14.8.08

Geórgia - Rússia, ainda não há paz

Apesar de as hostilidades abertas terem parado, ainda não existe paz na Geórgia. Enquanto Saakashvili recebe o apoio da Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia e Ucrânia e acusa o ocidente de não se ter interessado o suficiente, os EUA anunciam que vão prestar assistência humanitária à Geórgia, algo que faz lembrar a ponte aérea de Berlim pouco depois da II Guerra Mundial, só que desta vez a capital não está cercada. Por sua vez, a UE afirma que pretende enviar observadores para o local, de forma a implementar o cessar-fogo, mas a insistência numa resolução da ONU coloca a vantagem do lado da Rússia, uma vez que este país é membro permanente do Conselho de Segurança e pode vetar qualquer proposta.
Seria demasiado cínico pensar quanto tempo falta para o conflito regressar - talvez nem nunca regresse, mas algo vai mudar no Cáucaso e não vai ser só na Geórgia. Ainda não sabemos se este breve conflito vai ter repercussões noutras repúblicas separatistas, ou se é uma consequência da aceitação de indpendência do Kosovo.
Resta ainda saber se as acusações de atrocidade dos dois lados têm fundamento, se são inteiramente verdadeiras ou se foram exageradas - não seria nada de novo se fossem largamente aumentadas para acrescentar dramatismo.

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12.8.08

Geórgia - Rússia: o cessar-fogo

Ao quinto dia, finalmente um cessar-fogo de ambas as partes. Não significa que a paz tenha chegado, significa que quem estava em vantagem cumpriu os seus objectivos e sente-se suficientemente seguro para determinar o que acontece a seguir. Afinal não foi preciso chegar até Tbilissi, embora me pareça que a Rússia conseguiu habilmente deixar muitas pessoas a pensar que iria invadir a totalidade da Geórgia, sobretudo com as contradições no que o Kremlin dizia. Mesmo assim, alguns combates continuaram após o anúncio de cessar-fogo por parte da Rússia, que se encontra numa posição de domínio em relação à Geórgia. Não sabemos ainda como vai evoluir a situação na Abecázia - o cessar-fogo irá pôr fim às acções dos separatistas? E como vão ser as consequências noutros territórios separatistas onde existem movimentos apoiados pela Rússia? Será que a Transnístria virá a seguir e vamos assistir a uma invasão russa da Moldávia? E um cessar-fogo com Moscovo a ditar condições, irá certamente punir os responsáveis georgianos mas duvido que algum responsável separatista ou russo seja punido por algum crime que tenha cometido - não me surpreenderia, quando vemos Putin alinhar no discurso de "vocês também o fizeram".
O resultado está dependente do que for decidido nos próximos dias, a reunião da NATO com a Rússia será determinante, já uma resolução do Conselho de Segurança sobre o assunto deverá ter pouco impacto, se tivermos em conta que precisa da aprovação da Rússia e que arrisca a tornar-se num intrumento de Moscovo.
Destaque também para a eventual importância do ocidente neste assunto: a Rússia queixa-se de que o ocidente continua a observar o seu país do ponto de vista da Guerra Fria, não reconhecendo as mudanças que atravessaram o país. Porém, o fim da Guerra Fria não significa que a Rússia, sucessora da URSS, abandonasse os seus interesses e deixasse cair a sua ambição de potência global - um país com o tamanho da Rússia e, muito importante, com os seus recursos naturais e capacidade militar, nunca pode ser enfraquecido ao ponto de perder capacidade de projecção. O que nos pode levar a pensar que o fim do período bipolar não significou uma mudança tão titânica no palco mundial como se possa pensar, embora durante alguns anos muitos tivessem pensado que a Rússia se iria tornar numa espécie de "Gandhi global", apenas porque dissolveu o Pacto de Varsóvia, retirou as suas forças militares dos países da Europa central e pôs fim ao regime soviético.
A Geórgia anunciou que vai abandonar a Comunidade de Estados Independentes [embora, na prática já lá estivesse a fazer muito pouco e a CEI nunca tivesse tido uma verdadeira presença como organização intergovernamental] mas por enquanto, as suas tentativas de aderir à NATO vão ficar no limbo. O ocidente sente-se um pouco confuso - talvez por ter pensado que a Rússia iria tornar-se num "amigo", quase como o Reino Unido e os EUA são "amigos" e mais tarde por ter pensado que a Rússia seria um "parceiro forte".
Não gosto de ver referências a uma "nova Guerra Fria", sobretudo quando vejo que para muitas pessoas, a expressão "Guerra Fria" significa pouco mais do que uma medição de forças, que é o que potências globais fazem, de formas mais ou menos discretas. Nesse aspecto, a "Guerra Fria" nunca teria terminado, simplesmente mudou de insígnias e alguns dos participantes mudaram de lado. Estou também curioso para ver o que vai mudar nos países da UE mais próximos da Rússia [Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia] e na relação europeia com aquele país - vamos assistir a um verdadeiro esforço comum e a uma posição sólida da UE, capaz de demonstrar que é possível que 27 países consigam ter uma opinião e uma meta comum nesta questão?

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Geórgia - Rússia, o conflito continua

As horas passam e nada parece melhorar - nem os ataques russos param, nem os georgianos parecem aceitar que cometeram um erro com consequências graves para o seu país, como de costume quem sai prejudicado da situação é a população civil, vivam eles na Ossétia ou em qualquer outra parte da Geórgia.

De acordo com este artigo da BBC, alguns dos responsáveis europeus pela política externa e relações internacionais consideram que estamos próximos de atingir tensões semelhantes às que se viviam na Europa antes da II Guerra Mundial, com pelo menos uma acusação de a Rússia estar a agir como a Alemanha hitleriana em 1938 ou a Jugoslávia de Milosevic em 1991. Tal como já aqui disse, a missão de manutenção da paz que a Rússia realiza na Ossétia do Sul desde o final da guerra civil tem muito pouco de pacífica e nos últimos dias serviu apenas de suporte a uma retaliação armada.

O Le Monde apresenta cinco questões relevantes sobre o conflito: as possibilidades de se estender a outras regiões, o papel da UE e dos EUA e o objectivo de Saakashvili são aqui tratados, embora seja muito difícil fazer uma previsão exacta sobre quais os desfechos prováveis e eu ache muito difícil que a UE possa servir de mediadora na resolução do conflito.
Por sua vez, o Guardian refere a proximidade das forças russas a Tbilissi e a probabilidade cada vez maior de uma guerra aberta entre os dois lados, mesmo depois de a Geórgia ter aceite os termos de uma trégua. O artigo aponta ainda as aparentes contradições entre as declarações russas de que não iriam estender as suas acções militares além da Abecázia e da Ossétia do Sul e os bombardeamentos que atingem localidades georgianas nas proximidades da capital.
Da perspectiva russa, o Moscow Times apresenta os acontecimentos de domingo e de segunda-feira e dá destaque a uma declaração de Medvedev que, no mínimo, se pode considerar infeliz:   Medvedev, meeting the leaders of the State Duma factions in the Kremlin on Monday, cautioned the West not to flirt with "aggressors."

"I will remind you that history has plenty of examples of pacifying an aggressor. Western countries were engaged in this 70 years ago," Medvedev said, referring to the Munich agreement of 1938. The agreement, signed by Germany, Britain, France and Italy, "untied the hands of the Hitler regime" to annex and occupy part of the former Czechoslovakia, he said.
Pode não vir da mesma escola de Vladimir Putin mas aprende depressa.


