somos tratados não como seres humanos mas como escravos. Chegou a hora em que a morte parece melhor do que o prolongamento do nosso sofrimento intolerável. Buscamos aqui a nossa salvação. Não recusais a ajuda ao vosso povo. Destrua-se a barreira entre vossa alteza e o vosso povo"
Assim era o manifesto da população que se dirigiu ao palácio. À sua espera os guardas imperiais armados, frente-a-frente à população, abriram fogo sobre os manifestantes. Não se sabe ao certo quantas pessoas morreram. As autoridades colocaram o limite nos cem, mas o verdadeiro número foi muito mais elevado, face aos relatos de soldados que deitaram corpos ao mar. A partir deste momento, a Rússia não seria mais a mesma. Estava aberto o caminho para o final do regime Czarista e o crescimento dos movimentos revolucionários tornou-se imparável. O Czar nunca mais foi respeitado pelo povo e apesar da criação de uma assembleia representativa meses depois - a Duma - o final da monarquia Russa tornou-se uma questão de tempo. Doze anos depois, os bolcheviques atacaram as instituições do poder, com o apoio dos militares, derrubando o governo provisório instaurado pela Revolução de Fevereiro.

Os piores momentos do Século XX

Inauguro hoje uma série de posts sob a égide "Os piores momentos do Século XX" onde demonstro, de acordo com a minha própria perspectiva pessoal, quais foram os pontos mais infelizes e lamentáveis da História da Humanidade no século que há pouco terminou e que nos viu nascer. Desde o início ao fim do século, acontecimentos discutíveis, graves, polémicos, todos os que eu considero que devem figurar nesta lista. Outros que não foram incluídos, não significa que não sejam infelizes para a Humanidade, alguns estarão aqui mais por simbolismo do que por mediatismo ou por estatística.

12.7.05

Como Mestre Yoda falar devemos!

Cheguei à conclusão que seria muito mais prático se falássemos todos como o Yoda, colocando a ideia central - o que interessa - no início da frase, e o sujeito no final. Muito mais simples seria, se todos os Humanos assim falassem. Prática esta ideia irão achar. Resistentes a esta sugestão não devem ser, uma maior compreensão dos assuntos as pessoas iriam atingir.
Estranheza, sentem vocês? Fácil é a adaptação, achar isto vocês irão em breve. Mais divertidas as coversas se tornariam, mais cedo o assunto perceberíamos e reduzida a especulação seria, muitas discussões desnecessárias evitar-se-iam assim. Pensar nisto devem vocês, mais prático, directo e interessante seria, não concordam vocês comigo?

11.7.05

Um país ameno... [hoje insuportável]

A imagem que Portugal vende de si próprio fora das fronteiras é a de um país ameno, suave, sem extremos, óptimo para pessoas que pretendem encontrar a virtude, no meio de lados opostos.

Gostava de saber onde foram inventar isto, quem foi a mente obtusa e estreita, ou quanto lhe pagaram, que deslindou que Portugal é um país ameno, ou se quiserem, já repetido biliões de vezes, "de brandos costumes". Basta ver o dia de hoje, temperaturas acima dos 30º em todo o país, a rondar os 40º nas zonas de Castelo Branco, Évora, Beja, Santarém e Portalegre, e a rondar os 35º nos restantes distritos do interior. Em Lisboa temos uns suaves 31º, temperados com a poeira constante das 8364932 obras que decorrem simultaneamente na capital, resultado do protocolo de geminação entre Lisboa e Kabul e polvilhados com a pitoresca poluição atmosférica dos veículos que se apoderaram das ruas da cidade [sim, quantas indústrias poluidoras conhecem em Lisboa?] e que foram, muito bem diga-se, estrategicamente iniciadas no verão devido ao inverno altamente chuvoso que tivemos. Enquanto o verão se torna cada vez mais insuportável, graças ao nosso grande amigo, aquecimento global que nos traz vagas de calor por volta dos 40º todos os anos, os invernos tornam-se cada vez mais propensos a trazerem consigo vagas de frio, como a que neste último fez os termómetros chegaram quase aos -20º na Serra da Estrela e a abaixo dos -10º em Bragança e na Guarda.
Um país ameno sem dúvida! Um cantinho florido à beira-mar plantado, sem extremos nem grandes complicações...

