29.3.06
O Universo encontra-se em expansão permanente – para onde? Para regiões fora do Universo? Como se chamam? O que existe nelas? Ou melhor dito, serão de uma existência física ou metafísica?
O espaço e o tempo começaram no Big Bang – como? O que existia antes?
Não existia o "antes" – porque não? Qual era a ordem vigente pré-Big Bang? Foi o Big Bang uma "invenção" da gravidade?
O Universo pode expandir-se até um ponto a partir do qual se começa a contrair, é o chamado Big Crunch – e o que acontece então às regiões periféricas?
O espaço-tempo é curvo – um objecto que seja enviado para o espaço profundo, mantenha uma velocidade constante e prossiga na mesma direcção pode regressar ao ponto de partida?
A existência de um buraco negro no centro da Via Láctea é possível – será a atracção face a uma zona de gravidade demasiado elevada para permitir o escape de uma entidade que lá entre a razão da existência da nossa galáxia e dos sistemas solares que nela se encontram?
Para escapar da atracção exercida por um buraco negro é necessário que a entidade em causa tenha uma velocidade superior à da luz – qual é então, a entidade mais veloz do Universo?
28.3.06
A linguagem da "elite"...
-Senhor professor, aproveito para saudar a sua brilhante intervenção e congratulá-lo pelo seu excelente raciocínio.
- Oh, senhor doutor, eu é que lhe agradeço a grande honra de poder expor aqui o meu pensamento.
- De facto o senhor professor elaborou uma exposição excelente, trata-se de um pensador de primeira linha.
- Muito obrigado senhor doutor e aproveito para saudar a brilhante obra do senhor doutor, que pode ser encontrada em qualquer biblioteca.
- Eu é que agradeço, senhor professor, por nos ter vindo aqui iluminar com o seu pensamento, tamanha explanação só poderia ser elaborada por uma individualidade com a capacidade do senhor professor.
- O senhor doutor é igualmente uma figura de renome, aliás, eu tenho todos os seus livros numa estante na minha sala em lugar privilegiado (aquela que aparece no fundo quando eu falo para a televisão).
- Ora senhor professor, não me deixe embaraçado. Saiba que eu todos os dias antes de sair de casa folheio as suas obras e procuro conhecimento na sua escrita brilhantemente elaborada.
- Não seja modesto, senhor doutor, saiba que eu todos os dias falo do senhor doutor aos meus alunos e se algum deles não conhece a sua obra, é imediatamente chumbado.
- Fico muito agradecido senhor professor, mas saiba que no meu local de trabalho eu estou sempre a falar do senhor professor e da qualidade inigualável da sua obra, aliás, eu só tenho conversas profundas com indivíduos que conhecem a obra do senhor professor.
- Agradeço-lhe igualmente, senhor doutor, e fique desde já a saber que na minha vida pessoal, passo grande parte do tempo a falar da obra do senhor doutor à minha esposa e aos meus filhos.
- Ora, senhor professor, está a ser demasiado gentil comigo, saiba que eu todos os anos leio cada obra do senhor professor duas vezes, no caso de me ter esquecido de alguma coisa importante.
- Ora, senhor doutor, agora sou eu que me sinto embaraçado. Sabe que todas as noites antes de adormecer, eu cito sempre uma frase sua à minha esposa antes de adormecermos.
- Pois saiba senhor professor, que eu já deixei um casamento porque a minha esposa não conhecia a fundo a obra do senhor professor, ela apenas tinha lido os resumos.
- E saiba o senhor doutor que eu já apliquei um murro na minha esposa e um pontapé no meu filho por eles terem interpretado erroneamente uma premissa da obra do senhor doutor.
- Não me deixe assim, senhor professor, que eu já mandei até fazer um cofre blindado de abertura retardada para guardar a obra completa do senhor professor, não vá acontecer alguma desgraça e eu ficar sem casa.
- Ora senhor doutor, eu em minha casa quando rezo não preciso de nenhuma Bíblia, preciso sim da obra do senhor doutor, que vale muito mais do que qualquer "escritura sagrada".
- Oh, senhor professor, está a envergonhar-me, eu não chego aos seus calcanhares, saiba que por a minha esposa ter mudado de assunto quando eu falava do senhor professor, estivemos de costas voltadas durante 30 dias.
