29.9.04

Big alien brother...com terráqueos!

Aqueles raros indivíduos que de vez em quando se dão ao trabalho de dedicar uns segundos à leitura deste espaço talvez tenham reparado nalguns (pequenos) acrescentos à secção dos links. Ora bem, os novos links são dos sites Zelda Love, um interessantíssimo e original esforço dedicado a essa pérola dos videojogos que é a série Zelda, feito de raíz por uma amiga Mexicana e pelo seu staff, do site Lost Souls' Domain, com base na Holanda e com informações úteis e detalhadas sobre mais de 100 bandas Metal (não são muitas, especialmente quando comparadas com a Encyclopaedia Metallum, mas são boas!), o site das Nações Unidas,( que se não souberem o que é, então façam o favor de envolver a cabeça em cabos de alta tensão desprotegidos e ligados à maior central eléctrica do mundo e mergulhá-la numa banheira cheia, isto claro depois de terem resolvido acordar um tigre que dormia profundamente puxando-lhe os bigodes e saltando-lhe na cauda), o blog Y Kê que apresenta uma perspectiva muito interessante sobre as pequenas coisas que compõem o nosso dia-a-dia e o blog Abrupto, autoria desse muito respeitável senhor que dá pelo nome de José Pacheco Pereira, embora eu não me identifique plenamente com o dito indivíduo ou com o seu partido, o blog é bastante bom e nunca deixa de constituir uma leitura cativante. Mais actualizações provavelmente para breve! Ou talvez não...

Quanto ao resto, bem...digamos que face a uma hipotética visita alienígena (partindo do pressuposto que, para nos visitarem teriam uma tecnologia superior à nossa), uma de duas situações seria possível: 1- a sua inteligência superior, acompanhada por uma ética igualmente superior os levaria a irem-se embora sem quererem nada connosco; 2- achariam os Humanos tão ridículos e cómicos ao mesmo tempo que nos capturavam a todos e nos exibiam num gigantesco reality show no seu planeta natal, no qual a nossa ordem Humana iria vigorar dentro desta "casa" que é a Terra, ao mesmo tempo que seríamos vistos por telespectadores que poderiam votar a saída deste ou daquele país. Pessoalmente, isso não me incomodaria muito, tendo em conta que há certas coisas que precisam mesmo de ser expulsas. Mas também, é por pensamentos como este que os alienígenas nos achariam ridículos...

28.9.04

Olissipo

Nos últimos dias fiquei a saber que sou realmente bronco em matéria de tratamento de blogs. Não só consegui atirar com o arquivo e links para o fundo da página, em vez de os ter ao lado dos posts como seria normal de algo chamado "side bar" como não os consigo fazer regressar à posição original! Que raio!

Toda a gente que mora em Lisboa sabe que se há coisa que não falta a esta cidade, são problemas. Eu que moro aqui há 14 anos vejo ruas que ainda têm o pavimento em mau estado, prédios devolutos em zonas históricas (e não-históricas) que por pormenores burocráticos não são restaurados, perda de população todos os anos (em 1989 moravam cerca de 800 000 pessoas em Lisboa, actualmente são cerca de 570 000), falta de civismo de muitos dos seus habitantes, problemas de trânsito e de poluição, abandono de algumas zonas, sem falar na criminalidade que fervilha noutras. Enfim, se alguns pontos de Lisboa conseguem colocá-la lado a lado com outras capitais Europeias, outros há que são bem piores. Basta visitar outra capital da mesma dimensão para ver menos de metade dos problemas que referi.

Lisboa ainda consegue juntar a isto tudo o "visual de estaleiro de construção", tal não são as obras que por aqui se fazem, ou não se fazem, caso do Túnel do Marquês. A verdade é que há sítios em Lisboa que são muito maus de olhar e de viver. Na última edição do Expresso, é apresentado um plano de renovação urbana para várias zonas de Lisboa, entre as quais a zona de Belém, a Avenida da Liberdade, Santa Apolónia e a Segunda Circular. De acordo com o dito plano, a rede de tranportes em torno de Lisboa permite que se transforme a Segunda Circular numa avenida urbana, ladeada por lojas e estabelecimentos, a deslocação da estação de Santa Apolónia e requalificar a zona em redor, encerrar as faixas laterais da Avenida de Liberdade e preenchê-las com restaurantes e bares abertos por mais tempo, redesenhar a zona entre os Jerónimos, o CCB, a Torre de Belém e o Museu da Electricidade, etc.

Como seria óbvio, fiquei entusiasmado com a ideia e espero que o projecto seja aprovado. No meio de tanta confusão que se passa em Lisboa nada melhor do que ver um plano que propõe uma mudança no actual estado da cidade (uma mudança a sério, leia-se). Há bastantes falhas na infra-estrutura de Lisboa, não só no planeamento da cidade mas também nas construções. Basta dar uma olhadela a alguns locais da zona oriental, os bairros sociais que se fizeram em Chelas e em Marvila não têm razão de existir e tornaram aquele sítio - que é bastante grande - numa zona a evitar.

Embora o dito plano não faça referência ao sítio onde moro, que já é de si suficientemente feio e repelente, é impossível não mostrar o meu apoio pelo projecto. Nada custa mais do que ver esta cidade com tanto potencial a tornar-se num mero destino turístico.

23.9.04

E 2006 tão perto...

Graças ao nosso grande amigo, o aquecimento global, hoje podemos contar com 35º em Lisboa! Aliás, o aquecimento global é tão simpático e atencioso que a nível Europeu, vai fazer sentir os seus efeitos sobretudo em Portugal, mais do que noutros países! Quem é que diz que estamos na cauda da Europa em tudo?

Este fim-de-semana o PS vai realizar um congresso para eleger o seu novo Secretário Geral e com toda a certeza, o candidato a PM nas eleições legislativas de 2006. Como é visível pelos meus posts anteriores, sou completamente independente de toda a lógica partidária, principalmente deste sistema bicéfalo rotativo que impera em Portugal e que nos condena à alternância entre PS e PSD, com diferenças mínimas. No entanto, isso não significa que que eu esteja completamente alheio a estes assuntos, afinal, trata-se do partido que, concerteza, vai ganhar as eleições de 2006 (uma vitória do PSD daqui a 2 anos iria desafiar toda a lógica eleitoral dos Portugueses) logo, faz todo o sentido que eu acompanhe o processo.

