30.11.04

Restauração

Hoje, na véspera de um dos feriados mais mal-tratados pelos Portugueses, temos uma ocasião única no nosso país, única não só para estabelecer uma nova forma de ver o nosso Estado mas para nos consciencializarmos de que, acima de tudo, o nosso país depende de nós próprios, que vivemos numa democracia e que disso devemos fazer uso, que somos cidadãos interessados no futuro de Portugal e que sejam quais forem os nosso métodos, o nosso fim comum é sempre o bem de Portugal.

A dissolução da A.R. para mim tem duas leituras:
- por um lado, significa que o Presidente da República fez uso dos seus poderes com a devida moderação e em nome do interesse nacional ao pôr fim a um governo que não se mostrava suficientemente capaz para a tarefa que tinha pela frente. Pelos acontecimentos dos últimos quatro meses ficou claro que sejam quais forem os nomes à frente das respectivas pastas, o que administrava o país não era um governo, mas antes várias agremiações separadas sem respeito umas pelas outras (em primeira instância) e sem respeito por Portugal e pelos Portugueses(em última instância). Os exemplos da desordem inicial que caracterizou a tomada de posse do governo, do humilhante teatro Borndiep, da colocação dos professores e da total falta de coesão no que diz respeito à problemática inerente à coligação de governo eram sintomas do que aconteceu na tarde de 30 de Novembro de 2004. O toque final, dado no dia de ontem pela demissão do ministro Henrique Chaves foi a cereja no bolo, a confirmação final de que o governo não era suficientemente sério para Portugal

-a segunda leitura está em parte relacionada com a legitimidade política (ou melhor, falta dela) do governo de Santana Lopes e vai sem dúvida recair na já referida consciencialização dos Portugueses para o seu (nosso) país. Pela primeira vez no passado recente - e quando eu escrevo "passado recente" refiro-me aos acontecimentos desde há cerca de 8 anos para cá, afinal não sou nenhum ancião - temos indícios (embora não completos) de que uma maior parte da sociedade civil Portuguesa está sensibilizada para os problemas e desafios que se colocam perante Portugal no século XXI e nas várias frentes que o nosso país integra. O impulso de que um país letárgico necessita para avançar é o de uma população consciente, informada e imparcial, capaz de analisar a conjuntura na qual o seu país se insere e de escolher racionalmente qual a melhor opção - ou a opção menos má, no caso de Portugal - para comandar o seu país. Em Portugal podemos ainda não ter desenvolvido essa condição plenamente mas estou convencido de que temos condições para melhorar bastante neste aspecto, no futuro próximo.

Desde sempre que os Portugueses se queixam das autoridades - um autêntico pseudo-desporto nacional - culpando-as por tudo o que nos afecta, com a possível excepção do clima... Essa desresponsabilização por parte da sociedade civil está prestes a iniciar o seu fim, é nosso direito e dever tomarmos consciência de que a democracia não é um sistema criado para as câmaras e para a satisfação de uma pequena elite oligopólica - tanto económica como política - enquanto que os cidadãos comuns se devem sacrificar em nome de metas que a própria administração não sabe atingir. A democracia é, como o nome indica mas que nunca é demais repetir, o "poder do povo", esquecendo todas as conotações anacrónicas que esta expressão pode ter. Significa muito simplesmente que a iniciativa da mudança do status quo reside na sociedade civil, que engloba todos os sectores presentes na sociedade Portuguesa, desde os mais anónimos dos agricultores, pescadores e comerciantes até aos mais influentes empresários e figuras de comando do Estado. A democracia permite acima de tudo que os cidadãos construam a sua própria realidade, que não tenhamos que aceitar o que nos é imposto, que todos somos indivíduos que afirmamos a nossa vontade e determinação em nome de um bem comum por vias diferentes e com o devido respeito que isso implica. A pior antitese da democracia não é forçosamente a do regime totalitário e repressivo, imposto por uma minoria no poder mas sim a que embora nominalmente democrática, dispõe de uma sociedade civil quase inexistente e de uma população semi-analfabeta (no que diz respeito ao seu país) e que não sabe utilizar o sistema democrático a seu favor. Tal é o risco que temos sempre presente, não só em Portugal mas em todas as democracias ocidentais.

