6.4.06

Para Angola, rapidamente e em força...

O mediatismo e a importância que cercam a visita oficial do Governo de José Sócrates a Angola demonstram a falta de moralidade e de REAL empenho no desenvolvimento sustentável da democracia e dos Direitos Humanos naquele país.
O objectivo da visita parece ser, pura e simples, quantitativo, uma vez que com Sócrates seguem setenta empresários portugueses – que representam 30% do PIB, ou seja, não são donos de mercearias ou de pastelarias – e foram assinados nove acordos, com o principal objectivo de facilitar o investimento português em Angola, sem esquecer uma linha de crédito de 300 milhões de Euros.
Qual é a moralidade de um governo que se afirma "socialista" e de um Primeiro Ministro que diz ser "social-democrata de inspiração Nórdica" ao curvar-se perante a administração de José Eduardo dos Santos e de Fernando Dias dos Santos e vender a sua (suposta) valorização da democracia e Direitos Humanos pela internacionalização das empresas portuguesas? É certo que o MPLA, sendo de formação marxista, actualmente é uma força de mercantilismo e capitalismo selvagem, o que explica parcialmente os 70% de angolanos que, quase 31 anos depois da independência e de um processo de paz conturbado, vivem abaixo do limiar da pobreza.
Porque concede o governo português uma linha de crédito de 300 milhões de Euros a um governo referenciado pelo seu desempenho negativo no que diz respeito à corrupção? Talvez, no entender do nosso governo, a diferença abissal entre a generalidade da população angolana e a classe de indivíduos próximos do regime não tenha nada a ver com a corrupção, tal como os 26 anos de José Eduardo dos Santos como Chefe de Estado e o vistoso casamento recente da sua filha. Suponho que o estudo da Transparency International, onde Angola é classificada na posição 151 entre 159 estados analisados, não tenha qualquer validade. Ou por outro lado, será que o efeito do investimento chinês em Angola conseguiu sinizar a posição portuguesa? Afinal, um dos motivos que leva tantos governos africanos a apreciarem bastante o investimento chinês é a sua ausência de contrapartidas e de perguntas incómodas sobre democracia, Direitos Humanos e respeito pelo meio ambiente. Se não os podes vencer, junta-te a eles...sim, parece-me ser uma máxima muito prática num teatro de darwinismo económico imoral, como aquele que parece estar a desenrolar-se em Angola, já considerada uma "terra de novas oportunidades".
Ou se da corrupção, passarmos para o plano dos Direitos Humanos (o que, se formos a ver, está bastante ligado), o senhor Primeiro Ministro tem sempre a questão de Cabinda, a província angolana onde continuam a verificar-se violações daqueles direitos, coincidentemente na pequena província que exporta mais de 70% do petróleo angolano. Foram discutidos os Direitos Humanos e a democracia, senhor Primeiro Ministro? Não, não me parece. Afinal, José Eduardo dos Santos afirmou que ainda não está decidida a data das próximas eleições angolanas, afirmação que José Sócrates comentou de forma bastante simples "política interna [de Angola]". Muito bem, mas isto também é política interna angolana?
A facilidade ao investimento merece o silêncio de um governo de uma chamada "democracia ocidental", senhor Primeiro Ministro? Como interlocutores privilegiados de Angola na Europa, Portugal deveria, através da diplomacia, pressionar as autoridades angolanas no sentido de empreenderem um progressivo desmantelamento da corrupção no país a todos os níveis e promover um maior respeito pelos Direitos Humanos. Nada disso acontece, o prémio é demasiado grande e não apostar naquele território seria perder o bolo para outros. Afinal, o respeito pelos Direitos Humanos nunca abriu as portas a ninguém, pois não? Ou será que a recente fixação de um número cada vez maior de portugueses em Angola graças ao investimento português naquele país se pode incluir naquela já esquecida promessa eleitoral de José Sócrates, a de "criar 150 000 postos de trabalho"?

Click Here