10.7.05

London...still

Mário Soares defende que os atentados de Londres ocorreram devido ao desespero dos seus perpetradores e apela à comunidade internacional que veja essa condição como forma de evitar futuros ataques terroristas aos países ocidentais. Por sua vez, no Expresso, João Pereira Coutinho opõe-se à opinião do antigo PR e considera os terroristas como manifestação de um "mal" com o qual não pode haver diálogo. Outros ainda culpam a intervenção Americana no Iraque pelos atentados...

Seja onde for, ainda não vi a minha ideia a ser defendida. Que estes atentados fazem parte de desíginios geopolíticos e económicos, assentes na manipulação de factores como a pobreza, o reduzido índice de educação, as desigualdades na distribuição de riqueza e a presença ocidental no Médio Oriente, bem como o apoio dos EUA a Israel. Não se trata de forma alguma de um apelo à comunidade internacional para que se aperceba da pobreza e da miséria que afectam tantas pessoas ou da humilhação a que vários povos estão sujeitos. Trata-se de realpolitik pura e simples, de uma invenção ocidental utilizada contra os seus próprios sistemas por parte de indivíduos abastados e poderosos que não podiam estar menos afectos pelas situações contra as quais as acções que fomentam pretendem, na opinião do senhor Soares, chamar a atenção.
Quando verei eu a minha ideia, ou algo que a ela se aproxime, a ser afirmado por algum perito no assunto ou por uma voz reconhecida? Será que vou ter eu de atingir esse estatuto para que finalmente a minha opinião possa ter algum valor?

8.7.05

London under attack (The Saudi Connection)