- Olhe senhor doutor, eu e a minha esposa estivemos de costas voltadas durante 60 dias por eu preferir ler a sua obra a conversar com ela.
- Saiba então senhor professor, que o meu filho mais velho já se tentou suicidar por eu passar o tempo de roda das suas obras e não lhe dar atenção.
- Ora senhor doutor, a minha filha suicidou-se há seis meses porque eu passava tanto tempo com a sua obra que já não me lembrava do nome dela...como é que ela se chamava...a coisa?
- Senhor professor, ontem a minha esposa largou tudo e disse que ia para casa da minha sogra porque eu só falava do senhor professor dia e noite.
- Ora senhor doutor, não me deixe embaraçado, a minha esposa hoje pediu o divórcio porque diz que eu estou mais interessado em si do que nela.
- Oh, senhor professor, a minha esposa disse-me que nunca mais me queria ver e hoje vi-a a atirar-se a tudo quanto era marmanjo porque eu já mal falava com ela.
- Senhor doutor...está a pensar no mesmo que eu?
- Senhor professor, concerteza que estou! Faça amor comigo, neste momento, aqui mesmo, neste auditório, em frente a este público!
- Senhor doutor! Tenha vergonha, pensa que eu sou o quê? Um lenço de papel de usar e deitar fora? Fique a saber que eu sou um indivíduo com princípios e com integridade que não é corrompível dessa forma vil e baixa! Comigo só pode haver beijinhos e abraços na primeira saída.
- Mas senhor professor, julgava-o um homem divino, afinal, estou a ver que dificilmente chegaria ao Prémio Nobel.
- Senhor doutor, começo a ver pelo que sai da sua boca que afinal não é nada estranho que nunca tenha chegado a catedrático.
- O senhor professor pode estar cheio de títulos mas não significa que esteja cheio de bom senso e de que seja uma pessoa consciente.
- O senhor doutor gosta muito de fazer propostas arrojadas mas em meu entender é um profissional apenas ligeiramente acima da média.
- Ora, senhor professor, a sua cátedra afinal é numa universidade privada de segunda categoria onde qualquer labrego faz um curso com média de 14 a meter coisas que o senhor professor diz na cabeça, assim também eu!
- Ora, senhor doutor, eu sei e o senhor doutor sabe também, que o senhor doutor só chegou aonde chegou por causa dos seus conhecimentos, senhor doutor, caso contrário o senhor doutor estaria aos 50 anos a atender telefones senhor doutor.
- E o senhor professor, que só escreveu uma obra original e limitou-se a copiar tudo da mesma e a fazer acrescentos, como quem escreve para um jornal tablóide?
- Senhor doutor, tenha cuidado com o que diz, porque eu sei que o senhor doutor concluiu o ensino superior completamente à rasca!
- Tenha paciência, senhor professor, porque eu sei que se o senhor professor não tivesse feito uns "servicinhos" ao director da sua faculdade, nem a licenciatura teria acabado.
- Oh senhor doutor, veja como fala, porque o senhor doutor é um indivíduo com uma falta de conhecimentos gritante
- Deixe-se disso, senhor professor, porque a sua capacidade de argumentação está abaixo da de um aluno da sua faculdade, o senhor nem conseguia levar a melhor perante um aluno de uma turma de ensino especial do 5º ano!
- Oh senhor doutor, pare de dizer parvoíces porque o senhor doutor não passa de um simplório.
- Não se arme em esperto, senhor professor, afinal o senhor professor não tem capacidades nem para ensinar uma ovelha a deixar-se apanhar por um lobo!
- Oh cretino, vamos lá ver uma coisa, aqui o professor sou eu, tás a topar?
- Mas queres o quê, oh meu mariconço universitário, queres que eu te beije a mãozinha lá porque tens 500 atrasados mentais a lamberem-te as botas e a copiarem o que tu dizes para as folhas de exames?
- Não tarda nada tás a encher com uma na tromba, meu grandessíssimo anormal, que é para veres o que é a hierarquia, tu amochas o que eu digo porque eu sou catedrático, tás a assimilar?
- Vê lá se queres que eu te enfie aqui o meu sapato italiano entre as tuas nádegas universitárias, que é para veres a diferença entre o que ser catedrático numa universidade de segunda e ser presidente do conselho de administração de uma empresa como a minha, onde ganho 100 000 euros por mês e tenho um exército de escravos a fazerem-me as vontades todas.