Por estes motivos é que é vital para todos os cidadãos que vivam sob regimes democráticos que nunca os deixem existir num estado de coma, que nunca adormeçam as suas consciências e que nunca percam a sua sensibilidade no que diz respeito ao fim do seu país. Cada país é o que os seus cidadãos fazem dele, ainda temos oportunidades para o fazer em Portugal. Qualquer progressão que seja feita sob este objectivo, por mais pequena que seja, é um contributo importantíssimo para o nosso país. Seja qual for o desenrolar desta "crise política" que temos pela frente, o vencedor só pode ser Portugal.

26.11.04

Destruição total!

Está na hora de, na onda do niilismo mais Nietzscheano possível, decompormos, isolarmos e destruirmos tudo aquilo que nos foi imposto contra a nossa vontade e de aprendermos, de uma vez por todas (não serve de nada escrever isto porque nunca ninguém aprende, mas adiante...) que nós somos a nossa própria chave, o princípio e o fim, a criação e a destruição. Nunca nos tornaremos verdadeiros Humanos enquanto não nos dermos conta deste universo dentro de nós próprios que nos permite criar a nossa própria realidade.

Nenhuma premissa tem poder absoluto sobre coisa alguma, a "realidade" como nos é comunicada e que nós absorvemos com os nossos sentidos não é senão um cenário possível entre vários, um que nós passivamente construímos por não agirmos contra a sua edificação e que aceitamos como verdade consumada, como se não tivéssemos qualquer alternativa e estivéssemos a ele condenados para toda a nossa vida, delegando toda e qualquer possibilidade de mudança a variáveis externas que, por mero acaso, eventualmente nos irão atingir.

Tal é o material com que se edificou a nossa decadência, a nossa letargia e a nossa anestesia mental. Nunca iremos avançar como verdadeiros Humanos, nunca nos iremos afirmar e encontrar a nossa verdadeira felicidade enquanto aceitarmos a "realidade" como julgamos que ela é. O próprio conceito tem como objectivo a sonolência Humana, ao atribuir a uma situação o conceito de realidade, estamos imediatamente a reconhecer-lhe uma situação que roça a imortalidade e de uma longevidade quase eterna. É urgente redefinir os conceitos que nos oprimem, nunca iremos além deles enquanto a semântica estiver contra nós, para tal temos também nós de nos reorientarmos e convencer-nos de que a realidade é o que nós fazemos dela, não o que nos é imposto e onde não tivemos participação mas que temos de aceitar.

23.11.04

Neo-feudalismo

Aqui vai um copy paste do meu último texto para o Observatório, sim, sou demasiado preguiçoso para escrever uma entrada minimamente de jeito aqui e agora.
Cá vai disto...

O estudo actual das Relações Internacionais informa-nos que os actores dominantes da dinâmica internacional são os Estados soberanos, sem descartar o papel relevante das instituições internacionais, dos poderes erráticos e dos poderes transnacionais, também eles actores no panorama global.
Contudo, é do conhecimento público que um grande número de Estados, apesar de deterem soberania de jure sobre o seu território, interesses e organização, são de importância quase insignificante quando colocados ao lado do poder – entendendo-se neste caso o conceito de "poder" como "capacidade de influenciar" – das correntes transnacionais, sobre as quais recai um protagonismo cada vez maior, impossível de ignorar neste Mundo cada vez mais globalizado.
À excepção da participação nas organizações intergovernamentais, os Estados mais pequenos e mais pobres do Mundo encontram-se diminutos face ao crescimento exponencial das multinacionais – a face mais visível destes poderes transnacionais – no último século e que não parece terminar no Século XXI.

A História diz-nos que já existiu uma situação análoga a esta, muito antes do contexto em que nos inserimos ter tomado forma. Durante a denominada "Era Medieval", o poder político, como o entendemos hoje, englobava um número diminuto de competências que recaíam inevitavelmente sobre o monarca, dado o número reduzido de assembleias parlamentares e de instituições nos moldes que hoje existem. Foi neste contexto que o Ocidente viveu sob um sistema feudal, onde a soberania sobre o território do reino era decomposta em vários feudos, deixados sob a autoridade de um denominado "senhor feudal" que se encarregava da administração das terras do seu feudo e que por sua vez, dispunha de vassalos nos quais delegava determinadas competências, estes tinham as suas obrigações – essencialmente fiscais e militares – perante os seus suseranos. Assim se caracterizava, em traços essenciais, o sistema feudal que vigorou no Ocidente durante mais de um milénio, marcado por uma ausência do poder político do monarca, cujo protagonismo recaía principalmente na colecta de impostos, na atribuição de terras à nobreza, nas decisões sobre a guerra e a paz – note-se que os conflitos durante a Era Medieval tinham características diferentes das de agora – e na obediência ao Papa no que diz respeito à entronização e questões religiosas.

