27.7.05

Os piores momentos do Século XX - Momento XI: Revolução Cultural, 1966-1976


Em 1966, treze anos após a proclamação da República Popular da China, Mao Tse Tung anunciou num congresso do Partido Comunista Chinês que o modelo de desenvolvimento se estava a afastar do que havia sido preconizado pela fundação da RPC em 1949 e que as políticas seguidas até então haviam contribuído para a formação de categorias socio-profissionais que iam contra a via de marxismo-leninismo postulada por Mao. Dentro destas categorias encontravam-se académicos, engenheiros, arquitectos, economistas, advogados e membros do partido próximos de Krushchev e da URSS - recorde-se que a China e a União Soviética acabaram com a sua proxmidade no início da década de 1960.
Ao anunciar esta sua perspectiva, Mao pretendia lançar uma "revolução cultural proletária", capaz de acabar com a presença burguesa na China e criar de uma vez por todas uma sociedade onde apenas existissem os operários, os camponeses e os membros do partido. Todos os outros indivíduos seriam obstáculos ao progresso e inimigos da RPC, como tal deveriam ser afastados.
Para levar a cabo esta tarefa, foram recrutados números gigantescos de jovens, conhecidos como "guardas vermelhos", que foram retirados das escolas e universidades e encarregues de velar pela via Maoísta de desenvolvimento, corrente que se sobrepôs ao marxismo-leninismo de inspiração soviética. As escolas foram encerradas e sob a orientação do recém-impresso livro "Pensamentos do presidente Mao", mais conhecido como "Livro Vermelho", os guardas vermelhos foram enviados para todo o país, principalmente para as cidades, onde o seu fanatismo levou a uma campanha de terror na qual as pessoas eram arbitrariamente acusadas de crimes contra a RPC, agredidas e assassinadas, com carta branca do partido. Não levou muito tempo para que as facções dos guardas vermelhos entrassem em confronto entre si e que fossem manipuladas por divisões existentes dentro do partido, onde se destaca o "bando dos quatro".
Em apenas dois anos, o sector secundário chinês registou uma queda de 12% na produção enquanto as crianças chinesas continuavam sem acesso à educação, sendo endoutrinadas no Maoísmo através do "livro vermelho". Dentro do partido foram também afastados representantes de correntes divergentes da de Mao, nomeadamente os simpatizantes da URSS enquanto que a deslocação de guardas vermelhos das cidades para os campos, com o intuito de promover o desenvolvimento rural, se revelou num desastre, tal como a anterior política de Mao, denominada "Grande Salto em Frente".
Apesar de as piores atrocidades terem terminado em 1969, a revolução cultural não cessou totalmente aí e continuou a fazer-se sentir até à morte de Mao em 1976. Ainda no final da década de 1960, registaram-se violentos tumultos em Hong Kong e Macau agitados por simpatizantes Maoístas dos dois lados da fronteira e o impacto que o fervor fanático dos guardas vermelhos teve na RPC ainda hoje se faz sentir. Acima de tudo, a revolução cultural tentou efectuar algo que não podia ser atingido, a dissolução do pensamento chinês e das suas tradições, nomeadamente o confucionsimo e as práticas budistas e tauistas, alvo de ataques incessantes por parte dos guardas vermelhos, algo que Mao não mostrou compreender quando formulou a sua ideia de "revolução cultural proletária".
Após a morte de Mao em 1976, Deng Xiaoping que havia sido saneado duas vezes, no início da revolução e já perto da morte de Mao, foi reabilitado e ascendeu à liderança do país em 1978, tendo assumido uma política contrária à de Mao e preconizado as reformas económicas que estão na origem da expansão económica da China.

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