Manipulação democrática - será possível??
Nenhum de nós será surpreendido ao descobrir que, de entre todos os estados que se afirmam como “democracias”, apenas alguns deles o são, de facto. O que, no alto dos seus ideais, deveria ser um valor absoluto, é na verdade um factor flexível e desigual, alvo de constantes deformações por parte de estados que se dizem democráticos.
Suponham o seguinte: o conceito de “democracia” corresponde a 100% do ideal que pretendemos atingir para os nossos países, ou seja, corresponde à perfeição. Todos sabemos que a perfeição não existe, e neste caso passa-se o mesmo, o que significa que na melhor das hipóteses, podemos atingir entre 90 a 95% do ideal pretendido, o que é bastante positivo. Porém, dos 192 estados soberanos que existem no Mundo, apenas uma pequena parte destes podem afirmar que se encontram nesse intervalo. São estes os estados onde os poderes se encontram separados, de jure e de facto, onde não existe promiscuidade entre diferentes esferas do poder e entre sector privado e sector público, onde a imprensa não é alvo de coacção, onde a criminalidade é reduzida ao ponto de não perturbar a vida dos cidadãos, onde as empresas desempenham a sua função de conferir dinamismo e inovação à economia ao mesmo tempo que cumprem as suas responsabilidades legais e sociais, onde os cidadãos não são alvo de perseguições e/ou detenções arbitrárias, etc. Tudo o que queremos para os nossos países mas que não conseguimos atingir em pleno. Não conseguimos atingir porque os resultados variam bastante, vão desde os resultados abaixo dos 10% até aos resultados acima dos 90%.
Onde quero eu chegar? Simples, actualmente considera-se que a maioria da população mundial vive em estados democráticos e se há trinta ou quarenta anos atrás, isso era um privilégio de países considerados como parte do “Mundo Ocidental” [possivelmente da Índia também], a queda do bloco de Leste e os processos de reformas democráticas em muitos países da América Latina, África e Ásia permitiram que a democracia atingisse todas as regiões do globo, onde por princípio, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, seria considerada como documento quasi-sagrado e inviolável.
Como eu já referi, isto foi atingido em parte, verificando-se que a democracia a nível global continua a ser um valor relativo. Se na generalidade dos países europeus, por exemplo, todos temos acesso a direitos e responsabilidades decorrentes da democracia, existem ainda estados que se afirmam como democráticos e que, na verdade, correspondem a algo mais vago, onde a repressão autoritária ainda se faz sentir, acompanhada de elementos de fachada associados às democracias, como sufrágio universal e actos eleitorais aparentemente livres, ou um mercado com o mínimo de intervenção estatal.
Estão nesta situação países como a Rússia, onde a interpretação do conceito de “democracia” por parte das autoridades leva a que estas considerem o conceito como bastante flexível ao ponto de afirmarem que a democracia russa é diferente da democracia ocidental. A palavra chave aqui é mesmo “democracia”, uma vez que se as autoridades russas apenas afirmassem que o seu Estado é diferente dos ocidentais, as críticas iriam no sentido de tentar recriar o anterior regime.
Existem situações que seriam dignas de figurarem em espectáculos que na língua inglesa são denominados de burlesque shows, tal é a deformação e alienação do conceito que se vivêssemos num Mundo onde as lideranças nacionais fossem íntegras e tivessem alguma réstia de dignidade nas suas concepções cínicas e hipócritas, perguntariam “Mas estão à espera que engulamos isto?”.
Sim, eu aprecio a integridade e a seriedade, quer a nível individual, quer a nível colectivo, e quando assistimos a indivíduos que em nome do seu Estado, afirmam representar a democracia no seu país sabendo nós que estes indivíduos correspondem aos líderes da Coreia do Norte, Turquemenistão, Cuba, Zimbabwe, Bielorússia, Uzbequistão, Venezuela, e afins, toda a sua credibilidade e integridade desaparece e só resta um quadro de absurdo cuja existência é assegurada pela conivência dos líderes democráticos “sérios”, e aqui, lamento dizer-lhes, mas receio bem que apenas uma minúscula minoria de verdadeiras democracias tem a consciência limpa. Portugal não tem, o nosso país é um exemplo de uma democracia verdadeira que não cumpre o seu papel externo e que falha frequentemente no seu papel interno. Ainda assim, antes Portugal do que a China, mesmo que estes não se afirmem como seguidores da democracia.
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