20.8.04

O regresso - II

Dia seguinte, 10 de Agosto, às 13:00 deixo Rovaniemi num autocarro rumo a Tornio, na fronteira com a Suécia. Do outro lado da fronteira (neste local é um rio que divide os dois países) está a cidade Sueca de Haparanda, como está em frente a Tornio são chamadas da cidades gémeas. Aqui aconteceu uma coisa muito interessante, quando chegámos a Tornio o motorista anuncia o nome da cidade e eu, logicamente, saí do autocarro. À minha frente estava uma ponte e eu então assumi que do outro lado era Haparanda e que eu estava do lado Finlandês, visto que à minha volta haviam alguns edifícios pequenos. Perguntei ao motorista (que não falava Inglês) se do outro lado era Haparanda, ao que ele respondeu que sim com a cabeça. Lá fui eu, atravessei a ponte mas não via sinais nenhuns de ter passado a fronteira...porque simplesmente não tinha passado a fronteira, a única coisa que eu fiz foi atravessar a ponte para Tornio, depois tive que dar uma volta enorme em torno da cidade até encontrar uma outra ponte, essa sim, que dava para o lado Sueco! Pela primeira vez na vida atravessei uma fronteira a pé, ao chegar a Haparanda vejo um sinal enorme que indica as distâncias para uma série de pontos em todo o mundo, fico a saber que estou a 4811km de Lisboa, nunca estive tão longe de casa! Lá me dirigi para a estação de autocarros, onde daí a cerca de 2 horas tenho um autocarro para Luleå, no norte da Suécia, fico ainda a saber que por ser titular de um passe ScanRail, o transporte é grátis!! Deixei as coisas num cacifo e foi dar uma volta pela cidade que é bastante gira e calma. Mais tarde, apanhei o dito autocarro, cheguei a Luleå, que é uma cidade bastante dispersa e, pelo menos na parte que eu vi, sem grande atributos mas que no entanto tem sempre alguma coisa bonita, como a frente marítima.

Dia 11, tenho uma viagem de comboio toda a tarde até Narvik, no norte da Noruega, já numa zona árctica. Durante o percurso, o cenário torna-se cada ez mais espectacular à medida que nos aproximamos da Noruega. As elevações que existiam na Suécia e Finlândia tornam-se montanhas escarpadas com vestígios de neve nos topos e ao chegar à Noruega começam a ver-se os fjords, uma característica do cenário Norueguês.
Chego a Narvik por volta das 20:00. Narvik é uma cidade pequena, construída em torno de um fjord e rodeada por montanhas gigantescas, se o céu não estivesse tão encoberto e cinzento tinha tirado umas fotos espectaculares aqui, mas paciência... À chegada à estação, está tudo fechado e eu não sei como me vou orientar nem como vou ter à pousada que tinha marcado previamente. Foi então aí que um habitante local muito prestável vem ter à estação numa carrinha e oferece-nos boleia até ao centro da cidade, antes de entrar fico a saber que ele e a mulher têm uma pousada e um pub no centro, claro está que aceitei a boleia. Ao chegar, ele leva-nos a dar uma vista de olhos, a acessibilidade dos preços e a iminência da chuva, tal como a simpatia dos anfitriões, levam-me a aceitar lá ficar naquela noite.

No dia 12, levanto-me de madrugada para apanhar um autocarro às 7:00. Muito silenciosamente levanto-me e arrumo as minhas coisas, sem acordar nenhum dos meus colegas da camarata que aparentemente estão num sono profundo, vou ter à estação de autocarros e apanho um para Bodø, uma cidade a cerca de 300km para sul mas devido às características da região, a viagem demora mais de 6 horas. Este foi provavelmente o percurso mais incrível de toda a viagem, passei por vários fjords e ao lado de montanhas gigantescas. Ao mesmo tempo que tinha lagos e rios de águas límpidas e cristalinas de um lado, no outro erguiam-se montanhas imponentes e no meio disto tudo de vez em quando viam-se umas casas aqui e ali. Durante este percurso, que até teve uma breve passagem marítima num ferry, tirei cerca de 20 fotos, tal não era o cenário.
Durante a tarde, cheguei a Bodø, uma cidade de cerca de 40000 habitantes, capital da região Norueguesa conhecida como Nordland e que ainda se situa a norte do círculo polar Árctico. Foi sem dúvida um dos meus pontos preferidos de toda a viagem. A cidade é construída à beira-mar com um fundo montanhoso (como aliás é normal na Noruega), tem uma zona portuária e uma zona comercial movimentada mas o resto da cidade é quase inteiramente dominado por casas de madeira às cores umas a seguir às outras que se estendem ao longo das ruas onde reina uma paz total. O meu local favorito na cidade era o porto, principalmente percorrer o pontão até ao fim, onde estava no meio do mar, em frente às ruínas de uma fortaleza e rodeado de barcos de um lado e da águas cristalinas e montanhas do outro. Uma cidade verdadeiramente óptima para se estar. Já agora, e tenho que referir isto, almocei num sítio chamado Hobbiten que tem quadros do Senhor dos Anéis nas paredes!!

