Eine besser zukunft für Deutschland
Assistimos a um cenário curioso, naquele que é, discutivelmente, o país mais poderoso da Europa. O partido que venceu as eleições legislativas, com uma curta margem sobre o segundo classificado, não dispõe de condições para formar governo e não celebra vitória. Por sua vez, o actual partido no poder, que perdeu as eleições, anuncia vitória e afirma ter condições necessárias para formar uma maioria estável no Bundestag, partindo de uma coligação SPD – Verdes – Die Linke, que lhe permite governar com estabilidade. Por sua vez, o partido mais provável de se coligar ao grupo CDU – CSU que apoiou Angela Merkel para o cargo de Chanceler, os liberais do FDP, não atingiram a votação necessária para formar uma maioria absoluta com os democratas-cristãos. Ou não terá sido antes a CDU – CSU que não convenceu suficientes alemães a votarem em si? Qualquer que tenha sido, os resultados estão à vista, e contrariamente ao que se costuma dizer por cá, os alemães são bem mais criativos e imaginativos que pensamos, pois em vez de terem dado uma vitória clara a Schröder ou a Merkel, preferiram deixar os dois partidos à beira do abismo, obrigando os seus líderes a uma flexibilização mental e a uma série de cálculos, prevendo todos os cenários possíveis para o futuro próximo da Alemanha.
Contrariamente ao que os empresários possam pensar, este cenário é muito interessante do ponto de vista político e, sobretudo, do ponto de vista da democracia, porque dá um sinal bem claro que o desgaste democrático na Europa não tomou conta de um dos seus países mais importantes, passo a explicar porquê: em toda a Europa Ocidental, as décadas de estabilidade democrática e de desenvolvimento, embora tenham resultado no nível de vida mais elevado do Mundo para os seus cidadãos, vieram afastá-los dos princípios nos quais os seus países se baseiam. Isto porquê? Porque o poder político nacional é sempre dominado por dois grandes partidos que alternam ciclicamente entre si o governo. Os dois partidos são invariavelmente um partido dito social-democrata [em Portugal como os políticos são idiotas, chamam-lhe um partido socialista] e um partido dito democrata-cristão ou partido conservador, ou partido liberal, que em Portugal, pela razão referida no parêntese anterior, é conhecido como um partido social democrata. Os partidos mais pequenos, que nunca vencem as eleições legislativas, desempenham várias vezes o papel de decisores em situações delicadas, ou de parceiros de coligação, sendo estes partidos conhecidos como ecologistas, comunistas, direitistas, populistas, e outras generalizações engraçadas acabadas em "ista". Infelizmente para nós, isto resulta num alheamento da política em relação ao cidadão e vice-versa. Todas as pessoas [ou pelo menos a maioria] tem esta estrutura na cabeça, e de acordo com o progresso ou não, do país no período da legislatura, recompensam ou castigam o partido do poder, numa alternância cíclica a que cinicamente nos habituámos e que vai contra o próprio vocábulo "democracia".
E o que tem a Alemanha a ver com isto? Ao votarem como votaram no passado domingo, os alemães mostraram que não podem entregar a liderança do seu país a um bloco bicéfalo e que o seu papel no processo democrático vai muito além de colocar um X num quadrado para validar o SPD ou a CDU e instalá-los no poder por mais quatro anos. Os alemães mostraram que têm consciência da situação do seu país e que querem ver um maior respeito pelas suas opções nomeadamente, esta, que deve estar a ser alvo de discussões incríveis no seu país. Para a máquina bicéfala, foi uma grande lição, para os partidos ditos "terceiros", é uma grande oportunidade, para os alemães, é a forma de se fazerem ouvir junto dos corredores do poder, cada vez mais distantes da população de uma Europa cada vez mais integrada.
1 Comments:
Infelizmente neste nosso jardim à beira-mar plantado criou-se o mito de que é impossível governar sem maiorias absolutas e de que o único voto útil é o voto num dos partidos com hipótese de formar a dita maioria absoluta.
Isto só por si demonstra claramente que não há nenhum partido disposto a governar pelo diálogo: os nossos "grandes" partidos só se propõem a governar se estiverem criadas condições para uma "ditadura parlamentar", ou seja se tiverem lugares suficientes na Assembleia da República de forma a poderem impor as suas decisões.
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