26.3.07

Os grandes quê...?

Seria um pouco exagerado da minha parte dizer que os portugueses gostam de ser explorados por déspotas autoritários - afinal, ontem só tivemos uma pequena amostra. Mas não deixa de ser verdade que, quando mais de 200 000 pessoas votam num concurso de televisão (que não pretende ser o paradigma da informação e do esclarecimento) cujo propósito é eleger "o maior português de sempre" e as duas primeiras figuras (com cerca de 60% dos votos) são duas relíquias do século XX português, os melhores exemplos de que alguns indivíduos não fazem falta alguma ao país onde nasceram e que representam, entre todos os que aspiraram à nossa liderança, as piores visões possíveis para o país, algo está podre na sociedade portuguesa.

Há quem diga que é um voto de protesto...eu não sei até que ponto isso pode ser verdade. Uma vez que para votar em algum dos dez finalistas era necessário fazer uma chamada de valor acrescentado pela qual se pagariam 60 cêntimos mais IVA, sinto-me inclinado para dizer que a maioria dos telespectadores que votou nos dois velhos abutres, fê-lo por convicção e por acreditar naquilo que fez.

E afinal de contas, que representam (ou representavam) eles? Um que esteve no poder durante 36 anos e só dele saiu quando foi gravemente ferido por uma peça de mobiliário, acreditava que Portugal deveria ser um país "pobre mas honrado", onde fosse respeitada a trilogia sagrada "deus, pátria e família" e liderado por um homem que, mais do que um político comum, era um "pai" para os seus cidadãos, para que estes pudessem continuar com as suas vidas (de preferência simples e sem política envolvida) sem discutir o que se passava no topo.

Outro não esteve no poder (porque nunca o conseguiu) mas tivemos um vislumbramento do que seria a sua governação em 1975, graças a pérolas como "Portugal nunca terá um Parlamento" e "A União Soviética é o Sol que nos aquece". Defendendo uma visão de um Estado partidarizado e centrado na luta de classes, pretendia a abolição da propriedade privada e da liberdade individual, sacrificando a livre iniciativa em nome do fim da "exploração do Homem pelo Homem" e com o objectivo de atingir precisamente o oposto disso mesmo (o comunismo). O facto de ter defendido as nada felizes intervenções soviéticas na Hungria em 1956 e na Checoslováquia em 1968 não abona nada a seu favor.

Felizmente que temos mais e melhores figuras que aqueles dois. Apesar de tudo, temos sempre o nosso próprio ser e esse, não importa quão más sejam as opções daqueles que nos rodeiam, ninguém nos pode tirar (aqueles dois bem tentaram...). Podem ter votado, na sua grande maioria, em Salazar e Álvaro Cunhal, mas eu não votei nem num, nem noutro e são tão português como os outros. Há dez milhões de entidades humanas independentes neste nosso país e enquanto eu tiver a minha liberdade individual de poder dizer o que bem me apetecer sobre este território onde eu vivo e sobre as pessoas que comigo compartilham este espaço, sinto-me muito menos preocupado do que a vitória daqueles dois podres alguma vez me poderia fazer sentir.

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14.3.07

Porque os adoro?

Uma paixão não tem uma explicação racional.

Podemos tentar racionalizar as nossas paixões mas o primeiro elemento que nos atraiu e que se multiplicou milhares e milhares de vezes é impossível de explicar por meios racionais.

Não consigo especificar uma data mas ainda não tinha entrado para a escola primária e já gostava de jogos. Apenas com cinco anos e enquanto a Rua Sésamo e o D'Artacão preenchiam as tardes dos miúdos depois da pré-primária, as minhas tardes eram passadas na sala de jogos do café que existia em frente à minha casa no Alentejo. Além de mesas de snooker e de matraquilhos, que não me interessavam, as duas ou três máquinas de jogos arcade eram um elemento do meu dia-a-dia. Despejava moedas e moedas de 25 e de 50 escudos e, para alguém que tinha acabado de aprender a ler e que precisava de subir para cima de um banco de forma a poder ver o écran da máquina e chegar aos controlos, tratar por tu jogos como Hogan's Alley, Shinobi e Double Dragon era uma experiência fantástica. A cereja em cima do bolo era mesma ganhar a miúdos que tinham o dobro da minha idade (e do meu tamanho) que quando me viam pela primeira vez a subir para o banco largavam uma quantidade enorme de bocas idiotas e passados 15 minutos engoliam as suas palavras... É bem possível que graças a esta dose quase diária de jogos, as minhas primeiras palavras de inglês tenham sido "INSERT COIN" e "GAME OVER", tinha contacto com elas todos os dias e sabia exactamente o que significavam.

