5.5.06

Mostrem a saída a este senhor

O Ministro das Obras Públicas, Mário Lino, afirmou a semana passada, em Santiago de Compostela, ser “um iberista confesso” e considerou “história comum” e semelhanças culturais entre os dois países como algo a honrar pelos Governos de Lisboa e Madrid. Estes pressupostos estariam na origem de um futuro comum para Portugal e Espanha, ou seja, uma nova união ibérica.
Normalmente, este tipo de declarações não é susceptível de comentário, isto porque o ministro, apesar de ser membro do Governo, não deixa de ser um cidadão da República e as declarações que proferiu, apesar do seu cargo, nada têm de oficial e não vinculam ninguém. Afinal, vivemos numa democracia e o ministro tem o direito à sua opinião.
E é precisamente por vivermos numa democracia que eu vou comentar, a liberdade de expressão [e a minha opinião] a isso me permite. Não é muito fácil de compreender a intenção daquele indivíduo e de outros que defendem uma união entre os dois países. As explicações são vagas e uma união entre dois Estados não é algo simples que se pode atingir de um dia para o outro. Por isso, gostava de perguntar: esse Estado resultante da união entre Portugal e Espanha, será uma República ou uma monarquia? O Chefe de Estado será o Presidente da República Portuguesa ou o Rei de Espanha? Porquê uma integração ibérica quando a tendência é para o afastamento, um pressuposto claramente comprovado pelos exemplos do Euskadi e da Catalunha?
Falha grave, ainda, a ausência de explicações e esclarecimentos quanto aos moldes que essa integração iria ter como base. Além da questão que opõe monarquia a República, o que estaria realmente em causa? A criação de um único Estado ibérico, ou um regime de confederação, onde Espanha e Portugal seriam entidades autónomas, existindo apenas uma pequena quantidade oficial de denominadores comuns, como defesa e política externa? Pergunto eu ainda: porquê uma integração ibérica quando o nosso projecto de realização nacional é a integração Europeia, na qual tanto Portugal e Espanha estão empenhados? Não existe, nem em Portugal nem em Espanha, um desígnio nacional nesse sentido. Dirijo-me ainda à mentalidade retorcida e mesquinha dos portugueses que são favoráveis à integração em Espanha por motivos salariais [e para ter gasolina mais barata]: se, hipoteticamente, a Espanha engolisse Portugal, o nível de vida baixava para toda a população.
É bem possível que os únicos motivos que levem pessoas como o ministro das obras públicas a defenderem semelhante ideia sejam motivos totalmente irracionais relacionados com fervor cultural e messiânico reminiscentes ao tempo em que Portugal e Espanha constituíam os dois maiores impérios coloniais do Mundo. A essas pessoas só precisamos de mostrar a saída.

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