- Ah é? Ah é? Queres resolver isto no corredor, meu grande panasca? Queres ver o que é levar com um soco catedrático na tromba e ficares sem dentes para administrar?
E por aí fora...
25.3.06
Vejam se percebem, eu não falo chinês!
Já todos ouvimos centenas de vezes que dentro de 40-50 anos, a República Popular da China vai ser a maior economia mundial, com o maior mercado do Mundo e com o maior número de consumidores à face da Terra. Este premissa baseia-se numa taxa de crescimento invejável que ronda os 9% ao ano desde 1978 e que permitiu à RPC multiplicar o seu PIB por cinco (ou até mais, não tenho a certeza) nos últimos trinta anos, no aumento exponencial do consumo de bens ocidentais naquele país, na subida de rendimentos de cerca de trezentos milhões de chineses e no aparecimento de uma classe média no país, juntamente com a expansão militar de Pequim e a sua captação de investimento estrangeiro que tornou cidades como Pequim, Nanjing, Guangzhou, Xian e Shenyang em locais irreconhecíveis desde a morte de Mao Tse Tung em 1976.
"A China é o futuro", parece ser a mensagem e de facto é o que nos fazem acreditar, uma vez que dentro de 50 anos estaremos muito mais dependentes (do ponto de vista económico) da RPC do que agora. Ao contactar com tais informações, pergunto-me se as pessoas que as redigiram fizeram uma análise puramente quantitativa ou se de facto reflectiram nas questões que a tão apregoada "globalização chinesa" levanta mas que passam largamente ignoradas.
Actualmente, a China é a sexta maior economia do Mundo, em 2005 ultrapassou a Itália e tudo indica que nos próximos anos, o seu PIB vá ultrapassar o da França e o do Reino Unido. Informação quantitativa, claro, uma vez que a Itália, com cerca de 58 milhões de habitantes não fica desprestigiada por o seu PIB ser ligeiramente inferior ao da RPC, com 1300 milhões de habitantes. Aqui está a primeira falha. Uma leitura completamente quantitativa deste indicador pode tornar-se numa cortina de fumo, ou se quiserem, num falso ídolo, uma vez que de pouco servirá à China possuir o PIB mais elevado do Mundo dentro de algumas décadas se a população atingir os 1500 milhões (o número previsto para a estabilização da população chinesa) e se o segundo maior PIB do Mundo se encontrar nos EUA que poderão ter uma população a rondar os 350-380 milhões. Ainda no campo dos números, o PIB per capita, um indicador ridiculamente abusado para medir a qualidade de vida da população, uma vez feita a conversão em unidades PPP, ronda os $6000, ou seja, aproximadamente 5000 Euros. Porém, o rendimento médio dos cidadãos chineses ronda os $1500 por ano, o que constitui uma disparidade de 75% no valor do PIB per capita PPP, mais uma falha para os que apenas analisam os números. Sim, sim, claro, o nível de preços é muito mais baixo na China do que na Europa ou nos EUA. Mas não nos dizem que os consumidores chineses estão cada vez mais exigentes ao nível da qualidade dos produtos que adquirem?
Prosseguindo, nunca as desigualdades sociais na China foram tão grandes. Estes valores que apresentei à pouco apenas valem no plano teórico, uma vez que é possível encontrar em Shanghai chineses com um rendimento na ordem dos $10000 por ano e no interior da província de Sichuan podem-se encontrar agricultores com um rendimento na ordem dos $500 por ano. Os salários médios na China rondam os $150, o que apenas reforça a ideia de que a China se expande à custa de mão-de-obra barata, de uma população activa muito numerosa e da ausência de mecanismos de protecção social que se encontram em países desenvolvidos. De facto, uma grande fatia deste desenvolvimento exponencial que a China conheceu, é constituído por unidades fabris que empregam milhares de trabalhadores cujos salários oscilam entre os $100 e $200 mensais e cujos produtos acabam nas superfícies comerciais ocidentais. Há ainda que ter em conta que dos 1300 milhões de chineses, cerca de 900 milhões vivem na pobreza e, ainda que o PIB cresça 9% ao ano, as desigualdades sociais agravam-se desde há dois anos para cá, não se prevendo para breve que estas deixem de crescer.
