23.6.05

World Leaders "R" Us [não se aceitam reembolsos]

Segue-se uma categorização exaustiva dos líderes mundiais referentes a exemplos actuais e passados. Nos seguintes arquétipos encaixam-se 95% dos Chefes de Estado e de Governo, o que só mostra como este planeta é gerido de forma ridícula...
- O Social-Democrata Europeu: afirmando-se como de centro-esquerda, é um líder que aparentemente consagra uma grande importância ao diálogo entre as diferentes partes envolvidas num debate como forma de atingir um compromisso ou um consenso. Entre as suas preocupações incluem-se a segurança social e serviços como a educação e a saúde. Durante a sua liderança, não será estranho ver uma quantidade crescente de cidadãos a beneficiarem de medidas que não merecem, o desemprego a aumentar e a imigração a descontrolar-se, sem que isso o pareça afectar muito. Exemplos: António Guterres, Gerhard Schröder, Tony Blair
- O neo-liberal Europeu: do espectro oposto ao anterior, advoga uma doutrina de intervenção mínima do estado no sector económico e de privatizações das maiores empresas estatais. Durante o seu mandato, o crescimento económico acelera e a eficácia de sectores como a educação e a saúde deixa de ser medida por resultados ao nível do ensino e vida saudável dos cidadãos, passando a ser medida pela capitalização bolsista dos mesmos. Até privatizavam o país, se pudessem. Exemplos: Margaret Thatcher, Silvio Berlusconi
- O pós-comunista da Europa de Leste: representa uma renovação no seu país, embora o indivíduo não seja mais do que um guarda reciclado do velho regime. Relutantemente advoga alguns princípios da democracia e da livre economia de mercado sem que o seu país possa ser incluído neste campo, assim apenas para o FMI ver. Elegem um grupo-alvo para descarregarem toda a sua raiva, quer sejam albaneses, quer chechenos. Exemplos: Slobodan Milosevic, Vladimir Putin, Aleksander Lukashenko, Saparmurat Niyazov
- O evangelista norte-americano: representante das convicções da América profunda, este indivíduo sente-se imbuído de uma forte consciência moral [leia-se, bíblica] que lhe confere uma superioridade divina sobre todos os outros, que são considerados como manifestações do diabo. Esta condição torna-o assim num "servo de deus" na Terra, disposto a cumprir a sua agenda, e normalmente reflecte-se no agravamento dos arquétipos do "bem vs. mal", "luz vs. trevas", "vida vs. aborto". Estes indivíduos podem ainda invadir todo e qualquer país que desejem, visto que possuem um mandato divino que lhes confere toda a legitimidade nesta sua missão, além de serem infalíveis. Exemplos: Ronald Reagan, George W. Bush
- O homem-forte da América Central: figura quase cómica do nosso imaginário, o líder centro-americano conhecido como homem-forte é invariavelmente um militar que num dos golpes de estado mensais que assolam o seu país, reuniu o apoio de mais facções das forças armadas que os seus rivais e vê-se assim com o caminho aberto para exercer o seu poder sobre um país cheio de católicos, de bananas, de papagaios e de canas de açúcar. Costumam aparecer envergando fardas militares e proclamando discursos emocionantes à população. Costumam também estar envolvidos [às vezes] em negócios menos transparentes envolvendo pózinhos brancos...para mais informações, consultem a série MacGyver, um em cada três episódios metia uma destas criaturas. Exemplos: Fidel Castro, Noriega
- O intelectual socio-político da América do Sul: trata-se de um indivíduo imbuído de uma formação académica sólida e com um programa coerente para o seu país. Como as lealdades são maiores para com a sua classe social do que para com "o povo" e os interesses económicos do "grande patrão norte-americano" não podem ser contrariados, isto resulta numa manutenção ou até agravamento das desigualdades sociais no país. Exemplos: Fernando Henrique Cardoso, Carlos Mesa
