Ukraina
Um senhor por quem eu tenho grande respeito disse uma vez que a democracia é o pior sistema, à excepção de todos os outros. E realmente é essa a impressão com que eu fico, não só por viver num regime democrático no qual temos amostras diárias das suas inconveniências (ou será que são realmente inconvenientes?) mas por observar fora do meu país situações que honram as palavras de Winston Churchill em locais onde a democracia ainda é um conceito muito vago.
As eleições presidenciais na Ucrânia mostraram que, ao contrário daquilo que eu pensava, que este país da Europa de leste, antiga República Soviética, está vivo, que não se encontra em agonia decadente e que, se for bem orientado, tem futuro. Os indícios de fraude eleitoral a favor do candidato pró-Russo levaram a população apoiante do candidato pró-Ocidente às ruas de Kiev, em números enormes e em manifestações gigantescas, exigindo a anulação do escrutínio e o empossamento de Yuschenko, que no seu entender foi o verdadeiro vencedor das eleições.
Sem entrar nos programas eleitorais de ambos os candidatos, o "vencedor" - isto até o Supremo Tribunal da Ucrânia ter anulado o resultado - foi apontado pelo actual presidente, Leonid Kuchma, uma figura com o nome mais que manchado pela corrupção e violação do sistema democrático, basta ver a pressão sobre os media ucranianos - aqui o Marcelo Rebelo de Sousa nem chegaria sequer a comentador! - que acabaram por ser pouco mais do que os canais oficiais do regime, sem esquecer o vergonhoso exemplo da toxina que terá afectado Yuschenko.
Trata-se assim de uma figura obscura e o homem que ele apontou para sucessor, até agora primeiro-ministro do país, não será concerteza muito melhor.
O facto de seram ambos pró-Russos não é alheio a tudo isto. Moscovo sofre certamente de uma neurose no que diz respeito às suas fronteiras e influências na Europa de Leste e nunca aceitou verdadeiramente a queda do Pacto de Varsóvia e da URSS. No Kremlin, a Europa e o Ocidente ainda são inimigos e em vez de se orientarem numa estratégia de cooperação a relacionamento estreito com o Ocidente, as autoridades Russas preferem existir como um bloco não-comunista mas contra-Ocidente, um novo Império, desta vez não ideológico mas saudosista desses tempos, com uma forte lacuna no que diz respeito ao seu lugar no mundo. Porque a função da Rússia já não é a de "levar a Revolução a todos os povos do mundo", Moscovo encontra-se numa situação em que não sabe exactamente o que quer, apenas sabe que não quer o Ocidente às suas portas e para isso, todos os meios são utilizados - que mais pode justificar o apoio dado aos regimes da Bielorússia, Moldávia e Ucrânia como estados-tampão entre a Rússia e o Ocidente? Que mais pode explicar a animosidade de Moscovo em relação à "Revolução rosa" que ocorreu no ano passado na Geórgia e que levou ao apoio Russo aos rebeldes da Ajária?
Logo, a estratégia mais óbvia a seguir será o reforço do poder interno - já não em nome do socialismo mas da Mãe Rússia - face às ameaças Ocidentais, personificadas pela NATO, pela UE e pelos EUA. Uma estratégia que é conjugada com uma ruptura da democracia dentro das fronteiras Russas - ou não fosse Vladimir Putin ex-dirigente do KGB - e que se traduz numa intidmidação dos media e dos oligarcas pró-oposição interna, caso de Mikahil Khodorkovsky e da petrolífera Yukos.
Não será assim surpreendente que Moscovo apoie o candidato do regime Ucraniano às eleições presidenciais, ainda que se saiba das tendências menos democráticas do regime de Kiev. Contudo, a população Ucraniana mostrou-nos (e continua a mostrar) que não aceitarão mais interferências Russas no comando do seu país, que não proclamaram a independência em 1991 para serem mais uma vez submergidos pela esfera de influência Russa e que não saíram de uma regime totalitário para outro. A democracia é o sistema essencial para o desenvolvimento na Europa de Leste, o autoritarismo e as economias paralelas que marcam a maior parte das ex-Repúblicas Soviéticas apenas afundam estes países cada vez mais e abrem caminho a regimes mais perigosos. Os Ucranianos percebem isto, são patriotas, desejam um futuro melhor para o seu país e não aceitam que a democracia seja apenas uma máscara ao serviço de interesses que nunca lhes tocam e um mero fantoche de Moscovo.
Temos uma grande lição a retirar do activismo dos Ucranianos nestas últimas semanas, em Portugal, a maior parte da população não sabe o que é um sistema democrático, apesar de viver num desde 1976, sofremos de uma letargia política - muito embora ela fosse mais profunda há alguns anos atrás - e é esta falta de activismo e de consciência que leva às situações que nós bem conhecemos em Portugal e que nos fazem chamar "país de terceiro mundo" quando estamos perante cenários absolutamente ridículos, impensáveis noutro país democrático. Se cada Português tivesse uma pouco da consciência democrática dos Ucranianos, o nosso sistema democrático estaria em muito melhor forma e seria capaz de dar respostas mais eficientes às necessidades dos Portugueses, ao contrário do actual sistema que face à falta de activismo da população, sente-se impune e com o monopólio da incompetência.
Viva a Ucrânia!