À Era Medieval, sucedeu o Renascimento do final do século XV e no século XVII, a Guerra dos Trinta Anos e o Tratado de Westphalia marcaram o desaparecimento da ordem então vigente na Europa Ocidental.
As décadas que se seguiram foram marcadas pelo reforço do poder do monarca em cada Estado, pelo crescimento do Absolutismo como doutrina dominante do panorama político Europeu e pelo desenvolvimento do sentido de Estado soberano, algo que foi reforçado a partir de 1789 com a consciencialização dos povos para as questões políticas, o final do absolutismo do monarca e a redefinição do panorama político Ocidental, marcado pela ascensão do nacionalismo e liberalismo político em toda a Europa e no continente Americano.

Os políticos e ideólogos da época consideravam o período Medieval como uma era bárbara e procederam a um enterro desse passado histórico, sem no entanto deixarem de manipular uma série de mitos da época com propósitos nacionalistas.
O Século XX trouxe uma vaga de independências para o primeiro plano da realidade internacional e novas formas de abordar os assuntos globais emergiam, inspiradas sobretudo no institucionalismo. No entanto, o Século XX foi também o século em que a Humanidade tomou consciência de um fenómeno (também referido como "processo" por alguns) denominado globalização, no qual intervêm, como principais forças motrizes, as empresas privadas e os veículos de projecção cultural, contribuindo (de uma forma muito genérica) para um maior e mais rápido fluxo de capitais, de divulgação de informações, de fusões e aquisições empresariais e de aproximação de pessoas, num Mundo cada vez mais pequeno. Ao mesmo tempo, tornam-se também visíveis as suas consequências negativas, como o dumping social, os problemas levantados pelo outsourcing, a exploração de mão-de-obra nos países em desenvolvimento e a ausência dos seus benefícios em muitos locais do globo.

Tal fenómeno não seria como o conhecemos se a sua principal força motriz tivesse sido o Estado como entidade política. O crescimento das empresas privadas na segunda metade do século XX, aliado a concentrações empresariais de grande dimensão e à criação de economias de escala, tornaram um determinado número de empresas em gigantes económicos, congregados em grupos que juntam empresas do mesmo, ou de vários sectores diferentes, aumentando exponencialmente o seu capital e alargando a sua capacidade de actuação internacional.
Este aumento do poder financeiro das empresas multinacionais, visível através da consulta dos activos financeiros, da capitalização bolsista e dos lucros de empresas referidas como as "Fortune 500" – apenas um exemplo possível – permite-lhes ultrapassar a mera dimensão económica e atingir posições de primeiro plano no desenvolvimento de um Estado soberano. As consequências deste crescimento desmesurado incluem a formação de lobbies poderosos, logo, uma capacidade considerável de alterar a agenda do Estado, constituindo assim uma forma legal de manipular os poderes legislativo, executivo e judicial de forma a satisfazer os seus próprios interesses.

Num contexto de globalização, torna-se assim possível para uma grande empresa extrapolar o seu modelo de actuação dentro do Estado no qual ela se encontra registada para qualquer outro Estado soberano, muitas vezes em promiscuidade com o poder político nas situações de menor transparência.
A referida promiscuidade e influência do sector empresarial sobre o poder político é frequente, quer nos países desenvolvidos quer nos países em desenvolvimento. Podem ser encontrados exemplos flagrantes na História recente: em 1973, a pressão das multinacionais Americanas sobre o poder político levou ao patrocínio dos EUA de um golpe de estado no Chile que derrubou o governo de Salvador Allende e o substituiu por Augusto Pinochet, no Japão o sector empresarial é de tal forma poderoso que a figura do ministro das finanças necessita de uma prévia aprovação oficiosa dos maiores empresários do país, conflitos armados em África subsistiram durante anos devido à pressão de empresas interessadas nos recursos naturais dos territórios em causa.

