4.7.05

G8 Summit

Quarta-feira, dia 6 de Julho, no mesmo dia em que o Comité Olímpico Internacional escolhe a cidade anfitriã para os Jogos Olímpicos de 2012, começa a cimeira do G8 na Escócia. Sempre mediáticas, esta cimeira adquire uma importância acrescida. Na discussão, vão estar sobretudo a ajuda a África e as alterações climáticas globais.
A própria existência do G8 já é bizarra e desfavorável aos interesses da Humanidade. Fazer depender centenas de milhões de pessoas das decisões que oito chefes de Estado e de Governo tomam em dois dias é ainda pior. Se a maior parte dos líderes políticos estão desligados dos próprio eleitorado que os elegeu, como esperar que sejam sensíveis aos números respeitantes à pobreza mundial? O que são 800 milhões de pessoas a viver em pobreza extrema, ou seja, com menos de um dólar por dia? Não temos noção, é um número tão elevado que constitui mais uma abstracção que invocamos sempre que é necessário sensibilizar a opinião, mas não conseguimos imaginar 800 milhões de pessoas numa situação de pobreza extrema.
A partir desta realidade, por agora inalterável, da existência e poder do G8, apenas podemos depositar esperança na vontade política dos líderes dos oito países mais industrializados do Mundo, visto que as pessoas que são afectadas pela pobreza extrema, na sua maioria não sabem o que é o G8 ou que os seus líderes têm o poder para lhes aliviar o sofrimento. A maioria não tem acesso a notícias e muitos são analfabetos, muitos deles até, devido à fome, têm uma capacidade mental inferior. O problema destas cimeiras está precisamente neste ponto: apesar de os países do G8 serem os mais poderosos do Mundo, com um poder político e económico capaz de arrastar o resto do planeta, nos seus encontros prevalece quase sempre o interesse nacional a curto-prazo. A curto-prazo digo eu, por um motivo simples, não me parece que na mente de líderes políticos com mandatos que duram no máximo 8 a 10 anos, a pobreza global seja um assunto que afecte os seus países, quando na realidade se passa o contrário e faria todo o sentido que a erradicação da pobreza estivesse na agenda de todos os países desenvolvidos como parte do seu interesse nacional. Como pode haver relações internacionais harmoniosas, pacíficas e igualitárias quando um estado tem um rendimento médio per capita de $30000/ano e outro de $200/ano?
As alterações climáticas também fazem parte desta cimeira, e não é por acaso. Recentemente foi indicado que o continente que mais iria sofrer com as alterações do clima terrestre é África. Como se os restantes problemas não fossem já colossais, as alterações climáticas ao longo do século XXI apresentam-se agora como prejudiciais ao desenvolvimento agrícola dos países Africanos, agravando a sua dependência em relação aos países desenvolvidos. Quando conjugada com a situação de dumping feita pela Europa, EUA e Japão devido às suas subvenções agrícolas, a população dos países Africanos empregada no sector primário é empurrada para uma perspectiva ainda mais precária do que a actual, se é que isso se consegue imaginar. Mesmo assim, George W. Bush já anunciou que não vai aceitar nenhumas medidas que seja semelhantes ao Protocolo de Quioto por entender que isso iria contra os interesses do seu país. Ou melhor dito, nas suas palavras, ele está ali para defender o que é melhor para o seu país e entende que é possível proceder à redução da pobreza sem prejudicar a economia do seu país, afogada na dependência dos combustíveis fósseis e susceptível a abanões graves se os países do Golfo Pérsico estiverem para aí virados. Bush parece não compreender que o desenvolvimento das economias do países ricos e a ajuda ao desenvolvimento dos países pobres não é efectuada em momentos separados ou em fases diferentes, não podem ser dissociadas uma da outra, logo não se pode esperar que a economia dos países ricos se desenvolva ainda mais para aumentar a ajuda aos países em desenvolvimento. Já foi lançada um guerra ao terrorismo cujos resultados ninguém se atreve a divulgar. Porque não há ninguém com coragem e vontade suficiente para anunciar uma guerra contra a pobreza, bem mais perigosa do que o actual panorama do terrorismo interncional? Existirá maior laboratório de terrorismo do que um país deprimido pela pobreza dos seus habitantes? O que seria assim, para Bush, o melhor para os EUA?
Por mais elevadas que sejam as expectativas, o espectro da desilusão paira sempre no ar para aqueles que pretendem ver esforços sérios, não apenas uma retórica bonita mas vazia, no esforço de erradicação da pobreza. A lógica da liderança favorece uma situação em que face ao nosso objectivo X e ao objectivo Y do nosso homólogo, se conseguirmos 10%-20% do nosso objectivo já nos devemos sentir felizes. Por outras palavras, se a pobreza extrema deixar de afectar 800 milhões de pessoas para afectar 750 milhões nos próximos 10-15 anos, isso já será visto como uma vitória para os líderes, quando na verdade é uma derrota de todas as expectativas e seriamente comprometedora dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Paralelamente, os líderes corruptos, responsáveis por uma grande parte da pobreza global, fazem jus à premissa de que em qualquer país que seja, a população paga pela inépcia dos seus líderes. Nos países desenvolvidos isso significa aumento do desemprego e estagnação económica, e já é grave. Nos países em desenvolvimento, isso significa a morte, pura e simplesmente.

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