11.5.04

Ad astra per aspera - I

Boa noite!

Hoje resolvi escrever sobre uma das ciências que mais me fascina, há já bastante tempo e que me permite, sem sair do meu lugar, escapar deste mundo, desta dimensão, destas preocupações, para um nível superior, um nível onde os constrangimentos desaparecem e onde, de repente, tudo o resto deixa de ter importância.

Não, eu não tenho tendências suicidas!! Hoje apetece-me escrever sobre astronomia!
De uma forma muito simples, a astronomia é a ciência que estuda os astros e os seus movimentos. No entanto, para mim a astronomia é muito mais do que isso. Através da astronomia, temos consciência de quão pequenos e insignificantes nós, Humanos, Terráqueos somos perante o Universo.

A Terra, é sem dúvida um oásis no nosso sistema Solar, pensamos nós: é o único planeta com temperaturas que suportam as nossas formas orgânicas de vida, é o único planeta cuja atmosfera tem a quantidade necessária (ou até mais) de cada gás essencial à vida (principalmente o oxigénio, ainda que este também exista na atmosfera de Marte, em quantidades ínfimas e bastante disperso) e finalmente, o único com água em estado líquido, elemento essencial à nossa vida. Mas reparem que eu escrevi “nossa” vida, os milénios que precederam a nossa existência, os milénios que foram necessários até que a Humanidade atingisse o estádio de desenvolvimento em que se encontra (e do qual eu espero sinceramente que evolua e bastante) fizeram-nos crer que a vida inteligente só pode existir à nossa escala, com as condições que nós conhecemos.

Não temos que fazer disto um dogma! A vida inteligente não tem que ser orgânica, não tem que depender de recursos como oxigénio ou água. Partindo, de uma forma muito solta, talvez até errada, da obra de Platão, a alma Humana apenas necessita do corpo porque este é a base da alma. No entanto, após a morte física do corpo, a alma subsiste, daí que Platão avance com a expressão “O dever do filósofo é morrer e estar morto” (Fédon) Por isso, baseando-me nestas premissas, e sem me esquecer de substituir “alma” por “razão” ou “inteligência”, já posso avançar (mais descansado), a seguinte questão: não será concebível a existência de vida extraterrestre fora das condições que nós julgamos ser essenciais? Eu admito que é bastante difícil de encontrar, principalmente porque até agora ainda não se vislumbrou qualquer vestígio que permita inferir da existência de vida inteligente em qualquer outro planeta do nosso sistema solar, mas nenhum planeta do nosso sistema solar (à parte, obviamente, da Terra) foi explorado em todas as suas vertentes.

Contudo, ainda dentro da linha de pensamento que uma forma de vida necessita de água e/ou oxigénio para viver, as possibilidades ainda não acabaram! Em 1994, uma sonda enviada pelo Pentágono detectou a presença de gelo nos pólos da nossa Lua, quem é capaz de meter as mãos no fogo em como não existem, ou pelo menos nunca existiram, organismos vivos nessa região? Mesmo que se tratem de micro-organismos, não desvaloriza em nada, afinal a vida na Terra também terá começado dessa forma. Em Marte, uma pequeníssima parte da atmosfera é constituída por Oxigénio, as temperaturas não são tão extremas como noutros planetas (vão dos –120ºC até a uns incríveis, tendo em conta o planeta, +20ºC), foi recentemente descoberto gelo, sem esquecer a existência de longas estrias no planeta, que se assemelham a canais, embora estas possam muito bem ser fenómenos geológicos.

Entrando no sistema solar exterior, Europa, uma das luas de Júpiter, é o corpo celeste onde há maior probabilidade ser encontrada vida, por um motivo muito simples, a sua superfície coberta maioritariamente de gelo, encontra-se marcada por imensas fracturas, sob essas fracturas foi possível detectar a existência de oceanos sob a crosta da lua, oceanos cuja temperatura será elevada e nos quais é perfeitamente possível que haja vida. Não seria um investimento incrível enviar um ou mais submarinos-robot a Europa que penetrem no interior da lua e atinjam esses oceanos? Como serão as suas profundidades? Terão formas de vida? Será que a geologia de Europa vai ao longo dos próximos milénios, inundar a superfície da lua com rios e lagos? O filme 2010, sequela de 2001, avança com essa possibilidade, no evento de Júpiter se tornar numa estrela...será que isto já é sonhar demasiado?

A astronomia não é, de forma alguma, uma ciência para “freaks” ou apenas acessível a génios (muito pelo contrário, até eu me sinto atraído por ela), creio que o estudo do universo à nossa volta e a exploração espacial constituem um interesse comum de toda a Humanidade e não apenas do(s) Estado(s) que financia(m) esses empreendimentos. A partir do momento em que ultrapassamos a fronteira da nossa atmosfera e nos libertamos da gravidade terrestre, cruzamos a fronteira entre o nacionalismo (que afirmamos na Terra) e o outro conceito que está para além da nossa atmosfera e que eu sinceramente não sei qual é, talvez o possamos denominar como “universalismo”?

À superfície do nosso pequeno planeta, já muito martirizado mas mesmo assim com muito para oferecer, encontramos um sem número de razões para nos dividirmos, para nos virarmos uns contra os outros, para nos arrependermos e depois nos unirmos e dizer que nada daquilo se vai repetir, para nos afirmarmos em prejuízo dos outros e para elevarmos os nossos estandartes o mais acima possível dos outros (argumento falacioso, visto que a elevação de um acima de outro pode actuar em seu prejuízo no futuro). Mas a partir do momento em que saímos da atmosfera, estamos a entrar num reino no qual muitos poucos já estiveram (os afortunados astronautas, algo que eu nunca serei mas que sempre irei admirar) e de repente a nossa mente, tal como o ambiente à nossa volta, torna-se límpida, esquecemos todos os constrangimentos (quer dizer, quase todos, convém que o oxigénio não acabe!) a partir desse ponto, estamos a deixar a nossa marca na História, somos pioneiros, somos parceiros uns dos outros nesta viagem pelo desconhecido e passamos apenas a ser “Terráqueos”. Posso já estar a divagar, mas se as viagens espaciais já fossem acessíveis ao comum dos cidadãos, elas constituiriam uma excelente terapia para as mentes mais cansadas e mais constrangidas.

(Este post contiuna a seguir,vão lendo!)

1 Comments:

Blogger Padawan said...

Não nego, sou um céptico da natureza humana. Ou melhor, não da sua natureza, mas antes da corrupção dessa mesma natureza por parte da sociedade. Assim sendo, não creio que a Humanidade, atingindo um patamar de domínio ou de uma exploração espacial de tal modo conseguida que nos pusesse em contacto com outras formas de vida (fazendo um pouco de ficção científica, formas de vida inteligentes e evoluídas como nós), se comportasse como tendo um sentimento ou uma consciência de “universalismo”. Pelo contrário, do mesmo modo como actualmente se notam o regionalismo, nacionalismo e o racismo, entre outros “ismos” desprezíveis, também no caso de contacto com outros sistemas de planetas habitados o máximo que conseguiríamos seria um “planetarismo” segregarista. Mas é bom poder pensar que seria diferente…

06 outubro, 2004 13:04  

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