De entre os candidatos - José Sócrates, João Soares, Manuel Alegre - todos apresentaram linhas diferentes de actuação. Se por um lado, Manuel Alegre parece querer reavivar o "socialismo" do PS - o próprio nome do partido é uma contradição, logo não há nada para reavivar... - João Soares apresenta uma linha mais de "ir ao encontro do que o público quer", ou seja, realça várias e várias vezes que a prioridade é derrotar a coligação governamental. Após ter tomado conhecimento dos respectivos programas, posso dizer que, a meu ver, Manuel Alegre pensa que ainda vive em Abril de 74. Se ele lesse isto (não sou opinion-maker, logo não tenho que dar satsifações) dir-me-ia que ele e os seus seguidores têm sempre presente o "espírito" do 25 de Abril, ao que eu responderia com "Não se trata de espírito, mentalidade democrática temos todos, trata-se de adequar um programa à realidade". Ou seja, por entre propostas que ele pretende que restaurem o socialismo do PS e medidas saudosistas de outros tempos, espero que não seja Manuel Alegre a vencer.

Depois, temos João Soares, o "filho do papá" embora ele diga que deteste este título. Negócios de família à parte, quem vive em Lisboa lembra-se do que foi a gestão autárquica deste indivíduo, desde o elevador para o Castelo aos prédios devolutos...Só por estes motivos, ele já não deveria vencer o congresso. Mas para mostrar que eu sou realmente independente vou mais longe. De acordo com o discrso de João Soares, a sua maior prioridade é derrotar a coligação PSD-PP e ele faz disso bandeira de campanha. Isto é uma coisa que me irrita particularmente porque indica uma pseudo-veneração daquele princípio que parece reger os actos eleitorais Portugueses e que é simplesmente "votar nos 'outros' para expulsar 'os que lá estão'". João Soares pretende assim vencer o congresso do PS e as eleições de 2006 por não ser a coligação. Quanto às suas propostas mais visíveis, a retirada imediata da GNR do Iraque não é nada mais do que uma medida populista e desprevenida. Faz sentido que o público Português não queira que os militares da GNR estejam presentes num local tão instável, mas o seu envio é resultado de um compromisso para com os nossos aliados e por mais ilegal que a invasão do Iraque tenha sido, o compromisso é para manter, pelo menos até os militares que se encontram presentemente no Iraque terminarem a sua missão. Finalmente, a perspectiva de acordos à esquerda com outros partidos é outra medida que me afasta, a perspectiva de um governo de coligação PS-PCP significa um retrocesso.

Quanto a José Sócrates, não é que tenha um programa que se possa considerar como "bom" (eu já nem sei o que isto é) para o PS e para o Estado Português mas consegue reunir o apoio de bastantes membros do partido, mais do que os outros candidatos. De acordo com as sondagens realizadas, será o vencedor do congresso embora eu não tenha a certeza se a vitória se deve a si e ao seu programa ou ao facto de não ser nem Manuel Alegre nem João Soares. Dos três candidatos é o que apresenta a visão mais realista - provavelmente devido à sua experiência de governo - e o que parece compreender que o PS não é um partido socialista como o nome indica mas sim um partido social democrata (claro que o PSD não é um partido social democrata!). Assim sendo, é também o candidato que, para alguém que não tem simpatia por nennhum partido político em particular, espero que vença porque afinal será concerteza PM em 2006, e antes José Sócrates do que Manuel Alegre ou - argh! - João Soares.
Tenho dito!

21.9.04

Não é surpresa nenhuma...

Impossível de ignorar nas últimas semanas aqui no rectângulo, o pseudo-início do ano lectivo provoca duas reacções em mim. A primeira é "Mas porque é que isto nunca acontecia quando eu andava na escola??Arrrrrrgh!!!!". A segunda é bem mais séria e infelizmente leva-me a integrar tudo isto na situação em que se encontra o Estado Português. É óbvio que este caos não é um caso isolado, não quero com isto dizer que esteja necessariamente inter-ligado a outros casos de incompetência (não elaboro teorias da conspiração, acho-lhes bastante piada mas não estou aqui para isso) mas enquadra-se definitivamente no "Estado geral" do Estado Português.

Parece-me bastante suspeito que se até este ano as colocações de professores decorriam com uma relativa normalidade, este ano é o caos completo que chega ao ponto de quase metade das escolas do país não poderem abrir por falta de professores. A justificação que até agora temos como "oficial", é que o Ministério da Educação recorreu a um novo programa informático encarregue de realizar o concurso, programa esse que foi utilizado por uma empresa que terá cobrado o preço mais baixo das cerca de 14 que responderam ao anúncio do ME. Pelo menos é o que consta...sem querer especular mais, isto é mais uma de várias situações que nos alertam para a necessidade de renovar a pesada administração pública Portuguesa.

Esta situação, que ainda está longe de terminar, é tão abrangente que concerteza tem imensos reponsáveis directos e indirectos. A ministra da educação não será uma culpada directa mas é a responsável política (o cargo de ministro da educação nunca é fácil) e até agora pela gestão que Maria do Carmo Seabra tem feito desta crise (ou falta dela) serviu para mostrar que não só ela não está na área que devia como não tem pulso suficiente para manter a ordem no seu próprio ministério, além de evidenciar uma séria falta de coordenação com os seus funcionários e pouco conhecimento da situação em causa. Basta olhar para as declarações da ministra que até ao dia de hoje avançava todos os dias com novas datas para a saída das listas de colocações, que nunca foram cumpridas à excepção da noite de ontem e por apenas 40 minutos.

Obviamente que ela deveria ser afastada do cargo e deveria levar consigo os funcionários superiores encarregues dos recursos humanos e, se ainda restarem alguns visto tratar-se de uma decisão do ministro anterior, os funcionários que escolheram este programa e que atribuíram a realização do concurso à dita empresa "barata".

Como eu disse, isto vai muito além de uma mera crise intra-ministério. É apenas um reflexo da organização e lógica de funcionamento que impera dentro do nosso aparelho de Estado. Um governo que não consegue controlar as acções do seu próprio ministério e cujos ministros não sabem sequer as informações que circulam dentro da sua pasta, atirando previsões ao público sem fundamento, não é um governo indicado para um país da Europa no século XXI.