As eleições presidenciais na Ucrânia mostraram que, ao contrário daquilo que eu pensava, que este país da Europa de leste, antiga República Soviética, está vivo, que não se encontra em agonia decadente e que, se for bem orientado, tem futuro. Os indícios de fraude eleitoral a favor do candidato pró-Russo levaram a população apoiante do candidato pró-Ocidente às ruas de Kiev, em números enormes e em manifestações gigantescas, exigindo a anulação do escrutínio e o empossamento de Yuschenko, que no seu entender foi o verdadeiro vencedor das eleições.
Sem entrar nos programas eleitorais de ambos os candidatos, o "vencedor" - isto até o Supremo Tribunal da Ucrânia ter anulado o resultado - foi apontado pelo actual presidente, Leonid Kuchma, uma figura com o nome mais que manchado pela corrupção e violação do sistema democrático, basta ver a pressão sobre os media ucranianos - aqui o Marcelo Rebelo de Sousa nem chegaria sequer a comentador! - que acabaram por ser pouco mais do que os canais oficiais do regime, sem esquecer o vergonhoso exemplo da toxina que terá afectado Yuschenko.
Trata-se assim de uma figura obscura e o homem que ele apontou para sucessor, até agora primeiro-ministro do país, não será concerteza muito melhor.
O facto de seram ambos pró-Russos não é alheio a tudo isto. Moscovo sofre certamente de uma neurose no que diz respeito às suas fronteiras e influências na Europa de Leste e nunca aceitou verdadeiramente a queda do Pacto de Varsóvia e da URSS. No Kremlin, a Europa e o Ocidente ainda são inimigos e em vez de se orientarem numa estratégia de cooperação a relacionamento estreito com o Ocidente, as autoridades Russas preferem existir como um bloco não-comunista mas contra-Ocidente, um novo Império, desta vez não ideológico mas saudosista desses tempos, com uma forte lacuna no que diz respeito ao seu lugar no mundo. Porque a função da Rússia já não é a de "levar a Revolução a todos os povos do mundo", Moscovo encontra-se numa situação em que não sabe exactamente o que quer, apenas sabe que não quer o Ocidente às suas portas e para isso, todos os meios são utilizados - que mais pode justificar o apoio dado aos regimes da Bielorússia, Moldávia e Ucrânia como estados-tampão entre a Rússia e o Ocidente? Que mais pode explicar a animosidade de Moscovo em relação à "Revolução rosa" que ocorreu no ano passado na Geórgia e que levou ao apoio Russo aos rebeldes da Ajária?
Logo, a estratégia mais óbvia a seguir será o reforço do poder interno - já não em nome do socialismo mas da Mãe Rússia - face às ameaças Ocidentais, personificadas pela NATO, pela UE e pelos EUA. Uma estratégia que é conjugada com uma ruptura da democracia dentro das fronteiras Russas - ou não fosse Vladimir Putin ex-dirigente do KGB - e que se traduz numa intidmidação dos media e dos oligarcas pró-oposição interna, caso de Mikahil Khodorkovsky e da petrolífera Yukos.
Não será assim surpreendente que Moscovo apoie o candidato do regime Ucraniano às eleições presidenciais, ainda que se saiba das tendências menos democráticas do regime de Kiev. Contudo, a população Ucraniana mostrou-nos (e continua a mostrar) que não aceitarão mais interferências Russas no comando do seu país, que não proclamaram a independência em 1991 para serem mais uma vez submergidos pela esfera de influência Russa e que não saíram de uma regime totalitário para outro. A democracia é o sistema essencial para o desenvolvimento na Europa de Leste, o autoritarismo e as economias paralelas que marcam a maior parte das ex-Repúblicas Soviéticas apenas afundam estes países cada vez mais e abrem caminho a regimes mais perigosos. Os Ucranianos percebem isto, são patriotas, desejam um futuro melhor para o seu país e não aceitam que a democracia seja apenas uma máscara ao serviço de interesses que nunca lhes tocam e um mero fantoche de Moscovo.
Temos uma grande lição a retirar do activismo dos Ucranianos nestas últimas semanas, em Portugal, a maior parte da população não sabe o que é um sistema democrático, apesar de viver num desde 1976, sofremos de uma letargia política - muito embora ela fosse mais profunda há alguns anos atrás - e é esta falta de activismo e de consciência que leva às situações que nós bem conhecemos em Portugal e que nos fazem chamar "país de terceiro mundo" quando estamos perante cenários absolutamente ridículos, impensáveis noutro país democrático. Se cada Português tivesse uma pouco da consciência democrática dos Ucranianos, o nosso sistema democrático estaria em muito melhor forma e seria capaz de dar respostas mais eficientes às necessidades dos Portugueses, ao contrário do actual sistema que face à falta de activismo da população, sente-se impune e com o monopólio da incompetência.
Viva a Ucrânia!
2 Comments:
Hmmm... curioso... estou a comentar a partir do meu local de estágio... dantes não funcionava, lembras-te?! Bom, acho a tua visão da Rússia um pouco extremista. Repito, um pouco. Só porque talvez não seja fácil a ocidentalização repentina de um País que sempre teve uma identidade muito própria, algum orgulho a mais, talvez, e ainda uma história recente (já desde 1917!) que o fez evoluir (e concomitantemente as mentalidades da população) num sentido muito diferente daquele que lhe conviria (economicamente) possuir agora.
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