O que significa o conceito de “dinheiro”? Chamamos “dinheiro” a objectos tangíveis que representam um valor em “moeda” e que utilizamos em transacções comerciais e financeiras. A todos os bens e serviços é atribuído um valor em “dinheiro” que o consumidor deve entregar a quem fornece o bem/serviço para o obter. É esta a base das nossas operações comerciais e financeiras. Mas qual é, realmente, o valor do “dinheiro”? É óbvio que se olharmos para uma nota de 20 Euros, pensamos “isto são 20 Euros, com isto eu posso comprar X coisas” (pouca coisa, mas enfim). E estamos convencidos disso porque a nota tem inscrito “20 EURO” e nós sabemos que, em qualquer país da Zona Euro, se entrarmos numa loja podemos comprar uma determinada quantidade de bens com aquela nota.
A quantidade (e qualidade) do que adquirimos depende do valor facial da nota. Contudo, o conceito de “dinheiro” não se limita ao papel moeda ou à moeda metálica, temos ainda a moeda fiduciária, que utilizamos através de cheques, cartões multibanco e cartões de crédito. Neste caso, como o nome indica, trata-se de uma questão de confiança, de fé se quisermos. Vamos a uma loja comprar um computador, a “criatura” custa 1000 Euros, o consumidor como em princípio não transporta tal quantia em papel/moeda metálica (a menos que tenha problemas com a lei), passa um cheque (cada vez menos) ou utiliza o seu cartão multibanco ou cartão de crédito para o adquirir. O terminal da loja comunica em fracções de segundo com o terminal do banco emissor do cartão e, se este último der o seu aval, a transacção é consumada, e temos uma loja feliz por ter vendido mais uma unidade e um consumidor feliz porque acabou de comprar um computador novo.
Mais uma vez, é uma questão de fé. O banco nos seus sistemas informático, tem uma série de linhas de código que indicam algo chamado “saldo” do titular do cartão, quando o terminal da loja entra em contacto com o terminal do banco, este responde rapidamente se o titular tem ou não crédito para pagar o produto. É claro que aquele “saldo” não existe em papel ou em metal, trata-se apenas de sinais informáticos que, com base num contrato prévio celebrado entre o titular e o banco (conta bancária) indicam que o titular depositou X Euros naquela conta. E é assim que as transacções funcionam, através da fé, a loja confia no seu terminal que lhe diz que o cartão daquele consumidor tem provisão (ou que não foi bloqueado), o terminal da loja confia no terminal do banco que lhe comunicou o seu OK à realização da transacção, o banco confia no seu cliente (quer dizer, mais ou menos) em como o dinheiro é resultado de acções legais e o consumidor confia no valor do dinheiro, confia que ao depositar 5000 Euros num banco, vai poder usá-los como quiser, uma vez que com 5000 Euros, vai poder comprar isto, aquilo e ainda mais aquilo.
E em quem confia o dinheiro? Em ninguém, o dinheiro existe para ser utilizado e só existe (por conseguinte, só tem valor) porque os consumidores o idolatram e através da sua fé, confiam no seu efeito, da mesma forma que um cristão devoto acredita no julgamento das almas e que um muçulmano devoto acredita na divindade do seu profeta. O dinheiro é a suprema religião que transcende culturas, credos, superstições, línguas e hábitos. O dinheiro faz verdadeiramente o mundo girar e se não fosse a nossa fé nas notas, moedas e extractos bancários, os bens e serviços estariam ao dispor de qualquer um (uma vez que não existiriam pessoas de baixos rendimentos) e assim verificar-se-ia a existência de bens de luxo na mesma quantidade de bens essenciais.
Pelo menos no plano teórico, porque na prática isto levaria a uma ruptura de bens e serviços, afinal de contas não é possível existirem mais Ferraris do que Renaults, pois não? Os bens denominados “de luxo”, pelo trabalho que é investido neles e pelos recursos que consomem, nunca poderiam ser massificados, uma vez que iriam esgotar rapidamente a matéria-prima para a manufactura de bens essenciais ou de bens “normais”.
Assim sendo, o que é afinal o “dinheiro”? Será um vil metal? É possível, uma vez que se cometem actos terríveis por sua causa (ou melhor dito, por causa do seu valor). Ou será antes uma garantia da nossa existência enquanto civilização? Uma vez que as nossas sociedades necessitam da produção de riqueza, necessitam de consumo e de transacções comerciais e financeiras para manterem o seu nível de desenvolvimento, a ausência de dinheiro iria resultar numa anarquia financeira, onde o mercado como o conhecemos deixaria de existir e a razão de existir do próprio trabalho deixaria de existir, afinal se não existir dinheiro a ganhar, porque razão trabalham os indivíduos?
Talvez a existência do dinheiro sejam uma forma darwinista de separar as águas e organizar a sociedade humana, de forma a que os que melhor organizam as suas transacções e os que melhor conhecem o funcionamento do mercado possam melhor investir o seu dinheiro e ganhar mais com isso, assim garantindo um nível de vida superior?