Já o Kommersant realça a forma como o ocidente se torna cada vez mais crítico das acções empreendidas pela Rússia e como isso pode vir a ter consequências negativas nas relações entre os dois lados. Mais interessante é este artigo do mesmo jornal em que é calramente referido que uma das condições que a Rússia impõe para o cessar-fogo é a saída de Saakashvili do poder, uma vez que ninguém na Rússia aceitaria falar com ele. Depois de ter referido que não pretendia mudar o regime na Geórgia mas que alguns líderes devem considerar se o que estão a fazer é o melhor para os seus povos, a Rússia recusa-se a dialogar com o presidente da Geórgia e pretende estabelecer um tribunal ad-hoc em que Saakashvili seria indiciado por crimes de guerra. O mesmo jornal acusa ainda, através de uma notícia avançada pela agência RIA Novosti, que os EUA estarão a treinar mercenários ucranianos e bálticos que combatem ao lado das tropas georgianas no conflito.
Do ponto de vista dos georgianos, a Rússia é acusada de deliberadamente bombardear posições civis em várias localidades afastadas da região da Ossétia do Sul - entre as várias acusações apontadas ao Kremlin, encontram-se a utilização de bombas de fragmentação e o ataque indiscriminado a alvos civis. A opinião pública georgiana apresenta-se cada vez mais crítica em relação ao ocidente que consideram estar a falhar nos seus compromissos. Para terça-feira à tarde foi convocada uma manifestação de unidade nacional em Tbilissi.

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11.8.08

Geórgia - Rússia, nova actualização

Ao quinto dia de conflito, as perspectivas de resolução pacífica parecem cada vez improváveis. De acordo com a Geórgia, cerca de metade do país encontra-se sob controlo russo e está em curso uma verdadeira invasão em grande escala pelo controlo do país. Se a missão de manutenção da paz russa nunca foi uma verdadeira missão de paz no sentido que a ONU dá à expressão, os acontecimentos de hoje, a confirmarem-se, não deixam margem para dúvidas de que a Rússia tem como objectivo reduzir a Geórgia à mais pequena expressão. As tropas russas não só avançaram além da Ossétia do Sul em direcção a Gori como também entraram no interior do território georgiano a partir da Abecázia. Na prática, abriu-se uma segunda frente, de forma a prender os georgianos que se encontram a combater na fronteira meridional da Ossétia do Sul. Isto entra em contradição directa com o que um general russo afirmou, que a Rússia não pretendia invadir a Geórgia.

Vladimir Putin acusa o ocidente de estar a inverter os papéis e a olha para o problema numa perspectiva maniqueísta de preto e branco - o que é errado, uma vez que é quase impossível criar "bons" contra "maus". Contudo, há muito que o propósito da missão russa se esgotou e ao nunca ter contribuído para a resolução dos separatismos na Geórgia, a Rússia sempre foi uma parte activa do problema.

Para quem acusa a Geórgia de ser a agressora e de ser quem desencadeou este conflito, é igualmente preciso observar o conflito de uma perspectiva mais alargada: não se tratou de uma agressão inusitada ou de uma expansão de território, trata-se da integridade territorial de um país que se vê privado de duas regiões do seu território, porque o seu vizinho tem interesse em manter aquele impasse.

Fora do Cáucaso, ainda não se encontra nada definido, quer a nível de UE, quer a nível da NATO. Será preciso esperar mais 24 horas para sabermos o que vai sair daqui, com toda a certeza a Rússia irá cada vez mais ser vista como um pária aos olhos do ocidente, o que depois das duas guerras da Tchetchénia, não abona nada a favor da Rússia. É pena que a única superpotência mundial esteja demasiado comprometida com outros problemas, caso contrário teríamos espaço para uma actuação verdadeiramente digna por parte de Washington.

Entretanto, a Rússia acusa os media ocidentais de fazerem uma cobertura tendenciosa a favor da Geórgia e de não referirem as atrocidades cometidas pelo lado georgiano - mais uma vez, a falta de bom senso e uma forma bastante primária de tratar do assunto, quando a maior parte dos media russos são marcadamente favoráveis à perspectiva oficial e de acordo com a perspectiva oficial do Kremlin, a Rússia está a fazer o que está certo.

Por sua vez, a Ucrânia, país cujo poder é próximo do da Geórgia, afirma querer rever o acordo que permite à Rússia manter ancorada a frota naval do Mar Negro em Sevastopol [na Crimeia, território ucraniano], em particular, a Ucrânia pretende impedir que a base naval seja utilizada em períodos de conflito armado.

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Geórgia - Rússia, nova actualização

Após um mês marcado por descidas, o preço do petróleo voltou a subir em consequência do conflito que opõe a Geórgia à Rússia. A BP afirma que o oleoduto BTC não foi danificado mas não podemos fazer previsões sobre qual será o alcance deste conflito.
Ao mesmo tempo, um general russo diz que o seu país não tem planos para estender a sua presença além das duas regiões separatistas [que são território georgiano] para o restante território da Geórgia - não sabemos se isso vai acontecer ou não.

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Geórgia - Rússia, mais uma actualização

A era da informação é mesmo boa, não acham?

Nas Nações Unidas, EUA e Rússia trocam acusações acerca da intervenção russa na Geórgia. Enquanto o representante da Rússia afirma que a acção do seu país é legítima e que se destina apenas a proteger civis e militares russos na Ossétia do Sul, o representante dos EUA acusa a Rússia de pretender mudar o regime na Geórgia.

Não seria a primeira vez que a Rússia tenta mudar um regime que não lhe agrada, sobretudo quando a resposta russa vem sob a forma de "Por vezes, alguns líderes democráticos cometem actos que resultam am problemas graves para o seu país" (...) "Há líderes que se tornam obstáculos. Às vezes, esses líderes precisam de reflectir acerca da sua utilidade para o seu povo." Outra coisa em que a Rússia tem bastante experiência é em determinar o que é ou não é bom para vários povos.

Claro que a resposta russa à acusação norte-americana de que Moscovo estaria a criar uma campanha de terror na Geórgia só poderia ser uma - é inaceitável vindo de um país cujas acções na Sérvia, Afeganistão e Iraque são bem conhecidas. Ou seja, uma vez que os EUA estiveram envolvidos em campanhas militares que não tinham razão de existir, a Rússia tem carta branca para fazer o que quiser, uma moralidade exemplar para o Mundo, não haja dúvida.

Começam também a surgir interrogações sobre quem está ao comando desta situação - Medvedev, o recém-empossado presidente, ou Putin, o ex-presidente e actual primeiro ministro? Aparentemente, parece que Putin é melhor a dizer aos EUA para se afastarem do "quintal" russo.

Entretanto, este artigo do The Guardian coloca o conflito numa lógica mais abrangente do que o transporte de recursos energéticos e insere-a num fundo mais alargado acerca das tentativas de reduzir a influência russa na região, onde se juntam a aproximação da Geórgia a NATO e o recente revés que aquele país sofreu no objectivo de aderir à Aliança Atlântica.

