4.9.06

Leis não-escritas

Em cada estado existe um código legislativo que regula o que é permitido e o que não é permitido fazer. Constituição, legislação própria, leis, decretos e outros instrumentos legais regulam a existência do Estado e a vida dos cidadãos, são as regras escritas. Quando não são cumpridas, o seu infractor é punido, ou pelo menos deveria ser.
Alheias a tudo isto, estão as regras não-escritas de carácter pseudo-universal, um autêntico cancro de uma espécie que se diz evoluída e superior às outras. São estas as piores de todas, as mais cretinas, as que reduzem os Humanos a uns seres andantes que falam, e que se fazem ouvir apenas na nossa cabeça. São elas que compõem o código social, código esse que vai influenciar a forma como orientamos a nossa conduta no dia-a-dia, como proferimos as nossas ideias, como regemos a nossa vida. Todos os dias somos confrontados com situações onde estamos a fazer algo legal mas incorrecto pelos padrões sociais - seja em casa, na rua, no local de estudo ou de trabalho, ou seja onde for. As regras não escritas impuseram-se como código de vivência e foram em algumas situações, fundidas com as regras escritas, contribuindo assim para que em imensos locais, os Humanos que lá se encontram pareçam uma cambada de clones.
Estas mesmas regras não-escritas manipulam algo que conhecemos como "consciência" e que a faz sentir-se "mais pesada" dentro de nós, embora não exista nenhuma alteração na constituição do nosso cérebro. Porém, com o temor que temos da reacção dos que nos circundam, rapidamente obedecemos à regra escrita, de forma a não ofender nenhum dos presentes, que não tem vida própria ao ponto de dar importância aos actos quotidianos de outro Humano.
Apagam a individualidade, restringem a personalidade e são um dos múltiplos factores que contribuem para a decadência da nossa espécie. O seu não cumprimento resulta em consequências que podem ir da vulgar crítica [a menos grave] ao ostracismo total [a mais grave] e levam o indivíduo que as quebrou a sentir-se culpado por ter sido ele próprio. Porém, há sempre quem se lembre que uma lei não escrita não foi aprvada por nenhum órgão legislativo, não foi ratificada nem está codificada em nenhum código, logo ninguém tem poder para punir quem não as cumpre - afinal, será que não é possível um indivíduo ser ele próprio, sem interferir na esfera dos outros, sem receber uma sanção punitiva da sociedade?

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