5.7.04

O bicefalismo a que estamos condenados...vamos recorrer da sentença!

Na sequência do post anterior e ainda a propósito da saída a meio do mandato de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia, gostava aqui de escrever qualquer coisa sobre o sistema bipartidário, ou melhor, o sistema político bicéfalo, que domina a democracia Portuguesa desde o 25 do A.

Cada vez que chega a altura de ir votar em eleições legislativas, a eterna questão coloca-se: PS ou PSD?
E a eterna resposta vem ao de cima, pelo menos para mim: mas qual é a diferença?
Sim, qual é a diferença entre os dois maiores partidos Portugueses à parte das cores que os identificam?
Nem o PS é um partido socialista, visto que de Marxista não tem nada e o Socialismo sem Marxismo não existe, nem o PSD é Social Democrata, a Social Democracia Europeia não tem nada a ver com o PSD Português e está normalmente relacionada com os modelos de Estado Providência adoptados nos países Escandinavos. São portanto dois partidos sem ideologia que apenas mantêm as designações com o propósito de captar as atenções das pessoas mais reivindicativas dentro da respectiva (e aparente) corrente política de cada partido, ou seja, tem a ver com populismo. Sim, porque de vez em quando, naquelas alturas em que as sondagens não são faovráveis, um bocadinho de sectarismo político não faz a mal a ninguém!Só nessas situações é que convém lembrar ao eleitorado que "o nosso partido é de esquerda" ou que "o nosso partido é de direita".

O PSD é um partido de tecnocratas que é identificado como sendo de centro-direita mas que apenas reúne membros do centro e da direita (o que é diferente) e que apesar de se denominar social democrata tem sempre uma agenda dominada pelo liberalismo económico, sendo próximo de antigas linhas partidárias Europeias como a de Margaret Thatcher no Reino Unido.
O PS afirma-se como socialista mas na verdade a sua agenda aproxima-se mais da social democracia, embora numa versão muito desjeitada, por um motivo muito simples: laxismo ou antes, jobs for the boys, isto sem sequer entrar na incompetência por detrás das suas medidas cujos resultados se tornaram visíveis em 2002.

Apesar dos discrusos eleitorais serem diferentes e de ambos gostarem de vez em quando de puxar ao discurso "esquerda vs. direita" para subir a temperatura de alguns seguidores mais difíceis de convencer, a verdade é que os dois partidos uma vez chegados ao poder, os seus mandatos acabam por se caracterizar por uma imensa mancha cinzenta na qual as consequências para a generalidade dos eleitores são indiferentes.

Na verdade, o PSD se no passado apareceu associado a investimentos estruturais (Expo'98, Ponte Vasco da Gama, auto-estradas, IPs, etc)
o PS apareceu como um partido mais centrado em assuntos sociais. Contudo, tudo isso desapareceu. Se retirássemos o nome aos protagonistas, seria impossível distingui-los, visto que ambos acabam por ter agendas e condutas bastante semelhantes. Apesar das diferenças nominais, tanto o PS como o PSD andam a reboque das respectivas casas-mãe sem tentarem criar uma corrente política Portuguesa suficientemente forte. Após cada um deles chegar ao poder, uma das primeiras (e únicas) modificações que tem lugar é a substituição dos boys. Os dois maiores partidos Portugueses conseguiram ao longo dos anos atrair milhares de seguidores vindos de todos os quadrantes da sociedade Portuguesa atraídos pela possibilidade de contactos e de acesso a empregos e oportunidades facilitados pela sua filiação partidária. O resultado --> uma máquina partidária pesada e tosca com demasiadas exigências internas a cumprir antes que possa satisfazer os objectivos que os seus eleitores (a grande maioria sem filiação) querem ver cumpridos.

É notável, por exemplo, a quantidade enorme de membros nas juventudes partidárias destes dois partidos, a grande maioria dos quais não se revê no partido (que afinal não tem ideologia!) e que acaba por pactuar com um autêntico regime de pseudo-elitização partidária contribuindo para a sua continuação e assim causando cada vez mais problemas ao Estado Português ao longo dos anos. Para comprovar isto, basta ver as estatísticas respeitantes ao número de pessoas a quem foram atribuídos cargos de toda a espécie na administração pública sem concurso e muito provavelmente, sem qualificações. Se há uma coisa triste de ver, é assistir a tantas pessoas da minha idade a pactuarem e a perpetuarem a existência de uma aberração de duas cabeças chamada bipartidarismo simplesmente por acharem que é "a melhor coisa a fazer".

Enquanto em Portugal estes dois partidos detiverem o monopólio alternado do poder, não podemos vislumbrar alterações de maior na conjuntura Portuguesa. Nota-se não só a falta de um partido independente com níveis de votação significativos (acima de 15%) como de organizações e grupos de pressão da sociedade civil independentes (muito importante!) que pressionem os partidos do poder a alterarem a sua agenda em prol do eleitorado Português.

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