Níveis de ozono em Portugal
De acordo com o Público de hoje, os níveis de ozono em Portugal durante o verão de 2005 atingiram os níveis mais elevados da UE. Valores na ordem dos 361 microgramas por metro cúbico/hora, como os que foram registados no nosso país, ultrapassam, e bastante, o limiar de 240 a partir do qual a população em geral tem de ser alertada para a ocorrência. Situações semelhantes verificaram-se noutros países europeus, sobretudo na parte meridional do continente - Espanha, França, Itália, Grécia e Roménia - onde os valores superiores aos 300 microgramas foram registados em várias ocasiões.
Que podemos concluir daqui? Que embora o ozono não seja produzido directamente pelas fontes de poluição atmosférica - sobretudo veículos movidos a combustíveis fósseis e unidades industriais - é derivado da mistura que resulta das emissões poluentes com a luz solar. O ozono é um dos componentes do fenómeno conhecido como smog que felizmente não é comum em Portugal, mas que não será impossível de se verificar no longo prazo. É uma consequência plausível, num país onde a exposição ao sol é elevada [Lisboa é possivelmente a capital europeia com maior número de horas de sol/ano] e onde os automóveis são largamente utilizados como principal meio de transporte, sobretudo nas cidades.
Ao mesmo tempo, é importante lembrar que Portugal é um dos poucos países desenvolvidos que o Protocolo de Quioto autorizou, embora de forma não explícita, a aumentar a emissão de gases causadores do efeito de estufa. A meta geral para a União Europeia aponta para uma redução de 8% até 2010, mas a UE estabeleceu metas diferenciadas para os seus membros de acordo com o nível de desenvolvimento. Assim, Portugal está autorizado a aumentar a sua produção daqueles gases em 27%. Porém, este limite pode não ser cumprido, como este documento demonstra.
Já sabemos que Portugal será um dos países europeus mais afectados pelo aquecimento global.
Agora tomamos conhecimento de que registámos os níveis de ozono mais elevados da Europa durante o verão de 2005. Ao mesmo tempo que ultrapassamos o nosso limite de emissão de gases de efeito de estufa como estava definido pelo Protocolo de Quioto, e que o presidente da Agência Portguesa para o Investimento afirma que a meta do Protocolo de Quioto pode comprometer o investimento em Portugal. Já devem imaginar onde isto vai dar. Se a degradação ambiental e a mudança climática são problemas transnacionais que não podem ser enfrentados de forma descoordenada e sem um esforço comum por parte da comunidade internacional, como poderá Portugal enfrentar o problema se nem a nível interno é capaz de contribuir para uma melhoria das condições atmosféricas?
Já podemos calcular as consequências, pelo menos a nível nacional, e elas estão à vista: uma contribuição, ainda que pequena, considerando as dimensões de Portugal, para o agravamento das mudanças climáticas a nível global. E isto reflecte-se no nosso dia-a-dia, através de um clima cada vez mais agressivo, vagas de calor frequentes nos meses mais quentes, arrefecimentos acentuados nos meses mais frios, tempestades mais violentas, como as que por aqui passaram nos últimos três dias. Fenómenos que agravam a condição do solo e da vegetação no território nacional, tornando-o mais propício a incêndios florestais, à erosão e, finalmente, à desertificação.
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