15.9.05

60ª Assembleia Geral das Nações Unidas - New York 2005

Assembleia Geral das Nações Unidas: ocasião que se repete todos os anos em Setembro, na qual se ouvem promessas mais impossíveis do que em todas as casas do Pai Natal juntas ( daquelas que se encontram em todos os grandes espaços comerciais do Mundo) no mês de Dezembro.
Ou dito de outra forma, e porque eu acredito nas Nações Unidas, o melhor exemplo de como as palavras do Chefe de Estado ou do Chefe de Governo representam pouco mais do que uma retórica vazia e de uma tentativa de apaziguar as vozes mais enérgicas que insistem em mudar conjunturas que lhes parecem erradas (e a mim também). Ao ouvir as declarações dos mais de 150 Chefes de Estado e de Governo que se deslocam a Nova York para se dirigirem à Organização com 191 Estados Membros, o mais ingénuo dos Terráqueos julgaria que a partir daquele instante, entraria em marcha todo o processo capaz de cumprir a 100% os objectivos expressos pela figura que se dirigiu ao Mundo. Por sua vez, o mais céptico de nós julgaria tratar-se apenas de frases soltas sem razão de existência que apenas expressam o "dever ser" como forma de mantermos vivas, por mais algumas gerações, aquilo que julgamos ser o famigerado "mundo melhor" mas que constantemente nos mostramos incapazes de o criar para os nossos descendentes, dando origem à seguinte questão: somos apenas incompetentes, ou cruéis?
Nem uma coisa nem outra – porque não sou maniqueísta – mas na verdade as duas. Observemos então os discursos: os líderes dos países em desenvolvimento vão do ressentimento ao graxismo, culpando os países desenvolvidos (e apenas estes) pelos seus problemas, enquanto outros se mostram fiéis ao seu maior fornecedor, explicando assim involuntariamente a sua situação de pobreza viciosa, através dos privilégios concedidos a oligarquias todo-poderosas com ligações ao Mundo desenvolvido. Nenhum, ou muito poucos, são os esforços dirigidos às causas internas, invariavelmente a corrupção, o desrespeito pelas leis e a falta de um interesse nacional definido, ou poderia apenas dizer, falta de vontade política. Quanto aos discursos dos países desenvolvidos, assemelham-se a um autêntico Pai Natal (cá voltamos ao mesmo...) com a diferença que as suas promessas não fazem as crianças ficar acordadas toda a noite, prontas para abrir os seus presentes. Porém, ao ouvi-los não julgamos nós que "vai ser desta vez" que vai haver um esforço a nível global, coordenado e bem delineado, entre países desenvolvidos e em desenvolvimento? Talvez esteja a ser demasiado ríspido para com a ONU, trata-se de uma organização respeitável com fasquias muito elevadas e que rapidamente desilude face aos números de pobreza global (um dos muitos indicadores possíveis) mas seria injusto para com a organização diminuí-la ou acusá-la de inutilidade por não conseguir cumprir na íntegra os objectivos dispostos na sua Carta constitutiva. Analogamente, quantos governos deixariam de existir se assim fosse?
Esta é uma questão que eu gostaria de colocar a todos os Chefes de Estado e de Governo presentes naquela sala e à qual gostaria de obter uma resposta sincera: o que é afinal, para vocês, a Organização das Nações Unidas? Uma organização que congrega todos os Estados soberanos do Mundo sob os mesmos objectivos? Metade da cotação... Gostaria ainda de perguntar, o que fazem vocês nas Nações Unidas, se não são capazes de se coordenar e de cumprirem os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (e todos os outros convénios respeitantes aos Direitos das Crianças, à Abolição de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres, ou até a jurisdição do Tribunal Internacional de Justiça) ou sequer o mais simples dos objectivos da organização: o da paz. Os que acusam a organização de paralisia e de inutilidade são os que mais contribuem para esses mesmos pontos críticos, impedindo que a ONU seja o que deveria ser, um sujeito internacional activo (julgo que lhe falta um membro importante – membro no sentido figurado, note-se, não estou a falar de nenhum Estado) e com uma vontade própria respeitada em todo o Mundo, não um mero instrumento ou prolongamento da política externa dos Estados, ou uma soma de todas partes, com todos os riscos que isso implica.

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