20.8.04

O regresso - I

Terminou a maior ausência desde que comecei a despejar a minha mente para este meu baú a que chamam de blog. Pois é, voltei na 3ª feira das minhas férias e diga-se desde já que foram das melhores férias que eu já tive. Após esta pequena aventura de duas semanas pelo Norte da Europa, o post de hoje vai ser inteiramente dedicado à viagem. Ou melhor, os posts, porque isto na versão original tem 6 páginas e como o Blogger não consegue lidar com ficheiros tão grandes vou ter que o dividir.

Dia 3 de Agosto, dia do vôo para Estocolmo. Lá cheguei ao aeroporto a tempo e horas de fazer o check-in, a minha mãe acompanha-me até à entrada da área internacional para me desejar uma boa viagem e para me acalmar um bocado os meus nervos, afinal trata-se da primeira grande viagem que eu faço sozinho e foi impossível evitar sentir-me bastante preocupado antes da viagem começar, eu já sei como é que eu sou e imaginava-me a entrar para um comboio errado, ou a perder alguma coisa importante. Enfim, vôo às 10:00 da Snowflake, num avião da sua casa-mãe, a SAS, logo só pode ser bom e de facto é! Após um óptimo vôo, é tempo de validar o meu passe ScanRail (que me permite 21 dias consecutivos de viagens de comboio pela Escandinávia) numa representação dos caminhos-de-ferro suecos no aeroporto de Arlanda, que por acaso fica noutro terminal, logo aqui começaram as minhas grandes caminhadas.
Validado o documento, entro no Arlanda Express, comboio que faz o percurso entre o aeroporto e a estação de Estocolmo, um excelente comboio, conforto total e monitores que informam os passageiros do tempo restante de viagem, do estado do tempo e das notícias do dia.
Em menos de 30 minutos estou na estação de Estocolmo. Apesar do tempo nublado, continua a ser uma das cidades mais bonitas que eu conheço. É obviamente para quem a vê uma cidade Nórdica possuídora de uma grande sumptuosidade e grandiosidade em determinados locais que a meu ver a podem colocar lado a lado com Viena ou Paris, ainda que não sejam parecidas.
Na capital sueca, destacam-se a Gamla Stan, a parte medieval da cidade onde eu adoro percorrer as suas ruelas estreitas, a Stadshuset (câmara municipal) onde são entregues o prémios Nobel todos os anos, o centro mais recente da cidade, em frente à Gamla Stan, o palácio real e a área de Ridarholmen onde se situa a catedral. A minha pousada fica no meio da Gamla Stan o que é óptimo e me dá a oportunidade de percorrer a dita zona imensa vez sem me fartar. As áreas em torno da Gamla Stan foram também "vistoriadas" e recebem a minha aprovação completa! Estocolmo é uma cidade com um ambiente perfeitamente relaxante e apesar de ser uma capital e de ter grande importância não é de forma nenhuma uma cidade agressiva e qualquer um pode perfeitamente aproveitá-la ao máximo sem preocupações como o trânsito ou a segurança.
É também notória a perfeita organização da cidade, mais uma exemplo da eficiência Nórdica, sem vestígios de lixo nas ruas, sem prédios degradados, condutores cívicos, enfim, aquilo que em Portugal é raro!!

Dia 4 de Agosto, às 20:00 tenho um ferry da Viking Line para Turku no sul da Finlândia. Quando pergunto onde fica o terminal, dizem-me sempre que é perto, que só tenho de atravessar a ponte da Gamla Stan para a outra margem e andar uns 10-15 minutos e que os barcos são bem visíveis ao longe. Na verdade, o terminal fica a 3kms! Marchas à parte, vou fazer o embarque. O barco é excelente, de nome Amorella, mais parece um navio de cruzeiro, tem vários restaurantes, casino, bar, discoteca, loja duty-free, quase dá vontade de lá passar dois ou três dias em vez das 10-11 horas que a minha viagem vai durar.
Notável é a venda de álcool barato nestes barcos. A loja duty-free vende bebidas isentas de impostos, o que na Escandinávia significa cortes enormes no preço visto que as bebidas alcóolicas têm uma carga fiscal gigantesca. O catálogo na minha cabine confirma o que já sabia, bebidas de toda a espécie – cervejas, vinhos (até Porto Sandeman!), licores, vodka, rum, etc – a preços inferiores a 25 Euros por garrafa. Por algum motivo estes barcos vão sempre cheios!