Não sabemos como vai sair a Geórgia de tudo isto - Saakashvili, o presidente da Geórgia que ascendeu ao poder depois da revolta popular contra Eduard Shevernadze em Novembro de 2003 [conhecida como a "revolção das rosas"] e que deu ao país uma forte orientação pró-ocidental pode ser o sacrificado no meio de tudo isto, se o status quo acabar por ser ainda mais desfavorável à Geórgia do que já era antes do dia 7 de Agosto.

Como vai sair a economia georgiana depois de vários ataques russos a algumas estruturas vitais?Quanto tempo será preciso para o país recuperar dos danos sofridos e que ainda vai sofrer? A economia georgiana, apesar de ter crescido bastante nos últimos anos, sofreu um sério abalo quando em 2006 a Rússia impôs um embargo às suas exportações de vinho, um dos produtos mais importantes nas exportações georgianas, sem que fosse dada uma razão muito covincente para tal embargo.

Se o passo seguinte for afastar ainda mais a Ossétia do Sul e a Abecázia da Geórgia e torná-las em repúblicas constituintes da Federação Russa de facto, pondo fim às tentativas georgianas de recuperar a sua integridade territorial, o país sairá muito prejudicado e com a sua credibilidade fortemente abalda - Saakashvili pode começar a pensar em fazer o que a Rússia mais gostaria que ele fizesse, uma vez que esta sua acção irresponsável não vai ter sucesso e os georgianos dificilmente podem esperar que a integração euro-atlântica do país chegue em breve.

Parece também que alguém importante na UE leu o que escrevi acerca da falta de voz da Europa nesta situação - será que vai ser levado até ao fim?

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10.8.08

Geórgia e Rússia - continua...

A Rússia já demonstrou que não permite qualquer contestação à sua influência no Cáucaso - após rejeitar pedidos de contenção por parte dos EUA e da UE, a acção militar russa atingiu o aeroporto de Tbilissi e impôs um bloqueio naval à Geórgia, de forma a evitar o fornecimento de armas por via marítima.
A Geórgia, por sua vez e após ter percebido que nenhum país ocidental iria arriscar perder uma única vida que fosse por sua causa, iniciou uma retirada - a medida mais racional quando se é o único país a combater contra a Rússia - e apelou a um cessar-fogo, alegando já ter cumprido a condição de retirada da Ossétia do Sul. Não sabemos se de facto todos os soldados georgianos já foram retirados da Ossétia do Sul, mas a Rússia não parou com os ataques a alvos dentro da Geórgia.
Já se tornou óbvio que não existe qualquer racionalidade ou sequer, o mais pequeno princípio de honra nesta situação. A Rússia, como país de projecção global que é, não quer que o Mundo a veja perder influência no seu "estrangeiro próximo", por isso tem patrocinado, nos últimos 17 anos, separatismos violentos em vários ex-membros da URSS. Isso já sabemos.
Que a Rússia mantém uma missão de "manutenção da paz" na Ossétia do Sul, também o sabemos. O que não sabemos é se alguém respeitável na comunidade internacional contesta a legitimidade dessa missão de "manutenção de paz". Uma missão de manutenção de paz, pelo menos de acordo com as que são implementadas pelo Conselho de Segurança da ONU, não tem como deveres apoiar, armar e financiar separatistas, tal como não tem como dever utilizar membros que não pertencem à força de manutenção da paz e bombardear alvos militares e civis fora do âmbito da sua missão.
A Rússia está a mostrar-nos que mais ninguém lhes vai fazer o que a Tchetchénia fez - esta proclamou a independência e os seus principais activistas recorreram a métodos terroristas que passavam pelo homicídio de civis inocentes; em resposta, a Rússia com a sua legitimidade estatal e para afirmar que quem detém o monopólio da violência é o estado, destruiu a Tchetchénia toda e arrasou a capital; pode ter acabado com alguns dos criminosos que cometeram atrocidades contra civis, mas destruiu a vida de milhares de civis que não cometeram quaisquer crimes.
Desta vez com a Geórgia, a Rússia está a demonstrar que este país não vai pôr em causa o seu poder fora das suas fronteiras no "estrangeiro próximo" - nem que para isso tenha que destruir a vida de milhares de pessoas na Geórgia.
O que acaba por ser mais absurdo é a forma como qualquer tentativa de chamar à razão quem detém o maior poder de acabar com este conflito [ou seja, a Rússia, que foi quem o criou] é recebida com objecções completamente infantis - afinal, os EUA não podem criticar ninguém porque também já interferiram nos assuntos internos de outros estados. É assim que a Rússia reage quando de Washington vêm tentativas de apaziguamento e avisos quanto ao perigo que a intervenção russa pode desencadear, uma vez que os EUA estão envolvidos em duas guerras no Afeganistão e no Iraque [e uma vez que a Rússia se opôs a estas invasões, não por motivos humanitários mas para afastar os EUA da sua esfera de interesses] e isso impede-os que alguém os leve a sério.
Sabemos que atingimos um ponto muito baixo quando as chamadas "elites" de alguns dos países mais importantes do mundo se vêem reduzidas a argumentos de escola primária, na linha de "eu posso fazer, tu também fizeste" - faz-nos pensar afinal para que raio servem a civilização, a honra e os princípios se só estamos à espera que o outro cometa um acto condenável de forma a legitimar o nosso. "Eles mataram civis? Vamos fazer a mesma coisa!" Sempre ouvi dizer que duas acções erradas não fazem uma certa e se a Rússia se opôs à independência do Kosovo mas apoia os separatismos de outros territórios onde também existem milícias armadas, então Moscovo não tem mais legitimidade moral do que Washington - afinal, parece que não houve assim tanta coisa a mudar com o fim do período bipolar.
Entretanto, está a preparar-se um novo cenário igualmente perigoso  - os separatistas da Abecázia, apoiados por militaress russos [quem mais?], iniciaram uma ofensiva contra as forças georgianas nas imediações daquele território. Depois de uma acção muito mal calculada na Ossétia do Sul, seria completamente ridículo [para não dizer quase impossível] que a Geórgia tentasse retomar o controlo sobre a Abecázia - estaremos então, a assistir a uma guerra preventiva da Rússia sobre a Geórgia, para garantir que depois da Ossétia do Sul, ela não tentará pôr novamente em perigo os interesses russos na região? Guerra preventiva...não faz lembrar nada?

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9.8.08

Geórgia vs Rússia - as últimas informações

Apesar do meu optimismo ingénuo de ontem, hoje parece mais difícil que este enfrentamento entre a Geórgia e a Rússia [aparentemente] devido à Ossétia do Sul venha a terminar brevemente e com o mínimo de vítimas possível.

Podemos viver na chamada "era da informação" mas é muito difícil obter informações isentas sobre o que de facto se está a passar no terreno, quais foram os danos e quantas pessoas foram afectadas. 