Recentemente, a OCDE divulgou os resultados de um estudo sobre a educação nos seus Estados membros e associados. Algumas das conclusões desse estudo podem ser encontradas no site da OCDE: http://www.oecd.org/document depois encontrem-nas porque era muito grande p/colocar aqui sem perturbar o layout do Blog.

Como é visível após uma leitura rápida das tabelas, Portugal aparece entre os últimos da Europa em vários indicadores. O mau aproveitamento em relação aos outros membros da OCDE não pode ser apenas dos alunos e da aplicação dos programas. Como é que um ministério que não consegue sequer assegurar um lógica interna de funcionamento pode assegurar de forma eficaz a formação de capital humano? Se assim fosse, seria notável, mas como não é, não me surpreende.

17.9.04

O interminável e vicioso carrossel da nossa Humanidade

De vez em quando eu tenho umas dúvidas que se manifestam dentro de mim a um volume interno que não chega para me desviar completamente do que estou a fazer mas que periodicamente saltam para a minha frente e conseguem permanecer na minha mente durante meses e anos sem que na verdade sejam alguma vez esclarecidas. São as minhas dúvidas de estimação e vou agora exemplificar.

Toda a gente já reflectiu minimamente sobre o sentido da vida...e se nós na verdade não formos mais do que um sonho infinitamente complexo de uma criatura cuja existência está além da nossa compreensão? Podemos ser também nada mais do que uma "pequena" experiência de laboratório de um ser de dimensões exponencialmente superiores (não estou a falar de deuses, estou a falar de criaturas físicas) que se diverte connosco ou pelo contrário, está a fazer uma séria investigação científica? O que nos vai acontecer quando ele decidir terminar a experiência?
Afinal, somos ou não somos as criaturas mais poderosas e inteligentes que existem? Eu gosto de pensar que sim, eu tenho motivos para pensar que si, afinal de contas, criámos as estruturas que nos rodeiam e adaptámo-nos à natureza, conseguimos moldá-la à nossa espécie e prevenir muitas das suas características, criámos deuses e lançámos as sementes da nossa própria destruição física e mental ao fomentar guerras e ao propagar religiões. Logo, fará todo o sentido que sejamos, pelo menos até uma posterior descoberta, as criaturas mais complexas e poderosas que existem, até já extrapolámos as limitações do nosso pequeno planeta.

Assim, fará todo o sentido que a explicação para o dito "sentido da vida" não seja nada daquilo que nós imaginámos, nunca poderá ser reduzida a uma frase ou a uma pequena função. Desde que comecei a reflectir nesta questão que uma das explicações que mais plausível me parece está no círculo interminável que descrevemos há milhares de anos, procurando sem cessar uma explicação minimamente racional para a nossa existência neste mundo. Ou seja, existimos para tentar explicar a nossa própria existência, contudo, esta existência é tão complexa que o esforço necessário para a compreender plenamente ultrapassa a escala temporal da vida de qualquer Humano. Sendo tão complexa e quase "impossível" de atingir, a nossa existência não tem de forma nenhuma de ser limitada. Porque é que ainda existem tantos monolitos anacrónicos em todo o mundo, que afectam tanta gente? Porque é que ainda há Humanos cuja explicação para a existência implica submissão a outros que encaram a existência invertendo a premissa anterior?

Tal como não há uma equação unificadora da existência, não há uma fórmula simples para a compreensão. Os elementos mais representativos da existência Humana em todo o seu esplendor encontram-se espalhados pelo Mundo, no tempo e no espaço. Apesar das diferenças, estes elementos são na verdade, fáceis de encaixar uns nos outros, formando assim um dia, o puzzle que se julgava impossível de completar. Até agora, ninguém o conseguiu terminar, mas a verdade é que o que não falta no nosso mundo são elementos perturbadores que nos afastam. Ou será que não são assim tão perturbadores? Por mais irritantes que possam ser, há elementos que podem, até pela negativa, dar um valioso contributo para o puzzle.

Tendo em conta tudo isto, não faz sentido dar tanta importância a assuntos que só superficialmente é que são importantes. Os Humanos precisam de uma chamada, de um apelo geral que os alerte para a situação, situação essa em que a sua existência se arrisca a tornar numa longa e enfadonha linha recta nivelada por baixo. Talvez porque não se achem capazes de dar um contributo para a interminável busca de uma justificação da existência Humana, ou talvez porque os elementos externos são de tal forma perturbadores que os impossibilita. Contudo, um Humano nunca está completamente limitado! O cérebro Humano é o órgão mais denso e complexo que por enquanto conhecemos no nosso Universo e não deixa de funcionar mesmo nas situações mais adversas.

É quase certo que nenhum de nós chegará à conclusão final, mas todos podemos dar um valioso contributo. Eu gostaria de acrescentar a minha premissa ao puzzle: Nada é sagrado! Tudo pode ser desmantelado, decomposto, sondado, destruído, reconstruído com uma nova dinâmica, profanado, invertido, revolvido...acho que já me fiz entender. Nunca encarem nada como se fosse indestrutível e isto aplica-se tanto a estruturas físicas como a raciocínios mentais, opiniões, sistemas, códigos e tudo o mais que é conhecido. Sejam livres!

Dose dupla! Qual era o mal?

Estou a escrever isto fora de época, é verdade, mas o que é fora de época hoje daqui a uns meses já é "dentro de época" e...bem vocês perceberam!!

Ora bem, estão a ver o Natal? Agora imaginem o Natal multiplicado por dois! Era bonito não era?
Claro que era e é perfeitamente plausível porque não seria nenhuma contradição.
Para começar, o Natal é uma celebração do Solstício de Inverno, dia a partir do qual a noite começa a diminuir e a duração do dia começa a aumentar e que era celebrado tanto por Egípcios e Sumérios como por Celtas, Romanos e Normandos e do qual o actual Natal descende directamente.

A minha sugestão seria celebrar um outro "Natal" na noite de Solstício de Verão. Em vários países é celebrado no final de Junho aquilo que em Inglês se chama "Midsummer's Day", uma celebração solar, tal como o Natal e que tem tradição noutros países Europeus. Por estranha coincidência, estas celebrações têm lugar nos países em que a Igreja nunca alcançou tanto poder sobre a identidade cultural como em Portugal, que estranho! Estas celebrações estão na origem da identidade Europeia e colar-lhes em cima os ditos "santos populares" que sinceramente, não dizem respeito a nenhuma identidade é uma autêntica pseudo-sobreposição cultural. Mas voltando ao "Natal II" (nah, não se chamaria assim!), faz todo o sentido, as celebrações de
Solstício de Verão são quase tão importantes como as de Inverno e acontecem no início das férias de verão, dizem respeito a uma expressão da natureza que nos diz respeito a todos (afinal, o Sol é responsável pela vida na Terra) e é uma data tão importante como a do Solstício de Inverno.