Atracámos em Turku às 7:30 do dia 5 de Agosto. Após sair do barco, meti-me no primeiro autocarro que vi, nem sabia para onde ia mas como a minha "base" nesta cidade ficava a uns 2kms do terminal resolvi apanhar o dito transporte. Para minha sorte, parou no centro da cidade, na chamada Kauppatori, ou praça do mercado. Instalei-me e dormi umas horas que bem merecia depois de só ter dormido umas 3-4 horas no barco!
Neste dia à tarde, tenho marcado um encontro com a Alexandra, a minha grande amiga Finlandesa com quem já troco cartas há mais de 5 anos e que eu considero uma amiga bastante próxima apesar da distância. Encontramo-nos na dita praça do mercado, ela é bastante simpática e ao mesmo tempo algo tímida e parece estar nervosa, mais ou menos como eu estava, afinal não é todos os dias que se conhece pessoalmente um amigo de longa data com quem nunca estivemos! Felizmente não houve situações em que ninguém conseguia dizer nada e rapidamente nos demos bem um com o outro. Demos uma grande volta pelo centro da cidade que embora não seja grandiosa ou espectacular é acessível e tem os seus encantos, tal como as margens do rio Aurajoki, a dita praça Kauppatori, a catedral que combina elementos medievais com elementos do século XIX, a rua comercial para peões chamada Yliopistonkatu bem como uma série de casas em madeira que servem de sede a museus e escolas. Após o almoço, no qual a Alex interpretou a ementa em Finlandês para mim, saímos um pouco do centro da cidade e fomos por um caminho enorme (nem sei muito bem em que direcção) pela zona estudantil de Turku. A Alex encarregou-se de me mostrar a faculdade dela – que é bem mais bonita e moderna que a minha, bem como mais amigável e até tem uma sala chamada Valhalla! – e em seguida fomos por um caminho no meio da natureza, apesar de ser encostado à cidade, rodeado por árvores e por água no qual a tranquilidade é total. Estivemos sentados à beira do rio rodeados pela natureza e a apanhar sol com uma temperatura de 30 graus, o que arruina a tese dos que que dizem que a Finlândia é um país permanentemente gelado!
No regresso, a Alex ainda me mostra o apartamento dela em Turku e depois de mais uma pequena volta pela cidade, mais uma vez estivemos à beira do rio, agora no meio da cidade,
comemos umas sandes a que chamámos "jantar" e combinámos uma hora para nos encontrarmos no dia seguinte e seguirmos de comboio para Helsínquia.

Assim foi, às 11:00 lá estávamos outra vez na Kauppatori e fomos a caminho da estação para o comboio para Helsínquia. O combio é excelente, dois andares, o movimento é quase impossível de notar, o conforto é total. Após uma viagem bonita de duas horas, chegámos a Helsínquia, cidade que a minha amiga não conhece bem e que por esse motivo, fomos buscar umas plantas à estação. A primeira coisa a fazer era encontrar a minha pousada na cidade para deixar as minhas coisas e irmos dar uma volta. Ora, aqui metemo-nos pelas ruas erradas, à primeira visita, o centro de Helsínquia é algo confuso, com algumas ruas que mudam de nome a meio (e depois com aqueles nomes acessíveis em Finlandês...) e algumas pelo caminho não ajudaram. O resultado: às tantas estávamos perdidos! Mas não durou muito tempo, lá encontrámos pontos de referência e eventualmente encontrámos a Hietaniemenkatu, rua onde se situava a minha pousada. Depois de lá deixar as coisas, demos uma volta pela zona comercial da cidade em torno da estação, almoçámos e ainda nos metemos por umas ruas sem sabermos muito bem para onde íamos mas a verdade é que a arquitectura é notável, os edifícios são bastante bonitos e, mais uma vez, o ambiente é perfeitamente descontraído. Depois de algumas fotos em jardins, era tempo da Alex voltar para casa, fomos mais uma vez para a estação e depois das últimas palavras foi hora de nos despedirmos. Se não fosse a Alex nunca tinha visto todos aqueles sítios em Turku nem teria sido divertido perder-me em Helsínquia. Gostei muito dos dois dias que passámos e espero que a possa ver outra vez brevemente. Kiitos :) Nästa år i Lissabon?

