4.8.06

Ucrânia

Depois de meses de incertezas e de uma perda de credibilidade em grande escala das suas instituições, na Ucrânia o presidente Viktor Yushchenko nomeou o rival das eleições de 2004, Viktor Yanukovych, para o posto de primeiro-ministro.
E isto está aqui porquê? Para já, porque se bem se lembram, no final de 2004 assistimos à maior contestação pública da história recente da Ucrânia quando os apoiantes de Yushchenko tomaram as ruas de assalto para protestar contra um escrutínio fraudulento. O que ficou conhecido como "revolução laranja" iria inspirar movimentos democráticos nas ex-repúblicas soviéticas e tornar-se num alvo a abater por líderes autoritários que teme pelos seus lugares e culminou na eleição de Yushchenko, carismático e que prometeu integrar a Ucrânia nas instituições euro-atlânticas.
Em Setembro, a coligação governante não conseguiu aguentar mais as diferenças que a minavam e Yushchenko demitiu a PM, Yuliya Tymoshenko, para nomear um PM interino, Yuri Yekhanurov que ficaria à frente de um governo de gestão até às eleições legislativas de Março.
As eleições realizaram-se em Março, e quem venceu foi o partido de Yanukovych. Apenas um ano e três meses depois da vaga de optimismo que percorreu o país, a maioria dos ucranianos mostrou o seu descontentamento com o poder reinante e reflectiu o pessimismo que pairava sobre o país. Em segundo lugar ficou o partido de Yuliya Tymosehnko, a ex-PM e aliada tornada rival, tornada pseudo-aliada e que agora é algo que não sabemos bem ao certo mas talvez futura presidente.
Isto aconteceu em Março...discussões prolongaram-se por horas sem fim, cenas de pugilato no parlamento chegaram aos nossos écrans, foram avançados nomes que em seguida foram retirados, Tymoshenko foi dada como primeira-ministra, para logo depois ser negada e substituída por Yanukovych, que em seguida se viu substituído...durante cinco meses a Ucrânia sofreu no seu núcleo o embaraço de mostrar ao Mundo que ainda não sabe viver em democracia e que a revolução laranja não foi mais do que uma espécie de festival de inverno, para gáudio das lideranças da Rússia, Bielorússia, Azerbaijão e todos os estados da Ásia Central.
Agora que Yanukovych vai ser PM, graças aos poderes reforçados que os governos anteriores aprovaram, uma agenda pró-russa vai ser instalada em Kiev, contrariamente aos desígnios pró-europeus e atlânticos das lideranças anteriores. Que herança fica? A liberdade de expressão, pode bem ser. Sobretudo ficará bem gravado na consciência dos ucranianos que com a mesma rapidez que um governo é eleito pelo voto popular, pode ser desfeito pelo voto burocrático.

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