Exemplos como os referidos colocam em causa o papel do Estado soberano como o actor mais influente das Relações Internacionais e nalguns casos, podemos mesmo falar de uma quase irrelevância do Estado face a uma agenda empresarial suficientemente poderosa para decidir sobre o presente e o futuro de um Estado.
Partindo desta perspectiva, podemos considerar que corremos um risco bastante real de desenvolver uma nova realidade no Século XXI, na qual o poder político vê o seu papel diminuído a questões como defesa, representação externa e política macro-económica (sem esquecer que estas competências não estarão também livres de influências) ao mesmo tempo que assistimos à privatização de sectores tradicionalmente ligados às competências do Estado, como a educação, a saúde e a segurança social – como se torna cada vez mais provável nos EUA, como é cada vez mais comum na China e tendo em conta as pressões que são feitas sobre a União Europeia para reformular o seu sistema social em nome da competitividade.
É a partir destas noções que se torna plausível prever que, ao longo do Século XXI, a realidade dominante em todo o Mundo poderá ser o neo-feudalismo, uma realidade em que o poder político – representado pelo Estado soberano – se encontra cada vez mais vazio de competências e os poderes transnacionais, representados acima de tudo (mas não exclusivamente) pelas empresas multinacionais dispõem de acesso quase ilimitado aos recursos naturais, económicos e humanos num Mundo com fronteiras cada vez mais ténues e onde o seu poder ultrapassa os sectores económico, industrial e comercial, entrando em áreas até então reservadas aos Estados e mantendo, nos estados menos desenvolvidos, uma autoridade em tudo análoga à vivida na Europa durante o período Medieval.

A analogia torna-se ainda mais real quando perspectivamos que neste sistema existe uma relação bastante próxima entre Estado e sector empresarial, permitindo ao Estado transitar algumas das suas competências para o sector privado, ao mesmo tempo que implicitamente lhe confere carta branca para desenvolver a sua própria agenda, semelhante a uma agenda política de um Estado soberano, sem os problemas de índole política que este pode atravessar.
Acima de tudo, trata-se da falência do actual paradigma, acelarado pela globalização – não pelo fenómeno em si, mas pela forma como é perspectivado pelas entidades intervenientes – e que se não for gerido com a devida precaução poderá mesmo levar a choques de consequências por enquanto imprevisíveis entre o Estado e os poderes transnacionais

14.11.04

America: The Book

Como penalização por ter descurado o blog nas últimas semanas eu devia aplicar-me um castigo digno de fazer Tomás de Torquemada sentir-se insignificante - e olhem que isso é difícil. Talvez eu devesse praticar a autoflagelação durante uns dias...

Seja como for, quem me conhece sabe que eu sou um grande seguidor do 'Daily Show with Jon Stewart' e que sempre que posso, durante uns 25 minutos diários, a minha atenção é canalizada para essa pérola televisiva que é bem melhor do que os telejornais ditos "sérios", isto apesar do lag a que estamos sujeitos na SIC Radical, felizmente temos a Global Edition todos os fins-de-semana na CNN!

Ora, se têm acompanhado o programa ultimamente devem ter visto que o apresentador&equipa lançaram um livro chamado "America: the Book" que era anunciado no seu pseudo-telejornal. Quando vi aquilo pela primeira vez julgava que se tratava de uma perspectiva pessoal dos autores ao sistema eleitoral Americano com algumas piadas pelo meio, mas que essencialmente era uma espécie de ensaio alargado sobre os EUA com o estilo a que tão espectacular equipa já me tinha habituado. Na verdade, trata-se de algo muito mais alargado e que me surpreendeu bastante quando peguei no livro pela primeira vez. Na verdade, "America (The Book) A Citizen's Guide to Democracy Inaction" (o título completo do livro) é um autêntico manual de Ciência Política construído a partir de uma perspectiva incrivelmente satírica e que ultrapassa os partidarismos a que poderíamos associar o staff do Daily Show quando apenas vemos o programa diário.

Organizado cronologicamente, o livro cobre vários aspectos relativos à democracia nos EUA e no Mundo, começando pelas origens do sistema democrático - desde os tempos remotos da na nossa espécie, em que os caçadores-recolectores formaram os primeiros sistemas bipartidários por todo o mundo, passando pelas primeiras civilizações, Idade Média, Renascimento, Iluminismo, até à Revolução Americana e por aí fora. Segue-se uma explicação muito própria dos órgãos de soberania Americanos, das campanhas políticas nos EUA, do papel dos media e uma breve explicação sobre a perspectiva Americana em relação ao resto do mundo.

