29.6.06

Redução ao zero

Não existe felicidade e não existe tristeza. É tão simples quanto isto. Da mesma forma que tudo o que conhecemos como positivo e negativo não são mais do que projecções das nossas próprias escalas de valores, que terminam no momento exacto onde começam as do indivíduo seguinte. Ou seja, tudo o que a Humanidade convencionou e determinou que seria “bom”, “mau”, “positivo” e “negativo”, incluindo obviamente centenas de outros conceitos, não têm qualquer validade universal e a sua definição reduz-se à metafísica e ao princípio da palavra, estando a sua aplicação inteiramente à disposição do indivíduo que a utiliza.
Partindo desta premissa, posso assim avançar com o seguinte: estes conceitos de alcance supostamente universal e que encontramos na base de correntes de valores sociais e religiosos correspondem a idealizações e/ou aspirações restritas de um grupo que as codificou e lhes conferiu esse mesmo carácter universalista, com o propósito de as divulgar ao maior número de pessoas possível, se possível ultrapassando diferenças sociais, económicas, políticas e culturais e contribuindo assim para a formação de sistemas de crenças, onde se incluem não só os aspectos mais triviais do dia-a-dia material como as questões mais profundas de uma consciência metafísica individual e colectiva.
Onde quero então chegar com isto? Simples, é possível encontrar uma sintonia de opiniões e de posições entre indivíduos sobre o que seria favorável nesta situação ou qual será a melhor forma de atingir um resultado mais produtivo no que diz respeito a outra questão, mas não pode existir nenhum código de carácter global que defina e regule a conduta externa e interna dos seres humanos. A única fronteira que é possível traçar encontra-se no ponto em que a actividade deste indivíduo pode prejudicar a do outro ou possa por em risco a sua integridade ou existência, salvaguardando assim a aplicação desta síntese como justificação de actividades criminosas.
O resultado desta ideia, se aplicada na prática poderia ser algo semelhante a uma sociedade composta não por uma massa Humana subdividida em unidades colectivas e individuais, mas sim uma existência Humana em que o “todo” corresponde a um consenso entre as unidades que o constituem, estando estas plenamente conscientes da sua independência e sabendo trabalhar e pensar em conjunto sempre que assim seja necessário, sem colocar em risco a sua integridade.
Por outras palavras, o mais próximo possível da libertação do ser Humano, face aos tradicionais arquétipos da busca da felicidade e da salvação das almas, onde se incluem, entre outras, a procura de ideias construtivas para as nossas vidas, a tentativa de levar o que se chama de “uma vida preenchida” e a busca de um sentido para a existência, todos estes sujeitos à redução ao zero e à sua total redefinição, de forma a serem aplicados numa nova [multi]sociedade composta por mais de seis mil milhões de indivíduos na qual cada um define os seus objectivos e sabe como aproveitar as vantagens para o seu espaço e para o seu território de co-habitar o planeta Terra com outros indivíduos, em tudo semelhantes a ele, mas nunca iguais.

Click Here