14.7.06

Faíscas de guerra no Médio Oriente

É mais do que óbvio que o Hezbollah tinha perfeita consciência do que iria desencadear quando raptou dois soldados israelitas, à semelhança do que se passou na semana anterior. Provavelmente não esperavam uma reacção tão abrangente por parte de Israel, mas sabiam muito bem que iria ocorrer uma resposta militar de Telavive. O que para nós parece mau, uma vez que civis inocentes foram apanhados nos bombardeamentos israelitas, apenas favorece a causa de movimentos como o Hezbollah e o Hamas. Por cada palestiniano ou qualquer outro árabe e/ou muçulmano atingido por uma bala/míssil israelita, mais forte se torna a sua causa. Mesmo que os seus membros sejam sistematicamente eliminados pela reacção de Israel, ninguém beneficia mais com isto do que o próprio Hezbollah e os seus patrocinadores.
Agora resolveram tomar consciência de um facto que já toda a gente conhecia, o Hezbollah é um movimento shiita, que proclama que "não há nenhum partido senão o partido de Deus" [Hezbollah] e que não irá cumprir as três condições de cessar-fogo exigidas pelo PM israelita, uma das quais o desarmamento daquele movimento terrorista. Mais grave, o Hezbollah é uma criação iraniana, que contribuiu para a instauração da República Islâmica naquele país em 1979 e que esteve envolvido na guerra civil do Líbano. Financiado pelo Irão e pela Síria, este último que já foi alvo de ameaças verbais de Israel e que conta com a protecção de Teerão na eventualidade de uma retaliação israelita.
Isso mesmo, aquele indivíduo que afirmou que "Israel deve ser riscado do mapa" parece estar a falar a sério e não hesitará em apoiar a Síria, estado autoritário secular, governado pelo mesmo partido ao qual Saddam Hussein pertenceu enquanto esteve no poder naquele buraco negro entre a Síria e o Irão a que se convencionou chamar de Iraque, e que constituiu um adversário terrível para a República Islâmica do Irão, uma vez que representa uma via diametralmente oposta à que é seguida em Teerão. Como não podia deixar de ser, o preço do petróleo atingiu um novo máximo histórico, o que beneficia o Irão.
E quem é outro dos maiores financiadores do terrorismo mundial? Nada mais nada menos do que a Arábia Saudita, aliada dos EUA no Golfo Pérsico e que nos seus discursos oficiais aos "irmãos" muçulmanos afirma que os infiéis "devem ser odiados" e que o islão "vai esmagar o ocidente corrupto e decadente". Por acaso, a Arábia Saudita é o maior produtor mundial de petróleo e o Irão não está longe dessa posição. Já devem estar a ver onde isto vai dar e como cada um tem o seu cérebro, apenas digo isto: quando expressarem apoio e simpatia pela luta dos palestinianos, tenham cuidado porque estão a entrar num autêntico campo minado.

1 Comments:

Blogger MoonnooM said...

Uma Excelente análise! Sempre bom ler os teus posts! Não esqueçamos que a questão israelo-árabe é muito mais complexa que os simples facto de apoiar Israel ou a "Palestina", não?
Creio que, de facto, o HEzbollah em toda esta questão sabe exactamente o que está a fazer, e Israel deixa-se ir que nem um patinho, dando apenas mais motivos para que, tal como referiste, o fundamentalismo se alastre e aplique de forma quase descontrolada. Isto porque, com as retaliações de Israel, há muitos mais motivos para que se lute contra este Estado, e toda a questão palestiniana serve de base a isso igualmente.
A questão só poderá ser resolvida (o que eu duvido...) em termos diplomaticos, vistos que os bélicos só gerarão um clima crescente de conflito que não beneficia ninguém. Muito menos se a questão se descontrolar e todo o Médio Oriente partir para ameaças a Israel...que, mesmo com o apoio dos EUA e Ocidente, se verá a braços com todos os grupos fundamentalistas da região e mesmo a níbvel mundial, patrocinadas pelos senhores do petróleo (do qual também o Ocidente depende)...Isto gera questões bastante complicadas...Esperar o melhor!! ;) **'s

15 julho, 2006 23:08  

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