Continuando, há quem diga (entre a comunidade dita "esclarecida") que a China prepara-se para atingir em menos de 50 anos o que os países ocidentais atingiram em mais de 200 anos, ou seja, industrialização e desenvolvimento económico. Vou agora sair do plano dos números e afirmar o seguinte: considerar que a China atingirá em 50 anos o que os países ocidentais (suponho que com esta expressão queiram dizer o Reino Unido, os EUA, a França e a Alemanha) atingiram em 200 anos é relegar o património daqueles países a um plano meramente económico e numérico. Mais, reconhecer essa vantagem à RPC, é esquecer pura e simplesmente os compromissos de desenvolvimento sustentável, de respeito pelo meio ambiente, de governação democrática e de cumprimento dos Direitos Humanos. Dito por outras palavras, é reconhecer que o ocidente esteve errado em aplicar medidas que para nós são sagradas, como a liberdade de imprensa, de associação, de religião, igualdade perante a lei, preservação do meio ambiente e humanização do trabalho, uma vez que o patamar aonde com elas chegámos em 200 anos vai ser ultrapassado pela China em 50.
Não consigo imaginar uma superpotência (cenário previsto para a China por volta de 2050) onde a maioria da população vive na pobreza, onde um cidadão pode ser executado em público com um tiro na nuca, onde as actividades de carácter político são fortemente restringidas e onde um utilizador da internet não possa escrever a palavra "democracia" na barra de pesquisa do Google sem ver uma página de erro no écran. O mundo ocidental está a vergar-se totalmente perante a China, uma vez que um mercado com 1300 milhões de consumidores (ok, só uns 15% deles é que têm algum poder de compra...) é demasiado apelativo para poder ser esquecido. Em nome do out-sourcing, de redução de custos, do aumento de produção e do acesso a um mercado tão grande, o Tibete continua arredado dos fora internacionais, Taiwan continua a ser um autêntico estado-pária, os cerca de 10 000 condenados à morte todos os anos dificilmente vão ser alvo de atenção e os Jogos Olímpicos de 2008 vão para Pequim, num país que vai contra tudo o que o ideal olímpico representa.
23.3.06
Guerra civil? Desde quando?
George W. Bush afirma que não está em curso nenhuma guerra civil no Iraque. Todos sabemos o que as suas frases valem. Porém, talvez as suas declarações não sejam assim tão vazias de conteúdo como os atentados diários e o número elevado de mortes violentas no país nos possam levar a pensar. Ao fim de 3 anos de conflito, posso dizer com toda a certeza do Mundo que George W. Bush não sabe o que é uma guerra. Não compreende o conceito de conflito e, na menos honrosa tradição Hollywoodesca [desagrada-me muito ter de recorrer a esta figura], vê uma guerra como um conflito armado entre duas ou mais facções que se encontram politicamente organizadas e com objectivos de liderança sobre o teatro de guerra, ou seja, sobre o Estado em guerra. No entender de George W. Bush, seria necessário que viessem a público duas ou mais facções armadas e proclamassem, a nível oficial com todo o aparato necessário, que estavam a desencadear operações militares com o objectivo de assumir o poder político sobre o Iraque, ou seja, conquistar o Governo e o Estado pela força.
Logo, orientando-se por esta definição sagrada, George W. Bush tem razão quando afirma que não está a decorrer uma guerra civil no Iraque. Afinal, o Presidente dos EUA tem uma margem de manobra bastante estreita neste assunto. Afirmar que o Iraque está em guerra civil seria uma incongruência no seu discurso, uma fuga da orientação dogmática que Bush faz dos conceitos relacionados com a administração nacional e com a responsabilidade de uma superpotência. Esgotaria todo o seu capital moral ao afirmar que "o Iraque está em guerra civil" quando ao mesmo tempo diz que "os EUA estão a implementar uma estratégia no terreno com o objectivo de democratizar e pacificar o Iraque". Não foi afinal este Presidente que em Maio de 2003 afirmou com toda a confiança e orgulho num porta-aviões "Mission accomplished"? Assim sendo, e contra o que diz Iyad Allawi, apesar de todos os dias dezenas de civis iraquianos morrerem uma morte violenta, o Iraque não se encontra em guerra civil. Encontra-se sim em estado de guerra desde 1979, ano em que Saddam chegou ao poder, ao qual se seguiram oito anos de guerra com o Irão, um breve interregno até Janeiro de 1991, um conflito de cem dias que afectou gravemente a infraestrutura nacional, doze anos de sanções económicas, um regime totalitário que pune com a pena de morte os mais ligeiros desviacionismos de carácter político e que se viu substituído em 2003 por uma ausência de facto de poder e um quotidiano dominado por atentados terroristas desde então.