Ontem vimos mais uma vez o terrorismo em acção, desta vez na capital Britânica, vitimando pessoas inocentes, como é a norma com os atentados terroristas. Tal como em Madrid em 2004 e Nova York em 2001, os atentados de sete de Julho em Londres têm a marca inconfundível da al-Qaeda, tendo sido rapidamente reivindicados por um grupo até então desconhecido que se intitula como a divisão Europeia da al-Qaeda.
Rapidamente começaram a escorrer as opiniões sobre a ligação entre a Cimeira do G8 a começar na Escócia, a escolha de Londres para organizar os Jogos Olímpicos de 2012 e o apoio Britânico à política externa dos EUA, nomeadamente no Iraque, factor referido pelo comando que reivindicou o ataque, colocando a tónica na vingança.
Por mais evidente que isto possa parecer, estamos a simplificar demasiado ao considerar apenas a guerra do Iraque e que o objectivo dos terroristas é "destruir o ocidente" como tantas vezes se diz. A grande maioria dos atentados é realizada fora dos países ocidentais e tem como vítimas pessoas que não são de países ocidentais, basta ver o Iraque, país onde a expulsão das tropas estrangeiras não é senão uma diversão dos objectivos dos terroristas.
Observando não apenas um sector mas a imagem global, os atentados de Londres inserem-se no mesmo plano que os perpetrados por todos aqueles que se afirmam como executores da vontade da al-Qaeda e que não é, ao contrário do que afirmam, terminar com a presença Americana no mundo islâmico. Este factor é aquele que é explicado aos executores desta estratégia e que não mostram qualquer hesitação em cumprir o assassinato de civis inocentes para cumprir os desígnios das suas instâncias superiores.
A suposta estratégia da al-Qaeda nem sequer é a de uma organização terrorista ou foi por esta delineada. Aquilo que se conhece como al-Qaeda não é mais do que um principio ou uma ideia que fornece inspiração e apoio a um sem número de comandos autónomos que desempenham ataques como estes em todo o Mundo. Não vou agora dissertar sobre a figura de bin Laden mas a al-Qaeda nunca foi uma estrutura formal hierarquizada, fazendo antes parte da geopolítica de figuras interessadas em atacar os países ocidentais e todas as situações que os envolvam.
Quem estaria então, interessado nisso, em espalhar o medo e o terror, em provocar reacções políticas, em matar pessoas indiscriminadamente sem proeminência política e económica, visto que os decisores não utilizam os transportes públicos? Na minha sincera opinião, trata-se de uma estratégia empreendida pela Arábia Saudita com o objectivo de alcançar um domínio crescente sobre o ocidente. O Reino da Arábia Saudita é na actualidade o regime islâmico mais rigoroso do Mundo, onde os Direitos Humanos são sistematicamente violados em nome de um estado que existe em função do Islão e para os servir, assim o dizem os seus representantes.
A dimensão da família real Saudita, com cerca de oito mil membros e a quantidade de milionários ligados ao sector petrolífero tornam o maior produtor de petróleo do Mundo num actor fundamental no Médio Oriente e no Mundo. Já em ocasiões anteriores, como no 11 de Setembro, vimos como um grande número de Sauditas havia tomado parte nos atentados. O próprio bin Laden é um filho repudiado pela família real Saudita a quem foi retirada a nacionalidade Saudita.
Não é preciso realizar uma pesquisa muito profunda para estabelecer uma ligação clara entre os actos terroristas realizados em nome do Islão e o Reino da Arábia Saudita. Como país integrista na sua totalidade, a Arábia Saudita financia projectos islâmicos em todo o Mundo. Quer se trate da construção de uma mesquita em Amman, Damasco, Paris, Londres ou Sydney, e já agora, Lisboa também, existe dinheiro Saudita envolvido. Na formação de clérigos radicais, a ligação à Arábia Saudita é rapidamente verificada. No apoio a grupos extremistas...mais uma vez, the Saudi connection.
A aliança existente entre EUA e Arábia Saudita [muito engraçada, os "defensores da liberdade" aliados aos que a repudiam] confere uma capa protectora às actividades subversivas dentro e fora do reino apoiadas pela sua oligarquia. Recentemente, foram aprovadas leis na Arábia Saudita que proíbem a incitação à violência por parte dos clérigos, contudo existem muitas formas de cobrir isto. O dinheiro conseguia tapar o Sol se o valor fosse suficientemente elevado e na Arábia Saudita passa-se a mesma coisa.
Qual então o objectivo Saudita? Suponho que seja o de mostrar ao Mundo que um país integrista islâmico consegue subsistir, sob todas a pressões democráticas do Ocidente, e ditar as regras da especulação e da estabilidade na Europa e América através dos seus enviados e executores, encarregues de realizar o seu trabalho sujo, em nome de algo que para eles próprios constitui uma meta suprema, após as contínuas lavagens cerebrais a que foram submetidos pelos seus formadores radicais.
Após um atentado terrorista de grande envergadura, um país reforça as suas medidas de segurança. Este reforço pode significar uma perda de liberdades pessoais, como aconteceu nos EUA com o Patriot Act, após o 11 de Setembro. Em democracias mais frágeis, pode mesmo revestir-se de autoritarismo sem fachadas e de desrespeito pela privacidade dos cidadãos, recurso a torturas e a prisões sem suspeitas. Ou seja, por uma ruptura do estado de direito, aquilo que no Ocidente defendemos há décadas e que constitui a nossa forma de vida.
Ao lançar o pânico, o medo, a instabilidade política, económica e social, os perpetradores desta estratégia pretendem atingir uma importância idêntica no Mundo à das democracias ocidentais e talvez, em última instância, superá-las, mostrando através da reacção destas que a democracia não é uma opção a seguir, que não oferece resposta aos problemas da população, que não respeita mais as pessoas do que os regimes não-democráticos.
A suportar tudo isto, está a dependência ocidental do petróleo do Médio Oriente, um verdadeiro cheque em branco passado a regimes como a Arábia Saudita que sob a pressão democratizadora do ocidente não progride mas ao invés patrocina uma guerra suja contra os que se opõem aos seus princípios, mesmo que isto inclua atacar um aliado como os EUA. Não se trata, em meu entender, de uma revolta dos marginalizados e excluídos do Mundo, nem de um grito dos pobres. Se assim fosse, já se teria iniciado há muito mais tempo e com muito mais violência. Os indivíduos que delinearam esta estratégia são prósperos e poderosos e manipulam os que se sentem excluídos através de um discurso anti-ocidental para cumprir os seus próprios desígnios políticos.
O grande erro consiste em não ver isto, em achar que se trata apenas de Israel vs. Palestina, ou de tropas estrangeiras no Iraque. Existe uma infiltração em larga escala no ocidente de correntes anti-ocidentais e o seu objectivo não é, como se possa pensar, a destruição dos nossos países [estariam a acabar com a sua razão de existência] mas sim a nossa humilhação e subjugação em nome dos seus próprios desígnios políticos e económicos.

