14.3.07

Porque os adoro?

Uma paixão não tem uma explicação racional.

Podemos tentar racionalizar as nossas paixões mas o primeiro elemento que nos atraiu e que se multiplicou milhares e milhares de vezes é impossível de explicar por meios racionais.

Não consigo especificar uma data mas ainda não tinha entrado para a escola primária e já gostava de jogos. Apenas com cinco anos e enquanto a Rua Sésamo e o D'Artacão preenchiam as tardes dos miúdos depois da pré-primária, as minhas tardes eram passadas na sala de jogos do café que existia em frente à minha casa no Alentejo. Além de mesas de snooker e de matraquilhos, que não me interessavam, as duas ou três máquinas de jogos arcade eram um elemento do meu dia-a-dia. Despejava moedas e moedas de 25 e de 50 escudos e, para alguém que tinha acabado de aprender a ler e que precisava de subir para cima de um banco de forma a poder ver o écran da máquina e chegar aos controlos, tratar por tu jogos como Hogan's Alley, Shinobi e Double Dragon era uma experiência fantástica. A cereja em cima do bolo era mesma ganhar a miúdos que tinham o dobro da minha idade (e do meu tamanho) que quando me viam pela primeira vez a subir para o banco largavam uma quantidade enorme de bocas idiotas e passados 15 minutos engoliam as suas palavras... É bem possível que graças a esta dose quase diária de jogos, as minhas primeiras palavras de inglês tenham sido "INSERT COIN" e "GAME OVER", tinha contacto com elas todos os dias e sabia exactamente o que significavam.

Eu cresci e o gosto por jogos também. A mudança para Lisboa trouxe novos elementos e se as mal frequentadas arcades da capital estavam fora de questão para um miúdo pequeno, os jogos em casa começaram a consolidar-se como passatempo. Veio o Spectrum +2 de 128K, um dos mais avançados da gama e uma verdadeira pérola para quem não tinha um PC a sério. Uma máquina que nos permitia fazer a nossa própria programação (embora aos 8 anos eu não soubesse fazer grande coisa...) e que apesar de não o ter aproveitado ao máximo das suas capacidades, nunca vou esquecer os cerca de dez jogos que tive para aquela máquina fantástica, em cassete e que demoravam mais de 10 minutos a carregar depois de ter introduzido o comando J22, que o Spectrum entendia por Load"" e depois de uma sinfonia de sons electrónicos caóticos.

Entrei no Mundo da Nintendo graças ao NES, a fantástica 8 bits da marca de Quioto que me trouxe Super Mario, Zelda e Mega Man. Aos dez anos, foi o Super Nintendo que me invadiu a casa, a 16-bits da Nintendo que até hoje na minha opinião é a melhor máquina de jogos alguma vez lançada. Vivia-se na altura a mais intensa disputa pelo domínio do mercado dos jogos entre a SEGA e a Nintendo e que foi considerada a Era Dourada dos Jogos. Já com a era dourada a aproximar-se do fim, conheci finalmente a Mega Drive da SEGA e passei a ter ao meu dispor o melhor de dois mundos.

O meu gosto por jogos continuou nas gerações seguintes e nunca se desvaneceu. Com o meu crescimento, passei a compreendê-los de formas mais amplas, mais abrangentes, comecei a apreciar melhor o trabalho por trás de cada título, a criatividade de algumas equipas geniais responsáveis por jogos brilhantes, comecei a admirar indivíduos como Shigeru Miyamoto, Will Wright e Yuji Naka.

Muitas horas passei eu com os meus jogos, horas de diversão, de introspecção, às vezes de fúria (sabem ao que eu me refiro), sozinho ou acompanhado, a solo ou contra outros, em jogos de acção, de desporto, de aventura, de simulação, seja do que for. Não pretendo deixar esta paixão desaparecer, cada ano que passa encontro novas formas de gostar de jogos e novas formas de perceber que são mais do que simples passatempos - são obras de arte que merecem o seu lugar ao lado de grandes filmes e de grandes obras literárias. Apesar de existirem há menos de quatro décadas, julgo que no século XXI vão ser reconhecidos como uma das formas de arte do nosso mundo e não apenas como manifestações tecnológicas efémeras de cultura pop contemporânea susceptíveis à flutuação dos gostos e dos gastos dos consumidores. Posso não ter a mesma 'bagagem' de conhecimentos que outros têm neste aspecto, os que tiveram a oportunidade de em primeira mão testemunhar os primeiros jogos que foram programados na década de 1970 ou que passados poucos anos já dispunham de títulos imortais nas suas casas, mas a minha experiência com os jogos não deixa de ser um verdadeiro património da minha memória.

Infelizmente para os seus detractores, que não são poucos, nunca fui prejudicado por esta paixão. Nunca me tornei num anti-social agorafóbico com tendências violentas, nunca deixei de distinguir o real do virtual, nunca me deixei condicionar por mais umas horas de prazer interactivo, nunca tive a minha vida escolar e universitária comprometida por causa de jogos e tenho interesses desenvolvidos sobre várias áreas, de uma forma bastante saudável, diga-se.

Pelos que já se fizeram, pelos que se fazem hoje e pelos que serão feitos no futuro...adoro jogos. Tenho dito.

PS: Em breve, uma série de posts dedicados aos melhores jogos que já alguma vez joguei.

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2 Comments:

Blogger spring said...

olá

se gostas de cinema vem visitar-nos em

www.paixoesedesejos.blogspot.com

todos os dias falamos de um filme diferente

paula e rui lima

18 março, 2007 17:05  
Anonymous Anónimo said...

Pelo título do post, pensei que ias falar de mulheres! :D

19 março, 2007 23:38  

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