Eu cresci e o gosto por jogos também. A mudança para Lisboa trouxe novos elementos e se as mal frequentadas arcades da capital estavam fora de questão para um miúdo pequeno, os jogos em casa começaram a consolidar-se como passatempo. Veio o Spectrum +2 de 128K, um dos mais avançados da gama e uma verdadeira pérola para quem não tinha um PC a sério. Uma máquina que nos permitia fazer a nossa própria programação (embora aos 8 anos eu não soubesse fazer grande coisa...) e que apesar de não o ter aproveitado ao máximo das suas capacidades, nunca vou esquecer os cerca de dez jogos que tive para aquela máquina fantástica, em cassete e que demoravam mais de 10 minutos a carregar depois de ter introduzido o comando J22, que o Spectrum entendia por Load"" e depois de uma sinfonia de sons electrónicos caóticos.

Entrei no Mundo da Nintendo graças ao NES, a fantástica 8 bits da marca de Quioto que me trouxe Super Mario, Zelda e Mega Man. Aos dez anos, foi o Super Nintendo que me invadiu a casa, a 16-bits da Nintendo que até hoje na minha opinião é a melhor máquina de jogos alguma vez lançada. Vivia-se na altura a mais intensa disputa pelo domínio do mercado dos jogos entre a SEGA e a Nintendo e que foi considerada a Era Dourada dos Jogos. Já com a era dourada a aproximar-se do fim, conheci finalmente a Mega Drive da SEGA e passei a ter ao meu dispor o melhor de dois mundos.

O meu gosto por jogos continuou nas gerações seguintes e nunca se desvaneceu. Com o meu crescimento, passei a compreendê-los de formas mais amplas, mais abrangentes, comecei a apreciar melhor o trabalho por trás de cada título, a criatividade de algumas equipas geniais responsáveis por jogos brilhantes, comecei a admirar indivíduos como Shigeru Miyamoto, Will Wright e Yuji Naka.

Muitas horas passei eu com os meus jogos, horas de diversão, de introspecção, às vezes de fúria (sabem ao que eu me refiro), sozinho ou acompanhado, a solo ou contra outros, em jogos de acção, de desporto, de aventura, de simulação, seja do que for. Não pretendo deixar esta paixão desaparecer, cada ano que passa encontro novas formas de gostar de jogos e novas formas de perceber que são mais do que simples passatempos - são obras de arte que merecem o seu lugar ao lado de grandes filmes e de grandes obras literárias. Apesar de existirem há menos de quatro décadas, julgo que no século XXI vão ser reconhecidos como uma das formas de arte do nosso mundo e não apenas como manifestações tecnológicas efémeras de cultura pop contemporânea susceptíveis à flutuação dos gostos e dos gastos dos consumidores. Posso não ter a mesma 'bagagem' de conhecimentos que outros têm neste aspecto, os que tiveram a oportunidade de em primeira mão testemunhar os primeiros jogos que foram programados na década de 1970 ou que passados poucos anos já dispunham de títulos imortais nas suas casas, mas a minha experiência com os jogos não deixa de ser um verdadeiro património da minha memória.

Infelizmente para os seus detractores, que não são poucos, nunca fui prejudicado por esta paixão. Nunca me tornei num anti-social agorafóbico com tendências violentas, nunca deixei de distinguir o real do virtual, nunca me deixei condicionar por mais umas horas de prazer interactivo, nunca tive a minha vida escolar e universitária comprometida por causa de jogos e tenho interesses desenvolvidos sobre várias áreas, de uma forma bastante saudável, diga-se.

Pelos que já se fizeram, pelos que se fazem hoje e pelos que serão feitos no futuro...adoro jogos. Tenho dito.

PS: Em breve, uma série de posts dedicados aos melhores jogos que já alguma vez joguei.

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9.3.07

Desta vez é para cumprir?