Após uma noite passada em Bodø e depois de muitos passeios à beira-mar, ao longo do pontão e das ditas ruas com casas onde eu não me importava mesmo nada de morar, no dia 13 às 21:00 apanho um comboio para Trondheim, a terceira maior cidade da Noruega no centro do país.
É mais um comboio normal que não deu p/dormir grande coisa, chego a Trondheim por volta das 8:30 da manhã e antes de me por a caminho da minha pousada tinha de comer alguma coisa...no entanto, na Noruega às 8:30 da manhã não há quase nada aberto, muito menos a um Sábado, depois de quase uma hora à procura finalmente encontrei um sítio. Dei uma "volta preliminar" para conhecer minimamente a cidade e só depois fui p/pousada que ainda ficava a uns 2kms da estação. Depois de instalado, comecei verdadeiramente a explorar a cidade. A pousada fica afastada do centro, próxima do bairro de Rosenborg, num sítio bastante calmo (como aliás parecem ser quase todos os bairros residenciais na Noruega) e mais uma vez rodeada por ruas cheias de bonitas casas de madeira, o que faz sempre um pouco de inveja a quem mora na Estrada de Benfica! O centro da cidade é bonito e agradável. Há uma praça com um mercado da qual saem duas ruas comerciais e nas proximidades está a catedral de Nidaros, uma catedral gótica do início do século XI e que tem um aspecto espectacular! Nas imediações, está o rio Nidelva, à beira do qual se encontra um bairro conhecido como Bryggen (noutras cidades os bairros à beira-rio têm também este nome) caracterizado por edificíos de madeira (surpresa...) assentes em estacas por cima da água. Mais uma vez, confirma-se aquilo que eu já pensava das cidades Norueguesas, o centro e as ruas comerciais são movimentadas durante o dia mas as áreas à volta estão imersas numa paz e tranquilidade total, quase como se trouxessem o campo para a cidade, mesmo que estejam a menos de 200 metros do trânsito e do movimento todo. Entretanto fui dormir um bocado que bem precisava e depois de um descanço merecido saí para comer e ver que tal era a cidade ao início da noite. Na Noruega fecha tudo muito cedo e a partir das 20:00 já só alguns restuarantes e cafés tinham gente, as ruas ficam cada vez mais desertas mesmo nas zonas comerciais e passado pouco tempo está tudo imerso num silêncio total.

No dia 15, Domingo, o ambiente é ainda mais calmo. Neste dia optei por dar um passeio pelo bairro medieval, fica bem próximo do rio e de Bryggen e, tal como os outros, caracteriza-se por...sim, isso mesmo, casas de madeira! Só que estas são mais antigas e estão dispostas de uma forma mais dispersa. Seja como for, é um bairro lindo e que ficou ainda melhor quando descobri um caminho íngreme e que me levou a um sítio do qual pude tirar uma foto incrível com grande parte da cidade lá em baixo. Contudo, o melhor ainda estava para vir, pois eu anda não tinha descoberto o caminho para subir à Kristiansten festning, ou seja, uma fortaleza que se situa no tpo de uma elevação, não sei será a mais alta de Trondheim, vi algumas ao longe que parecia tanto ou mais altas, mas a verdade é que a vista lá de cima é espectacular.
Tinha o comboio para Oslo às 23:00, por isso, para fazer tempo e porque estava quase tudo fechado, resolvi descer e começar a andar pelas ruas sem ter um objectivo específico, ou seja, limitava-me a andar sempre em frente quando encontrava uma rua desconhecida, o que por vezes valeu bem a pena! O tempo foi passando e finalmente às 23:00 lá apanhei o comboio para Oslo, este sim, uma grande máquina, muito confortável, quase como um avião ou até melhor. Aqui até consegui dormir bem durante mais de 4 horas feito notável!

