15.5.04

A antítese da Humanidade....reside na própria.

Cá estou eu mais uma vez aqui no meu blog.
Espero que quem tenha lido os dois posts anteriores (devia ser só um mas por motivos técnicos, isto não coloca posts tão grandes) tenha ficado a compreender a minha intenção. Veremos se assim foi...

Quanto ao que eu tenho para desbobinar hoje...nunca é fácil.
Mas já que aqui estou, e um bocado no seguimento do raciocínio do último post, vou escrever mais qualquer coisa sobre os Humanos e as suas incríveis características, mas de uma perspectiva mais próxima.

Ora cá vai...Uma coisa que os Humanos levam bastante a sério é o seu código de vida social (ou devo dizer, de imperativos sociais?)
ou seja, todas as sociedades Humanas têm um determinado conjunto de regras que não estão escritas em qualquer código/constituição mas que todos os seus membros as adquirem através da aprendizagem (que pode ser feita de várias formas diferentes). Até aqui, nada de estranho. No entanto, e para poder escrever isto só posso falar da sociedade que conheço, o dito "código" (não confundir com o contrato social de Rousseau) é levado até campos que deixam completamente a parte social e não só cruzam a fronteira do ridículo como ainda penetram abruptamente por este território com as suas hordas, derrubando todas as barreiras possíveis e passeando-se por ele como se fossem donos e senhores...
Ou seja, a conduta social na sociedade Portuguesa (e não só) é uma coisa que para mim é completamente abjecta e idiota e que não está de forma alguma enraizada na matriz cultural Portuguesa, ao contrário daquilo que nos querem fazer pensar.

Por toda a parte ouvem-se pessoas a dizer que determinada conduta é reprovável, ou que não é desta forma que se aborda certo assunto, o pior é quando isto entra pela forma de agir das pessoas alterando completamente a sua forma de vida, passando estas a ter uma postura completamente diferente (em praticamente todos os aspectos) em público e em privado. Em público, as pessoas tentam dar a entender que não só são umas iluminadas, visto que imensos Humanos gostam imenso de falar sobre um determinado tema com um ar absolutamente profissional, como se fossem a máxima autoridade do assunto mesmo que dele não saibam mais do que o nome, como não dão erros absolutamente nenhuns (admitir um engano equivale a passar por ignorante...) e como ainda são importantes.

Basta observar atentamente o panorama para nos apercebermos disto, encontra-se onde quer que procuremos, nos encontros mediáticos de figuras públicas, nos empregos, nas faculdades, nas autoridades...
O tal "código social" deixa de o ser para passar a ser um instrumento nas mãos de quem o utiliza, em vez de ser um meio de equilibrar o relacionamento entre os Humanos nas suas sociedades, eles acabam por se aproveitar na sua própria auto-promoção.
Espera lá!Eu escrevi "auto-promoção"? Que insensibilidade da minha parte! Estou a reduzir estas pessoas a meros egoístas! Esqueci-me que também é usado para beneficiar a família, os amigos, a família dos amigos, os amigos da família, os amigos dos familiares dos amigos, os/as amantes, etc...

Como se servem eles? Não estou a par de todas as técnicas utilizadas, mas actualmente incluem filiação partidária sem qualquer identificação com o partido em causa, graxa ao superior hierárquico, uso de todos os meios que estiverem ao seu alcance para parecer muito melhor do que aquilo que na realidade é, omissão de pensamentos/opiniões que possam ser considerados como contra a corrente, e por aí fora! Ora isto deixa-me particularmente irritado, por motivos muito simples:

- em primeiro lugar, quem usa e abusa destas práticas para a sua promoção social merece apenas que elas tenham o efeito contrário. Ou seja, quem mais pressiona através de meios como aqueles que eu referi, merece uma reacção com uma carga negativa em igual proporção à baixeza que foi aplicada.

