29.8.05

Conversas entre líderes

Um encontro entre ditadores, tiranos, déspotas ou qualquer outro tipo de líderes totalitários terá certamente conversas muito particulares. Qual seria então, o diálogo entre dois líderes totalitários que têm boas relações entre si? Provavelmente não andaria longe de :

- Ora viva meu caro! Como vai? Tem tido problemas com aqueles armados em rebeldes no seu país?

- Oh, shôtor, nem me diga nada! Eles estão mesmo armados em libertadores, ainda outro dia tive de enviar as minhas melhores tropas para interromper um congresso clandestino daqueles emproados!

- A sério? E como é que fez?

- Olhe, os meus serviços secretos deram com eles graças a uma denúncia, lá entraram de rompante, levaram os chicos-espertos todos dentro, ainda houve estalada à mistura...mas daqui a uns dias tá tudo no tribunal a ser condenado a uns bom 20 anos de cadeia

- Ah mas sabe como é que eu faço no meu país? Aquilo lá anda tudo ao fininho! Nem é preciso esperar que eles se reunam, é só meter escutas em tudo quanto é linha telefónica e os gajos nem chegam a meter o pé fora de casa que a gente dá logo com eles

- Ah bem, o shôtor tem isso muito bem organizado!

- Pois meu caro, sabe como é, isto já são 13 anos no ramo *quando diz isto dá umas cotoveladas de cumplicidade no seu homólogo que ri mostrando sintonia de pensamento*

- Sim, no seu caso, já tem uma larga experiência no sector, eu ainda só cheguei ao poder há 5 anos, ainda não deu para conhecer os meandros todos

- Mas faça assim shôtor, quando estiver com problemas e vir que o seu lugar estiver ameaçado, ligue-me e eu envio-lhe um grupo dos meus rapazes para o ajudar, vai ver que eles não dão hipótese a esses armados em democratas

- Concerteza shôtor, muito agradecido!


Igualmente interessante será uma conversa entre um líder totalitário e um líder democrático. Vamos então entrar nesta linha de conversação...:

- Bom dia shôtor! Como tem passado?

- Bem obrigado, e o senhor?

- Muito bem, mas tenho estado ocupadíssimo, vamos ter eleições para o parlamento lá no meu país e então tenho andado num frenesim por causa da campanha, é uma correria que não paro, do meu gabinete para a sede do partido.

- Ah bem, isso lá no meu país não incomoda, se percebe o que eu estou a dizer * e dito isto, dá umas palmadinhas amigáveis nas costas do homólogo que retribui com um sorriso malandro *

- Pois é , o shôtor não tem problemas desses.

- Quer dizer, tenho de manter umas certas aparências, sabe como é, fazer uns discursos ao povo, incentivar a diversidade, organizar assim uns debates, mas sem grandes loucuras.

- Ah pois, sabe que isso na minha terra, se uma pessoa tenta envolver-se nem que seja um bocadinho mais que o predecessor no trabalho, cai-nos logo tudo em cima! É logo, inconstitucionalidade para aqui, intromissão para ali, violação de repartição de poderes para acolá...não largam uma pessoa, e depois esperam grandes resultados!

- Oh shôtor, é como lhe digo, os povos...essa gente é toda igual! Eles andam todos ao mesmo, querem é que a gente lhes distribua leitinho, que é como quem diz, dinheirinho, mas eu porventura tenho ar de vaca leiteira??

- Eu garanto-lhe, às vezes só tenho vontade de me demitir, fugir dali para fora e gozar o pé de meia que juntei às escondidas com as "comissões" que os consórcios me pagavam, já tenho uns bons milhões capazes de me pagar o resto da vida numa ilhota qualquer das Caraíbas...mas enfim, disse aos eleitores que ficava até ao fim, agora lixei-me.

- Oh coitado, eu posso tirar um mês de férias quando quiser, nem tenho que justificar. Aliás, shôtor, quando puder, venha passar uns dias a uma das minhas muitas casas de férias, aquilo é fantástico, tenho jardins que nunca mais acabam, uma piscina olímpica, umas fontes lindíssimas e uma colecção de arte que é qualquer coisa de incrível! Telefone-me e eu digo aos meus guardas que o shôtor vai da minha parte, fica lá uma semana e vai ver que se sente como novo!


Felizmente, não vivo num regime totalitário, tenho a sorte de viver no espaço geográfico mais desenvolvido e com melhor qualidade de vida do mundo, conhecido como Europa, sem recear acções repressivas por parte das autoridades do meu país. Por isso, vamos esconder um microfone numa reunião do Conselho Europeu:

- Então Silvinho [Silvio Berlusconi], como tem passado? O seu AC Milan, vai bem?

- Oh Tony [Blair], nem me digas nada! Aquilo vai de mal a pior...a Juve tá pronta para devorar o scudetto este ano e eu a vê-las passar. Isto já nem se respeita a equipa do líder do governo... e o teu Arsenal?

- Já esteve bem melhor, old chap, ainda por cima aquele português, como é que se chama......ah sim, o José Mourinnio foi para o Chelsea e agora os gajos não dão hipótese a ninguém, varrem tudo!

- Desculpem lá interromper – diz o Gerhard Schröder – mas ainda outro dia ia tendo uma discussão com a esposa por causa de futebol, tava a ver o Bayern jogar com o Hamburgo, um grande jogo por acaso, irritei-me com aquilo, disse umas coisas que não devia e ela ficou lixada comigo.

- Mas ó Gerhard, isso contigo elas vão e vêm como as canecas de cerveja, não é? Hahaha, com este gajo é só regabofe lá em Berlim!

- Ó Silvio, isso não é assim tão simples, cada uma que se vai embora saca-me uma data de massa e desde que eu sou chanceler, começo a ver isto ficar um bocado apertado...

- Então e eu? Por ser casado com uma das melhores advogadas do país, tenho de andar sempre na linha, senão ela mete-me em tribunal, enche-me de processos até ao pescoço e quando dou por isso, tou a viver do subsídio de desemprego. Depois ainda acabo dependente daquele serviço nacional de saúde que temos lá em Inglaterra e que eu lixei nos últimos anos!

- Oh meus amigos, vocês devia tratar disso tudo em Itália. Lá na minha terra, um divórcio litigioso que chegue a tribunal ainda demora uns bons 2 anos a resolver, é tempo que chegue e sobre para o dinheiro perder valor, para se esquecerem da criatura e rodarem por mais umas...

- Pois, e se calhar para o governo mudar mais umas vezes também, não?


Sic transit gloria mundi...

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