7.7.05

And now for something completly different!

Monty Python - Hungarian phrasebook

In 1971, the British Empire laid in ruins. Foreigners frequented the streets, many of them Hungarians... not the streets, the foreign nationals. Anyway, many of these Hungarians went into tobaconists to buy cigarrettes.

Terry Jones: Good morning sir

John Cleese: I will not buy this record, it is scratched

T.J.: Excuse me?

J.C.: I will not buy this record, it is scratched

T.J.: No, no, no, this is a tobacconists

J.C.: Ah, ha ha! I will not buy this tobacconists, it is scratched!

T.J.: No, no, tobacco...cigarrettes!

J.C.: Cigarrette? Ja, ja ja! My hovercraft is full of eels!

T.J.: I’m sorry?

J.C.: My hovercraft is full of eels!

T.J.: Matches?

J.C.: Ja, ja ja! Do you waaant, to come back to my place, bouncy bouncy?

T.J.: That’ll be six schillings, please.

J.C.: If I said you have a beautiful body, would you hold it against me? I am no longer infected.

T.J.: May I, look at that...?

J.C.: Ja, ja ja!

T.J.: (browses through book) Costs six schillings...costs six schillings...ah, here it is "Jerdelavangi
sdrki slavenka!" *POW * Ouch!!

Police: What’s going on here?!

J.C.: You have beautiful thighs!

Police: WHAT?

T.J.: He hit me!

J.C.: Drop your panties Sir Arthur, I cannot wait until lunch-time!

Police: (arrests the Hungarian) Right!

J.C.: My nipples explode with delight!

The Hungarian gentleman was subsequently released but it was his informations that led to the arrest and trial of the real culprit.

Judge: Mr. Yalk, you are hereby accused of on the last 28 of May, willfully, unlawfully and with malice of intent, publishing an alleged English-Hungarian phrasebook, with the intent to cause a breach of the peace. How do you plead?

Eric Idle: Not guilty.

Lawyer: Mr. Yalk, on the 28 of May you published this phrasebook.

E.I.: I did

Lawyer: With your honor’s permission, I’d like to quote an example. The Hungarian phrase meaning "Can you direct me to the railway station?", has been translated into the English phrase "Please fondle my buttocks" .

Hungarian to Englishman: Please föndle my buttocks .

Englishman: Ah yes, past the post office, 200 yards down and then left at the lights.

6.7.05

Sigur Rós - Starálfur (Staring elf)

starálfur

blá nótt yfir himininn
blá nótt yfir mér
horf-inn út um gluggann
minn með hendur

faldar undir kinn
hugsum daginn minn
í dag og í gær
blá náttfötin klæða mig í
beint upp í rúm
breiði mjúku sængina
loka augunum
ég fel hausinn minn undir sæng

starir á mig lítill álfur
hleypur að mér en hreyfist ekki
úr stað – sjálfur

starálfur

opna augun
stírurnar úr
teygi mig og tel (hvort ég sé ekki)
kominn aftur og alltalltílæ
samt vantar eitthvað
eins og alla vegginna

