Turista ocidental parvo
A indústria do turismo vale milhares de milhões de Euros a nível mundial. Representa um sector importantissimo para uma série de países, dá emprego a um número muito elevado de pessoas e permite a milhões de turistas conhecerem outros locais.
Entre todos estes turistas, encontra-se uma espécie muito particular, uma espécie que eu gosto de chamar, de forma muito simplista, o "turista ocidental parvo". Ora, o turista ocidental parvo, é um indivíduo que corresponde à seguinte descrição:
- é oriundo da Europa, América do Norte, e do espaço Austrália&Nova Zelândia
- tem um poder de compra razoável, que lhe permite realizar viagens inter-continentais
- ponto muito importante, aprecia realizar viagens a países com um nível de desenvolvimento muito abaixo do seu
Qual é a forma de actuar do turista ocidental parvo? Simples, este indivíduo não aprecia aquilo que o progresso e o desenvolvimento tecnológico fez pelo seu país e pelos seus países vizinhos. De certa forma, ele/ela considera que a forma de vida do ocidente, a dependência da economia de mercado, os aglomerados urbanos, a organização das sociedades ocidentais, etc, tornaram os nossos países em entidades vazias de espiritualidade. Por outras palavras, tornámo-nos artificiais, somos cinzentos, fomos nivelados por baixo, a globalização tornou os nossos países todos iguais e não têm interesse nenhum, uma vez que podemos encontrar a mesma forma de forma de vida em Londres, em Praga, em Toronto e em Chicago, pensa ele/ela. Isto cria no turista ocidental parvo um desejo de viajar baseado no seguinte princípio: uma vez que os nossos países não oferecem desafios, vai viajar por países muito menos desenvolvidos.
Passo a explicar melhor: o que seduz este exemplar é uma sociedade maioritariamente rural, onde a maioria das pessoas tem uma dimensão económica muito reduzida - para este indivíduo, um povo é mais acolhedor se for composto por agricultores [desde que façam agricultura de subsistência], artesãos e vendedores de rua - e onde a religião desempenha um papel fulcral, onde não existem vestígios do ocidente e onde as pessoas não vivem em cidades como as nossas.
É isto que encanta o turista ocidental parvo e que o faz desejar que os países da América Central [bem como uma parte da América do Sul], da África Subsahariana e do sul da Ásia não mudem. De facto, o turista ocidental parvo tem uma concepção na cabeça: que nós estamos errados e que eles detêm a receita da felcidade. E essa felicidade atinge-se através de pontos muito simples: pobreza, bens materiais reduzidos ao mínimo, espiritualidade [mais como última esperança], ligação ao campo. E o que encanta ainda mais o turista ocidental parvo é não só a existência de pessoas que vivem assim [uma quantidade assustadoramente grandede indivíduos na pobreza e sem acesso a cuidados médicos e educação] naqueles países mas como as autoridades daqueles mesmos países pouco ou nada fazem para melhorar as suas condições de vida. Ou seja, enquanto que num país ocidental, tais situações seriam alvo de intervenção por parte do estado, em países como o Camboja, o Bangladesh e o Mali, permanecem como um infeliz postal.
O turista ocidental parvo considera assim nefasta toda e qualquer tentativa de desenvolver as sociedades negligenciadas, uma vez que na sua cabeça isto significa "ocidentalização forçada" e traduz-se imediatamente numa profusão de McDonald's e na substituição da força de trabalho agrícola por entregadores de pizzas... Não senhor, isso não pode ser. Um país só é genuíno, só tem encanto e só é verdadeiro se for pobre, se sofrer de isolamento, se tiver infraestruturas débeis e se não tiver futuro. Indigência por toda a parte e pessoas que vivem para o dia seguinte através da agricultura de subsistência e da venda de artesanato? É pitoresco! Cidades caóticas com trânsito descontrolado e mercados que parecem saídos da Idade Média? Cacofonia exótica! Comida que nunca foi alvo de qualquer inspecção de controlo de qualidade, sobretudo quando estamos num país onde a água não é segura e onde existem doenças que no ocidente foram erradicadas e aqui são endémicas? Iguarias desconhecidas!
Sim, o turista ocidental parvo é uma das nossas piores exportações e um dos motivos que leva muitas pessoas naqueles países a não mostrarem grande apreço por aqueles viajantes. Eu acho que também não mostrava. Crianças nas ruas a pedir e idosos sem dentes e definhar é que é bonito! Tal como insectos de todos os tamanhos e formas a habitar nas refeições e ausência de casas de banho, isso é que é pitoresco, exótico e encantador, são os últimos paraísos do planeta.
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