Chego a Oslo no dia 16 às 7:00 e está a chover, e não é nada pouco! Raios, saio da estação e percorro a Karl Johans Gate, a ruma mais comercial da cidade, à procura do meu hotel, um sítio com preços muito acessíveis e com uma localização excelente, quase enviado pelos deuses! Como é demasiado cedo, ainda não posso fazer o check-in, ou seja, lá volto eu p/rua com chuva e tudo! Dificilmente se podia dar um passeio, por isso vou tentando acompanhar os toldos, coberturas e todos os outros sítios em que me pudesse abrigar até que finalmente chego à câmara municipal, onde todos os anos é entregue o prémio Nobel da paz e para me refugiar da chuva resolvo entrar e andar por lá um bocado – tive que desembolsar 50 coroas, é assim na Noruega, só não se paga o oxigénio! Mas vale a pena, a decoração e as pinturas são excelentes. Quando saí já tinha parado de chover e aproveitei para dar uma volta na zona antiga do porto, convertida numa avenida cheia de restaurantes, cafés e apartamentos de luxo em frente ao mar, coberto de barcos. Em seguida, vou à fortaleza Akershus onde se situam vários edifícios, entre os quais, o museu da Resistência Norueguesa, no qual aumentei bastante os meus conhecimentos sobre a II Guerra na Noruega.
Entretanto, eram horas de almoço e depois de morfar segui para um passeio pela Karl Johans Gate e imediações. Oslo é uma cidade bastante interessante, combina os aspectos de uma cidade Nórdica, nalguns pontos faz lembrar Estocolmo embora não seja necessariamente parecida enquanto que tem também uma parte moderna incrível, com imensos edifícios em vidro e aço sem que sejam incaracterísticos ou que perturbem a vista, pelo contrário, fazem até um bonito contraste.
Este era o último dia da minha aventura e eu aproveitei as horas antes de jantar para comprar uns postais e ainda um poster dos deuses Nórdicos! Não se podem fazer compras muito ambiciosas na Noruega, o país é tão caro que ainda acabamos a pedir!

Enfim, depois de jantar, dou um último passeio e despeço-me da capital Norueguesa, dirijo-me ao meu hotel ainda cedo porque no dia seguinte tenho de acordar às 4 da manhã de forma a estar no aeroporto às 5:00. Saí do hotel por volta das 4:20 para apanhar o expresso do aeroporto na estação às 4:45. A estação de Oslo é incrível, parece um autêntico aeroporto!! Chego a Gardermoen pouco depois das 5:00, cumpro as formalidades todas e embarco no avião da Norwegian com destino a Faro (os preços eram incríveis!no bom sentido!).

Depois de um vôo óptimo, à chegada a Faro apanho um autocarro para o centro e encontro a estação de comboios onde às 14:00 vou apanhar o inter-cidades para Lisboa. Estou definitivamente de volta a Portugal, nenhum carro pára p/que eu possa atravessar a rua, apesar de eu ir carregado, há prédios degradados com pessoas a viver lá dentro e vejo sucatas à beira da estrada...não era bem este o país de que começava a sentir saudades! E a estação de Faro quando comparada com a de Oslo...bem, sem comentários!

Foi uma pequena aventura de duas semanas que me permitiu alargar ainda mais os meus horizontes e, não só poder sentir o ambiente que se vive no Norte da Europa como também ter algum contacto com os habitantes locais e perceber que a maior parte dos estereótipos que os Portugueses têm dos povos Nórdicos são errados. Acima de tudo, nunca pensem que Noruegueses, Suecos e Finlandeses são iguais, não são, garanto-vos, nem pensem que são povos mortos, cinzentos e tristes porque isso também não é verdade, antes pelo contrário.
Foi uma viagem óptima na qual não houve precalços nem problemas e que eu recomendo a toda a gente. Muito melhor do que passar dias seguidos na mesma praia!
Até à próxima!

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