De acordo com as notícias de hoje, a cidade georgiana de Gori [localizada fora da Ossétia do Sul] foi bombardeada pela aviação russa e terão sido destruídos edifícios habitados por civis - algo que, a confirmar-se, atira para o caixote as acusações russas de que a Geórgia está a bombardear civis na Ossétia do Sul. 
Outro alvo da Rússia foi o porto do Mar Negro de Poti, que de acordo com alguns relatos, terá sido totalmente destruído. A confirmar-se, será um duro golpe para a economia da Geórgia, já de si fragilizada por anos de corrupção e de instabilidade macroeconómica.
Paralelamente, o jornal russo Kommersant, que é considerado como o menos influenciável pelo Kremlin, relata que os georgianos estão deliberadamente a atacar civis, ajudando as acusações de genocídio por parte da Rússia. Refere ainda que cerca de 2000 pessoas terão morrido em Tskhinvali e nas aldeias ossetes atacadas pela Geórgia. A agência russa Interfax relata que a cidade de Tskhinvali foi totalmente arrasada pelos georgianos e que já não existe.
Entretanto, uma das melhores explicações para esta situação chega-nos através do Jersualem Post, que relaciona os acontecimentos com a política externa russa e a noção de "estrangeiro próximo", além de referir igualmente que a forma como este conflito pode pôr em evidência se o ocidente tem ou não alguma capacidade de influenciar os acontecimentos no Cáucaso.
Numa conferência de imprensa dada hoje nas Nações Unidas, o ministro dos negócios estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, repetiu a posição oficial russa sobre o assunto - que estão a defender cidadãos russos e a impedir que a Geórgia volte a colocar em perigo os "peacekeepers" [sim, as aspas são intencionais] e os civis e ainda aproveitou para realçar a suspeita de que a Ucrânia estaria a fornecer armas à Geórgia, o que na sua opinião seria um verdadeiro perigo.
Entretanto, o oleoduto Baku-Tbilissi-Ceyhan interrompeu o fluxo de petróleo - o que já constitui um ponto positivo para a Rússia. Se a situação se deteriorar ao ponto de o transporte de petróleo por aquela infraestrutura se tornar demasiado perigoso, vários países europeus correm o risco de agravar a sua dependência energética em relação à Rússia - uma forma de Moscovo exercer mais influência sobre a Europa ocidental do que aquela que exercia durante o período bipolar. A Geórgia acusa ainda a Rússia de ter bombardeado o referido oleoduto, mas a acusação ainda não foi confirmada.
E a União Europeia...por onde anda? Onde está uma posição comum dos 27? Onde está uma tentativa de abordar a Geórgia e a Rússia ao mais alto nível? Onde está um plano e uma proposta de uma missão europeia de manutenção da paz na região? Este silêncio não se pode justificar apenas por ser sábado...Se não existir uma posição sólida e respeitável da UE em relação a esta situação, dificilmente a União poderá ser levada a sério em futuras crises internacionais, uma vez que nem é capaz de agira quanto a uma que fica a algumas centenas de quilómetros do seu território.
Ah, e na Abecázia os separatistas parecem estar a tentar ganhar território com o deslocar do esforço militar georgiano para a Ossétia do Sul. Há algumas horas atrás, houve relatos não confirmados de que estariam a ter apoio aéreo por parte da Rússia - se for verdade, mostra que Moscovo não tem interesse nenhum em simplesmente proteger os seus cidadãos [aos quais foi concedida cidadania russa por interesse].
Talvez isso explique porque razão o Conselho de Segurança não consegue chegar a acordo nem sequer quanto a um simples apelo ao cessar-fogo, sendo a Rússia um membro permanente, basta exercer o seu direito de veto.
Algo me diz que vamos ter um mês de Agosto animado...

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Nova guerra no Cáucaso?

Depois de vários anos de impasse, em apenas uma semana a situação na república separatista da Ossétia do Sul deteriorou-se gravemente. após uma violação do cessar-fogo por parte de separatistas ossetes, a Geórgia pôs em marcha o seu plano de recuperação da região e entrou na região separatista que, de jure, pertence à Geórgia ao mesmo tempo que iniciou um bombardeamento da cidade de Tskhinvali, capital da república separatista.

Em reacção, a Rússia [apoiante dos separatistas, mantém tropas de manutenção da paz na região e concedeu cidadania russa à grande maioria dos habitantes da Ossétia do Sul], ultrapassando as competências da missão de manutenção da paz, entrou no território georgiano e bombardeou várias localidades na Geórgia, incluindo uma base militar nos arredores da capital, Tbilissi.

Se o ambiente entre a Rússia e a Geórgia já era mau, caiu para um nível ainda pior. Há quem tema uma guerra entre os dois países, há quem tema, com recurso à imaginação que o ocidente e os EUA acabem por se envolver e que dê origem a um novo conflito global. Há quem tema uma nova guerra civil na Geórgia...seja qual for, a solução pelo conflito vai ter um balanço muito mais negativo do que positivo.

Mesmo assim, é difícil de acreditar que a situação chegue a um conflito armado. A Geórgia não dispõe de capacidade suficiente para manter uma guerra aberta contra a Rússia, por mais galvanizada que a sua opinão pública esteja [e depois de dezassete anos de apoio russo aos separatistas naquele país, é de esperar que exista um forte sentimento anti-russo no país]. O ocidente, em particular, os EUA, não iria querer pôr em perigo a sua relação com a Rússia [que não é a melhor, não haja dúvida] por causa de um pequeno país como a Geórgia, ainda que esta se tenha aproximado das organizações euro-atlânticas desde a "revolução das rosas" em Novembro de 2003 que retirou Shevernadze do poder e o substituiu por Saakashvilli. De qualquer forma, a Geórgia está longe de entrar para a NATO.

A própria Geórgia nunca iria entrar numa guerra com a Rússia sem o apoio declarado do ocidente - que se traduzisse em armas e financiamentos - e isso é algo que dificilmente vai acontecer. O dever dos países ocidentais para com a Geórgia não é incentivá-la a entrar em guerra com a Rússia, nem fornecer-lhe armas e créditos a fundo perdido - é o de evitar que a situação piore, e aqui a UE, bem como a ONU terão um papel vital. Se muitos acusam a UE de não ser capaz de impor a sua voz no panorama mundial, aqui está uma oportunidade de tentar mostrar que essa acusação está errada - contudo, ela pode muito bem estar certa e, tal como aconteceu nos Balcãs, a UE pode ter uma crise grave na sua vizinhança e não desempenhar nenhum papel importante.

Quanto à Rússia, não se pode esperar que deixe passar a oportunidade de mostrar ao mundo que o estigma da Tchetchénia já está mais do que ultrapassado e que a actual Rússia está muito diferente da que foi humilhada no Cáucaso, no início da década de 1990. A Geórgia há bastante tempo que era vista em Moscovo como uma espinha, a sua candidatura à NATO foi muito mal vista pelo Kremlin e a invasão da Ossétia do Sul deu aos russos a justificação ideal para intervir directamente na Geórgia -.pelo menos desta vez não podem dizer que não interferem nos assuntos internos de outros estados. Convém também lembrar à Geórgia que as forças armadas russas estão entre as mais numerosas do Mundo e que a frota russa do Mar Negro está ancorada na Crimeia, a apenas algumas centenas de quilómetros da Geórgia e com um porto aliado na Abecázia.

É verdade que a Rússia não gosta da existência do oleoduto Baku-Ceyhan, que permite aos países ocidentais comprar quantidades consideráveis de petróleo sem a envolver, mas um oleoduto não será a principal motivação para um conflito? Ou será...? Ainda que seja explorado pela BP, será que a Rússia pensa em arrastar a situação ao ponto de mudar o poder de Tbilissi por um mais pacífico que, pelo menos, ponha fim à aproximação georgiana ao ocidente? Mas num país como a Geórgia, que tem uma identidade cultural única e que, até durante o período soviético, afastava sempre para o mais longe possível a influência de Moscovo, onde se podem encontrar elementos pró-russos em número suficiente para que possam ser instalados na Geórgia?

