13.5.04

Da obra Humana II

(continuação)
O génio criativo dos Humanos parece deter algum instinto suicida visto que investiram tanto trabalho e tanta dedicação na construção e manutenção de uma obra que acabou por os absorver a todos (ou quase todos...) nas suas longas cadeias de dependência, sem que estes dessem conta desse “pequeno pormenor”. A dependência em relação à Máquina é tal, que a maior parte dos Humanos não é capaz de imaginar a vida sem a Máquina para os ajudar, mesmo que a ela não recorram, basta o conceito da Máquina para lhes dar um grande dose de confiança no seu processo produtivo. É de facto uma Raça espantosa, a Raça Humana!

As vozes discordantes nunca se silenciaram, apesar das tentativas dos mais acérrimos defensores da Máquina. Ao longo dos tempos, foram aumentando as vozes daqueles que negam o poder da Máquina, dos que afirmam que o arquitecto/construtor tem sempre vantagem sobre a obra que edificou, que a Humanidade não pode ser domada e que o cérebro Humano é suficientemente poderoso para pensar noutra solução que não passe pela Máquina.

De facto, é interessante a forma como os Humanos funcionam. Várias gerações de Humanos criam a Máquina com boas intenções das quais ninguém duvidava e contudo entre os seus descendentes encontram-se opositores à Máquina num lado, e defensores da Máquina do outro, alguns deles de tal forma imersos na gigantesca rede que a Máquina criou que não são capazes de conceber o seu Mundo sem a Máquina.

Mais uma prova do génio da Humanidade, a Máquina parece ter ganho vida própria, sobrepondo-se ao género Humano: os indivíduos vão, a Máquina fica, sempre estará aqui para nos servir. Contudo, o mais incrível é que a Máquina é, como o nome indica, apenas uma Máquina, um objecto criado pelos Humanos, cuja manipulação conceptual é, sem dúvida, fortíssima mas que permanece um objecto, uma patente Humana.

Esta patente Humana não tem necessariamente de absorver todos os Humanos, aliás isto não acontece. Contudo, a dependência Humana em relação à Máquina é de tal forma elevada que atingiu um ponto em que não haveria qualquer outra hipótese para o futuro da Humanidade senão destruir a Máquina, não só o conceito central de “Máquina”, como todas as Máquinas que se encontravam espalhadas pelo Mundo. Desta forma, os Humanos iriam dar mais uma vez ao seu poderoso cérebro uma outra oportunidade, visto que este há muito que era utilizado só em questões menores e que pregou um grande susto aos Humanos durante um considerável período de tempo.

Armados com a sua inteligência e resistência psicológica, os Humanos são capazes de destruir a Máquina, sem que isto implique actos violentos ou aquilo a que os Humanos denominam por “crimes” nos quais se atacam estruturas e até os próprios Humanos. As ‘vantagens’ da Máquina não atingem muitos Humanos e estes são Humanos libertos de quaisquer constrangimentos no que diz respeito à necessidade da Máquina.

Como forma de punir a obra por esta tentar destruir o seu dono (um autêntico monstro de Frankenstein, esta obra!) sem que este, contudo a veja como responsável, os Humanos libertam-se da presença da Máquina e passam a vê-la como factor externo ou nem sequer a ter em conta no seu dia-a-dia.
Compete aos Humanos esta monumental tarefa, visto que a Raça Humana é composta por mais de 6 biliões de indivíduos, a maior parte dos quais com os seus cérebros escravizados por um sistema opressor que não lhes permite pensar fora daquela óptica ou direcção e que não lhes fornece nenhuma alternativa real.

Assim é, aproximadamente, a História da grande massa Humana e da sua maior obra. Não podemos deixar de dar o nosso apoio a esta luta pela liberdade, pois trata-se da forma mais básica de liberdade que está em causa, aqui fica a minha saudação a esse combate interminável contra as malhas da Máquina e aos resistentes que se recusam a aceitar as premissas que a dão como indispensável!

2 Comments:

Blogger Padawan said...

Hmmm, boa história! Tenho apenas três comentários a fazer. O primeiro diz respeito à forma como te referes à Raça Humana, como se só existisse uma. Se bem que ache bonita a ideia de que os humanos são todos iguais, penso que seria mais correcta a forma Espécie Humana, que, aliás, usas no primeiro parágrafo. O importante é darmo-nos todos bem, não obstante a cor de pele de cada um ou mesmo as suas ideias, e usar a nossa variabilidade intra-específica nestas mesmas áreas para nos tornarmos numa espécie cada vez mais evoluída, e não promover o radicalismo anti-racista (em cuja corrente não te incluo, pelo menos a julgar por estes posts).
De seguida, e em resposta à primeira parte da história, respeitante à evolução da espécie, ocorre-me citar Desmond Morris (in "o Macaco Nú", que vivamente aconselho), que diz que o grande problema do Homem é que "o seu desenvolvimento extra-somático suplantou desmesuradamente a sua evolução biológica", querendo com isto dizer, entre outras coisas, que o Homem criou para si, consoante as suas necessidades, um conjunto de regras sociais e morais que vão contra a sua natureza biológica e genética.
No que diz respeito à proposta de soluções que passam pela "Rage against the machine", penso que não é esse o caminho que devemos tomar. Apropriando-me das ideias que Desmond Morris apresenta no seu livro "O Zoo Humano", creio que o verdadeiro problema da Humanidade não reside na existência/dependência das máquinas, mas que todo o seu desenvolvimento e a consequente capacidade de nos auto-aniquilarmos sugere a proximidade de um ponto crucial, em que o Homem se destruirá a si mesmo ou recorrerá às suas maravilhosas capacidades intelectuais para aprender a viver em paz e harmonia (não apenas entre os estados, mas de todos e cada um para com os seus semelhantes)... ao lado das máquinas e com a sua ajuda.

06 outubro, 2004 13:19  
Anonymous Anónimo said...

Obrigado por Blog intiresny

20 novembro, 2009 15:09  

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