É ou não é uma boa ideia? As celebrações de Solstício de Verão envolvem comer até empurrar com o dedo (óptimo!) e manifestações de apreço ao dito fenómeno natural, tal como no Solstício de Inverno, afinal o que é que nós fazemos em Dezembro além de nos empaturrarmos, trocar presentes e enfeitar as ruas&casas? Em Junho, o tempo é mais convidativo do que em Dezembro para sair à rua em festejos, por isso faria todo o sentido realizar uma celebração de Solstício de Verão no final de Junho, tal como os nossos antepassados faziam há várias centenas de anos. É uma forma de afirmação não só de identidade nacional mas de identidade Europeia, já que em todo o continente existem ou existiram celebrações semelhantes e acho que quase todos vão concordar comigo se eu disser que são bem mais interessantes do que uma cambada de padrecas a curvarem-se perante uma estátua de um "santo" qualquer que nem tem nada a ver com a nossa identidade.

Acho que no momento em que determinados conglomerados comerciais perceberem que um "segundo Natal" a meio do ano seria bastante rentável, a ideia ia imediatamente pegar...Os únicos sectores que se mostrariam perturbados são aqueles que têm que ser ignorados: a igreja e os seus sequazes ou vassalos, e nunca poderemos evoluir enquanto continuarmos a dar atenção excessiva a instituições retrógradas que apesar de não deterem poderes oficiais, continuam a exercer influência na identidade nacional.

Por isso, quem concorda com esta ideia que não se mostre com incertezas quanto a ela nem pense que é apenas uma desculpa para borgas, é uma questão de identidade cultural que deve ser recuperada.

15.9.04

Evolução

"evolução, s. f. acto ou efeito de evoluir ou evolucionar; sequência de movimentos concertados (de tropas, de navios, de dançarinos, de aves, etc.); sequência de transformações lentas, afigurando-se orientadas em certa direcção; desenvolvimento progressivo; (biol.) transformação lenta ou súbita (mutacionismo) de uma espécie viva em outra. (Do lat. evolutionē-, «acção de desenrolar»)."

Tal é a definição de "evolução" avançada pelo Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, 7ª edição. E julgava eu, na minha ingenuidade, que o movimento intrínseco que nos acompanha desde os primórdios da nossa espécie, se caracterizava por uma evolução constante e visível ao longo dos anos, quer no sentido biológico nas mutações sofridas pelos Humanos ao longo de milhões de anos, quer no sentido da nossa evolução política, económica, social e mental, visível dentro das organizações nas quais nos inserimos, vulgo Estados. Escusado será dizer que eu inseria a República Portuguesa nesta visão.

Ora, desde há umas semanas essa concepção desapareceu da minha vista. Há quem pense que o episódio de telenovela chamado "Barco do Aborto" que decorreu a 12 milhas da costa Portuguesa, no Conselho de Ministros e em salas de Tribunal foi exactamente isso, o executivo entendeu que não deveria deixar o navio entrar em águas territoriais nacionais e assim aconteceu. Eu não penso assim e na minha visão foi uma acção retrógrada, puritana e sem sentido.

Infelizmente, em Portugal não nos livramos do estigma do Estado Novo e da sua visão paternalista, de acordo com a qual o governo tem a responsabilidade não só de zelar pela integridade do Estado mas também de velar pelos códigos sociais vigentes, cujas premissas são observadas no território nacional. Vamos lá deixar os rodeios de lado, todos os Portugueses sabem que se realizam por ano milhares de abortos clandestinos em Portugal, todos nós sabemos que destes abortos, quem não pode pagar para ir a uma clínica fora do país devidamente equipada para os realizar, fá-los em más condições, podendo mesmo resultar na morte da mulher em questão. Ao impedir a entrada do navio, o executivo pretendia impedir a violação da lei Portuguesa. A lei Portuguesa em relação ao aborto proíbe a sua realização exceptuando em casos de perigo de vida para a mãe ou malformação do feto.

De acordo com as informações divulgadas nos meios de comunicação social, o navio iria navegar para águas internacionais onde seria aplicada a legislação do país onde o navio foi registado, ou seja, a legislação Holandesa. O executivo resolveu interpretar este transporte para águas internacionais - bem como uma "previsão" (futurologia....??) de que seriam administradas pílulas abortivas ilegais em Portugal a bordo do navio ainda em águas territoriais Portuguesas – como uma tentativa de violação da lei Portuguesa e então a decisão foi a de proibir o acesso do Borndiep às águas Portuguesas. Mais, foi ainda enviada a Marinha de Guerra para impedir que o navio trespassasse o limite das 12 milhas.
Ora, correndo o risco de me acusarem de não saber do que estou a falar, isto é tão louvável como impedir as viagens das cidadãs Portuguesas que se deslocam a Espanha para fazer um aborto - legal – porque afinal, se estabelecermos a devida analogia, transportar as mulheres até águas internacionais para realizar um acto ilegal em Portugal não será, à face da lei, a mesma coisa do que deslocar-se a um país onde uma outra legislação é aplicável para realizar um acto ilegal em Portugal? Eu não quero ser demasiado pessimista mas não me admiraria nada se durante o período de tempo em que um vaso de guerra da Marinha Portuguesa esteve a velar pela nossa lei, tivessem entrado carregamentos de droga ou até contingentes de imigrante ilegais pela via marítima. Parece-me que há ameaças bem maiores à segurança nacional do que um navio equipado com uma clínica onde se realizam abortos. É perfeitamente conhecido que os meios de que um Estado dispõe nunca são suficientes para atender a todas as prioridades, logo, fará todo o sentido definir quais os pontos a que o executivo deverá atender em primeiro lugar. Por isso, eu questiono seriamente a avaliação de prioridades feita por este executivo neste caso mediático.