- em segundo lugar, os Humanos que são alvo destas práticas, surpreendentemente, aceitam e pactuam com elas, revelando não sei se ingenuidade ou se estupidez pura, ou então tentando talvez atingir algum objectivo oculto. Por isso talvez os alvos mereçam, visto que se quem os aborda consegue dar-lhes a volta, então eles próprios merecem ser alvo de hipocrisias e de outras baixezas!
Não são simples, os Humanos...

Dentro da psicologia Humana encontramos necessidades como alimentação, abrigo, segurança, paixão, e por aí fora. No entanto, pelos vistos há que acrescentar a necessidade de obter estatuto social, coisa a que a maioria dos Humanos aspira embora muitos deles não saibam bem para quê, talvez porque se sentem tão inseguros consigo mesmos que só através de terceiros é que se sentem melhor, talvez porque eles acreditem tão piamente que o estatuto é tudo, que ao contrário da mulher de César, no caso deles, há que parecê-lo, muito (mas mesmo muito) mais do que sê-lo.

Aparentemente é um sistema que não acaba, por um lado os indivíduos que o praticam sentem a necessidade de serem autênticos animais sociais no sentido de agradar aos outros (por mais que os odeiem, é sempre bom mostrar que gostamos muito deles...), do outro lado, por sua vez, o feedback incentiva o comportamento baixo de quem tenta entrar, mostrando aos outros Humanos o que lhes pode acontecer se não colaborarem. Assim vão-se gerando cada vez mais cadeias de comportamentos, vai passando de pais para filhos, e por aí fora gerando um círculo interminável.

Ecce Homo, reduzido ao absurdo e ao ridículo pelo próprio Homem! Quanto mais actos baixos são cometidos, maior a perda da Humanidade por parte de quem os pratica, pois em meu entender, alguns indivíduos vão tão baixo que merecem o título de infra-humanos, visto que a sua coluna vertebral deixa de ser o órgão para aquilo que foi concebida e passa a ter as funções de tapete. Se tudo isto fosse no seguimento de ordens, não seria problemático. No entanto, não é...

Ao mesmo tempo, isto para quem observa praticamente de fora para dentro, é divertidíssimo!! Até ao momento em que me lembro que eu também sou mais um Humano. É então que prometo a mim mesmo, pela minha Humanidade, que nunca descerei de patamar.
Todos os Humanos têm de fazer sacrifícios durante a sua vida em seu nome (e não só) mas nem todos os sacrifícios têm de ser asquerosos.

Boa noite.

1 Comments:

Blogger Padawan said...

Novamente, “O Zoo Humano”. Agir em proveito de nós mesmos e das pessoas que conhecemos é puramente conforme com os nossos pressupostos biológicos. É a diferença entre tribos e supertribos, nas quais as pessoas, por não se conhecerem, deixam de sentir empatia e começam a infligir danos físicos, psicológicos, e/ou espirituais, directos e/ou indirectos, sem se importarem com as suas consequências, especialmente as que dizem respeito ao facto de todos os outros fazerem o mesmo.
Sim, segundo alguns autores, a obtenção de estatuto social é uma necessidade psicológica. Poder-se-ia até incluir no grupo de necessidades de auto-realização na pirâmide de necessidades de Maslow. Saber por que é que práticas como essas que descreveste são usadas para atingir algo tão idealista como a auto-realização, isso já é outra história. Podia continuar a falar do desajustamento dos códigos de conduta social e moral relativamente à nossa biologia, ou, para ser mais simples, dos próprios ideais de solidariedade, igualdade e fraternidade (quase iguais aos da República Francesa!), mas isso já seria “chover no molhado”.
Gostei muito desta: “visto que a sua coluna vertebral deixa de ser o órgão para aquilo que foi concebida e passa a ter as funções de tapete.” Mas, não concordarás comigo, quando digo que, se todos usassem verdadeiramente esse órgão naquilo para que foi evoluindo, nem as ordens serviriam como desculpa para comportamentos abjectos?

06 outubro, 2004 13:27  

Enviar um comentário

<< Home


Click Here