29.10.05

No limiar do ridículo

Atinge-se o ridículo quando coisas que nos parecem possíveis só em delírios (no pior sentido possível, entenda-se) se tornam realidade. Pior ainda, não só se tornam realidade, como são aceites e passam impunes, sem correcção mesmo que constituam coisas impensáveis numa progressão normal da vida.
É com base nisto que aqui afirmo o ridículo que é estermos expostos à publicidade da Media Capital Outdoor e aos programas de alto gabarito cultural da TVI cada vez que apanhamos o Metro em Lisboa, porque temos nós de ouvir 5 vezes o anúncio da 1ª Companhia cada vez que esperamos pelo metro? Eu preferia não ouvir nada, ficava com a mente mais limpa para os meus pensamentos. O que na verdade acontece, é que eu fico com a mente turbulenta dos pensamentos de fúria que me ocorrem quando vejo semelhantes abortos a serem publicitados em espaços públicos. Já agora, uma sugestão: o Metro, como empresa pública que é, não deveria exibir publicidade de um grupo detentor de meios de comunicação privados onde se incluem a revista Lux (ok, psempre foi inovadora, juntamente com a Caras, no sentido em que possibilita a leitura às camadas analfabetas da sociedade!) e a infame TVI.
Moving on, o ridículo atingiu nos últimos dias um novo patamar, com o anúncio do governo de que o aeroporto da Ota é um projecto que irá ser desenvolvido sem mais entraves. Mais de quatro mil milhões de Euros de investimento, uma distância de quase 50km da cidade, um impacto negativo na zona e a dependência da acessibilidade de um TGV cuja construção ainda não começou e que o governo solicitou ao governo espanhol que fosse adiado... Só pode ser por causa dos donos dos terrenos da Ota, segundo me constou, um deles é um senhor com uma idade avançada e que é candidato a Presidente da República.
O TGV por sua vez, vai ser amputado, visto que as únicas linhas a serem construídas serão as de Lisboa-Madrid e Lisboa-Porto, cancelando o projecto Porto-Vigo e Aveiro-Salamanca, porque "não é necessário", ou então não há interesses suficientemente fortes, ou empresas que estejam interessadas visto que os benefícios não eram tão grandes como esperavam....ou não há nenhum terreno que pertença a alguém próximo do executivo?
São estes os ridículos graves, que envolvem o dinheiro dos contribuintes, que nunca são prejudicados mesmo que e o país esteja numa recessão profunda (felizmente não está) e que passam à margem dos ridículos "pequenos" do dia-a-dia, como a programação da TVI...

22.10.05

Qual loucura? Isto é tudo muito saudável!

Eventualmente, chega aquela altura na vida de uma pessoa em que nos apetece deixar tudo para trás e saltar para a cabine de uma betoneira ligada, guiá-la tresloucadamente pelas ruas de Lisboa sem respeitar as mais elementares leis do código da estrada e largar cimento nos cruzamentos mais importantes...pensando melhor, acho que isto não acontece à maior parte das pessoas...pensando ainda melhor, só me aconteceu a mim, o que diz muito do meu quotidiano. Depois pensei melhor e achei que seria mais sensato naõ o fazer, afinal de contas, não tenho carta de veículos pesados e sabe-se lá o perigo que isso poderia representar!
Seja como for, hoje a Batalha de Trafalgar faz 200 anos...mas o Festival da Eurovisão também [é claro que o festival da Eurovisão não faz 200 anos, isso era muito grave, mas só um dia depois de escrever isto é que me apercebi do erro e aqui fica a correcção, o festival faz 50 anos]. E ontem, cientistas húngaros anunciaram ter desenvolvido uma vacina que evita a transmissão da gripe das aves entre estes exemplares e previne o contágio de aves para humanos, enquanto o nosso executivo anuncia que não irá proibir a caça de aves selvagens no Alentejo visto que as aves que sobrevoam aquela região portuguesa não percorrem a rota utilizada pelas aves às quais foi diagnosticada a doença na Turquia, Roménia e Grécia.
A propósito de disparates sem sentido, no Egipto três pessoas morreram e mais de noventa ficaram feridas após a intervenção da polícia contra uma manifestação de muçulmanos em ira contra uma igreja cóptica, o que representa o absurdo no seu melhor, seguidores de duas correntes espirituais sem qualquer razão de existir e que não representam senão as fobias mais irracionais e primitvas da espécie Humana a tentar matarem-se uns aos outros. Talvez afinal não seja assim tão absurdo se pensarmos que isso favorece os que olham para este fenómeno com distância e proclamam com todo o orgulho possível que não fazem parte daquele Mundo.
Afinal, começo a achar que guiar a betoneira pelo meio de Lisboa não é assim tão louco como isso... eu volto já!