Podemos não saber como é que esta situação se vai desenvolver, mas é necessário que todos os envolvidos sejam racionais e pensem sobretudo no interesse da paz.

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6.8.08

Lifted da Pixar

Esta curta-metragem já tem mais de um ano, seja como for gosto muito dela. Por isso aqui a têm, enjoy!



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5.8.08

The Dark Knight


Infelizmente e tal como eu temia, The Dark Knight não é uma transposição de Batman para o grande écran - é qualquer coisa diferente, é um filme de acção contemporâneo, é um filme sobre um louco que por impulsos incontroláveis obtém um enorme prazer em semear o caos e a anarquia e sobre como as forças da ordem e da justiça não o conseguem travar...mas não é um Batman.

Apesar de o argumento em si ser razoável, é desajustado à personagem e à figura de Batman, enquanto parece ter sido feito de encomenda para este Joker, o que reforça a ideia de que o filme está construído em torno de Joker como o motivo de existência do Batman...algo que o próprio, interpretado pelo Heath "dead man" Ledger dá a entender várias vezes. 

As personagens são fracas, não há forma mais simpática de dizer isto - Bruce Wayne não serve para nada, Batman limita-se a cumprir o que dele é esperado, Harvey Dent está demasiado forçado no seu papel de "justiceiro das regras" e cai de forma incrivelmente fácil na teia do Joker quando assume a forma de Two Face, Jim Gordon limita-se à sua competência, Rachel Dawes anda a inspirar piedade durante o filme todo até à sua tragédia e Alfred e Lucius Fox têm a obrigação de ser muito melhores uma vez que são interpretados por Michael Caine e por Morgan Freeman. Sim, mais uma vez, o único que sobressai é Joker - e sobressai porque tem um argumento razoável ao seu serviço.
Não sei porque razão decidiram pegar na personagem de Batman e trazê-la para o grande écran num cenário actual, que apesar de fictício, partilha muitos aspectos com o Mundo real -quem conhece minimamente a personagem, sabe que Batman precisa de um ambiente próprio, tal como os morcegos precisam do seu habitat. Por ser o único superherói de primeira linha sem "super poderes", Batman é uma personagem com uma complexidade que não pode ser encontrada noutros superheróis vindos das bandas desenhadas. O habitat de Batman é Gotham City, cidade fictícia caracterizada por elementos que a tornam perfeita à existência de uma personagem como o Morcego - ambiente noir e pesado, arquitectura art deco e art nouveau, onde não faltam os arranha-céus inspirados na arquitectura de Manhattan da primeira metade do século XX completos com as gárgulas nos telhados, elementos neo-góticos, bruma...um local que impõe respeito e que parece repelir eventuais curiosos.
Nada disso existe em The Dark Knight - a Gotham City retratada no filme não é mais que uma metrópole contemporânea sem carcaterísticas que a distingam de tantas outras - Dubai, Singapura, Taipei, Seul...qualquer uma destas cidades podia ter sido o cenário para The Dark Knight e o mais preocupante é que o filme ignora qualquer forma de criar o ambiente necessário para trazer Batman ao grande écran, além de não se compreender porque razão existem tantas cenas importantes passadas em plena luz do dia, parece que vários membros da equipa de produção desconhecem a natureza dos morcegos - em vez disso, o que temos é um ambiente genérico que poderia servir a qualquer superherói. Alguém deve uma enorme explicação por ter levado Batman ate Hong Kong durante uns minutos - desde quando é que o justiceiro de Gotham City faz incursões em locais do Mundo real?
Surpreendentemente, The Dark Knight não só conquistou o público [o que era de esperar, sendo este um blockbuster de Verão] como parece ter encantado a crítica, que vê nele uma reflexão sobre as diferentes facetas que podem existir em cada pessoa e sobre o equilíbrio frágil entre o certo e o errado ou o que separa a sanidade da loucura...aparentemente, o facto de ter desfigurado Batman não parece ter sido importante.
É uma posição conservadora, para não dizer reaccionária, mas deveria haver uma lei que proibisse a realização de filmes sobre a personagem Batman a todos os que não se chamam Tim Burton.

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2.8.08

O VERDADEIRO comunicado de Cavaco

Podem pensar que o PR apenas perdeu o nosso tempo ao convocar o país para um comunicado no qual apenas abordou um assunto administrativo - afinal, dissolver a Assembleia Regional dos Açores e discordar de alguns pontos do Estatuto do arquipélago parece insignificante para uma comunicado daqueles, em directo, anunciado como se de alguma coisa grandiosa fosse; afinal, os Açores não têm gerruilhas separatistas.
O que se passou foi algo muito mais complexo - na verdade, o PR utilizou um código elaborado para fazer chegar uma mensagem muito mais importante a um círculo restrito de indvíduos, onde eu, obviamente, me encontro.

É então, com o risco da própria vida, que vos trago o verdadeiro texto da intervenção de Cavaco Silva, às 20:00 do dia 31 de Julho de 2008. Façam o favor de o ler recriando dentro das vossas cabeças a nauseante voz de Cavaco Silva, que parece ter sido arrancada a muito custo de um raspador de limões. 


"Portuguesas e Portugueses

Dirijo-me a vós com um assunto de grande importância para o nosso país, um assunto que importa a todos nós e que deve ser encarado com a maior seriedade possível.

Como sabem, encontramo-nos a meio da estação estival, quando muitos portugueses vão gozar uma merecidas férias.

É nesse contexto que o Presidente da República, em conformidade com os seus deveres constitucionais, deve alertar o país para a seguinte situação.

Recentemente, tive a oportunidade de jantar num pequeno restaurante nos arredores de Lagos chamado "O buraco do tio Tó Mané", que me tinha sido recomendado por pessoas de confiança. No entanto, apesar do aspecto acolhedor quando visto do lado de fora da estrada, os cerca de 80 minutos que eu e os meus acompanhantes passaram nesse estabelecimento de restauração, constituem motivo suficiente para fazer um alerta a todos os portugueses de forma a evitarem o referido local.

De uma forma sintética e racional, o local apresentava um nível muito abaixo daquilo que se esperaria. A porta encontrava-se ferrugenta, mostrando mais ferrugem do que superfície pintada. As cadeiras, além de serem aquelas cadeiras que julgamos sempre ter azar ao sentarmo-nos numa porque uma das pernas é mais curta que as outras, estavam em decomposição. O pavimento encontrava-se numa situação bastante lamentável, que não só revelava um apreço invulgar por insectos rastejantes de várias espécies, alguns dos quais já não eram visto há muito tempo, como ainda demonstrava uma concentração alarmante de carne nas fendas, a qual estava frequentemente rodeada por restos mortais de insectos voadores, em resultado do elevado nível de toxicidade que se encontrava na comida.

Em relação ao repasto propriamente dito, a refeição que foi servida no dito local exalava um odor semelhante ao de uma cavalariça cujos inquilinos se encontravam à bastante tempo sem passar por uma lavagem. De facto, os maiores apreciadores da refeição servida, pertenciam a uma ordem de insectos que mostrou bastante interesse no conteúdo dos pratos, enquanto que os bordos dos pratos acumulavam substâncias sólidas de cores preocupantes. Havia mesmo uma mancha laranja que pela sua consistência, parecia já ter assistido a bastantes eventos históricos, talvez até mesmo aos últimos dias do XII Governo Constitucional.

