27.12.05

Arquitectura estalinista

O domínio de Estaline sobre a URSS não se limitou ao aspecto político da centralização, absolutismo e repressão ou ao aspecto económico da colectivização forçada da economia com o objectivo de tornar a União Soviética na maior potência mundial. A vertente cultural e artística foi também alvo da acção do PCUS e, na sua faceta mais visível, a arquitectura estalinista é a expressão máxima da concepção de Estaline, da sua visão para a União Soviética e do seu pensamento de consequências terríveis para milhões de cidadãos soviéticos (e não só) que sofreram com as suas decisões. Por considerar que o espaço soviético sofria de um atraso crónico face ao Ocidente, Estaline entendeu empreender um corte político, económico, social e cultural com o passado, de forma a eliminar todos os vestígios do Império Russo e contruir a URSS não de acordo com a teoria marxista-leninista mas sim de acordo com os seus próprios desígnios pessoais, num projecto que vai além de tudo o que já fora antes visto e onde o "regente absoluto" aparece como o próprio Leviathan, centralizador de todos os poderes e com capacidade de enviar milhões de pessoas para a morte com uma assinatura.
Como expressão de tais desígnios, não surpreende que entre 1933 e 1955 (dois anos após a morte de Estaline), tenha sido empreendida em Moscovo a construção das estruturas que haveriam de ficar para a história como "As sete irmãs" e que representavam materialmente o plano estalinista de engrandecimento da União Soviética. Inspirado no Municipal Building de nova York, construído em 1914 com base num estilo Romano Imperial, Estaline delineou a sua concepção para o chamado "Palácio dos Sovietes", cujo projecto e construção estariam a cargo da recém-criada Academia de Arquitectura ao abrigo de uma lei de 1932 que ilegalizava todas as organizações independentes e obrigava à criação de novas organizações laborais sujeitas ao escrutínio do PCUS. O Palácio dos Sovietes era demasiado ambicioso para ser contruído - consistia numa estrutura ascendente, vagamente semelhante a um míssil apoiado numa plataforma, culminada por uma estátua de Estaline e que no total atingia uma altura superior a 400 metros - mas as "pérolas" que se seguiram adaptaram o seu modelo e personificaram a isão arquitectónica do líder absoluto.
A galeria dos sete arranha-céus estalinistas de Moscovo é assim composta pelos seguintes edifícios:
- Universidade Estatal de Moscovo
- Hotel Leningradskaya
- Hotel Ukrayna
- Ministério dos Negócios Estrangeiros Soviético
- Ministério dos Transportes Soviético
- bloco de apartamentos em Kotelnecheskaya
- bloco de apartamentos em Krasnaya Presnya
Universidade Estatal de Moscovo (1949-1953)
Os edifícios apresentam um estilo neo-clássico e uma construção ascendente de forma a simbolizar um crescendo até chegar a um topo glorioso representativo dos ideais estalinistas. O estilo é também referido como se os edifícios tivessem a estrutura semelhante a um bolo de casamento. Foram ainda colocadas no topo dos edifícios antenas e esferas metálicas capazes de reflectir a luz solar e para os distinguir dos arranha-céus americanos. A morte de Estaline em 1953 e a posterior destalinização tiveram como uma das suas consequências a extinção da Academia de Arquitectura em 1955, bem como da construção estalinista, o que não significa quenão tenham surgido edifícios inspirados pelo arquitectónico de Estaline, quer na URSS, quer nos países do Pacto de Varsóvia.

19.12.05

Comunitarismo

Uma coisa capaz de corroer por dentro a mais saudável das construções humanas, o comunitarismo constitui uma ameaça concretizada, latente ou potencial em qualquer país digno desse nome – menos naqueles que mal existem... Por características que podem ser políticas, sociais, culturais, étnicas, religiosas ou físicas, um número de indivíduos começa a definir-se com base nessas mesmas características que os diferenciam da maioria e a congregar-se em torno de um círculo comum reivindicativo cujo resvalar para o sectarismo e radicalização é facilmente acendido pelo mais pequeno incidente, quando as circunstâncias a isso são favoráveis. Assim sucede que X% da população começa a observar a realidade à sua volta numa lógica de NÓS versus ELES. NÓS temos algo que ELES não têm, por isso ELES têm medo de NÓS e querem reprimir-NOS porque acham que os NOSSOS atributos põem em perigo a sociedade DELES, visto que uma sociedade construída por ELES nunca podia ser a NOSSA. Paralelamente, ELES acham que os OUTROS se vão radicalizar e fechar num circuito cada vez mais perigoso e que a solução mais óbvia é endurecer a posição face a ELES, porque é preciso mostrar-LHES quem manda aqui e que NÓS não temos que aturar as tretas DELES. Escusado será dizer que no meio disto tudo, há quem tenha imenso a ganhar com a polarização NÓS vs. ELES, e que tudo faz para acentuar o clima de conflitualidade, provocando situações capazes de incendiar um frágil equilíbrio, mantido muitas vezes à custa de hipocrisias e encenações e levando ao ridículo extremo de considerar que qualquer acção DELES sobre NÓS é necessariamente má e contra os NOSSOS princípios, isto porque NÓS temos tanto direito à NOSSA vida como ELES, até mesmo o direito de sermos uns idiotas...
Conclusão: não se comunitarizem! Não formem comunidades políticas/ideológicas/socio-económicas/culturais/étnicas/raciais/etc, sejam indivíduos e nunca deixem que vos arranquem a vossa individualidade, o Ser Humano é a criatura mais poderosa do Universo e permitir que um discurso comunitarizante NOS cative é a mesma coisa que descer da Humanidade ao nível de um cordeiro sem sentido de orientação ou discernimento. Derrubem todos os que tentam congregar Humanos à sua volta para combater as suas próprias batalhas e desígnios pessoais e nunca deixem que vos insultem tacitamente. Nunca combatam por abstracções que não vos dizem respeito, por ideais que não compreendem, por arquétipos construídos a martelo e que não constituem mais do que gigantescas fachadas de cartão com o propósito de vos explorar.

14.12.05

A Bloody Affair...

Depois de um acontecimento menos feliz que culminou em algo...sangrento, digamos...este post restaura a actividade do blog. E nada melhor do que denunciar mais uma situação de ridículo para retomar a escrita, desta vez no Telejornal de ontem na RTP1. Que a televisão assume uma faceta educativa , já o sabemos muito bem. Mas que o Telejornal explique "ao povo" como é um comboio de alta velocidade espanhol é tratar os telespectadores como broncos, no mínimo. Foi necessária uma reportagem inteira numa viagem de Madrid a Ciudad Real para os portugueses ficarem a perceber que o comboio espanhol de alta velocidade se desloca a 250km/h de velocidade máxima, que não se sente nada lá dentro, que dispõe de uma carruagem com bar e que é silencioso?
Já agora, o candidato presidencial mais ridículo mostrou com as suas declarações o seu verdadeiro talento que infelizmente não o pode exibir para as câmaras perante milhões de portugueses nos debates: a discussão desordenada e sem respeito pelas regras onde os intervenientes nos debates se atropelam um ao outro e o mais favorecido é quem fala mais alto e quem interrompe mais vezes...era por este motivo que eu não via debates políticos até há relativamente pouco tempo.

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