Este caso, digno de uma telenovela ao qual só falta acrescentar um triângulo amoroso envolvendo Paulo Portas, a Holandesa dirigente da organização Women on Waves que é proprietária do navio e Francisco Louçã (não sei muito bem como é que os laços seriam estabelecidos, usem a vossa imaginação...) foi uma forma de o novo governo mostrar ao país que leva a sério a sua observação da lei Portuguesa. Não poderiam ter pelo menos escolhido uma lei um bocadinho menos retrógrada para impor?

Talvez o que se passou até tenha sido uma evolução, afinal, houve um movimento concertado de navios e de tropas em torno de algo, não foi? A utilização do conceito "evolução" afinal, tem tanto de sarcástica como de verdadeira!

PS: Este post foi aqui colocado deliberadamente num dia em que o dito caso já arrefeceu e surge nos media Portugueses apenas como uma leve reminiscência do passado recente.

7.9.04

Lista negra I

Todos temos países por quem desenvolvemos preferências especiais, ou porque somos fascinados pela cultura, pelo cenário, pela língua ou pelo povo, ou por motivos emocionais. Acho que não há uma única pessoa que não sinta simpatia especial por um determinado país, mesmo que nunca lá tenha ido.

Eu além de sentir tudo isto que escrevi acima, tenho ainda uma especial antipatia por alguns Estados, podem chamar-lhe uma "lista negra" de Estados que por vários motivos não me agradam e que na minha sincera opinião deveriam ter uma mudança completa de regime, não apenas dos indivíduos que ocupam o aparelho político mas de todas as orientações e agendas internas e externas. Estes motivos na maioria dos casos estão ligados a questões de Direitos Humanos mas não só, a conduta de alguns Estados é absolutamente reprovável a todos os níveis. Notem que eu digo "Estados", ou seja, o meu problema é com a construção política e com os indivíduos que a comandam, não significa que sinta a mesma antipatia em relação ao povo, à cultura ou à sua forma de vida. Aliás, o povo desse Estado é a maior vítima da má conduta deste e é quem mais beneficiaria com uma mudança radical do regime, para melhor, evidentemente.
A minha pequena lista negra, como é óbvio, baseia-se nas minhas preferências pessoais mas tenho a certeza que algumas pessoas iriam concordar comigo. As razões serão explicadas e apesar de tudo é uma lista bastante incompleta visto que os Estados mencionados são os mais flagrantes, se eu realizar uma investigação muito mais profunda e minuciosa com toda a certeza que encontraria novas aquisições. Ora cá vai disto!

Organizando isto por base geográfica, vou começar na minha cara Europa. Sim, mesmo no continente mais desenvolvido do Mundo há Estados com quem eu embirro, ora porque será?? A ordem dos Estados é arbitrária e esta frase não tem nada de sarcástica (a sério, não tem nada, não estou a gozar).

O primeiro Estado é assim, a Bielorússia. Esta ex-república Soviética tornou-se independente em 1991 e tem como capital a cidade de Minsk. Desde a independência que é liderada por um chefe de Estado autoritário, o presidente Aleksander Lukashenko que exerce o poder como se de um feudo próprio se tratasse. As eleições, quando existem, são viciadas, a imprensa é controlada e censurada e até as embaixadas estrangeiras foram alvo de uma tentativa de vigilância por parte do governo central, disfarçadas de reparações. Escusado será dizer que o senhor Lukashenko é um antigo "camarada" do PCUS que aproveitou a independência em seu próprio benefício e muito provavelmente como parte de um plano pessoal, tendo em conta o projecto de união entre a Bielorússia e a Federação Russa, visto que culturalmente os Bielorussos são muito chegados aos Russos. A concretizar-se, essa união entre os dois Estados iria abrir caminho ao presidente Lukashenko para governar o maior Estado do mundo, que se estenderia desde Vladivostok no extremo Oriente até às cidades fronteiriças de Grodno e Brest, junto à Polónia.

O meu segundo alvo no Velho Continente é incomodativo na proporção inversa do seu tamanho. Trata-se da dita Santa Sé, ou Vaticano, conforme quiserem. Este minúsculo Estado tem uma superfície de 0.44 km² e um número de habitantes fixos a rondar os 800, embora de vez em quando a Praça de S. Pedro se encha de pessoal a acenar bandeirinhas não sei muito bem porquê... Ora bem, o único Estado do Mundo que tem como língua oficial o Latim é também a única monarquia absoluta da Europa, uma "raça" de Estados que há muito se extinguiu nas outras regiões mais avançadas. O "rei" usa uma indumentária muito engraçada com um chapéu branco pontiagudo e nas suas deslocações utiliza um Mercedes modificado com uma espécie de carapaça transparente que o protege de projécteis que lhe possam atirar, como balas, aviõezinhos de papel, ovos ou bolos cobertos de creme. O que não tem piada são as actividades em que Estado se envolve. A partir de um pequeno espaço de arquitectura encantadora, a Igreja Católica puxa os cordelinhos das suas marionetas em todo o mundo e dita as formas como os seus fiéis devem encarar a sua religião. É este pequeno Estado que dispõe de uma riqueza incalculável mas cujas dependências têm a lata de fazer peditórios, que se recusa a ordenar mulheres e a reconhecer práticas perfeitamente normais e necessárias ao desenvolvimento como métodos contraceptivos e abortos e, para ridículo final, deu-se ao luxo de pressionar, em jeito de exigência, a União Europeia (organização da qual NÃO é membro) a incluir uma referência explicita ao Cristianismo no preâmbulo da futura Constituição Europeia, pedido que foi apoiado e repetido por governos de países religiosamente mais retrógrados como Portugal, Irlanda, Espanha, Itália e Polónia. É este Estado que comanda imensas dependências em todo o Mundo mas cujo chefe de Estado está num tal estado que não consegue articular uma frase. Será que o estado do Chefe de Estado reflecte o estado a que este Estado chegou? (escolha tortuosa de palavras, obviamente, intencional). O dito Estado nem tem razão de existência, a alegada "doação" do Imperador Romano Constantino, que decretou o Cristianismo como religião oficial do Império, abrindo assim caminho à decadência de Roma, nunca existiu, tendo sido forjada pela Igreja muito mais tarde, uma fraude admitida pela própria Santa Sé no século XIX. Estranhamente, nada lhe aconteceu. A única solução aceitável é a dissolução do Estado da Igreja e a sua incorporação na República Italiana, visto que a sua existência não tem sentido, algo impossível se tivermos em conta os governos de Itália e o poder que a Santa Sé tem sobre milhões de pessoas.