18.3.06
Reféns de tudo o que possamos imaginar
Somos reféns....é a nossa inevitável situação, da qual é quase impossível escapar. Por mais voltas que tentemos dar, somos reféns e dificilmente o deixaremos de ser.
Somos reféns do Governo e do que este decide, a nível fiscal e da política de emprego, bem como ao nível do Serviço Nacional de Saúde, uma vez que do bom funcionamento deste depende a nossa sobrevivência nas piores situações.
Somos reféns da banca, que graças aos seus empréstimos consegue manter o Estado [entidade que emprega mais de 700 000 portugueses] em funcionamento e confere às empresas pequenas, médias e grandes alguma margem de manobra na esfera financeira, para não falar dos milhões de portugueses que têm contraído dívidas àquele sector.
Somos reféns de Espanha, que graças à sua vantagem estratégica sobre Portugal não só consegue reduzir significativamente o caudal dos rios internacionais quando uma seca extrema afecta o seu território como detém uma margem de manobra quase total sobre a nossa soberania alimentar e ainda controla um número elevado de empregos em Portugal.
Somos reféns dos principais accionistas da banca portuguesa, que tomam posições quanto à sua orientação estratégica que podem comprometer o futuro dos seus clientes, através do encerramento de balcões, de fusões e de estratégias de expansão que podem afectar, negativa ou positivamente, o futuro de um grande número de portugueses. Já para não falar dos depósitos off-shore nos quais os bancos portugueses depositam uma parte significativa dos seus activos.
Somos reféns da União Europeia, cujas orientações determinam uma parte significativa da estratégia e administração nacional, através das suas decisões, regulamentos e directivas que são frequentemente invocadas por sucessivos Governos para cobrir as suas acções de consequências negativas.
Somos reféns da Rússia, cuja vantagem no que diz respeito aos recursos energéticos pode fazer vacilar o equilíbrio europeu e, Estado atrás de Estado, condicionar as suas opções. Embora Portugal não esteja directamente ligado àquele país pela via do gás natural, uma posição de força tomada por Moscovo afectaria sempre de forma indirecta o nosso país.
Somos reféns dos Estados do Golfo, muito por culpa da nossa ineficácia na implementação de fontes de energia além das tradicionais [carvão, petróleo, gás natural], que através da exportação do petróleo conseguem fazer tremer os seus importadores, como foi visível no choque petrolífero de 1973, o que significa que a nossa estabilidade está dependente das decisões tomadas por um círculo de indivíduos fundamentalistas que se reúnem algures no deserto.
Somos reféns da China, cujo crescimento acelerado nos últimos anos leva a que todos os entendidos a considerem como a superpotência do século XXI, levando a relações vergonhosas entre Estados ocidentais que se afirmam como garantes dos Direitos Humanos e que se vergam à vontade da República Popular da China, Estado que não quer nem ouvir falar do assunto. Até Jogos Olímpicos em Pequim vão ter....
Somos reféns da religião organizada, que graças à forma como se implantou nas mentes individuais de cada um e na mente colectiva da esmagadora maioria da Humanidade se conseguiu afirmar como inevitável à nossa existência e se impôs como a única força capaz de sustentar a existência transcendental do Ser Humano, quer seja sob a forma do Cristianismo, sob a forma do Islamismo ou sob outra denominação qualquer e que consegue mobilizar milhões de indivíduos, como se de um rebanho de ovelhas sem cérebro se tratassem...
Somos reféns de nós próprios, uma vez que não existe nenhuma forma de vida mais poderosa que o Ser Humano, e sempre o seremos enquanto nos virmos como sobreviventes de uma existência diária e nos submetermos a tudo o que nos convencemos que é necessário.
