Decisão dos Guardiões?
Muito brevemente, o problema do programa nuclear Iraniano vai conhecer uma nova via. As eleições presidenciais deram a vitória de Ahmadinejad sobre Rafsanjani, representando assim aquilo que era visto como o pior dos desfechos para o Ocidente, um 'worst case scenario' na prática. Depois de os mais de três mil candidatos iniciais - onde se incluiam várias mulheres - terem sido filtrados pelo Conselho dos Guardiões e apenas seis terem visto as suas candidaturas aprovadas, cada um destes representava uma abordagem diferente ao mesmo espector, ou seja, nunca colocar em causa o regime teocrático da República Islâmica, aliás condição essencial para poder ser candidato à presidência.
Na perspectiva pessoal do autor deste blog, e porque considero as teocracias como um dos regimes mais anti-Humanidade que podem existir, nenhum dos cadidatos seria uma boa escolha para a presidência do país. O candidato com a perspectiva mais liberal, logo, o mais aceitável de todos eles, foi eliminado na primeira volta e à segunda volta passaram Rafsanjani, que se viu na posição de "conservador moderado" [o que no Irão provavelmente significa menos violento] e Ahmadinejad, presidente da câmare de Teerão, com a aura de "ultra-conservador" e o mais repudiado pelo Ocidente.
O ex-presidente Rafsanjani recebeu assim, inesperadamente, o apoio dos sectores da sociedade que levaram o actual presidente, Mohammad Khatami, ao poder em 1997, desiludidos com um degelo democrático que não se verificou com o impacto esperado. Todos os estudos actuais sobre a sociedade iraniana apontam para uma população maioritariamente jovem, menos disposta a aceitar as condições de austeridade impostas a partir de 1979 aquando da Revolução Islâmica e desejosos por mudanças na sociedade e na política. Por estes motivos, mantenho sérias dúvidas sobre a validade do escrutínio, porém, julgo que o resultado é inalterável. O presidente foi eleito, só falta ser empossado. Se para o Ocidente não era fácil lidar com o Irão, com este novo chefe de estado as negociações arriscam-se a tornar-se ainda mais difíceis. O actual guia espiritual Ali Khamenei, afirmou que o resultado é uma humilhação para os EUA e o presidente eleito referiu os "inimigos" do Irão no seu discurso de vitória, uma referência clara aos EUA e Israel.
Não sabemos o que esperar do novo poder em Teerão, embora saibamos que nunca é assim tanto quanto isso [erro Ocidental, julgar que todos os presidentes têm os mesmos poderes, simplesmente porque são chefes de estado] visto que o Conselho dos Guardiões, órgão não-eleito composto por clérigos conservadores, detém poder de veto. Não sabemos também se a situação interna do Irão vai sofrer alterações significativas, num país cujo quotidiano parece estranho ao Ocidente mas que vinha progressivamente a sofrer aberturas. Num país com uma população jovem e cada vez mais activista do ponto de vista político, é possível uma escalada do tom das acusações vindas dos dois lados da barricada. Seja como for, do meu lado o desejo é simples: o fim da teocracia, no Irão e onde quer que elas existam.
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