Sigur Rós - ágætis byrjun - 1999

4.7.05

G8 Summit

Quarta-feira, dia 6 de Julho, no mesmo dia em que o Comité Olímpico Internacional escolhe a cidade anfitriã para os Jogos Olímpicos de 2012, começa a cimeira do G8 na Escócia. Sempre mediáticas, esta cimeira adquire uma importância acrescida. Na discussão, vão estar sobretudo a ajuda a África e as alterações climáticas globais.
A própria existência do G8 já é bizarra e desfavorável aos interesses da Humanidade. Fazer depender centenas de milhões de pessoas das decisões que oito chefes de Estado e de Governo tomam em dois dias é ainda pior. Se a maior parte dos líderes políticos estão desligados dos próprio eleitorado que os elegeu, como esperar que sejam sensíveis aos números respeitantes à pobreza mundial? O que são 800 milhões de pessoas a viver em pobreza extrema, ou seja, com menos de um dólar por dia? Não temos noção, é um número tão elevado que constitui mais uma abstracção que invocamos sempre que é necessário sensibilizar a opinião, mas não conseguimos imaginar 800 milhões de pessoas numa situação de pobreza extrema.
A partir desta realidade, por agora inalterável, da existência e poder do G8, apenas podemos depositar esperança na vontade política dos líderes dos oito países mais industrializados do Mundo, visto que as pessoas que são afectadas pela pobreza extrema, na sua maioria não sabem o que é o G8 ou que os seus líderes têm o poder para lhes aliviar o sofrimento. A maioria não tem acesso a notícias e muitos são analfabetos, muitos deles até, devido à fome, têm uma capacidade mental inferior. O problema destas cimeiras está precisamente neste ponto: apesar de os países do G8 serem os mais poderosos do Mundo, com um poder político e económico capaz de arrastar o resto do planeta, nos seus encontros prevalece quase sempre o interesse nacional a curto-prazo. A curto-prazo digo eu, por um motivo simples, não me parece que na mente de líderes políticos com mandatos que duram no máximo 8 a 10 anos, a pobreza global seja um assunto que afecte os seus países, quando na realidade se passa o contrário e faria todo o sentido que a erradicação da pobreza estivesse na agenda de todos os países desenvolvidos como parte do seu interesse nacional. Como pode haver relações internacionais harmoniosas, pacíficas e igualitárias quando um estado tem um rendimento médio per capita de $30000/ano e outro de $200/ano?
As alterações climáticas também fazem parte desta cimeira, e não é por acaso. Recentemente foi indicado que o continente que mais iria sofrer com as alterações do clima terrestre é África. Como se os restantes problemas não fossem já colossais, as alterações climáticas ao longo do século XXI apresentam-se agora como prejudiciais ao desenvolvimento agrícola dos países Africanos, agravando a sua dependência em relação aos países desenvolvidos. Quando conjugada com a situação de dumping feita pela Europa, EUA e Japão devido às suas subvenções agrícolas, a população dos países Africanos empregada no sector primário é empurrada para uma perspectiva ainda mais precária do que a actual, se é que isso se consegue imaginar. Mesmo assim, George W. Bush já anunciou que não vai aceitar nenhumas medidas que seja semelhantes ao Protocolo de Quioto por entender que isso iria contra os interesses do seu país. Ou melhor dito, nas suas palavras, ele está ali para defender o que é melhor para o seu país e entende que é possível proceder à redução da pobreza sem prejudicar a economia do seu país, afogada na dependência dos combustíveis fósseis e susceptível a abanões graves se os países do Golfo Pérsico estiverem para aí virados. Bush parece não compreender que o desenvolvimento das economias do países ricos e a ajuda ao desenvolvimento dos países pobres não é efectuada em momentos separados ou em fases diferentes, não podem ser dissociadas uma da outra, logo não se pode esperar que a economia dos países ricos se desenvolva ainda mais para aumentar a ajuda aos países em desenvolvimento. Já foi lançada um guerra ao terrorismo cujos resultados ninguém se atreve a divulgar. Porque não há ninguém com coragem e vontade suficiente para anunciar uma guerra contra a pobreza, bem mais perigosa do que o actual panorama do terrorismo interncional? Existirá maior laboratório de terrorismo do que um país deprimido pela pobreza dos seus habitantes? O que seria assim, para Bush, o melhor para os EUA?
Por mais elevadas que sejam as expectativas, o espectro da desilusão paira sempre no ar para aqueles que pretendem ver esforços sérios, não apenas uma retórica bonita mas vazia, no esforço de erradicação da pobreza. A lógica da liderança favorece uma situação em que face ao nosso objectivo X e ao objectivo Y do nosso homólogo, se conseguirmos 10%-20% do nosso objectivo já nos devemos sentir felizes. Por outras palavras, se a pobreza extrema deixar de afectar 800 milhões de pessoas para afectar 750 milhões nos próximos 10-15 anos, isso já será visto como uma vitória para os líderes, quando na verdade é uma derrota de todas as expectativas e seriamente comprometedora dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Paralelamente, os líderes corruptos, responsáveis por uma grande parte da pobreza global, fazem jus à premissa de que em qualquer país que seja, a população paga pela inépcia dos seus líderes. Nos países desenvolvidos isso significa aumento do desemprego e estagnação económica, e já é grave. Nos países em desenvolvimento, isso significa a morte, pura e simplesmente.