Saindo da Europa, vamos para África. Este continente é bastante complexo, sendo composto por bastantes Estados não-democráticos bastante instáveis com as consequências óbvias para a população local que raramente é beneficiada pela governação democrática e pela riqueza potencial que alguns dos Estados dispõem. Devido à rápida sucessão de governos neste continente, torna-se difícil elaborar uma lista de Estados que se caracterizem por pontos negativos. A minha escolha acabou por recair pelos Estados ironicamente mais estáveis, cujo tempo de permanência no poder permitiu-lhes executar as decisões que bem lhes apeteceu.

A inaugurar a lista do desorgulho, coloco a Líbia. É verdade que se trata possivelmente do Estado Africano que melhor qualidade de vida oferece aos seus cidadãos, mas é também verdade que o seu Chefe de Estado, o Coronel Khaddafi (não existe um consenso geral quanto à forma de escrever o nome) está longe de ser um líder democrático. A sua exuberância constitui uma forma de observar a sua governação, embora ele oficialmente falando, não disponha de quaisquer poderes, sendo que a Líbia se auto-proclama como uma República Árabe Socialista na qual não existem intermediários entre o povo, os meios de produção e o governo, ou seja, em teoria pertence tudo ao povo. Com toda a licença, isto é treta! Nenhum Chefe de Estado se mantém no poder durante mais de 35 anos sem fazer as suas acçõezinhas obscuras. Ah, convém não esquecer, este Estado esteve por detrás de várias acções terroristas, entre as quais um atentado em Berlim Ocidental e a tristemente célebre tragédia de Lockerbie em 1988 cujos principais suspeitos, dois agentes dos serviços secretos Líbios, começaram recentemente a ser julgados. Actualmente, o "senhor do poder" e Tripoli enveredou por uma estratégia de começar a ser bonzinho e anunciou o fim de todos os programas de armas de destruição maciça bem como de todo o apoio a acções terroristas, a fim de conservar o seu lugar antes que os EUA lhe apontassem as baterias, acção inteligente, diga-se.

Next, vem o Sudão, esse tão encantador país por onde o Nilo passa e que hospedou indivíduos tão nobres como bin Laden bem como outros respeitáveis senhores da al-Qaeda. Presentemente, dedica-se ao genocídio das populações não-Islâmicas, ao mesmo tempo que protesta veementemente contra as acções de Israel, como se tivesse alguma legitimidade para isso! A crise na famigerada região de Darfur está longe de ser resolvida e ainda não é conhecido o desfecho da situação mas não será concerteza pacífico, tendo em conta aquilo que o governo de Khartoum pensa das resoluções da ONU sobre o caso.

O próximo visado é o Zimbabwe, anteriormente conhecido como Rodésia. Este Estado da África Austral é liderado desde 1980 por um indivíduo de nome Robert Mugabe, já idoso mas nem por isso mais cauteloso com aquilo que faz. A administração de Mugabe, além de ser autoritária e de viciar eleições, prender sem acusação devida os activistas da oposição e encerrar os media independentes que se recusam a alinhar com o governo de Harare, ainda tem um toque que a distingue: trata-se de um governo marcadamente racista que recentemente lançou uma campanha de expropriação das terras dos fazendeiros brancos, que apesar de serem cidadãos do Zimbabwe, vêem-se expropriados das suas terras e meios de produção pelo simples crime de serem brancos, sendo as suas possessões entregues a grupos de "veteranos" cuja desastrosa gestão levou a um aumento da carência alimentar no país. Diga-se ainda que Mugabe é um confesso admirador de Adolph Hitler, o que é no mínimo interessante e mais interessante ainda é ver que este senhor não é alvo de acções internacionais oficiais devido às suas políticas. O presidente Mugabe sofre ainda de uma obsessão anti-Ocidental direccionada principalmente ao Reino Unido, antiga potência colonial e por quem nutre um especial ódio, que vai ao ponto de ameaçar e afirmar que nunca Londres exercerá poder outra vez sobre o Zimbabwe...mas quem é que teria interesse nisso?? Vai ao ridículo de há poucos dias ter ameaçado os recém-chegados embaixadores Britânico e Americano caso estes tentassem interferir com a política interna do Estado do Zimbabwe. Este senhor, além de necessitar de ser saneado, precisa de assistência psiquiátrica, algo não funciona muito bem!!

A seguir, temos Angola. Um antiga colónia Portuguesa, viveu cerca de 40 anos em Estado de guerra, ocasionalmente interrompida para depois ser retomada. À guerra colonial manipulada por potências estrangeiras (entre as quais, aliados de Portugal...) e que tantas vítimas causou dos dois lados, sucedeu-se um processo de independência no mínimo agitado e que levou à criação do Estado Angolano em Novembro de 1975. No entanto, a independência acabou por abrir caminho a uma guerra civil entre os diferentes movimentos que anteriormente tinham lutado pela independência. Quase 30 anos de guerra civil terminada recentemente deixam um território com uma infraestrutura praticamente arrasada e com milhões de minas anti-pessoais que todos os anos vitimam milhares de pessoas. Ironicamente, é um dos Estados mais ricos do mundo, dispondo de enormes reservas de petróleo e de vastos filões de ouro e minas de diamantes. Junte-se um governo altamente corrupto infectado por uma permanência no poder das mesmas figuras que preservam um nível de vida excepcionalmente alto enquanto que mais de metade da população não tem meios de sustento e temos um dos países mais pobres do mundo. Ao mesmo tempo, o governo não se limita a insultar descaradamente a população, como ainda exerce controlo sobre os media independentes e sobre os movimentos de oposição, sendo que o espectro de eleições viciadas é omnipresente. Não arrisco a fazer previsões sobre o possível futuro do país.

Podia ainda referir outros Estados Africanos, no entanto, o critério que eu utilizo é essencialmente o governo e/ou o aparelho de Estado. Nalguns Estados, os governos que seriam visados já foram derrubados – casos do Rwanda, Uganda e Libéria por exemplo, e nalguns casos é pura e simplesmente impossível encontrar uma entidade à qual se possam apontar responsabilidades, caso da Somália, na qual aquilo que se assemelha minimamente a um poder central tem um controlo mínimo sobre o caos que é o país.

