28.11.07

Cimeira UE-África

Depois de toda uma telenovela e de expectativas crescentes envolvendo vários nomes, já sabemos que em princípio podemos contar com o simpático Robert Mugabe para a cimeira União Europeia - África em Lisboa no próximo mês de Dezembro.

A primeira consequência foi o anúncio do boicote de Gordon Brown, o PM britânico já tinha anteriormente ameaçado que não iria estar presente na cimeira caso a presença de Mugabe se confirmasse, agora parece ser definitivo que não vai estar cara-a-cara com o presidente do Zimbabwe.

No entanto, e infelizmente para o seu ego, Mugabe não vai ser o único ditador presente na cimeira. Muammar Khaddafi vai trazer o seu folclore beduíno para Lisboa, depois de quase 40 anos no poder . Ainda estou para ver se a sua guarda pessoal vai conseguir passar pelo aeroporto. De Angola chega o muito respeitável José Eduardo dos Santos, que está no poder há quase 30 anos, tem um estilo de vida frugal e comedido e, sob os seus auspícios, conseguiu realizar um número eleições livres e transparentes do que o número de membros do governo português que percebem alguma coisa de liderança nacional. Não sei se o presidente do Sudão nos vai agraciar com a sua presença, mas já agora, seria mais um indivíduo com quem se poderia trocar umas palavras interessantes acerca de Direitos Humanos. Ou porque não também falar do muito ético e responsável Ibriss Déby, o presidente do Chade que em 2006 recebeu uma larga quantia em assistência humanitária das Nações Unidas que depois utilizou na compra de armamento para esmagar uma revolta no sul do país. Os velhos estereótipos continuam vivos, sim senhor…

No entanto, e apesar de tudo isto, o grande circo vai ser montado em torno de Mugabe - e eu não percebo porquê. Longe de mim defender o homem forte de Harare, que tem muito a responder acerca da forma como dirige o seu país e como trata os seus cidadãos - há quem o admire mas eu não vejo muito que admirar num homem cujo governo destrói deliberadamente milhares de habitações na capital do país, num bairro onde vivem uma série de opositores ao seu regime.

Porque razão não são outros lideres confrontados com as suas práticas autoritárias? Porque razão Khaddafi passou a ser “bonzinho” aos olhos da comunidade internacional a partir do momento em que anunciou que iria abandonar o apoio a actividades terroristas? Porque motivo Gordon Brown está a fazer uma birra por causa de Mugabe mas não mostrou problemas éticos no que diz respeito à Arábia Saudita ou à China? O PM português também não tem grandes problemas desses, depois de ter elogiado as práticas de Vladimir Putin, de se ter recusado a receber o Dalai Lama e de não ousar tocar na questão dos Direitos Humanos em Angola, José Sócrates prepara-se então para receber Mugabe&outros como se de líderes legítimos e democraticamente eleitos se tratassem. Diferenças culturais, vão-me dizer? Diferentes entendimentos do conceito de democracia? Democracia ocidental como algo que apenas deve ser aplicado no ocidente? Muito bonito, mas desconheço qual a ideologia onde é aceitável manipular eleições, brutalizar a oposição e concentrar o poder político, económico e judicial num estreito círculo de poder e ainda assim afirma estar correcta.

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Rumble Pack

Esse grande blog que é o Rumble Pack - para mim, um dos melhores e mais interessantes blogs portugueses - passou a contar com um novo membro. Sim, a partir de agora faço parte da equipa do Rumble Pack, onde escrevo sob a designação de Yggdrasil. Embora tenha sido encarregue de escrever sobre temas retro (discutível, mas normalmente considera-se que enbloga temas até ao final do século XX, embora eu tenha uma outra definição mais pessoal), estou devidamente autorizado a disparar sobre todos os temas que o blog cobre.

Por isso passem por lá...ou não, é convosco, e não se inibam de comentar que por lá a liberdade é bastante apreciada.

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27.11.07

Portugal keeps going down, down, down...

É aquela altura do ano outra vez, aquela em que todos olhamos e ficamos embriagados de tão luminosa alegria…pois é, é hora de vermos o relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, que todos os anos elabora uma classificação de (quase) todos os membros das Nações Unidas com base num indicador chamado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e que, dentro das possíveis restrições quantitativas, apresenta aqueles que são os melhores países do Mundo para se viver.