3.7.05

The Legend of Zelda - Twilight Princess (Novembro 2005)





Em breve, ainda durante este ano, vamos ter este diamante à nossa frente. O que é provavelmente o melhor jogo de todos os tempos [discussão nunca pacífica mas enfim...] vai durante o ano de 2005 ter honras de uma digna encarnação na Game Cube. Link, Zelda, Epona, Ganondorf, Octoroks, Stalfos, o Triforce e o Reino de Hyrule a 128 bits, uma autêntica dimensão a explorar.

Pelas imagens, de uma versão ainda não terminada do jogo, The Legend of Zelda - Twilight Princess, vai fazer justiça aos grandiosos predecessores que foram The Legend of Zelda, A Link to the Past e Ocarina of Time. Até lá, esperamos pacientemente.





















2.7.05

Heróis nacionais

Não há país que não os tenha e que não celebre pelo menos um herói nacional, num dia próprio, a quem é atribuída uma façanha altamente relevante na história do seu país, a quem as crianças são ensinadas a prestar tributo e a quem é feita uma imagem para figurar num estátua, num busto ou numa inscrição monetária.
Os heróis nacionais actuam assim como agentes projectores da suposta grandeza e heroísmo do país, alegadamente representando as suas virtudes mais puras e servindo de exemplo às gerações vindouras. Afonso Henriques, Alexandre Nevsky, Davy Crocket, Ho Chi Minh, Charles De Gaulle, todos eles heróis nos seus países, quase venerados pelo Estado e pela população mais agarrada aos mitos nacionais. Porque são sobretudo isso, mitos, pessoas a quem foi conferida uma aura de heroísmo e romantismo por um feito cujas consequências os seus agentes activos não se aperceberam ou cuja intenção não era de todo altruísta.
Sem ser cínico, quantos heróis nacionais, plenos de ideais de bravura, coragem, patriotismo e romantismo, realmente incorporaram as características que lhes foram atribuídas? A história mostra-nos que se as características particulares de um indivíduo podem ser relevantes – a Europa teria ido por outro caminho se Júlio César, Carlos Magno, Napoleão Bonaparte e Adolph Hitler pensassem de outra forma – há sempre um sistema por detrás dos seus feitos, para cada cabeça há manipuladores, confidentes, executantes e servidores.
A história mostra-nos também que com as palavras adequadas, qualquer facto pode ser distorcido e interpretado de uma forma totalmente diferente. Um feito glorioso de um Homem há 500 anos atrás pode, dois séculos depois, ser um feito atroz e ridículo. O oposto também o é possível e os decisores de cada país, apoiados numa eficiente máquina de manipulação e de criação de guiões nacionais são eficientes em criar as suas próprias histórias, as suas próprias versões, por vezes as suas próprias nações. A Nun’Alvares Pereira é atribuída a vitória na Batalha de Aljubarrota, imediatamente é herói nacional, corajoso, virtuoso, patriota, cujos esforços evitaram que Portugal fosse incorporado em Castela. Não era ele um mercenário que combatia por dinheiro e riquezas? D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, é venerado como o "fundador da nacionalidade", quase um deus para alguns Portugueses. Era um nobre Francês que proclamou a independência do território cuja administração lhe estava encarregue por motivos que nada tinham a ver com a fundação de um país. Como lhe pode ser atribuída a categoria de patriota e o seu nome ser invocado por Portugueses de todos os quadrantes políticos? Estarão conscientes que no século XII não havia algo chamado "consciência nacional"? Julgam que no período medieval, o mais facilmente romantizado, os "heróis nacionais" realizavam os seu actos "heróicos" pelo país? Existia um país naquela altura? Sabem por acaso o que era um rei, o que era um estado, o que era a organização naquele tempo?
Simplesmente, cada país em nome dos seus desígnios pseudo-patrióticos ou de condutas que pretendam justificar determinadas acções, por vezes menos aceitáveis, encarrega-se de fabricar os seus mitos, sobrecarregando-os de virtudes relacionadas com o patriotismo e tudo o mais o que permite uma imagem limpa e digna de um "grande país". Nenhum indivíduo pode encarnar toda a glória de um país, nenhum "herói nacional" o é verdadeiramente, sem um sistema no qual se possa apoiar. Qual é o povo que ainda se deixa manipular pela imagem romantizada de um antigo líder em pose patriótica de combate, galvanizando os seus concidadãos para uma vitória que pode muito bem nunca vir a existir? É mais uma demonstração pura e simples da manipulação a que os Humanos estão sujeitos, afinal um culto não termina no templo, encontra-se nos media, nas notas e moedas, nos selos e nos livros de história, tantas vezes revistos com o propósito de acomodar mitos refeitos ao serviço de programas obscuros.