Saltamos o Atlântico (a rota não tem muita lógica como já devem ter visto) e vamos ter a Cuba. Um Estado tantas vezes romantizado, talvez por representar um "ideal socialista" mesmo no quintal dos Estados Unidos e por ser o único Estado do Hemisfério Ocidental a enveredar pelo Marxismo-Leninismo. O seu líder, "El presidente" Fidel Castro, é detestado por uns e venerado por outros. No poder desde 1959 (isto é que é democracia!!), o senhor Fidel esteve até 1991 relativamente bem servido pela URSS que o sustentava. Fechada a torneira de Moscovo, o Estado Cubano abriu-se ao turismo e é hoje muito procurado pelas suas praias e clima, bem como pelo ambiente de Havana e todo o romantismo que rodeia a ilha. Eu não vejo muito romantismo num local que não permite a existência de media que não sejam pró-governamentais, que detém, prende por períodos longos, tortura e executa indivíduos por simplesmente serem de movimentos da oposição, como se passou recentemente numa acção que foi condenada por muitos sectores, até mesmo por José Saramago mas que no entanto, nada se ouviu do Partido Comunista Português. Cuba é um Estado podre e sofrer um embargo dos EUA há quase 40 anos, ainda que este seja ilegal, não significa que sejam imediatamente mártires. Se o povo Cubano vive nas condições que sabemos, isso deve-se ao aparelho de Estado e ao líder retrógrado.

Ainda no mesmo continente, vamos para sul, onde encontramos a Venezuela. Este Estado fundado por Simón Bolivar no século XIX tem nos últimos anos vindo a ser agitado pela contestação ao presidente Hugo Chávez. Este Chefe de Estado que provavelmente também é Chefe de Governo, pretende instaurar uma "revolução socialista" no país sem ter a mínima ideia do que está a fazer. Assim, o resultado é uma reestruturação desastrosa do país, cuja reacção óbvia foram protestos em grande escala da população deste país largamente desigual. O presidente parece ser um homem louco, que trata o cargo como se fosse uma brincadeira e é ao mesmo tempo um dos máximos ícones do populismo, acho mesmo que ele não ficaria nada mal numa daquelas exaltadas conversas de café em que ninguém se entende. Além de tudo isto, a oposição é intimidada pelo governo, as empresas são nacionalizadas à força e o país aproxima-se da ruína. O recente referendo que deu a Chávez a oportunidade de permanecer no cargo até ao fim do mandato em 2006 parece muito suspeito, apesar de ter sido aprovado por observadores internacionais.

Lista negra II

Saltamos mais uma vez de continente e vamos agora à Ásia, a última paragem.

Na Ásia, e em particular no Médio Oriente, é a Arábia Saudita que tem o privilégio de inaugurar esta subsecção desta lista da infâmia. O Reino da Arábia Saudita é um país enorme, coberto de areia na quase totalidade da sua extensão e encharcado em petróleo, sendo o maior exportador mundial deste recurso. É também o único Estado do Mundo que tem o nome da família real que o governa e é uma das últimas monarquias absolutas do planeta.
Apesar de toda a riqueza derivada do petróleo, é um dos países mais retrógrados do mundo. Não existe uma constituição, visto que o único documento tido como lei fundamental do país é o Alcorão, o sistema judicial é totalmente baseado no Islão e a lei aplicada é a Sharia, ou seja, é comum assistir-se publicamente a chicotadas, amputações e execuções. Os media, mais uma vez, estão sob controlo estatal, a contestação à família real é proibida, o "código moral" vigente proíbe as mulheres de saírem à rua sem estarem cobertas, é obrigatório observar o mês do Ramadão, mesmo para os estrangeiros e o toque final, o Islão é a única religião permitida, nenhuma outra crença é autorizada no país. Para juntar o "útil" ao "agradável", diga-se ainda que este Estado dispõe de uma polícia religiosa cujo objectivo é certificar-se que a outras religiões não entram no país e que o Islão não é alvo de "actividades anti-Islâmicas". A histeria moral chega ao ponto de, há alguns atrás durante uma feira internacional de turismo na Arábia Saudita, uma imagem de promoção de Portugal ter sido censurada por ser considerada "pornográfica", a imagem em questão era do Algarve e mostrava uma mulher de bikini...Já agora, há ainda que referir que neste Estado existem restrições de mobilidade, já que os não-muçulmanos não se podem deslocar à cidade sagrada de Meca.

Ainda na região do Médio Oriente, passamos para a República Islâmica do Irão. Ao contrário da Arábia Saudita, que é um regime amigo dos EUA, o Irão desde 1979 que tem o anti-Americanismo e em geral, o anti-ocidentalismo, na sua agenda. A revolução Islâmica de 1979 colocou uma teocracia de fanáticos no poder, substituindo uma monarquia corrupta e autoritária pró-Americana. Dito de outra forma, uma ditadura foi substituída por outra. O actual regime islâmico instaurou um código moral rígido que censura os media (lá voltamos nós ao mesmo...) e determina as condutas sociais da população, isto reflecte-se na obrigatoriedade das mulheres usarem um véu e na proibição do convívio entre homens e mulheres nalguns locais públicos, isto para não falar das óbvias consequências do regime sobre os produtos que chegam ao país... Há ainda que realçar que o líder supremo do país é um clérigo e que o regime patrocina alguns movimentos suspeitos, nomeadamente o Hezbollah do Líbano.

Deslocamo-nos mais para o Oriente e chegamos ao Myanmar. Este Estado, que até à década de 90 era conhecido como Birmânia e foi anteriormente uma colónia Britânica. O Myanmar é desde há alguns anos governado por uma junta militar que exerce um punho de ferro sobre o país. De certeza que já todos ouvimos falar da Aung San Suu Kyi, a dirigente da oposição vencedora do Prémio Nobel da Paz em 1991 e presentemente em prisão domiciliária. Trata-se de uma de muitas pessoas impedidas de exercerem os seus direitos no Myanmar. Sabe-se muito pouco do que se passa no país e o pouco que se sabe não é nada animador. Entre as várias particularidades do regime, estão os trabalhos forçados impostos a crianças no sector agrícola e da construção. De resto, a maioria da população vive na pobreza e obviamente o aparelho do poder está infectado pela corrupção.