O IDH é um coeficiente resultante da ponderação de três indicadores - a esperança média de vida à nascença, a educação da população (medida através da taxa de alfabetização de adultos e da taxa de frequência do ensino primário, secundário e superior) e o rendimento per capita, medido através da divisão do PIB pela totalidade da população, ajustado ao nível de preços. Com base nesses três indicadores, atinge-se um valor entre 0 e 1 conhecido como Índice de Desenvolvimento Humano.



O relatório de 2007 foi agora divulgado e, para não contrariar a tendência dos últimos três anos, Portugal desceu mais um lugar. Sim, o nosso país está agora na posição #29, com um IDH de 0.897, uma esperança média de vida de 77,7 anos, taxa de literacia de 93,8%, taxa de frequência do ensino de 89,8% e um rendimento per capita de $20 410 PPC. Não fiquem tristes, se o indicador do rendimento per capita for retirado, a diferença seria de 6 posições para cima. Portugal está então entalado entre a Eslovénia na 28ª posição (e que no ano passado estava atrás de Portugal) e pelo Brunei na 30ª posição, e com um IDH de 0,894. Ou muito me engano ou o relatório de 2008 vai colocar o Brunei à frente de Portugal…

E então…? Portugal não diminuiu, simplesmente foi ultrapassado, que é a consequência de nos últimos seis anos termos tido um crescimento económico quase imperceptível. Juntemos a isso a esperança média de vida mais baixa da Europa ocidental e a maior taxa de analfabetismo da União Europeia, e temos a receita para um pouco honroso 29º lugar. Se os indicadores não começaram a mudar noutra direcção em breve, os próximos cinco anos vão trazer novas descidas desagradáveis…


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14.11.07

Paquistão

Já não sabemos ao certo o que é o Paquistão. Depois de ter passado para o terreno favorável ao ocidente na divisiva “guerra ao terrorismo”, Pervez Musharraf levou a cabo uma presidência onde a linha que separa a segurança e integridade do estado da ditadura é muito ténue.

O dilema coloca-se mais uma vez – o que é preferível para o ocidente? Um regime autoritário pró-ocidental (mas com uma opinião pública maioritariamente anti-ocidental) e militarista que pretende destruir as bases de apoio a grupos terroristas de cariz islâmico, ou uma democracia onde as vozes predominantes são as que pretendem aproximar o país de uma forma mais extrema do islão político, apesar de existirem movimentos democráticos com forte apoio por parte da população.

Se o regresso de Benazir Bhutto parecia indicar que havia razões para ficarmos optimistas, o que aconteceu desde então quase que destruiu o clima de confiança – a degradação nas condições de segurança e as manifestações por parte dos magistrados levaram a que Musharraf acabasse com a distinção entre poder legislativo, exectuvio e judicial e impusesse um estado de emergência que tem mais de lei marcial do que de outra coisa. Finalmente, o fim do entendimento entre Bhutto e Musharraf representou um retrocesso na medida em que deixa de existir um elemento unificador no objectivo da democracia – de uma forma simples, Musharraf quer conservar o poder, Bhutto organiza-se contra este objectivo e pretende uma democratização do país, com uma separação de poderes legítima e o fim das detenções aos opositores democráticos do regime.

Num país com um estado altamente ineficaz e onde a religião surge virtualmente como o único elemento de identificação para uma grande parte da população, este marasmo não contribui em nada para a estabilização de um estado nuclear, vizinho do Afeganistão e do Irão e ainda com um contencioso por resolver com a Índia. Já passou o tempo do general estar à frente do país, embora ainda seja muito difícil de conceber uma deocratização do país no futuro próximo. Se o pragmatismo prevalecer, é bem possível que as partes envolvidas encontrem uma solução de compromisso para evitar uma possível queda do país no caos, mas a existência de um movimento jihadista que se estende a todo o país e preenche o papel do estado quando este se encontra ausente, desequilibra opiniões para o lado do fervor religioso e prejudica ainda mais o panorama do país.

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