18.5.04

Vlad - Lord Impaler I

Em primeiro lugar, queria saudar a vitória do meu Benfica na final da Taça no dia 16 contra o Porto por 2-1! Foi um jogo memorável, disputado até ao fim do prolongamento e que veio pôr fim a 8 anos sem títulos de espécie alguma por parte do escalão principal do futebol do SLB. Ontem lá fui eu para o Marquês de Pombal festejar com milhares de adeptos em delírio, juntamente com milhares de adeptos que de norte a sul do país fizeram a mesma coisa. Só o Benfica tem este poder de mobilização!

Posto isto, hoje vou escrever sobre uma figura da História que provavelmente a maior parte das pessoas não conhece directamente mas que certamente reconhece a sua influência.
A figura propriamente dita é Vlad Tepes (Vlad, o Empalador) também conhecido como Vlad Drácula, o homem em quem Bram Stoker se inspirou maioritariamente para a figura do Conde Drácula, só que Vlad era príncipe!

Vlad nasceu em 1431 em Sighisoara, na Transilvânia, numa altura em que o seu pai, Vlad II, detinha o cargo de governador militar. Nesta altura, o principado da Transilvânia prestava tributo ao Rei da Hungria e o Império Romano do Oriente ainda não tinha caído. No entanto, a ameaça dos Otomanos estava sempre presente. Vlad II contudo, queria mais do que ser apenas o governador militar da Transilvânia e conspirou para assassinar o príncipe que ocupava o poder na Valáquia, região que equivale ao sul da Roménia e sueste da Hungria. O príncipe Alexandre I foi assim assassinado por Vlad II em 1436, acabando este por ascender ao trono, sob as condições oficiais de vassalagem à Hungria. O poder crescente dos Otomanos nas proximidade levou-o ainda a prestar um tributo ao Sultão. Esta decisão revelou uma inteligente manobra por parte de Vlad II, que compreendeu que não poderia violar as condições de vassalagem ao rei Húngaro mas que não descartou a hipótese de os Otomanos de poderem vir a tornar um problema, como aliás veio a acontecer uns anos mais tarde.

Em 1442, os Turcos invadem a Transilvânia, são derrotados mas Vlad II não combateu ao lado pelos Húngaros, motivo que o levou ao exílio. Há que lembrar que Vlad II era membro da Ordem do Dragão, uma ordem secreta fundada pelo rei da Hungria com o propósito de reunir cavaleiros Europeus cristãos numa aliança destinada a impedir uma invasão islâmica. Devido a esta condição, Vlad II ficou também conhecido como Vlad Dracul (dragão/demónio)
Não durou muito tempo, em 1443, o apoio Turco levou Vlad II ao trono da Valáquia mais uma vez, desta vez com a condição que todos os anos fossem enviados rapazes da Valáquia ao Sultão. Como prova da sua boa fé, Vlad II enviou em 1444 os seus dois filhos mais novos, Vlad III e Radu ao Sultão.

Nesse mesmo ano de 1444, a Hungria quebrou a frágil paz existente na região e lança a campanha de Varna, com o objectivo de expulsar definitivamente os Turcos da Europa. Os Húngaros exigem a participação de Vlad II, aliado da Hungria e membro da Ordem do Dragão nesta missão. Contudo, ele preferiu optar por outra via e enviou o seu filho mais velho, Mircea.
Os cristãos foram derrotados nesta campanha e Vlad II passou a ser alvo da ira dos Húngaros. Em 1447 ele e o seu filho Mircea foram assassinados, coisa que era bastante comum na época para atingir lugares de chefia política.
Foi então colocado um príncipe da confiança dos Húngaros, do clã Danesti.

Ao saberem da morte de Vlad II, os Turcos libertaram Vlad III, com 17 anos na altura, e patrocinaram a sua ascensão ao trono da Valáquia. A sua liderança apenas durou dois meses, pois os Húngaros intervieram e colocaram no trono Vladislov II, ao mesmo tempo que Vlad III encontrava refúgio junto do principado Moldavo, sob liderança do seu primo. No entanto, Vladislov aproximou-se demasiado dos Turcos, o que levou os Húngaros a apoiar Vlad III na ascensão ao trono da Valáquia. Vlad III recebeu os territórios anteriormente governados pelo seu pai e esperou por uma oportunidade de tomar a Valáquia pela força. Em 1453 cai o Império Romano do Oriente e o islão passa dominar aquilo que até então fora um bastião do cristianismo na ponte entre a Europa e a Ásia. Este acontecimento levou a que a Hungria actuasse contra os Turcos e em 1456 a Sérvia (sob domínio Turco) foi atacada, ao mesmo tempo que a Valáquia foi invadida por Vlad III que afastou o seu rival Vladislov do trono (e não foi graças aos bons ofícios de outros líderes nem a negociações diplomáticas!). Estava assim aberto o caminho para que um dos líderes mais sangrentos da História atingisse o poder.

Logo que começou o seu domínio de 12 anos, Vlad III, também conhecido como Vlad Dracula, fez questão de mostrar aos locais a natureza da sua liderança. As atrocidades que cometeu podem ter custado a vida a mais de 100000 pessoas, embora o número exacto nunca virá a ser conhecido. Não havia limites para a sua perversidade, as execuções em massa tornaram-se regra e o seu método favorito era o empalamento. O empalamento é provavelmente o método de execução mais horripilante que existe para um Humano. Consiste em introduzir uma estaca pelo corpo de uma pessoa acima até que ela saia pela boca, deixando o condenando a agonizar durante horas – a estaca nunca era muito afiada para que o empalado não morresse rapidamente – algumas vítimas demoravam dias a morrer, outras formas de empalamento incluíam trespassar uma pessoa através de outra (o que se fazia normalmente com crianças) e pendurar as vítimas em estacas retorcidas.
Vlad Tepes gostava tanto de empalamentos que existem iluminuras e relatos da época que dão conta de banquetes dados por Vlad, rodeados por milhares de empalados. Numa noite, cerca de 30000 comerciantes e nobres foram empalados e Vlad convocou um banquete num local rodeado pelas vítimas. Um dos seus convidados mostrou-se incomodado com o cheiro dos corpos, então Vlad ordenou que fosse empalado numa estaca elevada acima das outras vítimas, para que o cheiro não o incomodasse mais, enfim, cortesias!

Qualquer crime era suficientemente grave para ser punido desta forma. Os alvos mais frequentes eram os nobres de quem Vlad suspeitava e os comerciantes, principalmente os desonestos. Qualquer pessoa que cometesse um assalto ou que enganasse alguém estaria sujeito ao empalamento, incluindo cônjuges infiéis. Esta imposição da autoridade através do terror tem episódios particularmente macabros, uma vez Vlad convidou uma série de pedintes e vagabundos para um grande banquete no seu castelo.
Após uma grande refeição que deliciou os indigentes, Vlad perguntou-lhes se gostariam de deixar de ter qualquer tipo de preocupações que tanto os afectava. Após uma resposta afirmativa geral dos convidados, Vlad ordenou que a sala fosse encerrada e incendiada com todos os convidados lá dentro. O seu objectivo era eliminar a pobreza na Valáquia e promover uma espécie de “justiça social” para que ninguém tivesse de pagar o sustento
dos pobres. Ninguém sobreviveu.

(continua a seguir)

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