A existência de tal local de restauração vai contra a as mais elementares regras da democracia, uma vez que impõe aos seus clientes um tratamento hospitalar que inclui uma lavagem ao estômago mas não lhes permite escolher se desejam ou não submeter-se a esse procedimento, uma vez que todos os seus pratos provocam uma rejeição violenta do organismo.

É assim com base nestas razões, que o Presidente da República decidiu, após longa e ponderada reflexão, efectuar uma alteração profunda mas necessária ao funcionamento da país. A partir do próximo dia 1 de Setembro, a Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica [ASAE] irá ter poderes alargados e irá estar permanentemente presente em todas as freguesias do país, de forma a aplicar directamente a lei sempre que esta não seja cumprida.
A Autoridade será reforçada e irá tornar-se na principal força de segurança do país. Além disso, vou conferir poderes alargados à Autoridade e pressionar a Assembleia da República no sentido de alterar a Constituição de forma a tornar a ASAE numa força omnipresenta na nossa sociedade - para que situações semelhantes sejam impossíveis de acontecer e que nem um português possa espirrar ou tossir em público colocando em perigo a saúde dos seus concidadãos.

Tenho dito.
"

E pronto, como podem ver, não era nada de pequeno, simplesmente vamos ter a ASAE a fiscalizar virtualmente TUDO; vamos inclusivamente ter uma divisão da ASAE especializada em buscas aleatórias a residências, para que ninguém deixe um guardanapo sujo ou uma beata de cigarro por deitar fora - talvez até seja útil. Muita gente diz mal da ASAE, mas já pensaram como seria bom se eles viessem destruir o nosso lixo? Até se podiam deixar os pratos sujos na cozinha que eles vinham rapidamente eliminar a sujidade, afinal a saúde deveria estar acima de tudo. Pensassem as ditaduras assim, em vez de simplesmente atirarem os opositores para a prisão e haveria muito mais gente satisfeita com elas.

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29.7.08

Calvin&Hobbes


Calvin&Hobbes nunca deveria ter sido grande - uma banda desenhada protagonizada por uma criança de seis anos, cínica, anti-social e propensa para o mal cujo único amigo é um tigre de peluche com uma natureza ambivalente e com actividades diárias que a colocam numa posição de antagonismo contra o resto do mundo não reúne nenhuma condição para o sucesso.

A mestria do autor, Bill Watterson, que conseguiu que Calvin&Hobbes fosse publicado entre 1985 e 1995 em centenas de jornais de todo o Mundo e editado em colectâneas.

Em Calvin&Hobbes, vemos como é possível transportar para o formato BD temas complexos e abstractos relacionados com a existência humana e com os fenómenos que nos afectam enquanto indivíduos - ao mesmo tempo que assistimos também às mais longínquas divagações e devaneios de um rapaz de seis anos que gosta de visualizar dinossauros, naves espaciais e fenómenos da natureza como pano de fundo das situações do dia-a-dia.

Dificilmente se pode colocar algo com Calvin&Hobbes ao lado da grande maioria das bandas desenhadas publicadas na imprensa - seria uma enorme injustiça para com a obra de Bill Watterson, Calvin&Hobbes vai muito além da função de divertir e abre caminhos que nunca pensaríamos possíveis no espaço confinado de uma tira de quatro vinhetas ou numa página de BD - a capacidade de apresentar correntes artísticas e o seu meio, religião, psicologia humana e desejos infantis levados ao extremo através das conversas e acções de um rapaz de seis anos com o seu tigre de peluche demonstram que o autor conseguiu transpor a linha que separa o entretenimento da arte e imortalizou uma aparente banda desenhada para crianças ao ponto de a levar aos mais altos patamares da BD.

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25.7.08

Uzbequistão

Uzbequistão...esse país da Ásia Central, antiga república da União Soviética, é tão...tão........faltam-me as palavras, mas não ia dizer nada de bom. Sim, tal como o vizinho Turquemenistão, o Uzbequistão optou por seguir a via do totalitarismo onde o poder está concentrado no presidente e no seu círculo íntimo, aliás o presidente é o mesmo desde 1990, uma vez que transitou calmamento do cargo "soviético" para "presidente uzbeque".
Massacre de Andijan, Maio de 2005; número de vítimas mortais desconhecido, possivelmente acima das 600.
Eu sei, eu sei, devia meter-me onde sou chamado...mas o Uzbequistão é um dos piores exemplos que se pode dar no que diz respeito ao tratamento dos cidadãos. Não só a tortura é uma prática comum por parte das forças da "ordem" ["ordem" governamental, leia-se], como as autoridades obrigam milhares de crianças e de estudantes a trabalhos forçados nas plantações de algodão, muitas vezes sem pagamento e sem protecção de qualquer espécie.
Pois bem, aqui temos mais um exemplo de como alguém que tenha a infelicidade de nascer no Uzbequistão tem a sua vida deliberadamente prejudicada por quem comanda o país - não só os principais meios de comunicação estão nas mãos do estado, como a própria internet é alvo de um controlo sufocante. Uma vez que todas as linhas de acesso à internet pertencem ao estado, é fácil para as autoridades uzbeques bloquearem e filtrarem todos os conteúdos que lhes parecem "ameaçadores". Imaginem como seria se tentassem aceder a um site que fosse considerado "perigoso para a integridade nacional" e que a tentativa de o visitar ainda os denunciasse e lhes garantisse um interrogatório por parte de polícias à paisana.
É algo que, vivendo numa sociedade democrática, não conseguimos imaginar, mas que acontece - não só no Uzbequistão, como noutros países, os mais óbvios são a China e o Irão. Infelizmente para os uzbeques, a censura é de tal forma eficaz que é preciso ser-se extremamente hábil para a contornar - enquanto nós podemos consultar livremente o site Ferghana.ru que apresenta várias notícias consideradas "incómodas" para as autoridades uzbeques, alguém que viva em Tashkent ou em Samarcanda terá muitos problemas se quiser aceder à informação ali apresentada.
Pior ainda, as autoridades uzbeques nunca tiveram qualquer problema com os Estados Unidos ou com a Rússia - embora se tenham afastado das tentativas de se aproximarem de Wahsington desde o massacre de Andijan, caíram nos braços do Kremlin que os acolheu com todo o gosto, afinal é mais um integrante do seu "estrangeiro próximo" - o que significa que uma intervenção externa no sentido de pôr fim a esta situação é impensável.
Isto significa que para o comum cidadão uzbeque, a maior ameaça não vem de grupos terroristas ou criminosos comuns mas do seu próprio estado - uma forma muito macabra de terrorismo.

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24.7.08

24 de Julho

Toda a gente conhece a Avenida 24 de Julho em Lisboa mas muito poucos conhecem a razão por trás do seu nome - tal como o ano em que se deu esse 24 de Julho.

Trata-se de uma das datas mais ignoradas da História de Portugal e que, como muitas outras, fazem parte de um contexto mais alargado que é impossível de explicar em algumas linhas. Ainda assim, o dia 24 de Julho representa um evento muito importante para o país e quando um país ignora o seu passado, não está em condições de encarar o seu futuro.

