14.6.06

Portugal e racionalidade - conceitos inimigos

O uso da racionalidade em Portugal foi reservado por uma pequeníssima elite de iluminados que retiraram esse valor a 99% da população. É a simples conclusão a que eu chego, após observar alguns fenómenos que grassam pelo país. Como posso eu afirmar isto? Basta ter presente algumas das regras não-escritas da sociedade portuguesa que apelam à obliteração do uso da racionalidade e à prevalência de sistemas que juntam emotividade com uma aparência racional mas que de racionais nada têm.
Em Portugal, uma pessoa que se apresente como racional é imediatamente equiparada a uma pessoa fria na melhor das hipóteses ou a uma pessoa arrogante na pior das hipóteses. Quem mantém o mesmo tom de voz durante uma conversa é um “chato do caraças”. Quem pondera todos os lados possíveis da mesma questão está a perder tempo e “só diz treta”. Quem não chora copiosamente quando recebe uma notícia bastante negativa é considerado insensível. Da mesma maneira que verter umas lágrimas quando assistimos a algo “socialmente comovente” só beneficia quem as verteu [mesmo que não lhe diga respeito], quem não demonstra um entusiasmo delirante ou uma alegria explosiva quando recebe boas notícias é logo alvo de comentários por parte dos seus pares. Ao mesmo tempo, quem não cumprimenta todos os seus conhecidos com uma enorme quantidade de beijos na cara ou de abraços é considerado uma pessoa distante. Assim como quem não extrapola os seus sentimentos até chegar ao ridículo não é levado a sério e quem não berra suficientemente alto na praça pública não será escutado pelo alvo do seu discurso.
É assim que Portugal eliminou a racionalidade da sua vida pública e privada. E uma das melhores provas disto é considerar o actual PR como um homem racional. Suponho que faça algum sentido, quando um povo não sabe o que é a racionalidade, vai atribuí-la a quem simula o seu domínio.

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