15.10.05

Desleixo tecnológico...o senhor PM está a ler isto?

Quando se criam expectativas demasiado elevadas, a desilusão pode tornar-se perigosa, ao ponto de ser violenta e piorar ainda mais a situação anterior à criação das referidas expectativas.
Atendendo ao desenvolvimento admirável da tecnologia que não parece conhecer entraves e que eu considero como uma das mais emblemáticas e elogiáveis vertentes da espécie Humana, a criação de expectativas irrealistas quanto ao seu uso pode ser pior do que a ausência da própria tecnologia. Sim, a tecnologia aproxima as pessoas, colocou-nos no espaço, trouxe avanços incalculáveis à qualidade de vida e permitiu-nos descobrir e manipular factores que nunca julgámos possíveis. E contudo continua a falhar, continua a sofrer perturbações que não devia, continuam a verificar-se erros que prejudicam toda a nossa actividade que se encontra dependente da tecnologia, quer sejamos profissionais ou utilizadores domésticos.
Não deveríamos, como consumidores de bens tecnológicos e dependentes destes para o nosso dia-a-dia, tornarmo-nos mais exigentes quando gastamos dinheiro em tecnologia? Ou tornámo-nos tão indiferentes que nem sequer nos incomodamos com as falhas constantes de um produtos só porque este já tem um ano? Mais grave, significa que apesar de todo o progresso e da concorrência que abunda no sector tecnológico, pelo menos ao nível do utilizador doméstico, os produtores continuam a tratar os consumidores como se de crianças se tratassem, a quem é possível atirar algo que vale 1000, 1500 ou 2000 Euros e substituir como se de um brinquedo de plástico de tratasse. Isto é a banalização dos avanços tecnológicos e é nivelar por baixo, quer a qualidade dos produtos que sai manchada e a inteligência dos consumidores que se vêem assim numa posição em que apenas se preocupam em adquirir bens que podem nem ter metade da qualidade pretendida ou corresponder a metade das expectativas criadas.
É paradoxal, que num clima de livre economia de mercado e concorrência entre marcas, onde supostamente o consumidor deveria ser o maior beneficiado, passa-se absolutamente o contrário, visto que ocorre um nivelamento pela base, ou seja, em vez de haver uma concorrência entre produtos de alta qualidade que cumpram as expectativas do consumidor, acabam por durar como um hamburguer, com as consequências óbvias que daí advêm, ou seja, a perda do interesse dos consumidores, não pela aquisição do produto mas pelo próprio produto em si, deixam de o adquirir por causa do que ele é ou pelo que ele representa ou pela utilidade que pode ter, mas pela campanha que recebeu ou pelo impacto que vai ter junto dos amigos e colegas...