Entre as muitas pérolas que se encontram neste livro, realço aqui algumas:
- na secção reservada aos "Founding Fathers", são focados os pontos positivos e negativos de cada um, na coluna de George Washington é destacado, nos pontos positivos : "In his will, ordered Martha to free their slaves after her death. A nice gesture. Unfortunately, Martha lived to be 197 years old"

- a folha chamada "News Calculus", a matriz para a cobertura noticiosa dos eventos por parte dos media, onde, entre outros factores, no que diz respeito à contagem de cadáveres, é apresentada a seguinte fórmula: "2000 massacred Congolese = 500 drowned Bangladeshis = 45 fire-bombed Iraqis = 12 car-bombed Europeans = 1 snipered American"

- não posso deixar de focar a referência a Portugal na secção "Old Europe", no registo dos conflitos Europeus, Portugal aparece classificado com 16 vitórias, 9 derrotas e um coeficiente de .640. De acordo com a sabedoria dos autores, a nossa pontuação bélica é de 16-8 na água, mas de 0-1 em terra

- as infintas e inteligentes paródias à iconografia política Americana e as inovadoras interpretações de Platão, Sócrates e dos principais ideólogos da Revolução Americana na Era Moderna

Por estes e muitos mais motivos, eu recomendo esta pérola literária a toda a gente que eu conheço! Ok, isto é exagerado, digamos apenas, a toda a gente com quem eu já partilhei perspectivas. O trabalho desenvolvido pelos autores é de tal forma detalhado e profundo que eu nem sei se o hei-de considerar como um livro de sátira política ou como uma tese sobre uma abordagem alternativa à democracia! Ah, não percam a tabela de comparação dos regimes políticos - desde a democracia, passando pela cleptocracia pós-comunista e pelo estatuto de território ocupado - e o quadro das grandes Revoluções da História da Humanidade - Americana, Francesa, Russa, Cubana, Iraniana e Digital.

Tenho vontade de me despedir com um "momento Zen", como se faz no Daily Show, contudo fiquei de tal forma curvado perante esta obra que reconheço não ter nem um milésimo da qualidade da equipa de autores para o fazer. Assim, despeço-me com toda a normalidade e lembrem-se, no nosso país, um voto representa 0,0000001 da população, por isso não pensem que o vosso voto não conta!!

Ohhhhh!

Fiquei maravilhado quando vi isto! É verdade, hoje 14 de Novembro de 2004, 13:27 minutos, planeta Terra, Via Láctea, o layout do blog finalmente voltou ao normal, como que por alguma acção estranha! Lembram-se (isto se os visitantes do blog forem mais do que dois...) que os arquivos e links tinham ido para inexplicavalmente lá p/baixo? Pois é, agora voltaram ao normal e estão rigorosamente paralelos aos posts! Acho que vou lançar uns fogos-de-artifício porque isto finalmente significa que eu venci, muito embora eu não tenha feito nada para isto...
Enfim, isto pode estar a funcionar agora mas amanhã pode já estar outra vez trocado, por isso é melhor aproveitar enquanto é tempo e festejar a noite toda porque amanhã pode não haver mais. :P

11.11.04

Eu sei, eu sei, não devia ter ausências tão grandes, não tanto pelos (muito poucos) que lêem este blog mas mais por uma questão de auto-disciplina e capacidade de escrita.

Gostava de ter escrito mais esta semana mas tive outras preocupações - afinal as eleições Americanas monopolizaram-me mais do que eu esperava. Hoje não me apetece escrever nenhuma antevisão do que serão os próximos 4 anos, ainda faltam mais de 2 meses para a tomada de posse e até lá, algumas coisas podem mudar.

Indo além disto, vou apenas dizer que o futuro do processo de paz no Médio Oriente vai depender da forma como a nova liderança Palestiniana encarar a estratégia Israelita e também da forma como o governo Israelita encarar a nova liderança Palestiniana, pode ser que de uma vez por todas compreendam que os grupos terroristas não estão necessariamente dependentes da Autoridade Palestiniana. Acabamos na mesma situação que eu há já bastante tempo considero como central neste conflito: acima de tudo, é um problema de confiança, tanto do lado das autoridades como do lado da sociedade civil, quer Israelita, quer Palestiniana, e sobre isto hoje não digo mais nada.

