Os nossos iluminados comentadores
Num país onde cerca de 80% da população não concluiu o ensino secundário e onde uma quantidade assustadoramente grande de pessoas não sabe construir uma frase com sentido e coerência, abundam fenómenos de iluminados que dão ao comum dos mortais portugueses uma oportunidade de compreender assuntos mais complexos nos quais o cidadão não pensa, ou porque não consegue raciocinar ou porque não se preocupa com o assunto.
Os comentadores de serviço, onde se incluem Marcelo Rebelo de Sousa, António Vitorino, Nuno Rogeiro, Paulo Portas e Miguel Sousa Tavares preenchem uma lacuna na mente das pessoas que os seguem. São cidadãos que têm todo o direito à sua opinião, mas porque no entender de quem os contratou, possuem algum dom especial de atingir a mente do cidadão mais obtuso, foi-lhes concedido tempo de antena nos principais canais de televisão portugueses, onde comentam assuntos políticos, económicos, sociais e culturais.
Uma vez que a generalidade da população é ignorante sobre o que estes senhores comentam, a sua opinião é propagada aos quatro cantos do país e escutada atentamente por milhões de pessoas, que após ouvirem uma dessas sessões, rendem-se às palavras dos “mui iluminados comentadores” cuja capacidade de argumentação é suficiente para colmatar qualquer falta de conhecimentos que possa emergir.
Tem todo o ar de reminiscência dos “conselhos dos anciãos” nas sociedades tribais, não tem? Um círculo restrito de iluminados que espalha a sua palavra à comunidade para que os mais ignorantes possam conhecer os assuntos, acabando por impor a sua opinião pessoal à população, mesmo que esta já tenha uma opinião própria. Infelizmente, não é assim que se contribui para a [in]formação dos telespectadores, uma vez que quando estes ouvem uma opinião de um iluminado comentador não estão a desenvolver o seu raciocínio, mas sim a absorver a perspectiva do emissor da mensagem, limitando-se a copiar o que este disse.
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