1.7.05

Portugal nuclear

Ontem foi revelado o plano de um empresário investir 3,5 mil milhões de Euros na construção de uma central nuclear em Portugal. Esta ideia baseia-se na elevada dependência energética de Portugal, uma das maiores da UE, e no elevado preço dos combustíveis fósseis que prejudicam a retoma económica do país, relembrando que nos últimos dias o barril de petróleo atingiu um máximo histórico de 60 dólares.
A proposta é sem dúvida arrojada e inovadora. Uma central nuclear permitiria aumentar a produção energética de Portugal e reduzir a dependência, nomeadamente em relação a Espanha e aos combustíveis fósseis. Porém, faz sentido que um país desenvolvido no século XXI enverede pelo nuclear, quando esta opção energética já mostrou que não é superior às energias renováveis? É certo que é mais barata que os combustíveis fósseis, que eu considero totalmente obsoletos e colocam em perigo o ambiente, mas num país que se quer moderno e inovador, a opção nuclear deveria ter sido colocada há várias décadas atrás, não na actualidade quando o investimento energético do futuro está nas energias renováveis. Basta observar o exemplo dado pela construção do maior parque de energia solar da Europa em Moura.
Do ponto de vista da segurança, a energia nuclear levanta as suas óbvias preocupações. É verdade que a grande maioria dos empreendimentos nucleares são seguros, e exceptuando Chernobyl e Three Mile Island, não são conhecidos exemplos proeminentes de acidentes nucleares graves. De resto, a segurança nuclear nas respectivas centrais é levada a sério [exceptuando talvez naquela central Britânica onde um jornalista conseguiu entrar sem grandes problemas numa área restrita...] e muito cínico seria eu se partisse do princípio que uma central nuclear Portuguesa incorreria num elevado risco de segurança, devido aos Homers Simpsons que lá trabalham...
O que para mim é mais relevante é a própria aposta na energia nuclear quando esta forma de energia se encontra em declínio na Europa. Alemanha, Espanha, Suécia e Reino Unido estão já a trabalhar em soluções de desmantelamento das suas unidades nucleares. Só agora iríamos começar? Onde está a inovação e o dinamismo?

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