10.10.05

Autárquicas 2005

Julgo que estou no meu direito de chamar "idiotas" aos eleitores que votaram pela reeleição de Fátima Felgueiras e Valentim Loureiro... Estarei apenas a constatar uma opinião latente fora dos seus respectivos círculos e como não conheço nenhum partidário das referidas criaturas, não me vou deparar com quaisquer desentendimentos ou mal-entendidos decorrentes desta minha muito sincera (até demais) observação...
A nível nacional as principais conclusões são as seguintes:
- Lisboa vai ser gerida por um incompetente sem coragem nem determinação e vendido aos interesses da construção civil em vez de ser gerida por um cretino vazio de ideias e cuja campanha mostrou uma falsidade incrível (será que Carrilho já desinfectou as mãos com álcool depois de tanto aperto de mão ao "povo"?)
- O Porto irá em breve entrar em guerra urbana (não propriamente em guerra civil) quando as milícias armadas dos Super Dragões, fiéis ao seu mentor, protagonizarem uma tentativa de "golpe de cidade" para derrubar o executivo de Rui Rio, apoiados por civis armados dos bairros sociais e do Mercado do Bulhão
- Santarém irá ser o local de filmagem de todas as telenovelas e séries portuguesas que serão realizadas pelo menos durante os próximos quatro anos, mesmo que estas retratem um história que se desenrola numa localidade à beira-mar
- Leiria irá protagonizar o papel de uma cidade-arguida na sua totalidade quando todos os negócios e ligações da Câmara Municipal acabarem por desembocar em árbitros de futebol
- Felgueiras irá terminar, caso único no século XXI português de uma cidade que vai deixar de existir, para todos os efeitos, sem necessidade de nenhuma catástrofe natural; contudo a "regedora" local, sempre preocupada com o bem-estar dos seus concidadãos, irá distribuir identificações falsificadas de cidadania brasileira para todos os felgueirenses
- Gondomar.....eu nem quero pensar no que lhe vai acontecer....mas seja o que for, não tenho pena nenhuma!
- Nuno Rogeiro introduziu ligeiras alterações no seu inconfundível penteado (penteado esse que é condição essencial para atingir uma posição de primeira linha nas funções que ele desempenha) que coincidiram com a expansão da sua área de actuação que passou a incluir a política interna (o homem serve para tudo!)
- E eu...? Continuo na minha, sem nunca me colocar ao lado de qualquer partido/agência de interesses/lobby (vá lá, tentem lá distingui-los!), sobretudo aos do bloco central

5.10.05

A Turquia e a UE, qual deles vai vergar mais?

A Justiça é cega...sempre me disseram, e é assim que a sua estátua se apresenta em todos os órgãos de soberania nos quais ela é aplicada. Isto vigora em Portugal e em qualquer outro país que se diz democrático (porque apesar do que nós possamos pensar, Portugal é uma democracia e não me venham dizer que é só no papel! Não é uma classe de porcos corruptos, sem insulto para os suínos, que se consegue sobrepor à democracia ) logo, não há tratamentos diferenciados, porque somos todos iguais perante a lei. Assim é quando de cidadãos, ou de particulares esse trata. E quando se trata de pessoas colectivas? Será a Justiça igualmente cega? Não, não é uma pergunta retórica, gostava mesmo de saber se por princípio, a justiça é igual para todas as pessoas colectivas.
Mais concretamente, gostava de saber se vai ser permitido à Turquia aceder à União Europeia sem aplicar (o passo seguinte à transposição) as normas democráticas que vigoram nos 25 respeitantes à liberdade de imprensa e à liberdade de associação, bem como respeitando o reconhecimento de todos os 25 Estados-Membros, quando Ankara apenas reconhece 24. Afirma o governo turco que a República de Chipre não representa toda a ilha, como tal não a poderia reconhecer. Sabendo que na União Europeia há líderes capazes de pegar no mais ínfimo pormenor para bloquear a adesão turca à UE, isto demonstra não só irresponsabilidade como arrogância por parte de Ankara, baseando-se no princípio de que a União precisa mais da Turquia do que o oposto, que deixar o seu país de fora seria demasiado perigoso e que vai existir um flexibilização de critérios de forma a reduzir o impacto da assimilação do Acervo Comunitário e do respeito pelas normas democráticas, inúmeras vezes atropeladas pelas autoridades turcas. A adesão a um bloco tão importante como a União Europeia requer um compromisso sério e responsabilidade por parte dos países candidatos, como a Croácia já o testemunhou.
Ao manipular cinicamente os factores em jogo, as autoridades turcas parecem dar como garantida a adesão e dada a importância da entrada do seu país na União, parecem convencidas que se trata de um projecto too big to fail, ou seja, que a vigilância rigorosa do cumprimento dos Critérios de Copenhaga por parte da União pode ser entendida pelos turcos como preconceito ou paranóia, algo que não ficaria nada bem a uma União Europeia que se diz aberta e democrática. Se a Turquia conseguir assimilar a importância da sua candidatura e, fazendo jus à sua ambição, se portar como um país Europeu, haverá Justiça na sua adesão.