- O déspota Africano: constitui uma figura bastante folclórica no panorama dos líderes mundiais. O déspota Africano muitas das vezes foi um fiel servidor do antigo colonizador Europeu que se agarrou às rédeas do poder após a independência. Isto significou que o principal beneficiário deixou de ser a potência colonial para ser o déspota, e pouco mais. É uma figura populista, com um discurso feroz e "patriótico" mas na verdade o seu país continua a ter como principal função a exportação de uma única matéria-prima para a Europa e América do Norte sujeita às flutuações de preços no mercado internacional e que de um dia para o outro pode lançar 50% da sua população na pobreza extrema [os que vivem na pobreza relativa] enquanto o senhor líder reside no seu palácio digno de um multimilionário. Pontuação extra se tiver um primeiro nome francês e um apelido de origem africana, como Laurent Kabila. Exemplos: Sani Abacha, Idi Amin, Robert Mugabe, Mobutu Sese Seko [este último pode também entrar na categoria "déspota-com-uma-fortuna-pessoal-tão-grande-que-pode-pagar-70%-da-dívida-externa-do-seu-país-e-ainda-tem-uma-casa-de-férias-no-Algarve-e-um-avião-das-linhas-aéreas-do-seu-país-no-aeroporto-de-Lisboa-não-vão-as-coisas-complicar-se-e-ascender-um-novo-déspota-ao-poder"]
- O fervoroso nacionalista Árabe: este exemplar é herdeiro do nacionalismo Árabe que fez furor na primeira metade do século XX e que na actualidade é um pretexto para reprimir, com maior ou menor intensidade, as vozes da discórdia. Reclama uma unidade política dos países árabes como forma de fazer frente ao inimigo ocidental [menos quando os turistas vêm ao seu país, aí sim, será simpático e acolhedor!] e diz verdadeiras pérolas como "a democracia é uma invenção ocidental". A sua cotação no mercado dos líderes mundiais caiu desde a década de 1970, com a ascensão do integrismo e fundamentalismo Islâmico, que lhe retirou uma grande fatia dos seus apoiantes, mas por outro lado, um grande número de simpatizantes nunca lhes tirou o sono. Exemplos: Muammar Khaddafi, Hosni Mubarak [e por extensão, todos os líderes egípcios desde a independência], Saddam Hussein e Bashar al-Asad [o presidente sírio, marcadamente parecido com o príncipe herdeiro de Espanha].
- O oriental formador da sua própria linha: esta categoria de líderes embora exista num número muito reduzido de países, tem abaixo de si cerca de 20% da Humanidade. É um indivíduo com uma formação base que se perde no meio das suas próprias premissas de independência em relação ao resto do Mundo e que pretende criar "um rumo" para o seu país. O problema é que este rumo normalmente passa por massacrar os opositores e desenvolver armas nucleares e colocar a sua imagem em tudo quanto é sítio. Considerando o ocidente como inimigo, têm ambições de tornar o seu país num actor suficientemente forte para que seja temido na Europa e nos EUA e desejado pelos países em desenvolvimento. Assume muitas vezes a figura de um sábio, cujas parábolas iluminam os seus discípulos, figura tão querida na tradição da Ásia Oriental. Exemplos: Mao Tsé Tung, Kim Il-Sung, Kim Jong-Il, Hu Jintao [embora este não coloque a imagem por todo o lado]
- O fervoroso entusiasta do Sudeste Asiático: trata-se de uma figura que perdeu bastante cotação nos últimos anos mas que faz escola na região. Este exemplar caracteriza-se por exercer um forte domínio sobre a população, não sendo propriamente adepto da liberdade de imprensa e de associação política, ao mesmo tempo que empreende políticas económicas fortemente neo-liberais para captar alguns milhões de dólares, encher a capital do seu país de arranha-céus cada um maior que o outro e exibir orgulhosamente um crescimento económico capaz de deixar o ocidente a perguntar "mas como??". Pregador dos "valores asiáticos", este indivíduo não refere que por "valores asiáticos" ele entende o sistema que lhe permite ficar no poder durante algumas décadas, justificando-se com a inadaptação do modelo democrático ocidental ao seu país, que não é mais do que uma tentativa de interferência. Exemplos: Suharto, comandante Marcos, Mahatir Mohamad

Estão assim cobertas as principais categorias de líderes mundiais. Poderia ainda ter referido algumas categorias mais particulares, como por exemplo, o social-democrata nórdico, o ayatollah do Irão ou a dinastia Gandhi mas são realidades muito localizadas e que não marcaram o ritmo de um continente inteiro. Que fique bem claro que a possibilidade de determinar categorias de liderança para as unidades políticas terrestres indo ao pormenor de prever o que o seu discurso afirma é um indicador do nível em que nos encontramos, cujo adjectivo mais próprio para o descrever será "nojento".

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