21.6.06

EUA vs. Coreia do Norte

Depois de bastantes meses silenciosos, o diferendo acerca do programa nuclear norte-coreano regressa às preocupações assumidas de Washington quando existem rumores de que a Coreia do Norte se prepara para testar um míssil sobre o Oceano Pacífico. O míssil em causa é o Taepodong-2, que de acordo com os peritos, numa primeira fase de desenvolvimento pode atingir os EUA [os extremos mais ocidentais do território], logo é visto como uma ameaça à sua integridade. Trata-se assim de uma oportunidade para alguns decisores no Pentágono ponderarem a destruição do míssil durante o seu voo, através do sistem anti-míssil em que Washington investiu avultadas quantias nos últimos anos. Porém, esta não é, de maneira nenhuma, uma posição maioritária, muito menos consensual. Porque as intenções dos norte-coreanos são desconhecidas e isto baseia-se simplesmente numa referência que os media oficiais do país fizeram ao teste, o que implica, até certo ponto, um reconhecimento oficial da existência do Taepodong-2 e numa imagem de satélite de Maio deste ano que supostamente representa uma base de lançamento para mísseis Taepodong.
É verdade, todos sabemos, que a administração Bush não deu provas de saber lidar com Pyongyang, e o próprio presidente norte-americano é a prova viva disso mesmo. Se soubesse, esta situação nunca teria a exposição pública que está sofrer nos media internacionais. É perfeitamente possível que os norte-coreanos estejam a fazer um grande bluff com o objectivo de testar a retórica norte-americana. Se a Coreia do Norte lança para o ar afirmações de que estará a preparar um teste de um míssil de alcance intercontinental e os EUA ponderam a sua destruição em pleno voo, é uma forma de Pyongyang apurar, até certo ponto, a reacção dos EUA quando o regime de Kim Jong-il realizar um teste nuclear a sério. Mais ainda, esta possibilidade de os EUA abaterem o míssil norte-coreano em pleno voo, tratando-se de um teste, irá ter algum peso na credibilidade dos norte-coreanos, pelo menos do lado daqueles que desconfiam das intenções de Washington, qualquer coisa como "destruir uma arma que está a ser testada por outro país com base em suspeitas é imoral e revela uma faceta imperialista"e fará vir ao de cima reminiscências com o Iraque.
Por outro lado, toda esta discussão pode não ser mais do que uma cortina de fumo lançada pela Coreia do Norte para lembrar a comunidade internacional de que o seu programa de armamento existe e que, apesar da moratória aprovada em 1999, um ano após um projéctil norte-coreano ter sobrevoado território japonês, os norte-coreanos não pretendem ver as suas actividades militares restringidas, pelo menos no campo da retórica. Do lado dos EUA, é alarmista e falso [o Pentágono sabe muito bem] assumir que os norte-coreanos pretendem atingir o seu país através de mísseis intercontinentais. Isto provém de uma opinião na cabeça dos líderes políticos norte-americanos que a Coreia do Norte pretende atingi-los ao máximo, quando qualquer estratega com o mínimo de racionalidade [espero que não se possa ser estratega sem racionalidade] dirá que nenhum país com o tamanho e com os recursos da Coreia do Norte vai tomar a iniciativa de atacar os EUA, isso nunca irá acontecer, muito menos com armas nucleares.
Do lado da China vêm pressões sobre Pyongyang no sentido de não proceder ao lançamento do míssil e de agir com tacto nesta questão, enquanto que os serviços secretos sul-coreanos consideram que o projéctil foi abastecido com combustível suficiente para ser lançado, mas não confirmam se o propósito deste é militar, podendo o lançamento ter como objectivo o lançamento de um satélite. Seja como for, a Coreia do Norte já ganhou a sua exposição aos media.

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