Ainda no Extremo Oriente, o próximo visado é a República Popular da China. Exactamente, um país gigantesco e com 1,3 biliões de habitantes que ninguém se atreve a criticar oficialmente por ser o maior mercado do mundo e apontado como a maior potência global a par com os Estados Unidos dentro de 40-50 anos. A RPC é apenas uma etapa da História milenar da civilização Chinesa. Instaurada em 1949 após uma longa guerra civil e depois de ter passado pela Segunda Guerra Mundial, a RPC foi inicialmente liderada pelo "Grande Timoneiro" Mao Tse Tung, líder do PCC e que pretendeu realizar uma revolução comunista na China a partir da classe camponesa. O seu governo empreendeu uma série de medidas que tiveram consequências desastrosas para a infraestrutura e para a população. Entre estas incluíam-se o "Grande Salto em Frente" através do qual a China iria em 15 anos ultrapassar a produtividade industrial do Reino Unido e a "Revolução Cultural". Estas grandes ideias foram postas em prática sem qualquer preparação e impostas de tal forma aos cidadãos Chineses que quem não alinhasse com elas era executado. Assim, estima-se que mais de 50 milhões de pessoas terão morrido durante o "Grande Salto em Frente" não só da repressão das autoridades contra quem não se mostrasse cooperativo mas também de fome devido à má utilização dos instrumentos agrícolas e à descoordenação da produção agrícola e industrial. A "Revolução Cultural" foi lançada na década de 60 e pretendia acabar com a identidade cultural milenária da China, substituindo-a por uma identidade socialista através da imposição de doutrinas que destruíssem a cultura Chinesa. É óbvio que isto é impossível mas os chamados "guardas vermelhos", os soldados fanáticos que iriam desempenhar esta tarefa, tinham carta branca para fazerem o que bem entendessem e assim morreram milhões de pessoas durante estes anos por não colaborarem com a "Revolução". O regime de Mao terminou com a sua morte em 1976 e o seu sucessor, Deng Xiaoping resolveu abandonar a via socialista retrógrada e iniciar um ciclo de reformas capitalistas que dessem à China um lugar no mundo, e assim foi. As reformas ainda hoje são empreendidas e a China há cerca de 25 anos que apresenta taxas de crescimento a rondar os 8% ao ano, cada vez é um país mais rico e o investimento estrangeiro cresce a olhos vistos. No entanto, nada disto esconde os motivos que me levam a incluir a China nesta lista. O controlo populacional que impõe aos Chineses um filho no espaço urbano e dois filhos no espaço rural é rigidamente imposto, chegando ao ponto de recém-nascidos serem mortos ou abandonados (vai dar ao mesmo...) por não respeitarem a lei. Não existem media independentes, a liberdade religiosa dificilmente é respeitada e o Estado executa mais pessoas num ano que o resto do Mundo em conjunto. Não só a pena de morte é aplicada para uma enorme variedade de crimes como ainda existem execuções aplicadas com um tiro na nuca em que a família paga a bala. Junte-se a tudo isto um genocídio cultural no Tibete que dura há mais de 50 anos caracterizado por uma ocupação violenta de início e agora por uma esterilização forçada das mulheres Tibetanas bem como repressão da cultura local e a ameaça constante sobre Taiwan que tem toda a legitimidade em não se pretender ligar ao continente, e estão aqui os motivos que me levaram a incluir a República Popular da China nesta lista.

Finalmente e para fechar com chave de ouro, a Coreia do Norte. Tendo como nome oficial "República Popular Democrática da Coreia", esta divisão artificial da península Coreana foi criada em 1953 após a trégua da Guerra da Coreia, ficando no norte da península um governo pró-URSS e apoiado pela China ao passo que no sul, foi instaurado um regime pró-Americano. A partir desse ano, o poder foi entregue ao presidente Kim Il-Sung que esteve à frente dos destinos do país até à sua morte em 1994. O presidente Kim orquestrou aquela que é provavelmente a máquina de propaganda mais minuciosa e concerteza mais doentia já vista em qualquer regime do século XX. Chegando ao ponto de ser um regime mais Estalinista do que o próprio regime de Estaline, a Coreia do Norte foi reconstruída de raiz tendo como meta um Estado 100% comunista organizado em torno do partido cuja máxima expressão e ideal estaria personificada no "Grande Líder" Kim Il-Sung. A doutrina do presidente ia muito além dos aspectos políticos, Kim Il-Sung delineou todos os códigos políticos, económicos, culturais e sociais que os Norte Coreanos deveriam seguir. Todos os aspectos da vida quotidiana do cidadão Norte Coreano foram assim abrangidos pela ideia "Juche", o nome com que foi baptizada a doutrina de Kim Il-Sung. Aliado de uma máquina de propaganda gigantesca e de um militarismo exacerbado, Kim Il-Sung chegou assim ao estatuto de lendário dentro do seu país. A sua promoção era de tal forma importante que se tornou obrigatório ter pelo menos dois retratos do líder em cada lar e espaço público Norte Coreano. A sua morte em 1994 de início levantou esperanças numa mudança de regime mas ele apenas foi sucedido pelo seu filho, Kim Jong-Il, que além de sofrer do mesmo síndroma político do paizinho, ainda aparenta uma irracionalidade mental e uma excentricidade que não vai nada em linha de conta com o país. Assim, na infeliz Coreia do Norte, existe uma pequena classe privilegiada – a elite política e militar – que vive luxuosamente com toda a classe de bens importados do Ocidente e com acesso a tudo o que os restantes cidadãos não têm, ao passo que o resto da população está condenada a faltas periódicas de comida – o que leva à dependência da ajuda internacional – escassez de bens de qualquer espécie, uma economia virtualmente paralisada e um controlo apertadíssimo sobre a vida pública e privada. Qualquer comentário negativo sobre o governo é imediatamente punido com uma detenção e possivelmente uma ida para um campo de concentração onde se encontram milhares de prisioneiros políticos e os seus familiares, mesmo que não tenham cometido crime algum. Trata-se de um Estado quase surreal no qual o indivíduo não é quase nada e no qual o Estado pouco ou nada faz para a sua protecção. É sem dúvida um sério candidato ao título oficioso de "país mais infeliz do Mundo". Ah, a propósito, tem um programa nuclear que recentemente foi agitado pelo regime como forma de obter compensações em troca da sua desactivação.

Assim encerro esta lista da infâmia. Como eu já disse, não é exaustiva, se eu fizesse uma investigação mais profunda de certeza que encontrava mais países para aqui referir, no entanto acho que estes já chegam.

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