Desperdício português
O Governo português vai proceder à venda de doze F-16 que foram adquiridos durante legislaturas anteriores mas que nunca voaram, até porque as aeronaves nunca foram desempacotadas e montadas pelas OGMA. Parece inacreditável, não parece? Um país com um orçamento limitado como Portugal dá-se ao luxo de comprar doze F-16 em segunda mão aos Estados Unidos e nunca chega a utilizá-los para depois os revender. Antes de proceder à sua venda, porém, as aeronaves terão de ser modernizadas [sofrer um middle life upgrade] por parte das OGMA.
Do lote de F-16 comprados durante o Governo de António Guterres, apenas quatro foram modernizados e colocados ao serviço da Força Aérea Portuguesa. Os outros nunca foram modernizados por falta de verbas, e dificilmente o serão tão depressa. A modernização destes aparelhos não será o único obstáculo à sua venda, os EUA podem ainda ter uma palavra a dizer, mas em princípio não serão levantados problemas se o comprador for um país aliado.
Qual é, então, a capacidade de gestão dos seus recursos de defesa nacional de um país que compra um lote de caças sem os poder utilizar? Além das doze aeronaves, o Governo vai ainda vender dez helicópteros Puma, alguns helicópteros Alouette e duas fragatas. Isto começa a ultrapassar-me. Por um lado, a Lei de Programação Militar reserva às Forças Armadas uma quantia menor do que a sua anterior versão e a contenção de custos está na ordem do dia, o que, em parte, justifica a venda daquele material, que pode permitir encaixar 290 milhões de Euros. Por outro lado, ao alienar os aparelhos desta forma, o Governo arrisca um aumento da vulnerabilidade do Estado português - não é palavra corrente que os Estados hoje devem fazer tudo o que está ao seu alcance para se protegerem de ameaças como o terrorismo, o tráfico internacional de droga, armas e seres humanos, e outras violações da sua integridade? - ainda que aqueles meios não estivessem a ser utilizados, ao longo dos próximos anos poderiam ser desbloqueadas verbas para a sua utilização. Afinal, foi possível comprá-los, não foi?
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home