De quem NÃO somos reféns, afinal? Das Nações Unidas não somos de certeza, uma vez que, infelizmente, aquela organização não é levada suficientemente a sério para que detenha algum poder a nível global. Tal como também não somos reféns da paz ou da prosperidade, muito menos reféns da felicidade... Seria sem dúvida motivo de orgulho poder deixar de ser refém, sem que para isso seja necessário deter uma fortuna incalculável, nesse caso continuaríamos a ser reféns de algo.
10.3.06
Terra Brasilis e o fascínio do português (se ele soubesse)
A revista VISÃO desta semana oferece um suplemento inteiramente dedicado ao Brasil. Dentro daquele suplemento são apresentados locais daquele país vistos como idílicos por quem os retrata, quer seja pela imagem, quer seja pelo texto. Como todos os documentos de carácter turístico, é uma bela obra de propaganda destinada a vender o maior país da América do Sul. O título do suplemento é "Brasil de Sonho – 10 lugares a visitar pelo menos uma vez na vida", nas suas páginas vemos espaços dedicados a Salvador da Bahia, Amazónia, Rio de Janeiro, Olinda, Ouro Preto, Fernando Noronha, Caraíva, Jericoacoara, Ilha Grande e Paraty. Viver em Portugal tem riscos, ser bombardeado com propaganda pró-Brasil nos media é um deles. Insuspeitamente, um dos patrocinadores do suplemento é a agência Halcon Viagens, o que explica que na página 41, o anúncio [à dita agência] seja dominado por uma foto do Museu Guggenheim de Bilbao. É apresentado naquelas páginas um retrato do Brasil como se de um verdadeiro paraíso terrestre se tratasse, um local onde qualquer defeito é qualidade, onde a nossa mente sofre uma inversão de escala e de repente tudo parece belo e convidativo, o Rio de Janeiro é mesmo considerada a cidade mais bela do mundo, apesar de nas fotos aparecerem edifícios que mais parecem caixotes de cimento e uma favela que corresponde aos piores estereótipos possíveis, numa altura em que nos chegam notícias de uma acção em grande escala das tropas federais brasileiras para recuperar armas roubadas pelos barões da droga que vivem naqueles bairros em autênticos mundos paralelos. Sem dúvida alguma, a cidade maravilhosa. Apenas gostava de saber porque é que a ilusão da Terra Brasilis provoca um efeito quase anestético no português médio, levando-o quase a babar-se quando ouve falar daquele país, um dos mais ricos do mundo mas onde quase 50% da população vive na pobreza. Gostava de saber o que vê o público de um país desenvolvido naquele contraste doentio que caracteriza o Brasil onde um multimilionário com uma influência incalculável vive a menos de 30 minutos de milhares de pessoas que sobrevivem em condições sub-humanas. Gostava ainda de saber como é que o marketing do Brasil tem tanto sucesso em Portugal e porque não existe uma semelhante atracção por outros destinos. Como é que depois de décadas de ignorância, subitamente o português médio descobriu que a sua grande ambição é descobrir o Brasil? E como é que o brasileiro médio descobriu que pretende emigrar para Portugal? Eu posso ser português mas não sou um português médio ao nível da psique nacional, logo, não sou fascinado pelo Brasil e apenas sinto atracção pelo local que, aparentemente que ninguém deseja conhecer: Brasília, a capital com uma estética pós-futurista inaugurada em 1960 como uma experiência arquitectónica que ainda hoje parece algo nebulosa.
Células cancerígenas num tecido saudável
Vivemos em democracia – o Estado não é autoritário, elegemos os nossos representantes de forma livre e transparente, dispomos de instituições que desempenham os poderes legislativo, executivo e judicial sem promiscuidade, as forças da autoridade não maltratam os cidadãos, a impressa não sofre coacção por parte do poder político, a actividade religiosa não é restringida nem castigada, temos liberdade de associação, de expressão, de pensamento e de voto. Todos estes pressupostos, conseguidos a grande custo ao longo de séculos que conheceram avanços e recuos na sua progressão, estão consagrados na Constituição da República Portuguesa e são inalienáveis.