Após a partida da minha amiga, senti-me algo abandonado mas lá fui explorar a cidade por minha conta. Rapidamente encontrei a Tuomiokirkko, a catedral que é considerada o ex-libris de Helsínquia que tem uma óptima vista dos degraus e que é um sítio óptimo para se estar, rodeada pelos edifícios da praça Senatori. Seguiu-se a zona portuária, também ela muito bonita e óptima para um passeio e a igreja ortodoxa. Ao sair desta área, atravessei duas avenidas conhecidas como Esplanadi e que são verdadeiramente espectaculares, têm provavelmente os edifícios mais bonitos da cidade, uma arquitectura neo-clássica espantosa e recheada de cafés e restaurantes, bem como árvores e gelatarias ao meio. Tornou-se num dos meus sítios favoritos de Helsínquia.

No dia 7, segundo dia em Helsínquia, passei mais uma vez pelos sítios que tinha visto no dia anterior mas desta vez com mais tempo e explorei ainda uma série de ruas menos conhecidas e tão silenciosas que ninguém diria que ali tão perto havia tanto movimento. Nestas ruas é possível encontrar regularmente alguns edifícios verdadeiramente originais. Helsínquia é sem dúvida uma das cidades mais bonitas que eu conheço, não é uma cidade Nórdica (não se parece com Estocolmo) e apesar de ser claramente uma cidade Europeia não é semelhante a nada que eu já tenha visto. Há quem diga que é parecida com S.Petersburgo, é possível mas nunca lá estive e a verdade é que S.Petersburgo é considerada a cidade mais Europeia da Rússia, por isso vamos dar à seguinte conclusão: Helsínquia é uma cidade Finlandesa!

Dia 8, último dia em Helsínquia, resolvi ir na direcção oposta aos dias anteriores. Atravessei um parque que como não podia deixar de ser, tem um lago ao meio e foi uma oportunidade para ver que mesmo fora do centro Histórico e turístico, Helsínquia não deixa de ser bonita. A seguir, fui em direcção a outra parte da cidade a que ainda não tinha ido, não consta necessariamente da zona histórica mas a verdade é que tem elementos verdadeiramente espectaculares. Houve ainda tempo para uma visita ao excelente Museu Nacional Finlandês que cobre desde a pré-história ao ano 2000.

Às 21:00, comboio nocturno para Rovaniemi, 13 horas de viagem. É um comboio normal, sem os atributos do inter-cidades que me trouxe de Turku. Vou-me preparando psicologicamente para a mais longa viagem de comboio da minha vida que me vai levar até à Lapónia. Na altura pensei que tinha muita sorte em não ter ninguém à minha frente o que me dava espaço p/esticar as pernas, mas na próxima paragem entra um soldado mais ou menos do meu tamanho, ou seja lá tive que enconlher as patas. Durante a noite, não sei muito bem porquê, estivemos cerca de 40 minutos parados em Tampere e quando o dito soldado se foi embora e eu pensei que nas próximas 11 horas tinha a frente por minha conta, eis que entram duas Alemãs e que ocupam os lugares à minha frente e largam as mochilas no espaço onde eu iria esticar os pés...Mas entretanto foram-se embora e durante metade da viagem pude esticar-me normalmente! Como a grande maioria do percurso foi feito de noite, não foi possível ver o cenário, mas a verdade é que por volta das 4 da manhã já o sol começava a nascer e passámos por sítios com nomes sem dúvida interessantes, como Hämeenlinna, Tampere, Seinäjoki, Kokkola e Kemi até chegarmos a Rovaniemi, capital da Lapónia Finlandesa, por volta das 10:00. Não dormi mais do que umas 2 horas no comboio e preciso rapidamente de um banho e recarregar baterias. À chegada a Rovaniemi, sentia-me algo desorientado quando saí da estação, o motorista de um autocarro que se preparava para sair viu logo que eu tava à nora, perguntou-me para onde ia e fiquei a saber que aquele autocarro parava perto do meu hotel. Quando cheguei, tomei um banho do tamanho da Lapónia (que diga-se, é grande!) e preparei-me para explorar a cidade. Contudo, não tem nada a ver com Estocolmo, Turku ou Helsínquia. Rovaniemi foi destruída na II Guerra Mundial e reconstruída de raíz, por isso não existe um único edifício histórico e a cidade é bastante vulgar e incaracterística. Talvez por ter sido projectada pelo arquitecto Finlandês de maior renome tenha alguma filosofia arquitectónica que eu não consigo captar, mas a verdade é que não é uma cidade bonita. Contudo, quando eu julgava que apenas estava a perder o meu tempo, descobri que do outro lado do rio, mesmo em frente à cidade, está uma floresta e rapidamente as margens do rio se tornaram no meu lugar favorito da cidade.

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