24 de Julho de 1833 foi o dia em que as tropas liberais comandadas pelo Duque da Terceira entraram em Lisboa, após a conquista do Algarve, a travessia do Alentejo e a vitória sobre o general Teles Jordão em Almada. Portugal encontrava-se em guerra civil, entre os absolutistas leais a D. Miguel e os liberais leais a D. Pedro, que abdicara do título de Imperador do Brasil para regressar a Portugal e comandar a ofensiva contra a casa real portuguesa. A guerra civil ganhou um rumo decisivo a favor dos liberais que iriam vencer o conflito no ano seguinte, o qual terminou oficialmente com a assinatura da Convenção de Évora Monte.

Na história não pode haver "bons" nem "maus" e não podemos rotular liberais e absolutistas num espectro preto e branco - é um erro grosseiro e ao cometê-lo corre-se o risco de prejudicar o nosso olhar sobre o presente e sobre o futuro.  Do ponto de vista de quem escreve em 2008, não posso deixar de considerar a vitória liberal como positiva para o país - ou talvez deva dizer, "menos negativa". A corrente absolutista rejeitava a nova organização política que se disseminara pela Europa desde 1789 e que, ironicamente, impôs ideias liberais através das Guerras Napoleónicas. O seu contributo não pode ser descartado e o apoio dado pela França e pela Inglaterra à facção liberal foi fulcral ao seu triunfo - pode-se então questionar se a vitória liberal em Portugal não teria sido apenas uma manipulação daqueles dois países que, face à indefinição de Portugal e Espanha não estavam dispostos a perder a sua influência na Península Ibérica e decidiram intervir.

É possível, mas num país pequeno como Portugal que recentemente tinha concedido a independência ao Brasil - a maior e mais importante possessão colonial portuguesa - isolar o país dos seus vizinhos iria trazer consequências nefastas para o seu futuro. Um eventual triunfo absolutista em Portugal, não só iria atrasar as muito necessárias intervenções na ordem do reino [em que Mouzinho da Silveira se tinha destacado, até ser afastado do governo antes do início da guerra civil] como iria colocar o país numa situação perigosa, face às maiores potências da Europa. Decorridas as invasões francesas e a ocupação britânica, Portugal não podia arriscar continuar afastado da corrente que varria a Europa, como se de um recanto isolado se tratasse.

É indiscutível que o período que se seguiu ao final da guerra civil de 1832-34 foi de enorme agitação e instabilidade em todos os sectores da sociedade - de uma magnitude que hoje não compreendemos uma vez que vivemos numa sociedade muito diferente daquela em que estes acontecimentos se desenrolaram - mas não deixa de ser verdade que ao olharmos para a História, conseguimos compreender que são necessárias mudanças dolorosas para assegurar uma evolução positiva - no caso de Portugal não seria tão positiva como se pretendia, ainda assim julgo que o balanço foi positivo.

Por isto, a data de 24 de Julho está ligada a um dos períodos mais importantes da História da Portugal e deixá-la no arquivo é errado - tal como outras datas daquele período, deveria ser assinalada oficialmente e talvez não fosse descabido estabelecer o dia 24 de Julho como o feriado municipal de Lisboa, em vez de um "santo" do século XII.

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23.7.08

Bulgária com fundos europeus suspensos

Especificamente, são referidas a falta de empenho das autoridades em pôr cobro ao crime organizado, à corrupção e à fraude existentes no poder executivo, bem como a discrepância entre o que é legislado e o que é feito. Os €500 milhões que acabam de ser suspensos dizem respeito a fundos que fazem parte do acordo de pré-adesão, mas se a Bulgária não cumprir com o que lhe é exigido, podem estar em risco os €4,5 mil milhões que são lhe destinados ao longo dos próximos cinco anos.
Hoje é publicada a versão final do relatório, que foi alvo de alguma suavização de forma a aliviar a dureza da linguagem usada, mas a mensagem que passa para os parceiros comunitários da Bulgária é esta - o dinheiro não está a ser bem aplicado e está a ser desviado em total desrespeito para com os países dadores e para com os cidadãos.
 
A Roménia foi igualmente alvo de avisos, não tão ameaçadores quanto os que foram feitos à Bulgária, é certo, mas ainda assim, os tribunais romenos não são suficientemente diligentes nas condenações por corrupção e por fraude - aparentemente, mais de 90% dos casos são condenados à pena mais baixa possível.
Já em 2004 se dizia que o alargamento de então a dez novos estados estaria a ser feito demasiado depressa e que não só a UE não teria capacidade de absorver os novos membros, como estes poderiam não estar [todos] prontos para se tornarem membros de pleno direito. Em 2007, foi a vez da Bulgária e Roménia aderirem à UE, depois de em 2002 não terem sido considerados como preparados para aderir em 2004. Aparentemente, havia alguns aspectos importantes que indicavam que estes dois países não estariam ainda preparados para aderir em 2007, mas é frequente estes aspectos passarem em claro em nome de objectivos políticos - para os dois lados, claro.

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Rocko's Modern Life



Aqui está a abertura de um dos meus desenhos animados favoritos do final da infância. Rocko's Modern Life é uma produção Nickelodeon e é uma série na linha de Ren&Stimpy que partilha bastantes traços com aquela dupla mas que tem também uma série de aspectos divergentes. A personagem principal é um marsupial australiano [redundância?] chamado Rocko que vive sozinho com o seu cão, Spunky. O melhor amigo de Rocko é um boi chamado Heffer [que...foi...adoptado, uma vez que mais tarde nos é revelado que o seu pai fugiu e que a sua mãe é um assento de automóvel...] e os seus vizinhos são um casal de sapos constituído pelo senhor e senhora Big Head [traduzidos para português como senhor e senhora Tola Grande].

O infeliz Rocko passa por uma série de situações que não combinam nada com a sua pacífica pessoa - desde ser seduzido pela senhora Big Head quando o marido está fora [situação que acabou com o nosso amigo a ter de ajudar a senhora sapo quando os globos oculares desta foram tragicamente enrolados pelo vídeo depois de ela lá meter a cabeça] até uma possível deportação por não se ter legalizado, sem esquecer a sua operação ao apêndice [realizada por uma ex-dentista maneta que usa um gancho como mão] e uma viagem em que o avião onde seguem perde todos os motores depois de ter passado por entre duas montanhas e as malas são disparadas de canhão para um mundo distante.

Ah, Nickelodeon...grandes desenhos animados nos trouxeste!

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Batman


Não me considero um grande fan de super-heróis, mas o Batman é talvez o único desse universo que eu consigo respeitar e apreciar. Uma figura que leva uma vida dupla, de milionário famoso durante o dia e de justiceiro evasivo durante a noite e que desenvolveu por si próprio os seus métodos e a sua filosofia é alguém que deve ser admirado.

Embora não tenha acompanhado regularmente a banda desenhada, os dois primeiros filmes sobre este super-herói, dirigidos por Tim Burton e com Micheal Keaton no papel principal estão entre as obras cinematográficas que eu mais aprecio. Já os que se seguiram, nem por isso. Se Batman Forever, de Joel Schumacher e com Val Kilmer no papel do Morcego ainda conseguiu ser um Batman no verdadeiro sentido da palavra, Batman and Robin esteve muito longe disso.