Qual será então o destino legal de um partido político cujo programa elege como objectivo a substituição da actual democracia representativa por um regime autoritário? A Constituição proíbe explicitamente a formação de partidos políticos e/ou associações de perfil fascista, colonialista e/ou racista, bem como partidos que contenham elementos ou expressões directamente relacionados com religiões ou igrejas, o que exclui imediatamente qualquer partido de ambições teocráticas. Vamos então supor o seguinte: é formado um partido político que não é de inspiração fascista, que não dispõe de um carácter racista nem favorece o colonialismo mas que continua a ser autoritário [uma vez que o autoritarismo tem muitas faces], seria este partido autorizado a formar-se? O Tribunal Constitucional aceitaria a sua legalização? Poderia ser sufragado? O que reserva o poder judicial português para um partido político que, fazendo uso das instituições democráticas portuguesas, pretendesse desmantelar a democracia portuguesa? Imaginemos outra situação. Pretende ser legalizada com o estatuto de partido político uma associação cujo objectivo máximo seja a alienação do Estado português e a sua integração no Estado espanhol, resultando no desaparecimento de Portugal enquanto sujeito de direito internacional público. Imaginando que o partido não coloca em causa as instituições democráticas, não perfilha qualquer ideologia autoritária ou totalitária, não é inspirado pelo fascismo nem toma posições racistas, simplesmente pretende incorporar Portugal em Espanha. Pode legalizar-se? Será inconstitucional? Pode concorrer a eleições?
Esse indivíduo NÃO me representa
Freitas do Amaral mostrou mais uma vez que não sabe o que significa ser Ministro dos Negócios Estrangeiros. Pior ainda, confundir o conceito de "ocidente" com as posições de alguns membros de governos dos EUA é gravíssimo e revela um desconhecimento total da realidade internacional. Afirmar que o "o ocidente" aplica dois pesos e duas medidas em relação ao processo de paz do Médio Oriente mostra que o nosso MNE não tem o mínimo de sensibilidade diplomática para se pronunciar quanto a estes assuntos, que não conhece a realidade internacional e que está a vergar Portugal às posições populistas de líderes extremistas do mundo muçulmano. E a propósito, não faz ideia do que seja uma cultura e uma civilização, como tem vindo a mostrar bem demais ao longo dos últimos dois meses.
6.3.06
Portugalin Pääministerin Suomessa
O nosso PM encontra-se numa visita de dois dias à Finlândia onde, entre outros pontos, visitou uma escola e, como não podia deixar de ser, mostrou-se maravilhado com o sistema de ensino que no seu entender, prepara as gerações para empregos na área das novas tecnologias e contribui para o desenvolvimento do país. A intenção parece ser, de acordo com as suas palavras apoiadas pelas dos Ministros da Economia e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, decalcar, ou pelo menos aplicar em moldes semelhantes as medidas que permitiram consagrar o que foi denominado como o "milagre finlandês".
Sócrates adora admirar exemplos estrangeiros e transpô-los para Portugal, inspirando-se certamente naquele velho dogma português segundo o qual "o que se faz lá fora é sempre melhor". Até pode ser...mas Sócrates não parece compreender porquê, como e de que forma um país como a Finlândia atingiu o actual nível de desenvolvimento e mantém perspectivas optimistas quanto ao futuro. O nosso PM aparenta acreditar que o desenvolvimento do seu exemplo favorito pode ser copiado na sua versão quase integral em circunstâncias totalmente diferentes daquelas em que a República Finlandesa conheceu o seu maior período de crescimento. Ou seja, o que na Finlândia demorou várias décadas a edificar [e ainda não acabou, é preciso ser mentecapto para acreditar que o desenvolvimento de um país é uma meta eleitoral e/ou temporária], Sócrates acredita ser possível transpor para Portugal num espaço de tempo muito mais curto, estando nós inseridos numa conjuntura diametralmente diferente, inseridos numa realidade internacional que certamente mudou nas últimas décadas e sobretudo, dispondo Portugal de uma mentalidade diferente daquela que é encontrada no nosso parceiro do nordeste da Europa.
Pior ainda, não só Sócrates demonstra ser um líder imaturo e sem capacidade de compreensão e de bom senso, como cada vez que abre a boca para falar de educação, sai uma frase capaz de arrepiar qualquer pessoa que desejaria ver o nosso nível de desenvolvimento aproximar-se do nível da Finlândia. E quando à tecnologia, prefiro nem falar... O populismo não existe apenas ao nível dos movimentos situados nos extremos do espectro político, existe também nos partidos mainstream e nos próprios governos das democracias Europeias.
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