Flagelação nacional
Ontem ficámos a saber que, de acordo com as previsões da Comissão Europeia, Portugal vai continuar a divergir dos seus parceiros comunitários ao longo das próximas quatro décadas e que em 2050 teremos o nível de riqueza por habitante mais baixo da actual UE-25, juntamente com a Grécia. Esta previsão é feita com base em estimativas de crescimento do PIB entre os 0,8% até aos 2,1% ao longo dos próximos 44 anos.
Escusado será dizer, isto foi mais do que suficiente para lançar sobre o país o espectro que para sobre nós, aconteça o que acontecer, e que determina que Portugal nunca terá um nível de vida idêntico ao dos outros países da Europa Ocidental. Depois de quinze anos de convergência, a estagnação, é isto que os números da Comissão Europeia nos dizem, confirmando o tradicional pessimismo que os portugueses associam ao seu país e à sua mentalidade, autorizando-nos assim, a dizermos coisas como “este país é sempre a mesma coisa” e a deixarmo-nos de nos preocupar seja com o que for, uma vez que vamos sempre estar atrás da média europeia.
Parece-me bastante irresponsável, por parte da Comissão Europeia e dos meios de comunicação portugueses, lançar uma previsão destas com o carácter de sentença. Para já, porque foi necessária a palavra de comentadores especializados para nos tranquilizarem e referirem que se tratava apenas de um possível cenário cuja principal causa será o envelhecimento da população e a consequência óbvia na diminuição da população activa. Em seguida, porque coloca a tónica da desonra em cima de Portugal, tratando o nosso país como se de um paciente estigmatizado se tratasse, condenado a carregar o fardo da divergência ao longo do século XXI, depois de uma breve aproximação optimista aos nossos parceiros comunitários.
O factor mais relevante apontado pela Comissão Europeia para a estagnação e divergência da economia portuguesa no século XXI é, como já foi referido, o envelhecimento da população,. Os media portugueses pareceram ignorar que o envelhecimento da população não afecta apenas Portugal, mas ainda Espanha, Itália e Alemanha [só para referir países com bastante peso no âmbito da UE], que com as suas baixas taxas de natalidade poderão ver as suas populações a diminuir ao longo do século [a Alemanha poderá mesmo perder quase 16 milhões de habitantes durante este século], com as óbvias repercussões na população activa e produtividade.
Possíveis soluções? A Comissão aponta o recurso à imigração, como forma de impedir a contracção da população activa. Mas não pode ser utilizada como se de uma carta branca se tratasse. Para poder fazer face a este problema, a imigração terá de contemplar números elevados de indivíduos altamente qualificados, de forma a poderem desempenhar as funções necessárias ao crescimento de Portugal no século XXI [que, como é óbvio, terá de ser acima da média Europeia, se quisermos convergir], não podendo simplesmente recorrer à imigração para preencher vagas em projectos de construção, hotéis, restaurantes e serviços de limpeza.
Sobretudo, e uma vez que o envelhecimento da população é extremamente difícil de contrariar, é necessário empreender um esforço [quase sobre-humano, diria eu] de modernização dos sectores produtivos portugueses, de forma a torná-los em sectores onde a diminuição da população activa não se tornasse num peso para o sector, mas sim numa oportunidade de inovação e num impulso para que a economia portuguesa se possa reinventar, para que possamos ter uma empresa com 100 funcionários em 2020 cujos níveis de produção sejam duas vezes superiores aos de 2010 com 200 funcionários, por exemplo.
É favor gerir bem o assunto, se não se importam.
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