Infelizmente e tal como eu temia, The Dark Knight não é uma transposição de Batman para o grande écran - é qualquer coisa diferente, é um filme de acção contemporâneo, é um filme sobre um louco que por impulsos incontroláveis obtém um enorme prazer em semear o caos e a anarquia e sobre como as forças da ordem e da justiça não o conseguem travar...mas não é um Batman.
Apesar de o argumento em si ser razoável, é desajustado à personagem e à figura de Batman, enquanto parece ter sido feito de encomenda para este Joker, o que reforça a ideia de que o filme está construído em torno de Joker como o motivo de existência do Batman...algo que o próprio, interpretado pelo Heath "dead man" Ledger dá a entender várias vezes.
As personagens são fracas, não há forma mais simpática de dizer isto - Bruce Wayne não serve para nada, Batman limita-se a cumprir o que dele é esperado, Harvey Dent está demasiado forçado no seu papel de "justiceiro das regras" e cai de forma incrivelmente fácil na teia do Joker quando assume a forma de Two Face, Jim Gordon limita-se à sua competência, Rachel Dawes anda a inspirar piedade durante o filme todo até à sua tragédia e Alfred e Lucius Fox têm a obrigação de ser muito melhores uma vez que são interpretados por Michael Caine e por Morgan Freeman. Sim, mais uma vez, o único que sobressai é Joker - e sobressai porque tem um argumento razoável ao seu serviço.
Não sei porque razão decidiram pegar na personagem de Batman e trazê-la para o grande écran num cenário actual, que apesar de fictício, partilha muitos aspectos com o Mundo real -quem conhece minimamente a personagem, sabe que Batman precisa de um ambiente próprio, tal como os morcegos precisam do seu habitat. Por ser o único superherói de primeira linha sem "super poderes", Batman é uma personagem com uma complexidade que não pode ser encontrada noutros superheróis vindos das bandas desenhadas. O habitat de Batman é Gotham City, cidade fictícia caracterizada por elementos que a tornam perfeita à existência de uma personagem como o Morcego - ambiente noir e pesado, arquitectura art deco e art nouveau, onde não faltam os arranha-céus inspirados na arquitectura de Manhattan da primeira metade do século XX completos com as gárgulas nos telhados, elementos neo-góticos, bruma...um local que impõe respeito e que parece repelir eventuais curiosos.
Nada disso existe em The Dark Knight - a Gotham City retratada no filme não é mais que uma metrópole contemporânea sem carcaterísticas que a distingam de tantas outras - Dubai, Singapura, Taipei, Seul...qualquer uma destas cidades podia ter sido o cenário para The Dark Knight e o mais preocupante é que o filme ignora qualquer forma de criar o ambiente necessário para trazer Batman ao grande écran, além de não se compreender porque razão existem tantas cenas importantes passadas em plena luz do dia, parece que vários membros da equipa de produção desconhecem a natureza dos morcegos - em vez disso, o que temos é um ambiente genérico que poderia servir a qualquer superherói. Alguém deve uma enorme explicação por ter levado Batman ate Hong Kong durante uns minutos - desde quando é que o justiceiro de Gotham City faz incursões em locais do Mundo real?
Surpreendentemente, The Dark Knight não só conquistou o público [o que era de esperar, sendo este um blockbuster de Verão] como parece ter encantado a crítica, que vê nele uma reflexão sobre as diferentes facetas que podem existir em cada pessoa e sobre o equilíbrio frágil entre o certo e o errado ou o que separa a sanidade da loucura...aparentemente, o facto de ter desfigurado Batman não parece ter sido importante.
É uma posição conservadora, para não dizer reaccionária, mas deveria haver uma lei que proibisse a realização de filmes sobre a personagem Batman a todos os que não se chamam Tim Burton.
Etiquetas: Batman, Bob Kane, Bruce Wayne, Gotham City, Heath Ledger, Joker, The Dark Knight, Tim Burton
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