2.10.05

O Triunfo dos Porcos

Suponho que todos os autarcas infectos que se candidatam, mais uma vez, a uma câmara qualquer de Portugal, não só os mais conhecidos como Avelino Ferreira Torres, Fátima Felgueiras, Islatino Morais, Valentim Loureiro e Isabel Damasceno, mas todos aqueles cujas ligações e crimes nós não conhecemos por não serem suficientemente mediáticos irão com toda a certeza vencer as eleições.
Porquê? É a minha única pergunta...Ou talvez não, pergunto "porquê?", "como?" e até mesmo "o quê...?" porque é de tal maneira ilógico, anti-natura e IDIOTA eleger criminosos condenados ou criminosos por condenar se as investigações não sofressem obtáculos de ordem obscura, pela simples razão de os eleitores "simpatizarem" com as referidas criaturas. Muitos deles estão no poder há mais de 10 anos, alguns deles presidem os executivos locais desde as primeiras eleições autárquicas em 1976 e criaram uma imagem de tal forma ligada à localidade e aos seus habitantes que estes sentem-se na obrigação moral de os reeleger como dirigentes. Outro dos seus trunfos baseia-se no suposto desenvolvimento que a localidade atingiu sob a sua presidência, suponho que para uma pessoa que vive numa terra que há 30 anos atrás estava totalmente desfasada dos centros políticos e económicos do país e que actualmente já conta com um hospital, com várias escolas e com ligações mais rápidas à cidade de maior influência do distrito, isto seja motivo para reeleger a referida criatura. Contudo, as criaturas calculam muito bem os seus planos, e o referido desenvolvimento de infraestruturas não vem por acaso, nem tão pouco está desligado da subida de nível de vida dos respectivos autarcas.
Voltando à questão mais importante...o que leva a população a votar em criaturas asquerosas e virulentas que enriqueceram à custa da autarquia, que fazem do concelho uma extensão do seu empreendimento pessoal, que se comprometem com qualquer lobby que lhes favoreça a conta bancária? A referida "ligação à terra"? Que uma grande parte dos eleitores são, enfim...obtusos...não é novidade nenhuma. O que mais me surpreende é que 30 anos após a democratização, a estrutura mental do "antigo regime" ainda continua tão fortemente enraízada na psique das populações. A imagem do "paizinho", qual "senhor presidente do conselho, doutor Oliveira Salazar", que se encarrega de atender às necessidades da população, foi vista, desta vez sob a forma de uma autarca com dois cromossomas X, no concelho de Felgueiras, onde a "santa" local fez uma aparição ao vivo depois de 2 anos e meio no "exílio", para gáudio das populações locais que agonizaram sem a bênção da sua padroeira...
Ou seja, é como se os últimos 30 anos não tivessem existido, para todos os efitos ao nível local, uma boa parte do país continua sob um regime autoritário e o facto de os eleitores poderem aceder livremente à informação não significa que vão votar contra a criatura local...muito pelo contrário! Não só se vivem situações de autoritarismo, como este regime é energicamente aprovado pelos obtusos que revalidam os mandatos dos criminosos locais. Face a isto, e porque a democracia implica o respeito pela vontade das pessoas, eu desligo-me totalmente dessa realidade. Se os eleitores aprovam a conduta dos seus autarcas, se os legitimam nas urnas, merecem tudo o que o potentado local lhes possa vir a fazer, a única contrpartida que eu exijo é que nunca estas situações representem o meu país, caso contrário estarão a dar-me um incentivo extra para fugir daqui...

Click Here