Quanto a Batman Begins, de 2005, é um pouco difícil tratá-lo como um filme sobre Batman - além de aborrecido, afasta-se de tal forma do Batman que eu admiro ao ponto de o tornar quase irreconhecível. O filme de Christopher Nolan com Christian Bale [O Império do Sol] no papel de Batman perde totalmente o pano de fundo que os dois primeiros filmes deram ao Morcego e é pouco mais do que um filme de acção com um super-herói, que por acaso é Batman.

Não estou com expectativas particularmente boas para The Dark Knight, tendo em conta o que vi em Batman Begins. Porque é que é preciso um realizador como Tim Burton para termos um filme do Batman que seja rico em matéria visual e com uma história suficientemente atractiva para a podermos considerar como uma verdadeira adaptação de banda desenhada?

Haverá alguém melhor para fazer de vilão do que Jack Nicholson [Joker] ou Danny de Vito [Penguin]? Ou será possível encontrar outra como Michelle Pfeiffer para um papel tão diabólico quanto necesário que é o da Cat Woman? E quem melhor do que Tim Burton para criar Gotham City, a cidade com o ambiente mais pesado e mais noir do universo da banda desenhada? Em Batman Begins, Gotham City não chega a ser uma sombra daquilo que conhecemos...

Sem dúvida, nenhum super-herói consegue impressionar mais do que Batman, o homem que alcança tudo através dos seus próprios meios - o bat-sign no céu nocturno de Gotham City é possivelmente o melhor início de qualquer história em formato visual.

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22.7.08

Detenção de Radovan Karadzic


Um dos criminosos de guerra mais procurados da Europa foi finalmente detido - Radovan Karadzic foi ontem preso em Belgrado, 12 anos depois de ter sido indiciado por genocídio e crimes contra a humanidade cometidos durante a guerra civil da Bósnia, quando Karadzic liderou a facção servo-bósnia e, juntamente com o seu comandante militar, Ratko Mladic [que ainda está em liberdade], foi um dos principais mentores da chamada "limpeza étnica" que resultou no assassinato de milhares de civis entre 1992 e 1995 na Bósnia-Herzegovina.

A detenção de Karadzic, que estava a viver em Belgrado sob um nome falso e a trabalhar numa clínica privada onde exercia medicina alternativa, pode dar um contributo fundamental à candidatura de adesão da Sérvia à União Europeia, já que a entrega de Karadzic e de Mladic é uma condição para o início das negociações de adesão daquele país balcânico.

Se é positivo que mais um criminoso de guerra que protagonizou o pior conflito europeu desde a II Guerra Mundial [relembro que na guerra da Bósnia, foram mortas mais de 200 000 pessoas, ao longo de três anos que foram protagonizados por tentativas de separação étnica entre sérvios, croatas e muçulmanos], não deixa de ser vergonhoso que tenham sido necessários 12 anos para apanhar o homem mais procurado da Europa. A Sérvia foi várias vezes acusada de não fazer o suficiente para deter Karadzic e Mladic e infelizmente, os dois homens gozam do apoio de um número significativo de pessoas em vários estratos [incluindo a Igreja Ortodoxa] que lhes deram apoio e esconderijo desde que o Tribunal Internacional para a ex-Jugoslávia os indiciou, colocando assim em risco o futuro do seu próprio país.


É pena que a justiça não seja devidamente aplicada a todos os envolvidos - depois da morte inesperada de Milosevic em Março de 2006 e da detenção de Ante Gotovina em Dezembro de 2005, nem todos os procurados por crimes contra a humanidade cometidos durante a guerra dos Balcãs. Resta esperar que sejam condenados a penas exemplares, de forma a enviar o melhor sinal ao Mundo.

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21.7.08

Apedrejamentos no Irão...mas é tudo legal

No Irão, oito mulheres e um homem foram condenados à morte pelo apedrejamento. Sim, ainda há pessoas que são executadas através do apedrejamento [notem que eu não disse apenas "ainda há pessoas que são executadas"]. De acordo com esta notícia, "The eight women sentenced, whose ages range from 27 to 43, had convictions including prostitution, incest and adultery, Reuters news agency reported. The man, a 50-year-old music teacher, was convicted of illegal sex with a student, reports said."
Aparentemente, nenhum dos "crimes" foi cometido sob coacção nem vitimou ninguém, o que contribui ainda mais para vermos como certos países parecem não saber tratar os seus cidadãos como seres humanos - sendo o Irão uma República Islâmica [oh por favor...uma república de base religiosa não passa de uma mentira a todos os níveis] e se de acordo com as interpretações da lei islâmica, é aceitável apedrejar pessoas até à morte por crimes que não vitimam ninguém, isso torna-se numa prática aceitável se for ordenada pelo poder judicial.
É justo dizer-se que cada país deve tratar dos seus próprios assuntos internos, mas, e correndo o risco de ser rotulado de "ocidental arrogante" ou até mesmo de "neo-colonialista/imperialista", eu prefiro pensar que existem valores universais comuns a toda a Humanidade e que estão acima de correntes religiosas e de doutrinas políticas - caso contrário, nenhuma ideia conseguiria sair do seu local de origem e encontrar eco em locais distantes.
Não é altura de usar adjectivos como "retrógrado" ou de referir paradoxos como "tentativas de modernização que coexistem com métodos medievais" - isso é partir do princípio que todos os países se encontram num processo imparável a caminho do "progresso" e que eventualmente, vamos todos ser regidos pelas mesmas leis.
Acontece que países como o Irão [e já agora, a Arábia Saudita, antes que venham dizer que os aliados dos EUA também fazem coisas destas] consideram que abolir tais práticas seria apenas vergarem-se à pressão do ocidente e isso seria visto como uma humilhação perante o Mundo - o que é compreensível, afinal não criaram um dos estados mais grotescos do Mundo para depois suavizarem as leis devido às pressões externas.
Se no Irão, práticas como a execução por apedrejamento são vistas como normais, que legitimidade temos nós para os criticar? Afinal, os EUA também cometem violações dos Direitos Humanos [numa escala ligeiramente menor], porque é que o Irão não as pode fazer? Claro que partir do princípio que esta medida goza do apoio da maioria dos iranianos é muito imprudente. Afinal, a maioria dos húngaros detestava a ocupação soviética e ninguém os foi ajudar quando estes se levantaram contra o invasor. O mais importante aqui é saber porque razão é que um estado como o Irão ainda existe? Não se trata apenas de práticas judiciais desumanas, trata-se de todo um país que é uma distorção total daquilo que um país deve ser [e já estou a ouvir "deve ser como quem...como os Estados Unidos?"], uma vez que é um estado baseado numa religião e com intenções de manter o seu status quo através da venda de combustíveis fósseis.
Dificilmente se podem esperar atitudes de maior respeito para com os Direitos Humanos vindas do Irão - um país onde os seus dirigentes mais poderosos se dignam a ditar o que é moralmente ofensivo - e o pior de tudo isto é que não se trata de um pequeno país sem projecção mundial, trata-se de um país de grandes dimensões, com uma intervenção directa no seu vizinho Iraque, que financia movimentos terroristas no Médio Oriente e que ainda serve de orientação espiritual a muitos que pretendem instituir um totalitarismo com base na religião islâmica...onde, entre outras coisas, há pessoas condenadas à morte por adultério.

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