Ao mesmo tempo, parece que finalmente estamos a ter um tempo adequado à época do ano aqui em Olissipo! Para hoje prevêem-se entre 10º a 15º e nada de chuva, espero que seja para manter nestes dias de Novembro e que desça ainda mais por altura do Solstício.

O mito de Prometeu continua vivo dentro de cada um e dentro de mim coexiste (ou será que se interliga) com o espírito de Lucifer e de Odin, a propósito dos quais eu me pronunciarei mais à frente, assim haja capacidade de escrita.

Por hoje resolvo ficar por aqui, como devem ter reparado isto hoje não foi propriamente uma dissertação (como se eu soubesse alguma coisa sobre dissertações! isto é o sarcasmo levado ao máximo!!) mas mais um pequeno update of things to come. Lá porque este blog é lido por um número de leitores expresso por apenas um algarismo isso não quer dizer que eu tenha o direito de os ignorar, não é verdade?

2.11.04

"My fellow Americans..."

Hoje a superpotência vai a votos para, entre outros cargos, eleger o Presidente para os próximos 4 anos. Já num post anterior escrevi qualquer coisa sobre o assunto, no entanto gostava de escrever algo mais sobre isso.

As campanhas dos candidatos Democrata e Republicano mostraram que ambos estão dispostos a tudo para conseguir os votos que façam a diferença num sistema tão indirecto como o das eleições presidenciais Norte Americanas. As aproximações ao eleitorado e os agrumentos utilizados são muito diferentes daqueles a que nós estamos habituados. São constantes as baixezas e folclores (no pior sentido possível) para convencer seja quem for a votar num sistema anacrónico que podia ser inovador há mais de 200 anos mas que actualmente precisa de uma renovação afim de reconquistar a confiança dos eleitores Americanos.

Se por um lado, a dita incoerência de John Kerry provavelmente não é mais do que uma tentativa de a todo o custo conseguir votos em todos os sectores possíveis (que nos EUA podem ser muito, muito mas mesmo MUITO estranhos...), George Bush não tem problemas em afirmar que mais quatro anos consigo na Casa Branca serão mais do mesmo, o que traz bastante alegria aos seus apoiantes mas provoca a emoção oposta nos seus adversários.

Uma análise à administração Bush mostra que temos muito poucos (se não mesmo nenhuns) motivos para considerarmos a sua reeleição como positiva. Na política interna há imensas falhas graves, no sistema educativo com escolas sem verbas obrigadas a adoptar soluções no mínimo estranhas, cerca de 40 milhões de Americanos não dispõem de seguro de saúde, entre 15-17% vivem abaixo do limiar da pobreza (e esta percentagem aumenta entre as minorias étnicas), uma política retrógrada nos assuntos sociais (para dizer o mínimo), um sistema de segurança quase asfixiante digno de um regime autoritário (o Patriot Act assemelha-se a uma ideia digna de um ditador); na política externa, a imagem dos EUA nunca foi tão má, a intervenção mal conduzida no Iraque tornou a região num buraco negro e as negociações com a Coreia do Norte estão paralisadas.

O governo de Bush assemelha-se a um directório de empresários e neo-conservadores que juntam o pior de cada área e gerem o país como se fosse uma empresa, conseguindo grandes lucros para si próprios. E no entanto, são apoiados por quase 50% da população, só por isto vemos como os EUA têm uma realidade completamente diferente da nossa e que apesar de sermos Ocidentais, somos bastante diferentes.

George Bush deve ter passado mais tempo em campanha do que a administrar o país, usou o Air Force One nas acções de campanha e deslocou-se ao local de voto no carro presidencial com os serviços secretos e atiradores especiais. Trata-se de um homem que não sabe gerir o seu país, que tem uma administração perigosa, que acredita naquilo que os seus homens e mulheres lhe dizem sem problema e que não respeitou a diferença entre o cargo presidencial e a cidadania.
Não sou fan de Kerry, nem espero nada de muito positivo dele, mas espero que os eleitores Americanos sejam lúcidos, utilizem a sua racionalidade e apliquem a mesma capacidade que aplicaram na construção do seu país e votem não pela decadência mas sim pela mudança.

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