Os indivíduos que nos representam na União Europeia (também conhecidos como Chefes de Estado e de Governo dos 27) chegaram a acordo quanto às reduções em 20% das emissões de gases de efeito de estufa nos Estados membros. Ficou assim estabelecido (pelo menos informalmente) que os Estados membros se comprometem a reduzir as suas emissões até ao ano de 2020.

Até aqui muito bonito. O problema, ou melhor, os problemas, é que neste aspecto impera o wishful thinking. Ou seja, todos os indivíduos com um elevado grau de responsabilidade gostam de dizer para as câmaras que estão muito preocupados com o aquecimento global e que vão empreender todos os seus esforços para reduzir a emissão de gases de efeito de estufa. Mesmo que seja verdade, é muito difícil de cumprir. É preciso lembrar que na Europa, enquanto as coisas se passam ao nível das palavras, temos um consenso. Quando passamos às acções, o caso muda de figura.

Recentemente, a indústria automóvel alemã levantou o espectro dos despedimentos em grande escala, caso fosse adoptada uma legislação demasiado rígida neste aspecto. E como na Alemanha o problema do desemprego atinge dimensões bem maiores do que em Portugal, o tema torna-se extremamente sensível.

Nesta ocasião, a França, acompanhada dos novos membros da Europa Central, não se mostrou muito feliz com a importância dada Às energias renováveis. É que se no caso dos países da Europa Central ainda se pode admitir que é demasiado dispendioso para eles converterem rapidamente as suas instalações dependentes do petróleo e do carvão, no caso da França onde 80% da sua energia é de origem nuclear, torna-se menos compreensível. Ou melhor, é um daqueles casos onde a França não teria qualquer tipo de problema em impor algo aos outros em nome da "unidade europeia" mas que defende com unhas e dentes o seu hexágono de qualquer medida que possam ver como dispendiosa ou prejudicial ao seu país, sobretudo quando esta vem de além-Reno...mesmo que o futuro da Europa esteja em jogo.

3.3.07

A salvação da capital

Uma ausência destas não é coisa que se faça, mas trago boas notícias.

Boas...enfim, é relativo, mas seja como for, depois de assistir à forma como a gestão autárquica de Lisboa se enterrou completamente num dos muitos buracos que existem pela capital e que foi ainda mais além ao ponto de tapar esse mesmo buraco com o lixo político que sai todos os meses dos Paços do Concelho (e para quem não mora em Lisboa, podem acreditar quando eu digo que é muito lixo mesmo...), tomei uma decisão que me entusiasma.

Vou-me candidatar a presidência da Câmara de Lisboa! É tão simples quanto isto, tenciono vir a ser o presidente da câmara da capital portuguesa. Vejamos então o que tenho a meu favor:

- descomprometimento total em relação a qualquer partido político, grande ou pequeno

- um certo conhecimento dos problemas desta cidade (mais uma vez, o relativismo é rei mas pior do que os últimos detentores do cargo é impossível)

- tenho uma "bagagem" de Sim City que abafa qualquer um que trabalhe na gestão autárquica de Lisboa

São apenas três pontos, é verdade, mas se conseguirem pensar em três pontos a favor de Carmona Rodrigues, eu como o meu chapéu, falando em bom português. No caso de eventual triunfo nas eleições autárquicas, a minha primeira medida seria, na boa tradição política portuguesa (quem é que diz que eu repudio as tradições?) criar uma série de comissões necessárias à minha administração, nomeadamente uma comissão para o problema da desertificação urbana, uma comissão para avaliar o impacto do congestionamento, uma comissão para a requalificação e reabilitação de edifícios, uma comissão de avaliação do posicionamento da capital e finalmente (e a minha favorita), uma comissão de coordenação e consulta.

Como é óbvio, cada comissão terá de ser dotada de um presidente, um vice-presidente e diversos vogais. Cada um deles irá auferir um salário bastante próximo, senão superior, ao do Presidente da República. E cá temos a minha receita para a capital, não tem grandes pontos a favor, é certo, mas ficar atrás dos últimos três executivos autárquicos de Lisboa é muito difícil, temos de ter em conta que é preciso um verdadeiro génio para fazer pior do que João Soares, Santana Lopes ou Carmona (ou que Carrilho, no plano da pura ficção). Tenho dito!

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